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Subject: Os Povos da Europa pagaram a crise é por isto que o BCE não baixa as taxas de juros


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visitante
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Date Posted: 17/04/08 17:25:52

Irá a Europa sofrer da síndroma suíça?
por Michael Hudson [*]

Que impacto sobre as economias europeias e americana poderá ter a diversificação em euros das reservas dos bancos centrais?

Capa de livro recente de M. Hudson. A diversificação das reservas dos bancos centrais, com maiores proporções de euros é assunto do noticiário actual. Deixando totalmente de lado a ampliação do défice comercial e de pagamentos dos EUA, a guerra do Iraque provocou um súbito retrocesso que levou alguns políticos árabes e islâmicos a pressionarem os países da OPEP no sentido de cotarem em euros tanto o preço como a venda do seu petróleo e de mudarem as reservas dos seus bancos centrais que actualmente têm uma forte componente em dólares.

Se isto se passasse na década de 1960, os bancos centrais de todo o mundo estariam a converter suas entradas de dólares em ouro. Mas desde que os Estados Unidos abandonaram o ouro em 1971, emergiu um mercado construído para títulos do Tesouro dos EUA como a única alternativa prática ao ouro.

A questão é saber se o mercado dos bancos centrais para os títulos do Tesouro dos EUA é infinito. Se assim for, então o défice de pagamentos dos EUA, e talvez até mesmo um dilúvio de anti-americanismo por parte dos bancos centrais estrangeiros, constitui um revestimento brilhante para a economia norte-americana. Os Estados Unidos descobririam que o seu interesse repousa numa política permanente de "negligência benigna" em relação ao défice do seu orçamento federal e em relação ao défice da sua balança de pagamentos.

Responsáveis norte-americanos têm reconhecido que se os haveres da OPEP em dólares ou em títulos do Tesouro americano forem trocados por títulos denominados em euros, estes títulos em dólares simplesmente serão passados aos bancos centrais da Europa. Os países exportadores de petróleo mudariam as suas reservas internacionais para euros através da venda dos títulos do Tesouro dos EUA e comprariam os títulos dos governos ou outros títulos de países europeus. Isto obrigaria os bancos europeus a escolher entre emprestar as suas entradas de dólar de volta para os EUA através da compra de títulos do Tesouro americano (financiando o défice federal dos EUA neste processo), ou verem as suas divisas serem valorizadas contra o dólar, para grande desgosto dos seus produtores e exportadores internos.

O facto de este problema persistir ao longo de mais de 30 anos, desde que os Estados Unidos abandonaram o ouro, mostra quão exitosa foi a diplomacia financeira americana ao transformar problemas aparentes num êxito inesperado. Se o assunto continuar no seu rumo actual, a OPEP resolveria o seu problema do dólar passando-o para a frente como na proverbial batata quente. Uma entrada de dólares da OPEP ou de países asiáticos provavelmente não reduziria os haveres dos bancos centrais em títulos do Tesouro americano, pois simplesmente mudaria estes haveres dos bancos centrais da OPEP e dos bancos centrais islâmicos para os da Europa e provavelmente da Ásia.

Isto constitui a essência do "dilema do dólar" de hoje. Explica porque os mercados de divisas de hoje são mais voláteis do que em qualquer momento desde a década de 1930. A montanha russa do euro contra o dólar elevou a sua taxa de câmbio para US$1,20 e a seguir empurrou-a para baixo uns 10 por cento nos últimos poucos meses. Colocado isto no seu contexto global, o problema enfrentado pelos mercados de divisas — e pelos banqueiros centrais — é o seguinte. Se países começarem realmente a diversificar as reservas dos seus bancos centrais, o movimento em direcção ao euro agravará o dilema do dólar da Europa, empurrando-a para a beira de um ponto de ruptura política.

Ainda assim, as preocupações acerca de o euro ameaçar o dólar foram excessivas, pelo menos quanto ao momento. Uma mudança pela OPEP ou outras regiões para sair do dólar e entrar nos euros tenderia a fazer subir o euro em relação ao dólar. Quanto mais dólares fossem actualmente possuídos, maior seria a perda proporcional de valor escriturado para os bancos centrais, quando comparado a um índice comercial ponderado, ao ouro ou ao chamado "cabaz de mercado" ("market basket") .

Tudo o mais permanecendo igual, o efeito de uma mudança para fora dos dólares e para dentro dos euros por parte da OPEP forçaria uma subida da taxa de câmbio do euro contra o dólar. Os exportadores europeus já se queixam de que isto ameaça colocar o preço dos seus produtos fora dos mercados mundiais. Para impedir que isto ocorra, países europeus que recebem entradas (inflows) nos bancos centrais da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) já estão a ficar sob pressão para manterem baixa a taxa de câmbio do euro por meio da utilização destas entradas de dólares na compra de ainda mais títulos do Tesouro dos EUA.

