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Subject: De novo o Iraque


Author:
JORGE NASCIMENTO FERNANDES
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Date Posted: 11:33:58 12/23/03 Tue

Preso e humilhado Saddam - algumas vozes críticas levantaram-se contra o tratamento mediático que lhe foi dado, com a cumplicidade do médico americano que lhe observava a boca, que permitiu que o filmassem numa situação em que mais parecia um cavalo a quem se determina a idade pelo estado de conservação dos dentes - uma nova perspectiva se abre para a luta do povo iraquiano contra o ocupante. Já não é possível justificar a ocupação pelo fantasma opressivo do ditador ou porque era necessário lutar contra ele e os seus apaniguados. Hoje, tal como sempre, já não há justificação para a continuação da ocupação.

Mas não é só isto que me traz hoje aqui. A participação da GNR é de facto aquilo que me obriga a manifestar a minha indignação. Depois do 25 de Abril, e do fim da guerra colonial, corpos militarizados portugueses participam, numa guerra contra um povo que luta contra o ocupante. E não se pode afirmar que, tal como estivemos em Timor, estamos aqui a defender a lei e a ordem, ou até a paz. Estamos sim, às ordens de uma aliança belicista, a coligação EUA-Inglaterra, mais os seus aliados menores, a defender os interesses deles e a possibilidade remota, das nossas empresas participarem naquilo que eufemisticamente se chamou a "reconstrução" do Iraque. E a agravar tudo isto, temos a posição do Primeiro-ministro ao considerar que todos devemos apoiar os "nossos" soldados, ou seja, apoiar a sua participação na guerra do Iraque, tal como, durante o fascismo, o salazarismo impunha que, quem não apoiasse a guerra colonial, fosse considerado traidor à Pátria. E, marcando o estilo provocatório da extrema-direita portuguesa, a posição do ministro Paulo Portas, que, depois do ataque que foram vítimas os jornalistas portugueses, afirmou que não podemos ceder ao terrorismo (onde é que eu já ouvi isto), nem permitir ataques à liberdade de informação, como que se os ladrões soubessem quem eram aqueles desprevenidos e intimoratos jornalistas, que atravessavam o Iraque. No meio de tudo isto, o PS, ou uma parte dele, incapaz de assumir as suas responsabilidades como partido de esquerda, e sempre com um pé lá e outro cá, permite que um seu dirigente, Francisco Assis, vá à RTP 1, concordar com a "nossa" presença no Iraque e assumir a posição, que a direita e a extrema-direita defende, de que estando lá os "nossos" homens não devemos criticar a sua presença. Por outro lado, permite, sem o censurar oficialmente, apesar das vozes críticas que se levantaram, que um seu responsável político, António Lamego, possa participar no governo das forças de ocupação.

O facto de soldados da GNR estarem no Iraque tem que ser assumido por toda a esquerda como um grave atentado ao nosso dever constitucional de defender a paz, a soberania das outras nações e de reconhecer o direito do povo iraquiano a lutar pela sua independência. Os nossos GNR serão sempre considerados como tropas de ocupação, que visam a perpetuação de uma situação injusta e iníqua, que tem que ser por toda a esquerda combatida e denunciada, não podendo, em nome duma pretensa solidariedade nacional, contemporizar com esta situação. E não se venha argumentar com as decisões das Nações Unidas, porque enquanto permanecerem no terreno as forças que desencadearam a guerra e mantém a ocupação, pelos vistos com o direito absoluto de participarem na "reconstrução" do Iraque, não se pode afirmar que o povo iraquiano tem garantidas a sua independência e soberania nacionais.

Esta posição, que deve ser claramente assumida por todos aqueles que ainda dão valor a uma posição anti-imperialista e de não complacência com o invasor americano, não nos pode fazer esquecer alguns dos problemas políticos que atravessam hoje o Iraque e as forças progressistas, que naquele país lutam por um governo independente.

Assim, estou de acordo com as posições assumidas pelo Parido Comunista do Iraque quando, numa carta que se encontra no site da do Partido Comunista de Espanha*, entende:
"Que a resistência contra o ocupante é um direito que é garantido pela carta das Nações Unidas. Por isso, o povo iraquiano tem o direito legítimo de exercer as formas de lutas adequadas para acelerar o processo que ponha fim à ocupação e que restaure a soberania nacional. Mas a resistência nesta situação não deve limitar-se a praticar a luta violenta, mas em exercer diferentes formas de luta política.

Hoje, o povo iraquiano dispõe de várias possibilidades e opções para participar na luta política. Apareceram dezenas de partidos políticos, sindicatos, associações democráticas e profissionais...etc. E no ambiente actual de liberdade, as forças políticas iraquianas, incluindo o nosso partido, estão quase unanimemente de acordo em que a violência não é o melhor meio de luta, enquanto não se esgotarem todas as possibilidades pacíficas. A violência, pelo contrário, dará um pretexto aos ocupantes para prolongar a sua presença no país, além de manter o estado de tensão e de preocupação e o medo entre as pessoas e prejudicar os esforços para preparar as condições que permitam agendar a evacuação das forças de ocupação.

Actos de sabotagem contra instalações de electricidade, água, gás, petróleo...etc., só agravam o sofrimento do povo. Tais operações armadas, como os crimes de assassinato, são acções perpetradas por restos do anterior regime, tendo em vista alimentar o seu desejo de recuperar o que foi perdido. Ao mesmo tempo, as violações e os actos de violência cometidos pelas forças de ocupação têm sido contestados com reacções violentas em operações armadas expontâneas. Por isso, seria importante distinguir entre os grupos e as forças que levam acabo esses actos.

Abordar a situação de segurança requer que se tomem medidas urgentes, políticas, económicas e sociais e que preparem o caminho para entregar o poder aos iraquianos."

É nesta teia complexa, quer estejamos ou não de acordo com as posições do PCI, mas em que estas devem merecer a nossa atenção, visto serem de alguém que está no terreno, que se deve reafirmar o nosso veemente desejo de que os soldados da GNR regressem do Iraque, e que as tropas de ocupação anglo-americanas se retirem o mais rapidamente possível do teatro da guerra.

* <a rel=nofollow target=_blank href="http://www.pce.es/secinternacional/pciraq_carta181003.htm">http://www.pce.es/secinternacional/pciraq_carta181003.htm</a>

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