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Date Posted: 10:48:21 05/11/04 Tue
Author: José Maria
Subject: Tecnofilia X Tecnofobia

Introduzindo o debate de Tecnofilia X Tecnofobia: Alguns comentários sobre a Idade da Informação

Beatriz Santana



Manuel Castells em seu livro "A era da informação: economia, sociedade e cultura - o crescimento da sociedade de redes de trabalho" aponta para uma interação dialética entre tecnologia e sociedade: "a tecnologia não determina a sociedade: ela a encorpa. Mas tampouco a sociedade determina a inovação tecnológica: ela a usa".

De acordo com Casttels 1986, a presente fase do capitalismo se tornou possível graças ao desenvolvimento de tecnologias de informação. A introdução de inovações na área de microeletrônica, telecomunicação, eletrônica digital e redes de trabalho computacional representa um crescimento de um novo paradigma tecnológico que se torna a base das relações sócio-econômicas. Estas novas tecnologias afetam perversamente todos os níveis de produção bem como toda a sociedade.

Esta quebra de paradigma requer novas práticas na produção. Um novo tipo de trabalhador e um novo tipo de gerenciamento são necessários com o objetivo de ajustar a produção ao dinamismo imposto pelas tecnologias de informação. Casttels comenta na característica dinâmica da nova sociedade global provocada pela introdução da tecnologia da informação:

"A emergência de um novo paradigma tecnológico, organizado em torno de novas, mais poderosas e mais flexíveis tecnologias de informação, faz com que isso seja possível, que a informação por si só se torne o produto do processo de produção. Para ser mais preciso: os produtos da nova indústria de tecnologia da informação são esquemas de processamento de informação ou informação processando a si mesmo. Novas tecnologias de informação, transformando o processo de processamento de informação, atuam em todos os domínios da atividade humana e tornam isso possível para estabelecer conexões eternas entre diferentes domínios e bem como entre elementos e agentes de tais atividades. Uma rede trabalhada, profundamente dependente economicamente emerge tornando-se crescentemente hábil para aplicar este progresso em tecnologia, conhecimento e gerenciamento da tecnologia, conhecimento e gerenciamento sozinhos. Como um círculo virtuoso poderia levar a grande produtividade e eficiência, dando as condições certas de igualdade organizacional dramática e mudanças institucionais."

Por conseguinte esta nova era não apenas coloca o conhecimento na vanguarda da competitividade econômica, mas também clama por todo um novo modelo de produção e gerenciamento. A possibilidade de uma inacreditável difusão dinâmica de novas mercadorias e uma rápida entrega de serviços tem reformado a produção. As indústrias competem por mais qualidade e diferenciação no produto. Isto não é tão distante da era da manufaturação, mas de processamento de informação. O gerenciamento é focado nas necessidades dos usuários sugerindo esforços para produzir diferentes modelos com objetivo de igualar a grande diversidade de gostos dos consumidores. Isto não está distante do tempo dos produtos padronizados, gerados dentro de um modelo de produção em massa "fordista". A "economia de informação", ao invés de apontar para um modelo flexível e costumeiro de produção introduzido pela prática das companhias japonesas "apenas no tempo" (toiotismo). Outra característica desta nova era é a quebra de uma escala ampla vertical e integrada para redes de trabalho horizontal de desintegração vertical entre as unidades na produção (Harvey 1994).

Esta nova economia da informação requer um novo tipo de trabalhador, um que seja mais criativo, participativo e capaz de fazer sugestões e de refletir sobre suas tarefas diárias. Características como estas são vistas no que é chamado "trabalhador flexível", tanto dentro do setor maduro quanto no de alta tecnologia. A economia também requer um novo estilo de gerenciamento (e um novo gerente). Sendo hábil para tomar decisões nos mais dinâmicos contextos, este gerente tem que aprender como negociar com novos trabalhadores. Assim, uma nova relação entre gerenciamento e o lojista tem que ser construída.

