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Date Posted: 11:07:01 12/07/04 Tue
Author: José Maria
Subject: Sugestões de um antropólogo para a boa escrita científica, artigo de Carlos José Saldanha Machado

O texto expositivo na escrita científica privilegia a ordem direta, a objetividade, a clareza e a concisão


Carlos José Saldanha Machado é antropólogo, pesquisador do Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz, membro do Comitê Local de Organização do 4o Congresso Mundial de Centros de Ciências ­ abril 2005 (saldanha@coc.fiocruz.br). Artigo enviado pelo autor ao ‘JC e-mail’:


A vida em sociedade supõe intercâmbio e comunicação, que se realizam fundamentalmente pela língua, cujo papel é cada vez mais importante nas relações humanas e, sobretudo, na vida científica.


As relações de trabalho no mundo das ciências demandam atenção especial com a forma escrita da língua e seu registro adequado, para que estabeleça o entendimento comum. E comunicação é isso: participação, transmissão, troca de idéias, conhecimentos e experiências.


Contudo, com o atual ritmo de vida acelerado, tem-se pouco tempo para ler e escrever todos os textos que gostaríamos, fazendo-se necessário um estilo enxuto e econômico da expressão textual.


O texto se rarefaz e cada palavra adquire importância maior: a economia de palavras exige cuidado particular na construção dos textos, em especial, da redação de caráter científico.


Um texto de boa qualidade, especialmente aqueles que contribuem para tornar a realidade do mundo mais inteligível, podendo criar obrigações e compromissos, depende de três pré-requisitos básicos: correção e objetividade, clareza e concisão, coerência e coesão.


A correção se traduz pelo respeito ao padrão culto da língua, ou seja, às normas gramaticais, que têm por finalidade codificar o uso idiomático, dele induzindo, por seleção, classificação e sistematização, as formas representativas do ideal de expressão correta.


A objetividade textual se traduz mediante linguagem direta, sem rodeios ou empolação.


A clareza facilita a percepção rápida das idéias expostas no texto. Para isso, recomenda-se a prática do período curto, a parcimônia na adjetivação, a ausência de ambigüidade e do circunlóquio, a ordem direta.


Evita-se, igualmente, redundâncias e digressões que desviem a atenção do leitor sobre o que é essencial.


A concisão consiste em dizer muito com poucas palavras, eliminando-se as palavras supérfluas, a adjetivação desmedida, evitando-se períodos extensos e emaranhados. A concisão traz clareza à frase e, igualmente, correção: quem muito escreve corre o risco de tropeçar no erro de língua, na falta de lógica e na adequação textual.


O vocabulário não deve incluir palavras difíceis, pois exuberância nem sempre é sinônimo de clareza. Ao redigir, é importante empregar apenas as palavras necessárias, as mais simples e correntes. O excesso de linguagem técnica, ao invés de afirmar competência, pode gerar incompreensão para o leitor.


O texto expositivo na escrita científica privilegia a ordem direta, a objetividade, a clareza e a concisão evitando, assim, parágrafos longos com excessivos entrelaçamentos de incidentes e orações subordinadas que podem causar dificuldades à análise e ao entendimento do interlocutor.


É claro que algumas idéias exigem parágrafos maiores, com a presença de subordinação, mas deve haver um equilíbrio entre as idéias que se quer expressar e o desenvolvimento do período. O uso da subordinação precisa apresentar relações e nexos conjuntivos evidentes, evitando-se as construções labirínticas.


Além dessas observações, cabe lembrar outros aspectos que prejudicam a legibilidade e imprimem ao texto um registro coloquial, comum nas situações informais da língua falada, mas inadequado na redação científica:


(1) uso excessivo de pronomes pessoais, possessivos, dos artigos indefinidos um, uma, e da conjunção que;


(2) mistura de pronomes de tratamento;


(3) colocação dos pronomes adverbais átonos mal feita;


(3) regência verbal indevida;


(4) concordância nominal e verbal equivocada;


(5) uso de fragmentos de frase;


(6) inversões desnecessárias;


(7) inexistência de pontuação ou seu uso incorreto.


Coerência deve ser entendida como unidade do texto. Um texto coerente é um conjunto harmônico, em que todas as partes se encaixam de maneira complementar, de modo que nada seja destoante, nada ilógico, nada contraditório, nada desconexo.


Daí a necessidade de ordem e inter-relação. No texto coerente, cada parte solidariza-se com as demais na seqüência dos fatos, de tal modo que o desenvolvimento de uma parte dependa do desenvolvimento anterior de outra. O ajuntamento de partes desconexas prejudica a intelegibilidade do texto.


Obtém-se coerência interligando as idéias de maneira clara e lógica. Dessa forma, sugere-se redigir segundo ordem:


(1) cronológica, respeitando a temporalidade;


(2) espacial, apresentando os elementos mais próximos e, depois, os mais distantes;


(3) lógica, isto é, com coerência de raciocínio e de idéias.


A coesão consiste no entrelaçamento significativo entre declarações e sentenças seqüenciais e não, meramente, de afirmações colocadas umas após as outras, pois os parágrafos significam mais do que uma simples sucessão de sentenças.


Um texto bem redigido deve constituir um todo significativo e não fragmentos isolados, justapostos. No seu interior precisam existir elementos que estabeleçam relação entre as partes, ou seja, elos significativos que confiram nexo ao texto.


Enfim, a escrita não exige que os períodos sejam longos e complexos, mas que sejam completos e que as partes estejam absolutamente conectadas. O redator deve ter claro o que pretende dizer e, uma vez escrito o enunciado, avaliar se o texto corresponde, exatamente, àquilo que queria dizer.

JC e-mail 2661, de 06 de dezembro de 2004.

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