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Date Posted: 21:34:36 10/11/02 Fri
Author: José Maria Jardim e Maria Odila Fonseca
Subject: A Informação como campo interdisciplinar

Na base dos estudos interdisciplinares sobre o fenômeno informacional está o reconhecimento da chamada "explosão da informação", identificada principalmente nos EUA após a II Guerra Mundial. No âmbito deste processo emerge gradativamente a idéia da informação como um recurso estratégico a ser gerenciado. O chamado enfoque informacional encontra relevância histórica no que alguns designam como sociedade pós-industrial em função da atribuição de novos valores à informação, relacionados à significação social do desenvolvimento do conhecimento científico e à inovação tecnológica. Sob tais condições, a informação é considerada como recurso ou insumo à produção de novos conhecimentos e produtos vinculados a projetos de desenvolvimento econômico e social.

Nos últimos trinta anos, os estudos da informação ultrapassam as fronteiras dos Estados Unidos, ganhando espaço acadêmico-institucional em outros países. Cabe assinalar, neste sentido,que a ampliação desses estudos em países do Terceiro Mundo como o Brasil coloca a comunidade científica local face a padrões conceituais resultantes de condicionantes históricos das sociedades do Primeiro Mundo. Nestas sociedades, o contexto de organização e de implementação dessa nova área do conhecimento apresenta níveis, por princípio, satisfatórios no que se refere ao seu controle documental, infomacional e cognitivo. Nas sociedades de Terceiro Mundo, tais elementos configuram-se em outra escala, inclusive em função de uma ordem internacional da informação, na qual as chamadas indústrias da informação são controladas principalmente pelos países centrais com enorme desigualdade entre norte e sul. Tomando-se como exemplo os bancos de dados existentes, os EUA detêm 60% destes contra 26% controlados pela Comunidade Econômica Européia e 14% pelas instituições internacionais e o "resto do mundo"(BENAKOUCHE).

Segundo Mcgarry, mesmo numa pequena mostra de definições de informação pode-se verificar um certo padrão na variações observadas nos atributos relacionados ao fenômeno:

a informação pode ser considerada quase sinônimo de fato;
tem por efeito transformar ou reforçar o que é conhecido ou julgado conhecido por um ser humano;
a informação é utilizada como coadjuvante de decisão;
a informação é a liberdade de escolha que se tem ao selecionar uma mensagem;
a informação é algo necessário quando enfrentamos uma escolha. A quantidade de informação requerida depende da complexidade da decisão a tomar;
a informação é a matéria prima de que deriva o conhecimento;
a informação trocada com o mundo exterior e não meramente recebida;
a informação pode ser definida em termos dos seus efeitos no receptor.

Para Belkin, a questão central não é o estabelecimento de uma definição para informação, mas sim de conceitos de informação.Tal se justifica na medida em que se pretende identificar maneiras de olhar e interpretar o fenômeno informação, mais do que afirmar o que ele é ou defini-lo.

Sugere, portanto, que se estabeleça um conjunto de requisitos mínimos para um conceito de informação. Tais requisitos podem ser grupados, grosso modo, em três grupos: metodológicos, relacionados com a utilidade do conceito como instrumento, comportamentais, relacionados com os fenômenos que o conceito deve explicar e definicional, relacionados com o contexto do conceito.

No âmbito definicional estariam os tipos de informação que concernem à Ciência da Informação: informação dentro de um sistema de comunicação de conhecimento; informação na relação entre o gerador e o usuário e entre estes e a informação (informação desejada).

No âmbito comportamental são identificadas as questões relativas às diferentes "respostas" que diferentes usuários fornecem ao mesmo conjunto de informações, às diferentes respostas que os mesmos usuários oferecem aos mesmos conjunto de informações em diferentes épocas, e à influência que a apresentação do conjunto de informações tem na natureza da reação que provoca.

No âmbito metodológico estão inseridas as questões relativas ao uso instrumental do conceito.

O quadro exposto a seguir explicita oito requisitos para um conceito de informação, identificando em cada um deles o âmbito principal a que se refere:





1. Deve referir-se à informação dentro de um contexto de comunicação voluntária e compreensiva (definicional);

2. Deve referir-se à informação como um processo social de comunicação entre seres humanos ( definicional);

3. Deve referir-se à informação que é solicitada ou desejada (definicional);

4. Deve referir-se ao efeito da informação sobre o receptor (definicional/ comportamental);

5. Deve referir-se às relações entre informação e o mapa cognitivo do gerador ou receptor ( definicional/ comportamental);