O fluxo de idéias tem agora um padrão diferente. O "pensamento" não está localizado exclusivamente com base no esquema alto-baixo. O "feedback" proveniente de um trabalhador criativo e participativo tem que ser incorporado e considerado pelo gerenciamento. O aprendizado é um compromisso em todos os níveis e setores do sistema de produção. A cooperação ao invés da competição é a chave neste novo meio ambiente.

Neste contexto a aquisição de habilidades especiais é um elemento central a determinar o desenvolvimento sócio-econômico. A educação é, de certo modo, colocada em uma posição chave.

As escolas são solicitadas a preparar estudantes para desempenharem funções neste novo ambiente, que tem sido altamente afetado pelos novos avanços nas tecnologias de informação. Os computadores são aparelhos presentes na maioria das atividades do dia-a-dia. O dinamismo da presente fase do capitalismo requer uma capacidade de ler e escrever em computadores.

Tendo examinado esta grande figura, caracterizada pela reformulação das relações sócio-econômicas e culturais, as questões que vou fazer são: Como poderia o negócio da educação com a era da informação exigir criatividade, habilidades críticas e capacidade participativa? Como os computadores desenvolvem essas capacidades especiais? Mais especificamente, eu gostaria de centrar a discussão no debate que posições polarizadas dizem respeito ao uso de computadores nas práticas educacionais.

As abordagens sobre as relações entre tecnologia e sociedade tendem a cair em duas posições extremas: tecnofilia e tecnofobia. A primeira vê a tecnologia como um elemento ruim que está colocando a sociedade em um processo de desumanização, não reconhecendo qualquer benefício que isto possa trazer a vida humana. A tecnofilia tem uma posição oposta, vendo nos avanços tecnológicos as soluções e o meio ideal de melhorar o desempenho em diferentes tipos de atividades.

Este artigo irá discutir as duas posições. Eu irei me concentrar no uso de computadores e sistemas de rede de trabalho como, por exemplo, a internet, e como estas duas posições, "tecnofilia a tecnofobia", observam as relações entre tecnologia e sociedade tomando como foco principal a educação. Bill Gates em seu livro "A estrada do futuro" representa uma visão otimista do uso dos desenvolvimentos tecnológicos. Em contraste, Clifford Stoll com seu "Silicon Snake Oil - Second thoughts on the Information Highway", representa a outra posição extrema, na qual a tecnologia é apresentada como um instrumento de desconexão que separa os seres humanos da realidade.




Bill Gates e "A estrada do futuro" - Uma visão tecnofílica

Em seu livro "A estrada do futuro", Gates enfatiza que nós estamos vivendo um momento revolucionário, no qual as tecnologias de informação funcionam como novas ferramentas para as atividades sócio-econômicas e culturais. Em todas as partes do seu livro ele tende a glorificar o papel dos computadores, dos softwares e dos links das redes de trabalho no desenvolvimento das diferentes tarefas diárias. A despeito de sua posição, claramente favorável ao uso das tecnologias de informação, Gates comenta que essas tecnologias devem ser vistas como ferramentas para a melhoria da qualidade de vida, e não como substitutas das atividades humanas. Ele enfatiza a melhoria da "qualidade de vida". As máquinas poderiam oferecer um estilo de vida mais conveniente, que estaria presente na vida das pessoas e sob o controle destas.

"Todo o tempo a máquina encontra um lugar em suas vidas diárias, porque ela não apenas oferece conveniência e trabalho seguro, mas ela também pode inspirá-lo para novos ápices criativos. Ela assume um lugar confiável ao lado de outras ferramentas. Uma nova geração cresce com ela, mudando e humanizando-a, jogando com a informática" (Gates, 1995).

Gates acredita que o computador pessoal poderia ser esta nova máquina. Ele descreve sua jornada, como presidente da Microsoft, e o caminho pelo qual ele e Paul Allen criaram a companhia. Eles prognosticaram de uma grande expansão do mercado. Allen e Gates puderam ver que os computadores se tornariam ferramentas pessoais. Esta transformação dos computadores em bens pessoais deixa subentendido, individualidade, interação e extensão. Gates e Allen começaram a tornar realidade que McLuhan já havia previsto em 1964: os computadores são uma extensão das pessoas, protagonistas de uma nova fase depois da Revolução Industrial.

