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Date Posted: 10:27:25 06/15/02 Sat
Author: José Maria
Subject: O livro face às novas tecnologias

REGINA ZILBERMAN


Professora de Teoria Literária da PUC-RS e autora do livro 'Fim dos leitores?'

OS DESAFIOS DA ESCRITA
Roger Chartier

Unesp, 150 páginas

R$ 22


Tornou-se praticamente impossível a um pesquisador que lide com história do livro, da leitura e da escrita não se posicionar perante o futuro de seu objeto. A eventualidade de que esse aos poucos desapareça impõe-lhe a necessidade de pensar sobre o que esperar da disciplina que pratica e de seu lugar enquanto membro da comunidade científica. Uma alternativa é concluir que ele arrisca desembocar na Arqueologia; a outra é verificar se, de fato, seu objeto está fadado ao desaparecimento.

Roger Chartier vem-se deparando com essa encruzilhada há alguns anos. Formado dentro da Escola dos Annales, metodologia que faz passar pelo filtro das idéias filosóficas de Michel Foucault e sociológicas de Pierre Bourdieu, Chartier dedica-se sobretudo a investigar a história do livro e, sobretudo, das práticas de leitura. Seu fito é verificar em que medida o universo da cultura impõe, por intermédio dos produtos que oferece ao leitor, concepções próprias e diferenciadas de mundo, que medeiam a relação entre o indivíduo e a sociedade. Com esse propósito, escreveu, editou e organizou livros marcantes, boa parte publicada no Brasil, como A história cultural entre práticas e representações (1990), A ordem dos livros (1994), Práticas de leitura (1996) e História da leitura no mundo ocidental (1998-9).

Olhar para o passado não impediu, porém, o pesquisador de procurar refletir sobre os destinos do livro e da leitura no horizonte do novo milênio, diante do avanço das tecnologias eletrônicas. Em A aventura do livro: do leitor ao navegador (1998), ele faz um retrospecto da história da leitura, visando encaixar os novos procedimentos determinados pelo avanço da comunicação via internet à trajetória do livro, desde a Antigüidade. Em Os desafios da escrita, lançado recentemente, Chartier procura refletir sobre o problema e formular prognósticos.

A obra compõe-se de cinco ensaios, sendo dois deles dedicados diretamente à questão dos efeitos do que ele classifica como ''revolução digital'', determinada pela introdução do computador na vida cotidiana.


''Nem o leitor nem o livro vão morrer''



Graças à disseminação do computador, definido pelos americanos como ''eletrodoméstico'', introduzem-se novos modos de produção de texto, recepção e comunicação, que ameaçam a sobrevivência de instituições milenares - a escola, por exemplo - e objetos às vezes sacralizados - o livro. Chartier enfrenta a questão, examinando primeiramente a tecnologia proposta, depois o tipo de leitor gerado por aqueles mecanismos, desconhecidos até poucas décadas atrás.
É a natureza revolucionária do processo que unifica todos os cinco ensaios, e não apenas os dois mencionados, estes estrategicamente colocados, aliás, no começo e no final da obra. Mesmo quando examina Dom Quixote, Chartier verifica as relações entre o herói desse romance e o novo mundo da imprensa, de que ele é simultaneamente sujeito e objeto. E, estudando o papel histórico dos editores, assim como o lugar do manuscrito nas novas condições de produção, interessa-lhe entender o que ocorre a um procedimento do passado no contexto de um tecnologia contemporânea, como a digital, que certamente contempla um promissor futuro pela frente.

Com esse perfil, sublinhado pelo título da obra, Os desafios da escrita propõe-se a fazer o balanço da presente situação e chegar a um julgamento; pesados os prós e os contras, aquele é favorável ao livro e ao mundo da escrita. O fato de aderir, desde logo, à idéia de ''revolução digital'' induz seu próprio raciocínio, chegando nas últimas páginas a uma formulação inteiramente afirmativa: ''O novo suporte do escrito não significa o fim do livro ou a morte do leitor. O contrário, talvez.''

Os desafios da escrita conclui pois por assegurar seu próprio espaço enquanto objeto, além de garantir a seu autor a preservação de sua atividade investigativa. Afinal, trata-se de um livro certificando que ele mesmo não perecerá enquanto produto, nem os leitores sumirão, o que, enfim, afiança seu próprio consumo.

Com efeito, Roger Chartier, em outras obras suas, mostra-se mais cauteloso em relação às revoluções no mundo da leitura, quando investiga o passado desse. Desconfia da chamada ''revolução da leitura'' atribuída ao século 18, na esteira das demais revoluções do período, como se lê em outra obra recém-publicada no Brasil, Do palco à página. E questiona, em outros ensaios, o papel fundamental desempenhado pela invenção da imprensa no século 15.

Certamente podemos pensar que Roger Chartier acredite que o momento atual resulta de um processo que cabe narrar e demarcar com balizas históricas. O próprio pesquisador já sugeriu isso em vários de seus estudos, que se complementam este livro, igualmente importante.

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