Subject: Re: O VOTO EM BRANCO E A DEMOCRACIA QUE TEMOS... |
Author:
Luis Blanch
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Date Posted: 12:12:26 04/05/04 Mon
In reply to:
João Pedro Freire
's message, "O VOTO EM BRANCO E A DEMOCRACIA QUE TEMOS..." on 12:16:18 04/04/04 Sun
Haveria pessoas que tinham obrigação de não embarcar na demagogia fácil da crítica ao José Saramago. Do diagnostico , até superficial , que ele faz da democracia com raízes na Revolução francesa, de boa fé não se intui que devamos meter no caixote do lixo esse modelo de organização social. Precisamente o que ele diz e repetiu em várias entrevistas ,é que a democracia deve ser aprofundada e desenvolvida de tal forma que não se quede , não se reduza , ao simples acto de eleger ou demitir governos .
Mais salienta que não deverá haver uma atitude de resignação perante aquilo que seria o menos mau dos sistemas... Porquê pois, tanta "indignação" com estes votos realmente democráticos ? Por outro lado não consigo descortinar um apêlo sem saída ao voto em branco. Há uma construção meramente teórica para uma situação limite. Quem não entende a linguagem metafórica tem , de facto, dificuldade em entrar na linguagem romanceada...
Claro que se podia , que se pode especular sobre as desilusões de Saramago ; eu não vou por aí ,mas como "quem não se sente, não é filho de boa gente"
,eu estou com Saramago, ele é filho de boa gente.
>O VOTO EM BRANCO E A DEMOCRACIA QUE TEMOS...
>
>
>
>Quanto mais não fosse, o livro de Saramago ENSAIO
>SOBRE A LUCIDEZ já teve dois grandes méritos:
>
>1 - Por gente que nunca falava do assunto, a falar e a
>opinar sobre o voto em branco e a qualidade da
>democracia que temos;
>
>2 - Ver como afinal os políticos parlamentarizados de
>vários quadrantes se unem na defesa da abstracção
>democrática.
>
>Há efectivamente muita coisa que tem de ser
>frontalmente questionada quanto às inegáveis
>deficiências da democracia que temos. Sendo que a
>primeira grande deficiência desta democracia é o seu
>crescente formalismo e a sua orientação ditada por
>subjugação ao poderio económico e a políticas
>restritivas das liberdades e direitos como é o caso da
>chamada "luta anti-terrorista".
>
>A democracia que se vem formalizando e desqualificando
>com o passar dos anos tem vindo também a tornar-se
>inibidora da participação dos cidadãos, sendo que os
>níveis de abstenção eleitoral acabam por ser um
>sintoma do desinteresse com que os cidadãos olham para
>uma democracia que o é cada vez menos.
>
>É também verdade que os partidos políticos,
>principalmente os mais atados aos jogos parlamentares,
>revelam-se incapazes de renovar o que quer que seja,
>até porque no seu interior a falta de qualidade da
>democracia também se verifica e, às vezes, em níveis
>maiores!
>
>Coloca-se a questão: como qualificar a democracia?
>
>Desde um ponto de vista socialista, a qualificação da
>democracia passa obrigatóriamente por uma maior
>socialização da política, da economia e da cultura. Ou
>seja, é fundamental que os cidadãos trabalhadores
>participem decidindo democráticamente em todos os
>níveis da sociedade.
>
>A qualificação da democracia precisa pois de novos
>protagonistas, os quais com a sua participação,
>garantam efectiva mudança e novidade. É claro que os
>que têm contribuido para a desqualificação da
>democracia não podem ser protagonistas de nenhuma
>mudança.
>
>A qualificação da democracia é também incompatível no
>quadro de um sistema liberal globalizado que se tem
>vindo a assumir como um novo totalitarismo se tivermos
>em conta o controlo que pretende garantir em matéria
>de liberdades, de direitos, mas também em termos
>económicos e militares (que acabam por andar muito
>ligados!).
>
>Mais democracia passa por mais e maior participação
>dos cidadãos. Uma participação com capacidade de
>decisão permanente e não só formal. O que em termos
>organizativos não tem de passar sómente por partidos e
>por parlamentos. Tem também de descobrir novas formas
>de auto-organização e de institucionalização da
>democracia directa.
>
>O voto em branco, a perpetuar-se o actual quadro de
>democracia formal e inibidora da participação cidadã,
>pode ser aceite como uma acção de protesto popular. No
>entanto, só por si, não mudará grande coisa se esse
>protesto popular não se organizar de modo a assumir-se
>como alternativa política e social ao que se contesta.
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