Gates direcionou os computadores pessoais para um nicho que faria dele um importante empresário: o software. O software é um artefato que fornece linguagem à máquina. A interação entre o homem e a máquina é mediada pelo software. Para desenvolver um software você necessita muito mais raciocínio humano do que capital. Software é uma reserva de sistematização humana de diferentes tipos de raciocínios que funcionam como uma ferramenta para apoiar os futuros raciocínios dos usuários.

Assim, Gates percebeu que suas chances de lançar seu empreendimento estavam nas habilidades mais qualificadas que requeria o nicho do software. Em diferentes partes do seu livro, ele aponta para a importância de ter pessoas inteligentes trabalhando com ele. Na realidade muito de sua competitividade tem se baseado no desempenho dos trabalhadores, neste caso de trabalhadores altamente qualificados. Esta deve ser a razão pela qual ele coloca muita ênfase na melhoria da qualidade de educação, pelo uso da tecnologia. Gates vê, claramente, o papel da educação no presente contexto da era da informação. Ele reconhece a necessidade de um aprendizado que dura o todo o tempo da vida. Como foi mencionada antes, a questão agora é "aprender como aprender".

"Uma das coisas que mais gosto em meu trabalho é que sou cercado por pessoas que adoram aprender. No negócio da tecnologia todos têm que adquirir conhecimento a uma velocidade prodigiosa. Na Microsoft, nós lemos, perguntamos, exploramos, vamos à conferências, comparamos nossas anotações e achados com outros, consultamos especialistas, divagamos, fazemos livres discussões, formulamos e testamos hipóteses, construímos modelos e simulações, comunicamos o que estamos aprendendo, e colocamos em prática nossas novas habilidades" (Gates, 1995).

Gates pode ser visto como um empresário da era da informação. Sua característica chave é a sua preocupação constante com caminhos inovadores, agora a sua visão do futuro está ligada a criação da chamada superestrada da informação. Nesse sentido Gates é o advogado da tecnologia de computadores, colocando esta no centro do presente e do futuro das atividades sociais, econômicas e culturais. Novamente ele argumenta que os computadores são ferramentas para melhorar a vida humana, a se subordinar o desejo da humanidade.

Como mencionado previamente, o novo cenário de uma economia global pede por uma educação focada em um pensamento crítico e qualidade. Os computadores podem ajudar? Gates acredita que os computadores podem desenvolver dramaticamente o processo educacional. Quando ele descreve a Microsoft como um ambiente favorável de aprendizagem, ele argumenta que isso só é possível porque a companhia combina o aprendizado com o uso da "ferramenta certa". Gates gostaria de ver as escolas fazendo o mesmo.

"Na Microsoft essas atividades de aprendizagem, foram incentivadas e se desenvolveram junto com as últimas tecnologias de computação e comunicação. A Microsoft teve êxito porque seus funcionários aprenderam eficientemente, em parte, por usarem ferramentas da informação".(Gates, 1995, p.209).

Sendo um empresário que certamente tem uma forte credibilidade no mercado, Gates vê a educação como uma outra atividade de negócio: "o negócio da aprendizagem", de facilitar o "aprendizado adequado". Como ele afirma no título do capítulo nove: "Educação: o melhor investimento". Antes de eu ter tido contato com as idéias de Gates sobre educação, devo dizer que é difícil não suspeitar de seus argumentos, uma vez que sua empresa será a primeira a se beneficiar com o uso dessa tecnologia na educação. Porém, por outro lado, preciso reconhecer também que a maioria de suas idéias sobre educação são direcionadas no sentido de incorporar os novos instrumentos de modo a agrupar o processo de aprendizagem. Esta é uma posição a qual gostaria de questionar. Contudo, eu teria que enfatizar que o uso dos meios tecnológicos tem que ocorrer de um modo complementar, atuando como um suplemento para o professor e para os textos. Eu questionaria que a introdução do computador na sala de aula tem que ser implementada junto com uma séria análise crítica dos possíveis efeitos negativos, a fim de melhorar o meio ambiente educacional.

