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Date Posted: 23:06:18 09/01/02 Sun
Author: José Maria
Subject: Lendas universitárias (Deonísio da Silva)

Lendas universitárias
Deonísio da Silva

Escritor Em prova oral do curso de Medicina, o professor pergunta: ''Quanto rins nós temos?'' ''Quatro'', responde o aluno. ''Quatro?'', replica o professor, arrogante, daqueles que se comprazem em tripudiar sobre o erro dos alunos. ''Traga um feixe de capim'', ordena a um auxiliar. ''E para mim um cafezinho'', diz o examinando.

Exasperou-se o professor, expulsando o aluno da sala. O discípulo era, entretanto, o famoso humorista brasileiro Apparício Torelly (1895-1971), mais conhecido como o Barão de Itararé, título que se autoconcedeu para debochar da famosa batalha que não houve, na Revolução de 1930. Ao sair da sala, teve ainda a suprema audácia de corrigir o furioso mestre: ''O senhor perguntou quantos rins nós temos. Nós temos quatros: dois meus e dois seus''. Nas lendas universitárias brasileiras, alunos irreverentes vingam-se de professores arrogantes.

Vamos a outra lenda, desta vez internacional. País: Estados Unidos. Instituição: o famoso Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Boston. Dia de prova importante. Quatro alunos espertos não querem perder uma festa de arromba que ocorre a centenas de quilômetros dali. Ao voltarem certos de que podem enganar o professor e todos os colegas menos espertos que, em vez de irem à festa, fizeram a prova, procuram o mestre, pedindo uma segunda chance.

Os quatro elegem um deles procurador e porta-voz, por ser o mais bem falante. Este explica que o grupo viajou um dia antes e, quando voltava, já de madrugada, um pneu do carro estourou em lugar distante de socorro, impedindo que chegasse a tempo.

O professor parece entender o que houve e, compreensivo, pergunta se os alunos podem fazer a prova naquele exato momento. ''Como se trata de formalidade acadêmica, vocês quatro são bons alunos, vamos fazer uma prova substituta, breve''. Os quatro exultam e concordam. Um deles, mais gaiato, ainda faz gestos e caretas atrás do professor, dando a entender que o mestre foi enrolado.

Chegando à sala, o professor manda que cada um deles ocupe um canto do recinto e começa a ditar a prova de Ciências da Informação. ''São apenas duas perguntas'', diz o professor. ''Como lhes expliquei, é mera formalidade. A primeira vale um ponto. Quem inventou a imprensa e quantas linhas tinha a página da célebre Bíblia, o primeiro livro que ele imprimiu?'' Todos acertam a pergunta tão fácil: ''Foi Johannes Gutenberg e a página tinha 42 linhas''. Um deles, mais erudito, ainda acrescenta o nome intermediário do inventor: Gensfleisch.

O professor, sem tirar os olhos dos examinandos, passa à segunda e última pergunta. ''Esta vale nove pontos. Uma simples troca de olhares, o menor sinal de comunicação entre vocês, dou zero aos quatro e vocês perdem o direito à prova do próximo bimestre. Qual o pneu do carro de vocês que estourou?''

Rendidos, um a um, os quatro, cabisbaixos, pedem desculpas ao professor, entregam as provas e convidam o mestre para uma cerveja. Este, compreensivo, diz que não costuma beber com mentirosos, mas, como se arrependeram, vai abrir uma exceção, sob as seguintes condições. Em vez de cerveja, vinho. Ele escolhe a marca e os alunos pagam a conta.

Os cinco comemoram alegremente a passagem de mais uma etapa no processo educacional. Desta vez, à beira de copos e rostos, ao redor de uma mesa de bar, onde é mais difícil de mentir do que numa sala de aula.

Deonísio da Silva (teresa97@terra.com.br) escreve no JB Online aos domingos

http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/opiniao/2002/08/31/joropi20020831001.html
01/09/2002

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