6. Deve referir-se às variações observadas no efeito de mensagens apresentadas de diferentes formas(comportamental);

7. Deve ser generalizável além do caso individual (metodológico);

8. Deve oferecer meios de prever os efeitos da informação (metodológico).

Belkin analisa e classifica diferentes conceitos de informação a partir do estabelecimento de um critério de classificação baseado na generalização e aplicabilidade decrescentes. Ao faze-lo, procura cotejá-los com os requisitos expostos acima e os critérios de operacionalidade e relevância. Assim, temos, em ordem decrescente de generalização e aplicabilidade:





1. conceitos decorrentes da teoria matemática da comunicação, na qual o conteúdo é dissociado da informação, considerando como relevante a sua escolha num rol de mensagens possíveis. Apesar das tentativas de Artardi e Belzer para aplicar a teoria da comunicação matemática no âmbito da Ciência da Informação, o consenso entre os estudiosos da matéria - e só aí ele existe - é de que a informação para a Ciência da Informação deve ser significante, devendo ser considerado seu efeito sobre o receptor.

2. informação como fenômeno geral, ou seja, a ciência da informação deve ocupar-se da informação como fenômeno geral. Como representante desta linha, o ressalte-se a proposta de Otten, de que a Ciência da Informação deve ser a ciência geral da informação. Apesar da generalização não permitir a operacionalização, o conceito de informação proposto por Otten traz uma contribuição interessante, na medida em que estabelece um conceito geral de informação, no qual esta é uma mudança interna no sistema, possa ou não ser observada externamente.

3. informação como categoria, baseando-se nos preceitos do marxismo-leninismo sobre as propriedades da matéria: variedade e reflexo. A principal tentativa de estabelecer uma conexão entre esta idéias filosóficas e a Ciência da Informação foi a tentativa de Ursul, cujo objetivo era construir um conceito de informação capaz de incorporar todos os conceitos de informação estabelecidos. Assim, Ursul estabeleceu um conceito de informação no qual a informação é uma propriedade da matéria e da consciência, agindo para conectar os dois níveis pelo seu relacionamento com a variedade e a reflexo. Apesar dos aspectos de operacionalidade do conceito, este mostrou-se inadequado em sua tentativa de estabelecer uma característica universal da informação como propriedade fundamental da matéria.

4. informação semântica formal, na qual Shreider estabelece um conceito de informação segundo o qual à Ciência da Informação concerne o que um receptor pode aprender de um texto. Shreider estabelece uma forma de mensurar este aprendizado, a partir de uma fórmula que lida com a indexação e tesaurus, o que significa que seu conceito está demasiadamente vinculado à medida e à meta-informação, dificultando a sua operacionalização operacionalmente relevante.

5. informação como evento, é o conceito desenvolvido por Pratt, que situa a informação como evento que ocorre num estágio particular do processo de comunicação. Este conceito que parte de uma abordagem nova, pois não considera a informação como propriedade da matéria, nem como mensagem ou como receptor. Pratt utiliza a tradução latina de informação para dizer:" informação é a alteração de imagem que ocorre quando se recebe uma mensagem." Apesar do inquestionável interesse do conceito, ao cotejá-lo com os requisitos expostos anteriormente percebemos que não foi definido operacionalmente, em dois aspectos:não o se pode generalizar de um evento informativo para outro e não há base para previsões tendo como base a informação, na medida em que a informação reside no receptor e não existe externamente.

6. informação e incerteza,identificam o modelo proposto por Wersig, no qual a informação é definida como a resposta à condição de duvida - incerteza - de um organismo numa situação problemática que não pode ser resolvida diretamente pelos seus estoques de conceitos, eventos e programas. A não adequação do conceito de Wersig aos requisitos de operacionalidade relevante relacionam-se ao fato de que, como está referido à incertezas do indivíduo, não pode ser utilizado para estabelecer previsões ou em qualquer situação fora do ponto de vista individual.

7. informação e tomada de decisão, constitue a base do conceito desenvolvido por Yovits, a partir do qual as informações são dados relevantes para a tomada de decisões. Por tomada de decisão considera ações propositadas e comportamento inteligente. Assim, tomar decisões significa reduzir incertezas.

8. informação social e científica, referente à ciência da informação é a informação científica, a qual se chega dividindo sucessivamente a idéia de informação (intuitiva) em informação social e não-social, informação social em semântica e não semântica, e informação semântica em científica e não científica.Apesar de responder aos requisitos expostos anteriormente, não considera o efeito da informação sobre o receptor

9. informação como representante do conhecimento, conceito no qual a informação é considerada como a representação de um conhecimento ou pensamento. No processo de comunicação, o autor do conceito - Farradane - nota que a única parte observável externamente é a representação daquilo que se quer comunicar,ou seja, informação.