Gates defende uma opinião extremamente otimista e acrítico sobre o uso dos computadores na educação. Na sua visão, a tecnologia da informação tornará as pessoas mais capacitadas, se usado como uma nova ferramenta para superar dificuldades na aprendizagem e apoiando o processo do pensamento. Ele menciona que nas pesquisas, "educação" e "trabalho em casa" são as duas principais razões indicadas pelos pais para adquirirem um computador. Ele destaca a preocupação com a necessidade de desenvolver habilidades técnicas para atuar no ambiente profissional de hoje. Nesse sentido, os pais expõe aos seus filhos o que eles acreditam que mais tarde os ajudarão a conseguir um trabalho melhor. Ficar familiarizado com o uso do computador é uma importante meta para alcançar o sucesso profissional.

Gates também explora o uso do computador nas salas de aula. Ele discute uma lista de benefícios que a tecnologia pode trazer no dia-a-dia das escolas. Os professores serão capazes de tirar vantagem dos diferentes tipos de informação disponível na internet e trocar idéias usando isso com os alunos. Ele também argumenta que a tecnologia será capaz de humanizar e não desumanizar as atividades nas escolas. Gates argumenta que as crianças serão capazes de se reunirem ao redor da máquina, trocando idéias em como operá-la e como desenvolver as tarefas. Além do que já foi mencionado, ele aponta inumeráveis oportunidades que a rede trará conectando alunos de diferentes escolas, aumentando as chances de socialização, bem como o aprendizado de elementos de outras culturas. Os computadores também estimulariam a aprendizagem fora da sala de aula. Os alunos poderiam explorar a web ou CD-ROMs para aprender em casa.

Gates aponta as diferenças na aprendizagem. De acordo com ele, porque ninguém aprende do mesmo modo, os computadores pessoais possibilitarão uma série de escolhas diversificadas para as pessoas desenvolverem sua atividade de aprendizagem. Neste contexto, a educação requerida por esta era da informação será baseada na diferenciação e no respeito à diversidade dos gostos. Assim, a educação em massa terá pouco espaço nesse contexto. Os softwares seriam desenhados para servir interesses e demandas especiais. "A estrada do futuro" também discute a possibilidade de "aprendizagem a distância" e o modo como ela pode ajudar a um acesso mais democrático à boa informação. Através de vídeo conferências mais pessoas seriam capazes de ouvir um bom professor e uma boa conferência resultando em maior qualidade e eficiência econômica e educacional.

Gates aponta a internet como um dispositivo extraordinário para ajudar os professores a melhorar seus currículos através da troca de idéias com outros educadores. Ele também destaca que bons professores são vitais para a educação, sustentando firmemente que eles não serão substituídos pela tecnologia. Porém, seu otimismo tende a obscurecer algumas perguntas importantes, tais como a questão do acesso. Apesar dele dispensar algum tempo discutindo a futura expansão da infra-estrutura para a rede de computadores, bem como o envolvimento de empresas em equipar as salas de aula, Gates claramente assume uma posição extremamente otimista. A questão que ele não examina seriamente é: se nós aceitarmos que a tecnologia trará todos os benefícios apontados em "A estrada do futuro", estes benefícios serão sentidos por diferentes comunidades localizadas nas cidades do interior ou nos países desenvolvidos? Quem se beneficiará com a revolução da informação de Gates e quais são seus aspectos negativos?




Cliffort Stoll e "Silicon Snake Oil - Second thoughts on the Information Highway" - a Visão Tecnofóbica

A análise de Stoll sobre relação entre tecnologia e sociedade recai numa visão de extremo pessimismo. Eu diria que na tentativa de reforçar a sua obstinada idéia contra o uso de computadores e outros eletrônicos, ele acaba apresentando um argumento fraco, cheio de exemplos unilaterais. Stoll não vê nenhum um benefício vindo da incorporação da tecnologia da informação na casa das pessoas ou nas atividades profissionais. Questionando sobre os computadores ele reforça o perigo de sermos levados para fora da realidade, despendendo valioso tempo com a máquina ao invés de socializarmos diretamente com as pessoas. Em outras palavras, ele argumenta para a necessidade de experiências reais, a fim de nos divertirmos e darmos mais valor à vida. Neste sentido, ele condena a nova opção tomada por alguns profissionais de trabalharem em casa, argumentando que isso os isola, "transformando as suas casas numa prisão" (Stoll, 1995, p.31).

