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Guilherme Statter
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Date Posted: 15:09:04 11/09/03 Sun
In reply to:
João Freire
's message, "ÁLVARO CUNHAL E O MUNDO DE HOJE" on 09:48:36 11/09/03 Sun
Apenas algumas reflexões ao correr do teclado...
>O texto de Álvaro Cunhal saído na edição de 06 de
>Novembro do Avante, não acrescenta nada de novo ao
>habitual discurso do PCP.
Presume-se que João Freire não tem lido o Avante.
>A actual direcção do PCP
>tem produzido mais medidas de repressão administrativa
>que documentos para discussão sobre a realidade actual.
Mas Alvaro Cunhal já não faz parte da Direcção do PCP.
>No entanto, o texto "O Mundo de Hoje" de Álvaro
>Cunhal, ao contrário do que alguma imprensa quis ver,
>não introduz nenhuma alteração ao discurso do PCP.
Pois não. Não sendo Alvaro Cunhal membro da Direcção, a sua participação neste ou naquele convénio é a título pessoal e com a bagagem e pêso histórico que se lhe reconhece. Nessa qualidade parece ser extremamente significativo que, de facto, Alvaro Cunhal não tenha aqui utilizado a expressão "marxismo-leninismo".
Isto de citar um senhor de nome A.O.Salazar é sempre muito chato... Mas era esse senhor que dizia "em política, o que parece é".
Pessoalmente custa-me a acreditar que Alvaro Cunhal ("velha raposa" e intelectual de inteligência reconhecida) não soubesse o que estava a fazer quando escreveu aquele brevíssimo texto, da forma que o estava a fazer.
Já agora, aqui há uns tempos atrás tudo quanto era anti-estalinista (este eu incluído) criticou mais ou menos duramente a Direcção do PCP e do Avante pela publicação de um artigo de louvor à memória de Estaline.
Fica-se à espera de igual reacção, embora de sentido contrário, claro.
>Só que Álvaro Cunhal, ao contrário do que
>estabeleceram os bolcheviques, não fala sobre um
>aspecto fundamental e estratégico estabelecido por
>Lenine e Trotsky, etc...
>Cunhal volta a revelar uma visão muito
>nacionalista, estalinista, sobre a construção do
>socialismo na União Soviética. Fala abstractamente
>sobre "outras revoluções socialistas vitoriosas" sem
>dizer quais e onde e acaba por contentar-se por "os
>trabalhadores em países capitalistas conquistaram
>importantes direitos.
>Álvaro Cunhal reconhece as "tendências crescentes nos
>países socialistas, nomeadamente na União Soviética,
>para a centralização e burocratização do poder e para
>a estagnação". Mas mais uma vez fala no abstracto. Etc. etc...
Parece que João Freire estaria à espera de uma bastante mais extensa análise crítica e histórica.
O texto em referência era suposto ser uma comunicação para um Encontro Internacional dedicado à situação actual na América do Sul. As próprias regras pragmáticas deste tipo de eventos impõe limites à extensão dos textos a apresentar.
Criticar o texto de Alvaro Cunhal só porque é curto, conciso e preciso (por inerência,"abstracto") é fácil. Mas o sr. João Freire que me desculpe, mas também é capaz de ser gratuito.
>de Estaline e do seu Comintern, não para a instauração
>de saudáveis democracias operárias, mas para a
>imposição de regimes caracterizados, logo à nascença,
>pelo partido único, pela inexistência de direitos
>democráticos e sociais, autênticos países fortaleza
>para a protecção dos interesses de Estaline.
E já agora, digo eu, para proteger o núcleo central da Revolução Soviética ainda em marcha...
>No período anterior, durante a guerra civil no Estado
>Espanhol, também não é falado, nem comentado, nem
>analisado o papel absolutamente contra-revolucionário
>e policial que a União Soviética teve, contribuindo de
>uma forma trágica para o resultado conhecido da guerra
>civil espanhola.
Fica-se aqui com a ingrata sensação de que quem teve culpa da derrota da Republica em Espanha, foram os comunistas.
Se Alvaro Cunhal - no seu texto - fala "em abstracto" (como digo mais acima deveriamos ter em conta as limitações circunstânciais à dimensão do texto), já João Freire tem toda a liberdade de nos (não) explicar o papel das democracias ocidentais no alheamento relativamente à legalidade republicana em Espanha. Se teve tempo e pachorra para assinalar a cumplicidade dos comunistas estalinistas em precipitar a derrota dos republicanos, e censurar Alvaro Cunhal por não fazer autocrítica a esse respeito, poderia ter alargado a sua análise e produzir mais um texto sobre a Guerra Civil de Espanha...
>Falar em "centralização" e em "burocratização" sem
>reconhecer as causas para o aparecimento desses
>processos, significa que só se fala por falar, para
>ficar tudo na mesma quanto ao discurso que se (man)tém.
Isto das causas da "centralização" e "burocratização" é tema para um compêndio de Sociologia. Não me parece correcto criticar uma pequena comunicação a um qualquer Encontro sobre problemas actuais da América do Sul, por não fazer o que só tem sido feito (no caso da União Soviética) de forma esparsa e algo avulsa.
Só os textos que eu já aqui produzi sobre a matéria, ocupam muito mais espaço do que o pequeno texto de Alvaro Cunhal... 8-(
>As três “razões" invocadas por Álvaro Cunhal para o
>triunfo do capitalismo na segunda metade do século XX
>- capacidade de desenvolvimento das forças produtivas
>por parte do capitalismo; grande capacidade
>financeira, económica, política e militar por parte
>dos EUA; burocratização e estagnação dos países
>socialistas - são novamente provas evidentes de que os
>referênciais anti-marxistas de Estaline continuam
>presentes no discurso de Cunhal.
Cá para mim o sr. Alvaro Cunhal até tem razão no que escreveu. MUITO mais haveria a dizer claro. Mas lá vem outra vez o problema da dimensão do texto...
>Porque razão a URSS entrou num processo acelerado de burocratização e
>estagnação? Será que soube sempre apoiar todos os
>processos que significassem desenvolvimento da
>revolução mundial? Porque razão Estaline acabou com a
>Internacional Comunista, depois de a ter reduzido a
>uma máquina de correias-de-transmissão? Porque razão a
>influência da URSS estalinista e brejneviana
>significou para os processos de libertação nacional no
>mundo colonial implantação de burocracias totalitárias
>incapazes de fazer o que quer que fosse? Porque razão
>é que a URSS brejneviana reduziu a sua acção externa a
>jogos diplomáticos e de espionagem e contra-espionagem
>... onde ficou a visão internacionalista de Lenine?
Pelos vistos, o sr. João Freire afinal é mais leninista do que Alvaro Cunhal. Terá as sua razões. Mas quanto a mim (é apenas uma opinião) Alvaro Cunhal acertou na "mouche" ao deixar cair a expressão "marxismo-leninismo". SEM QUALQUER FALTA DE RESPEITO PELA MEMÓRIA E OBRA DE LENINE.
Já alguém escreveu que Marx não era marxista. Pois Lenine, de certeza que não era "leninista".
É hoje um dado historicamente adquirido que a "Revolução Socialisa e Internacionalista" sonhada ou esperada por Lenine, não vingou.
Há que aprender com a História e seguir em frente na construção do Socialismo.
Quanto ao resto do texto do sr. João Freire, fico-me por aqui. Peço desculpa mas tenho ali um assunto mais urgente a "chamar por mim".
Cordiais saudações,
Guilherme Statter
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