Tal como está actualmente constituído, o sistema financeiro internacional permite aos Estados Unidos uma cavalgada gratuita exclusiva. Enquanto a guerra no Sudeste Asiático na década de 1960 forçava o país a alcançar poder militar em separado do poder monetário, naquele tempo medido em ouro, hoje o constrangimento das balanças de pagamentos foi removido, apesar de o aprofundamento dos défices comercial e de balança de pagamentos dos EUA serem umas cinquenta vezes mais elevados do que os US$ 10 milhões de défice anual que provocaram as condições para a crise de 1971. Apesar de uma conta comercial e de investimento do sector privado que (de forma improvável) moveu-se fortemente para o défice, os gastos militares americanos e outras saídas de divisas externas foram manipuladas de uma tal maneira que aumenta ao invés de diminuir a alavancagem financeira americana sobre o resto do mundo, sobretudo em relação à Europa e ao Japão. Através do ajuste do défice de pagamentos em títulos do Tesouro a partir de 1971, os Estados Unidos aumentaram para os bancos centrais estrangeiros os custos de se retirarem do sistema.

Para a Europa, uma conversão anti-dólar por parte da OPEP ou de outros países seria bastante diferente do que teria sido o caso se tivesse ocorrido antes de Agosto de 1971. Sob o padrão gold-exchange o Tesouro dos EUA teria perdido ouro para os bancos centrais da Europa. Utilizando o metal precioso como um termómetro do poder financeiro internacional, a perda dos Estados Unidos teria sido o ganho da Europa, sem forçar uma alta das taxas de câmbio europeias pois os excedentes de dólares seriam gastos na importação de ouro. Hoje, 32 anos depois, o efeito de uma conversão de reservas internacionais de dólares para euros é muito diferente. Isto forçaria uma alta das taxas de câmbio europeias, impondo um custo económico que a indústria europeia teria de absorver pois o preço em dólar das suas exportações seria forçosamente elevado a níveis não competitivos, mesmo que não se verificassem erros nas próprias políticas internas europeias. Os países cujas divisas estivessem ligadas ao dólar tenderiam a beneficiar-se.

Indo mais directamente ao ponto, como a vontade americana de efectuar gastos militares no Oriente Próximo, a elevação dos défices comercial de pagamentos dos EUA e a perspectiva de diversificação de reservas oficiais para aumentar a proporção de euros e de outras divisas não-dólar possuídas por bancos centrais estrangeiros afecta a geopolítica global?

Toda a resposta depende de como a diplomacia financeira internacional manipulará o assunto.

A SÍNDROMA SUÍÇA

Quem espera que o actual excesso de dólares dos EUA venha a representar um ganho para a Europa deveria examinar a Suíça, cuja divisa tem sido um veículo excelente para a fuga de capital. A Síndroma Suíça pode ser definida como uma condição em que uma entrada autónoma de capital força uma alta da taxa de câmbio do país a um ponto tal que ameaça a competitividade das suas exportações. No fim da década de 1960 isto tornou-se a condição quase crónica do franco suíço devido ao papel daquele país como paraíso fiscal e porto de abrigo de capitais. A apreciação do franco provocou problemas às companhias farmacêuticas suíças e a outros exportadores, desviando o foco da economia para longe da manufactura a fim de favorecer o sector bancário. A Europa está ameaçada por um efeito semelhante devido ao movimento de outros países em direcção ao euro.

Alguma melhoria seria verificada na conta capital na medida em que o valor cadente do dólar relativamente ao euro melhorasse as balanças de capitais dos países devedores da América Latina e da Ásia. Suas dívidas são denominadas em dólares, cujo valor relativo cairia. O efeito sobre as suas contas comerciais dependeria da sua capacidade para receber mais pelas exportações para a Europa, ligada à de pagar mais por suas importações daquele continente, e ao peso relativo das exportações e importações entre mercados e fornecedores europeus e norte-americanos.

Mas os países credores experimentariam o fenómeno inverso em termos de balança proporcionalmente à extensão em que os seus processos financeiros estiverem dolarizados. A Europa, a China e o Japão tem sido geralmente as principais regiões a acumularem reservas e empréstimos em dólar. Eles principiam agora a perguntar-se a si próprios que uso prático estes haveres em dólares têm, e quanto de valor eles reterão quando a sua magnitude exceder a capacidade ou a vontade americana de pagá-los numa medida significativa. Esta linha de pensamento tem-nos levado a discutir modos pelos quais a dívida mundial e o sistema de pagamentos poderá ser mais simétrico e portanto mais razoável.

