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Subject: As bruxas e o "Ambiente caviar"


Author:
Helena Matos (Público, 10.12.2007)
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Date Posted: 12/12/07 13:22:03

O "pasteleiro Carlos Ramires, 47 anos, conta que antigamente a época da bola de Berlim abria em Maio, quando começava o bom tempo, mas, com as alterações climáticas, o período forte passou a ser apenas entre o 15 de Julho e a primeira quinzena de Agosto." Esta afirmação retirada duma página on-line intitulada Observatório do Algarve dá bem conta das arreigadas certezas que actualmente fazem lei nesta matéria: quer para o pasteleiro, quer para o jornalista, as alterações climáticas pareceram-lhes um argumento consensual. E não só a eles. Em boa verdade, neste momento, as alterações climáticas servem para justificar tudo. Por exemplo a burocracia, o aumento de impostos ou a invenção de mais taxas. Na semana passada coube a vez aos sacos de plástico.
Basta ter feito compras na Ikea para perceber que os sacos de plástico são fácil e vantajosamente substituíveis por outros artefactos reutilizáveis. E é óbvio que o nosso desatinado consumo de sacos de plástico nos foi imposto pelo modo de funcionamento "moderno" dos supermercados. Mas ainda é mais óbvio que a legislação sobre embalagens e higiene leva a que actualmente se multiplique a obrigatoriedade das saquetas e embalagens - por exemplo para o azeite nos restaurantes -, que uma vez usadas têm exactamente o mesmo destino que os sacos de plástico. Ou seja, o lixo.
Digamos que estamos perante um "Ambiente caviar": a legislação para aprovar investimentos usa o argumento da defesa do ambiente para claramente favorecer os grandes investidores e aumentar o poder decisório de estruturas de colocação de comissários políticos; desiste-se de coisas tão simples quanto assegurar que as facturas da água apresentem indicadores de qualidade; mantém-se e aprova-se legislação sobre arrendamento que é um obstáculo à recuperação para habitação de edifícios antigos e logo promove a construção nas periferias... mas todos temos de abdicar de alguma coisa por causa do Ambiente.
A cereja no cimo deste bolo são as alterações de clima. Mas apenas enquanto pretexto para se lastimar uma espécie de paraíso perdido com a chegada da industrialização. O assunto em si mesmo esse pouco interessa. É mais uma questão de fé e de exaltação. Na verdade talvez sempre assim tenha sido. Em França, o historiador Emmanuel Garnier procura reconstituir o que foi o clima naquele país nos últimos três séculos. Na ausência de dados meteorológicos fiáveis - que só existem a partir do século XIX -, Garnier recorre aos registos das várias actividades agrícolas. E também aos relatos dos párocos sobre as procissões para pedir chuva ou o fim das inundações. As conclusões apontam não só para que os períodos extremos de seca e grandes inundações sempre se fizeram sentir, como também para que se poderá falar dum fenómeno de aquecimento a partir do século XVIII.
A outra das conclusões não é menos inquietante: na Europa central, entre 1570 e 1630, três mil a quatro mil mulheres terão sido queimadas após as comunidades onde viviam terem visto as suas colheitas destruídas pela chuva, pela seca ou pelas pragas. Os dados de Garnier parecem confirmar assim as teses de outros historiadores que defendem que as fogueiras onde ardiam feiticeiras são uma espécie de mapa sobre as desordens do clima. Hoje, felizmente, já não se queimam feiticeiras mas o clima de histeria e de ignorância, esse, não mudou. Só está um bocadinho mais cosmopolita.

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