10. informação como estrutura, como Thompson propõe, ou seja, uma organização de dados siginificantes e experiência. Sua proposta trata da informação não como a estruturação decorrente do evento informativo, como Pratt, mas como a estrutura mesma resultante.



Para Gomez, a informação semântico-social, em sentido amplo, reúne fenômenos cujo aspecto comum consiste na alteração do estado cognitivo ou da estrutura cognitiva de um tesauro (sujeito social, individual) através de outras estruturas semióticas, conectadas, diretamente ou não, a um processo humano de comunicação intencional. A informação apresentaria assim aspectos de organização e dispersão (cognitiva, física, social, comunicacional, histórico-cultural). Se não existe uma naturalidade da dispersão, tampouco haveria uma lógica da organização. A dispersão não seria a mesma em todas as sociedades, sobretudo entre aquelas de Primeiro e Terceiro Mundo e, como tal, os meios para a organização da dispersão não deveriam ser os mesmos.

Machlup destaca que professores de Ciência da Informação trabalham, algumas vezes, junto aos estudantes da área com a seguinte hierarquia, em ordem ascendente: dado, informação e conhecimento. Distinções entre informação e conhecimento tem sido propostas em três níveis:

informaçãoé uma partícula fragmentada e particular, enquanto conhecimento é estruturado, coerente, e freqüentemente universal.

informação é provisória e talvez efêmera,enquanto conhecimento apresenta consistência e permanência.

informação é um fluxo de mensagens, enquanto conhecimento é um estoque, resultante desse fluxo no sentido que o "input" de informação pode afetar, adicionando novos aspectos ao estoque de conhecimento, reestruturando-o ou mudando-o de alguma maneira (apesar da informação poder deixar o conhecimento imutável).



Ressaltando que nenhuma das distinções acima relaciona-se com o uso prático para serem designados como INFORMAÇÃO e CONHECIMENTO, Machlup assinala que enquanto a primeira é um processo, o segundo é um estado.

Considerando-se que num sistema computadorizado, dado é o que foi introduzido em sua memória, tornando-se disponível para processamento, a literatura na área chamada Ciência da Informação e Computação questiona se os resultados de um alto grau de processamento devem ainda ser denominados dados ou informações.

Para Machlup a denominação não faz diferença: o operador de computador possivelmente seguirá usando dado nos termos acima mencionados enquanto os vendedores de sistemas de informação gerencial provavelmente continuarão denominar como informação o output do sistema. Do ponto de vista do usuário do output, informação e dado são equivalentes.

Belkin refere-se à informação como modificador de estruturas,elaborando um conceito como capaz de satisfazer os requisitos expostos anteriormente, dentro dos critérios de operacionalidade relevante. Assim, do geral para o particular temos : " informação é tudo aquilo que é capaz de modificar estruturas"; a deliberada estruturação da mensagem pelo emissor de modo a afetar a estrutura do receptor. Implica,portanto, no conhecimento,pelo emissor, do quadro da estrutura de conhecimento do receptor. Chega-se, assim, a definição de texto: uma coleção de signos deliberadamente estruturada por um emissor com a intenção de mudar a estrutura do receptor. Neste sentido, a informação consiste na estrutura de qualquer texto capaz de mudar a estrutura de algum receptor.

Diversas disciplinas e subdisciplinas dedicam-se ao estudo da informação como um fenômeno humano e o reconhecimento consensual desta condição informacional teria promovido o surgimento da Ciência da Informação. Esta não seria uma meta- ciência, mas uma interdisciplina nos termos propostos por Newell. Conforme Zhang, a maior parte dos contextos de pesquisa interdisciplinar sob o título "Ciência da Informação" encontram-se no âmbito da informação humana. Reconhece, também, que Ciências da Informação abrange uma grande família de ciências, tal como as Ciências Naturais e as Ciências Sociais. Nesse caso, não seria nem uma metaciência nem uma interdisciplina, mas a denominação para todos as ciências que tomam a informação como seu conceito básico no âmbito de seus sistemas conceituais.

Conforme Deschatelet (1990), a Ciência da Informação seria uma área em gestação constituída por várias ciências da informação como, por exemplo, A Arquivística, a Biblioteconomia, a Informática, o Jornalismo e a Comunicação, as quais têm como objeto de pesquisa imediatos a transferência da informação. Sem apontar explicitmanente para a existência de um projeto interdisciplinar envolvendo tais disciplinas, Deschatelet reconhece, no entanto, o surgimento cada vez mais frequente da expressão information studies no lugar de information science para denominar este vasto território de conhecimentos.





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