Author:
Eduardo Santos Costa
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Date Posted: 23:22:39 03/30/04 Tue
Desculpem invadir este antro de marxistas e vermelhuscos mas, francamente, este pessoal da esquerda e o pessoal da comunicação social estão mesmo tapadinhos de todo com esta barulheira em torno do Saramago e do voto em branco.
Está visto que eu, que até sou de direita, é que tenho de lhes explicar que, parecendo que não, estão a fazer o jogo dos comunas para as eleições para o Parlamento Europeu.
Melhor dizendo: ingénuos e desprevenidos, estão a alimentar uma magistral jogada do PC que nestas coisas não joga a feijões e não dá ponto sem nó.
A jogada é muito simples e bem vista : primeiro, durante o mês de Abril, o Saramago vai dizendo coisas que até parecem contraditórias com o ser candidato da CDU e ser prejudiciais para a CDU.
Mas fala-se nele e fala-se do ser candidato da CDU, coisa que não se falaria se ele tivesse um discurso correcto e impecável do ponto de vista do PC e dos interesses eleitorais da CDU.
Ou seja, embora aparentemente sem vantagem imediata, o PC e a CDU encaixaram-se na imensa onda mediática em torno de Saramago e do seu livro e até dão um ar de abertos por incluírem na sua lista uma pessoa com opiniões próprias, tão diferentes e tão vincadas.
Depois, lá para o meio de Maio, senão mesmo no inicio oficial da campanha, o Saramago logo dará uma voltinha no discurso (até não é dificil), lembrará que uma coisa é quem se quer abster votar em branco e outra muito diferente seria quem vota CDU passar a votar branco e não deixará de apelar ao voto na CDU.
É certo que os comunas não costumam ter uns rins tão elásticos e têm fama de não saber lidar com a comunicação social.
Mas para quem sabe alguma coisa de marketing, esta táctica do PC em curso com o caso Saramago é uma adaptação de um truque do famoso publicitário Jacques Seguella em França.
Na verdade, o Seguella há muitos anos montou uma campanha de cartazes para o PS francês (então no tempo do Mitterand), de cartazes muito chocantes e quase ridiculos em que um talhante, uma doméstica, etc, com um olhar esbugalhado e em posturas espalhafatosas, mostravam susto e pavor com o perigo do regresso da direita ao governo da França.
Os cartazes desencadearam uma grande polémica durante quase um mês. No fim da polémica, o Seguella fez uma declaração a agradecer toda a polémica havida, disse que os cartazes só tinham sido concebidos exactamente para isso, portanto muito obrigado a todos por terem falado tanto nos cartazes do PS, agora que conquistámos uma notoriedade e interesse mediático que antes estavam em baixo vamos passar a outra fase mais séria e menos polémica, porque as coisas já estão maduras para isso.
Ou muito me engano, ou é algo parecido que vai acontecer com o PC e o Saramago.
Mas nessa altura já será tarde para uma data de ingénuos e palermas perceberem que afinal andaram a desempenhar o papel de «idiotas úteis» dos comunas.
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