Eu gostaria de comentar sobre sua insensibilidade para casos especiais em que trabalhar em casa seria a única maneira que algumas pessoas poderem desenvolver uma experiência profissional. Um bom exemplo seriam as mulheres que poderiam se tornar capazes de criar seus filhos, supervisionar outras tarefas de casa e, ao mesmo tempo, conduzir suas tarefas profissionais. Lembremos que deficiências físicas podem impedir algumas pessoas de ir todos os dias ao seu local de trabalho. Trabalhar em casa, com ajuda do computador, poderia também levar as pessoas com deficiências físicas ao mercado de trabalho. Além disso, para o desenvolvimento da carreira profissional, pessoas com dificuldade de transporte podem facilmente adquirir bons serviços através da internet. De resto, os computadores também tem facilitado o acesso de deficientes às compras.

Stoll também argumenta que o computador não só afasta as pessoas de relacionamentos reais, mas também podem destruir relações sociais que já tenham sido estabelecidas. Ele dá um exemplo de casais que rompem depois que o marido começa a gastar muito tempo conectado na rede, ao invés de ter uma experiência de vida com sua esposa. Este é um dos vários exemplos questionáveis e unilaterais que ele usa para ilustrar seu ponto de vista. Devo comentar que eu pessoalmente conheço um casal que se encontrou na internet. Como nem Stoll nem eu temos conhecimento de outros casos, nossas conclusões sobre o efeito que o computador terá nos casais só será baseado em benefício pessoal.

Através do livro, ele atenta para o efeito da volta ao passado. Stoll dá um enfoque positivo aos simples hábitos de vida existentes antes dos computadores.

Outro ponto que ele destaca se relaciona com o fato de que as pessoas gastam muito tempo tentando se conectar com a internet e em o acessar de informações que elas desejam. Stoll também menciona o tempo gasto tentando resolver um problema quando o computador não funciona adequadamente.

Outros pontos apresentados por Stoll levantam questões tais como sermos capazes de manejar com um laptop o que teríamos como com um livro (Stoll, 1995, p.41), ou o excesso de papelada gerado pelos computadores (p.30). Ele também destaca que o uso do computador, especialmente da internet, tem uma forte conotação de status. Seus comentários sobre o e-mail são:

"... é sabido que o correio eletrônico oferece uma comunicação imediata, barata, ao mesmo tempo nivelando barreiras e alcançando diretamente à escrivaninha do destinatário. Você não corre o risco de deixar de receber uma mensagem por causa do sinal ocupado ou da lentidão do Correio. Entretanto, eu acho que o e-mail é, geralmente, dispensável e desagradável; ele é normalmente impessoal e chato. Uma carta escrita a mão é sabidamente mais barata, mais segura e muito mais expressiva. Em alguns casos pode ser até mais rápida" (Stoll 1995, p.17).

De novo, eu insistiria que ele tende a exagerar na extensão de seus argumentos, que perdem a validade.

"Atualmente, algumas cozinhas estão muito bem servidas por utensílios computadorizados: você pode ter cafeteiras controladas por microprocessador, cafeteira, forno de microondas e máquinas de fazer pães. Isto funciona perfeitamente, porém você perde o ritual, o senso de realização e o sentimento de estar fazendo parte do processo" (Stoll 1995, p. 29).

E sobre a escolha? Nós não temos o direito de escolher entre cozinhar usando a prática tradicional ou tirar vantagem dos modernos aparelhos que poderiam, por outro lado, nos deu mais tempo extra para atividades profissionais, educacionais ou mesmo entretenimento?