O problema é que actualmente nada de tal sistema está agora no horizonte.

PASSOS RUMO A UMA CONTRA-ESTRATÉGIA

Os países do sudeste asiático possuem cerca de US$ 1 milhão de milhões (US$ 1 trillion) de reservas. Medidas em euros, houve um momento na primavera passada em que eles perderam mais de US$ 100 mil milhões em valor de troca. Denominado em yen, o banco central do Japão sofreu uma perda de capital nas suas reservas igual à queda do dólar — a qual teria sido muito maior se não fossem as pesadas compras oficiais de títulos do Tesouro. A Rússia também perdeu ao manter as suas reservas tão amplamente em dólares, assim como os principais exportadores de petróleo.

Os dólares que incham as reservas dos bancos centrais europeus e asiáticos são um embaraço de riqueza. A Austrália e a Nova Zelândia já começaram a diversificar as suas reservas afastando-se dos dólares e substituindo-os por euros. Eles estão a fazer isto de modo razoavelmente silencioso, mas as maiores atenções concentram-se agora nos países islâmicos, acima de tudo os membros da OPEP. E também na Rússia, cujo grande parceiro comercial é a Europa.

Mas o aperto está principalmente na própria Europa, pois o euro será o principal veículo em que serão convertidos os haveres monetários em dólar. Aqui parece haver pouca coisa que a Comunidade Europeia possa fazer em termos práticos. Repetir a turbulência de câmbios externos da década de 1930 dificilmente será uma alternativa atraente, pois é difícil ver como a Europa possa adoptar taxas de câmbio duais, uma para comércio e outra para movimentos de capital, de um modo que não desse oportunidades para arbitragem financeira.

Uma opção mais simples é fazer o que os Estados Unidos fizeram em 1922 quando foram ameaçados pelas importações de baixos preços da Alemanha quando a taxa de câmbio do marco entrou em colapso sob o peso dos pagamentos das suas reparações de guerra. Em 1909 o Congresso havia aprovado o sistema de tarifas American Selling Price (ASP), substituindo as tarifas ad valorem baseadas no preço da facturas por tarifas baseadas naquilo que a mercadoria (commodity) importada custaria se produzida nos EUA. Na medida em que o marco alemão se depreciava, a queda de preços de produtos químicos e outras exportações alemãs era contrariada por drásticos aumentos das tarifas americanas. Isto negou à Alemanha e outros países a vantagem de preço resultante tanto da depreciação como, mesmo, da sua eficiência superior. Na verdade, na década de 1960 os EUA aplicaram mesmo tarifas ASP contra o aço e os produtos químicos europeus.

Pode a Europa adoptar a sua própria versão ou variante desta política através do lançamento de uma tarifa flutuante igual à depreciação do dólar? Pode ela adoptar o passo ulterior de utilizar as suas entradas de dólares excedentes para subsidiar suas exportações industriais em mercados competindo com exportações americanas para anular o benefício de preço da depreciação do dólar? O objectivo seria impedir as mudanças de divisas de interferirem com a competição comercial "normal" através da anulação da desvantagem de preço sofrida pelos exportadores europeus em resultado de mudanças de divisas não relacionadas com o comércio.

Tais políticas seriam criticadas como uma reversão aos movimentos do pós-guerra rumo ao livre comércio, mas o livre comércio do pós-guerra foi baseado numa assumida estabilização dos movimentos de capital e dos valores das divisas. Esta suposição foi revertida nos últimos anos pois a abundância de dólares conduziu a um pesado volume de moeda quente que levou a taxas de câmbio em zig-zag.

Em suma, o défice de pagamentos americano e os movimentos dos bancos centrais para longe do dólar, agravado pela actividade militar americana no Iraque e em outros países, pode na verdade disparar uma mudança dos haveres internacionais de divisas para os euros. O impacto a longo prazo pode ser estimular a Europa a proteger os seus industriais do declínio da competitividade provocado pela apreciação do euro. Isto apenas poria em evidência um problema que tem estado latente desde 1971, mas faria isso num contexto político menos estável. No estrangeiro está a desenvolver-se apoio popular para fazer com que os governos criem outra vez um conjunto de regras capaz de impedir os exportadores americanos de se beneficiarem de uma instabilidade da divisa provocada pelas próprias políticas fiscal, financeira e militar dos Estados Unidos.
Agosto de 2003

[*] Economista norte-americano especializado em balança de pagamentos. Autor de "Super Imperialism: The Origin and Fundamentals of U.S. World Dominance" . Contacto: mhudson@aol.com .

O original encontra-se em http://www.michael-hudson.com . Tradução de JF.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info .

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