Quando Stoll se refere a educação, ele não vê nenhum benefício do uso da tecnologia no auxílio ao aprendizado. Ele critica a idéia da tecnologia como um instrumento. Stoll entende a tecnologia como um instrumento maligno que traz consigo más conseqüências. Ele não acredita nos computadores ajudando na alfabetização, e argumenta que toda informação disponível na internet é ruim e medíocre. Stoll também comenta que o aprendizado não se deve só à informação, mas também à experiência, que a tecnologia não substitui. Os bancos de dados conseguem dar apenas respostas simples, sem estimular futura reflexão e aprendizado. Neste sentido ele não examina o impacto de certos instrumento como CD-ROM e outros softwares, que não são só apenas sobre informação, mas estimulam ações e pensamentos. Ele poderia questionar a qualidade das práticas educacionais presentes nesse instrumentos, mas somente os ignora.

Em todo seu livro, Stoll reivindica a necessidade do contato direto. Os professores devem ser os atores centrais e a fonte do ensinamento. Adicionalmente a isso, ele discute as condições das salas de aula em escolas americanas e o problema de equipá-las com computadores. Primeiro, Stoll lembra que computadores são caros e o acesso a eles não será facilmente obtido. Segundo eles tornam-se rapidamente obsoletos, o que exigiria das escolas um constante fluxo de caixa para repor os computadores e software velhos. Terceiro, computadores aumentam o interesse de ladrões, uma vez que atinjam interesse público.

Os valores morais também são foco na discussão levantada por Stoll. De acordo com ele, a Internet está transformando assuntos normalmente submetidos a censura em transmissões de rádio e tv regulares, disponíveis para o acesso por parte de crianças. Neste contexto os pais não seriam capazes de controlar o que suas crianças estão acessando. Mesmo que isso seja verdade, este perigo não é exclusivo à Internet. Como outros aspectos, este também deveria ser tratado com uma permanente orientação dos pais. Quando a rede (de computadores) não existia, o foco era em livros e revistas "indesejáveis". Os pais nunca tiveram e ainda não têm controle total sobre isso também. Talvez, a natureza da rede, com conexões instantâneas, exija um novo tipo de intervenção familiar. De qualquer forma, a situação não acaba com os benefícios que Internet traz para a educação e entretenimento jovem.

Como já foi citado, Stoll é um bom exemplo de um tecnofóbico extremista. Eis uma outra de suas conclusões sobre o destino das escolas caso os computadores "invadam" as salas de aula.

"Suponha que eu aceite que os estudantes devem passar bastante tempo à frente dos computadores. Qual é o limite? Se os computadores, redes interligadas e vídeos interativos são tão importantes para as salas de aula modernas, porque não eliminar a sala de aula em si? Estudantes de todos os níveis podem ficar sentados à frente de seus computadores em casa, e receber as melhores informações do melhor professor. Cursos por correspondência eletrônica." (Stoll 1995, p.124)

Pode uma sala de aula com um bom professor, boa infra-estrutura, bom currículo assim como tecnologia avançadas criar um ambiente desejável? Necessariamente temos que cair na situação de "ou isto ou aquilo", ao invés de uma posição inclusiva?




Conclusão

Este trabalho examinou duas posições antagônicas relativas a relação entre tecnologia e sociedade: tecnofilia e tecnofobia.

A primeira parte discutiu sobre o contexto global que vem sendo formado através do desenvolvimento de novas tecnologia. O conhecimento apareceu com a questão chave para a "sociedade da informação". Há uma necessidade de trabalhadores qualificados e administradores preparados para lidar com o dinamismo imposto pelo constante uso das tecnologia informativas na linha de produção assim como no setor de serviços.

Neste contexto, a questão de que tipo de educação deveria ser oferecida para preparar o novo trabalhador e o novo gerenciador torna-se central. Meu interesse era discutir o papel da tecnologia na educação. Bill Gates representou a visão o otimista e acrítica do determinismo tecnológico. De acordo com ele, educação, assim como outras atividades, serão aprimoradas consideravelmente através do uso da tecnologia. Apesar de ignorar alguns aspectos importantes, como a questão da acessibilidade, Gates apresenta argumentos relevantes para o uso dos avanços tecnológicos na sua vida diária. É um livro escrito por um empreendedor fazendo uma apologia ao seu negócio. Mesmo assim , as idéias são boas o suficiente para convencer o leitor e faze-lo (a) esquecer o lucro que ele tira por trás de sua retórica.

Por outro lado, "Silicon Snake Oil - Second thoughts on the Information Highway", de Stoll, falha ao tentar fazer um melhor uso de uma visão mais crítica à tecnologia. Seu estilo retórico e intimista, com seus exemplos não convincentes não apresenta argumentos apostos à visão de Gates de forma competente. De qualquer forma, serve para provocar pensamentos críticos sobre computadores como instrumentos na "era da informação". A partir desta análise, acredito que uma posição entre estas visões deve ser tomada pelos educadores. Como qualquer novo instrumento, o computador traz controvérsias e ao mesmo tempo abra portas para novas possibilidades.

Considerando o acesso, diria que nem Gates, nem Stoll apontam as implicações da tecnologia para quem não pode usá-la. Baseado no argumento de que a tecnologia, ao invés de auxiliar a performance da população menos favorecida, mas fará uma brecha entre "os que tem" e "os que não tem" muito maior, alguns dos tecnófobos não admitem que a realidade seja reversível. As tecnologias já são o ponto central da "era da informação", por isso, ignorá-las é como escolher estar isolado do cenário global. Não acredito que virar nossas costas para os avanços tecnológicos é a melhor opção para lidar com as questões da pobreza. Diria que intelectuais situados em áreas pobres do mundo terão um grande papel a exercer, não só como facilitadores para um uso crítico das novidades, mas também como canais através dos quais os avanços tecnológicos possam atingir à populações menos favorecidas.

As tecnologias de informação constituem num novo tipo de mídia. Sua mensagem é dinâmica, e opera em diferentes linguagens: escrita, visual e auditiva. Como as mídias passadas, algum tempo é necessário para consolidar a relação dela com as pessoas. Acredito que há uma necessidade de "gestação" até as tecnologia da informação tornarem-se completas extensões do homem (seguindo a idéia de McLuhan das mídias como extensões do homem).

A resistência é uma reação comum quando se introduz um novo "instrumento". Stoll representa a extrema posição de sua resistência. Ele ainda está totalmente ligado ao paradigma do "texto alfabético" e a racionalidade do mundo escrito. Neste sentido, ele não reconhece o aprendizado fora dos livros. Assim, ele exclui as diferentes habilidades do aprendizado, por exemplo, uma que exija auxilio visual ou auditivo. Castells (1996) comenta sobre diferentes valores dados a diferentes expressões: "...a nova ordem alfabética, enquanto permite o discurso racional, separou a forma da comunicação escrita do sistema audiovisual de símbolos e percepções, que foi importante para a plena expressão da mente humana. Estabelecendo implícita e explicitamente uma hierarquia social entre cultura literária e expressão audiovisual, o preço pago para a criação de prática humana no discurso escrito foi renegar o mundo de sons e imagens ao pano-de-fundo das artes, lidando com o domínio privado das emoções e com o mundo público da liturgia." (Castells 1996, p. 327/328). As tecnologia da informação dão voz ao texto e "aparência" ao significado. Isto proíbe abstração e possibilidades de raciocínio? Não necessariamente. Acredito que os tópicos de qualidade e eficiência vão depender da extensão do quão criticamente conseguiremos examinar o uso das tecnologia. As práticas educacionais não precisam se posicionar a favor ou contra a tecnologia. Antes elas terão de aprender como se beneficiar com ela, fazendo uma análise clara e crítica do que pode torna-se instrumentos úteis, e como usar da melhor forma as tecnologias da informação para desenvolver a democratização educacional e o processo educativo.









BIBLIOGRAFIA

Castells, M., The Information Age: Economy, Society and Culture - The Rise of the Network Society (volume I), Blackwell, Massachusetts, 1996.
Gates, B., The Road Ahead, Penguin Books, New York, 1995.
McLuhan, M., Understanding Media - The Extension of Man, MIT Press, Massachusetts, 1964.
Stoll, C., Silicon Snake Oil: Second Thoughts on the Information Highway, Anchor Books, New York, 1995.

http://members.fortunecity.com/cibercultura/vol4/tecnfxf.html
10.1.2004

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