VoyForums
[ Show ]
Support VoyForums
[ Shrink ]
VoyForums Announcement: Programming and providing support for this service has been a labor of love since 1997. We are one of the few services online who values our users' privacy, and have never sold your information. We have even fought hard to defend your privacy in legal cases; however, we've done it with almost no financial support -- paying out of pocket to continue providing the service. Due to the issues imposed on us by advertisers, we also stopped hosting most ads on the forums many years ago. We hope you appreciate our efforts.

Show your support by donating any amount. (Note: We are still technically a for-profit company, so your contribution is not tax-deductible.) PayPal Acct: Feedback:

Donate to VoyForums (PayPal):

Login ] [ Main index ] [ Post a new message ] [ Search | Check update time | Archives: 12[3]4 ]


[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]

Date Posted: 01:37:54 01/25/02 Fri
Author: José Maria
Subject: A dimensão virtual dos arquivos na pespectiva das políticas de informação

Seminario de Capacitación y Gestión en Archivos y Documentación

28, 29 y 30 de junio de 2000 - OEA - Buenos Aires


A DIMENSÃO VIRTUAL DOS ARQUIVOS NA PERSPECTIVA DAS POLÍTICAS DE INFORMAÇÃO

José Maria Jardim
Doutor em Ciência da Informação
Professor da Universidade Federal Fluminense
jmjardim@cruiser.com.br

As constantes transformações que caracterizam a informação no mundo contemporâneo apontam para um quadro histórico que, especialmente nos últimos anos, encontra na Internet uma das suas referências fundamentais. Neste quadro, o conceito de virtual enquanto ciberespaço é um convite à reflexão que inclui a construção de alternativas de gestão da informação neste território.
Vários e novos processos informacionais remetem-nos à discussão do virtual enquanto dimensão que acolhe e promove diversas redes sociais, organizações e formas de transferência da informação. Ao buscar caracterizar as diversas facetas do virtual, Levy (1997), aponta alguns aspectos oportunos para este debate:

· o virtual não é o oposto da realidade, mas um vetor de criação desta (embora "as coisas só tenham limites claros no real");
· o virtual implica num desprendimento do aqui: A Internet é um não-lugar, provocando a desterritorialização dos textos, das mensagens, enfim, de tudo o que é documento;
· o virtual implica num desprendimento do agora, provocando velocidades novas: O conceito de “tempo” também se altera, tornado-se “relativo”. A instantaneidade passa a ser a palavra de ordem: tratam-se de “velocidades qualitativas e espaço-tempo mutantes” (Levy)
· este espaço cibernético é uma ferramenta de comunicação diferente da mídia clássica, porque as mensagens se tornam interativas, ganham uma plasticidade e têm uma possibilidade de metamorfose imediata: a Internet é um fluxo multimídia incessante, rompendo com a linearidade da escrita e tendo como principais características a mutação e a multiplicidade

Sociedade da informação e impactos nas organizações

A ampliação do uso das tecnologias de informação, as novas formas de produção e uso das informações e novos padrões de competição internacional trouxeram vários impactos no ambiente das organizações, apesar das diferenças entre os países.
Borges(1995) destaca diversos aspectos a respeito:

· conectividade, integração e simultaneidade em tempo real tornam-se os pressupostos que suportam o novo paradigma de produção, modelo esse bastante diverso da “produção em série” e do trabalho simplificado típico da sociedade industrial;
· emerge uma nova atitude gerencial, calcada na formação de redes;
· à medida que as organizações converterem dados em informações, modificarão necessariamente seus processos de decisão, a sua estrutura administrativa e a sua maneira de trabalhar.

O Comitê de Documentos Eletrônicos do Conselho Internacional de Arquivos(CDE/CIA) ressalta alterações como:

· Redução do número de níveis hierárquicos, suprimindo postos de quadros intermediários e delegando mais responsabilidade à pessoas e equipes;
· Substituição de unidade administrativas permanentes por equipes e grupos de trabalho temporários;
· Redefinição do papel de numerosas organizações e seus objetivos comerciais;
· Redução da escala de governos, recorrendo-se à privatização;
· Reorganização de métodos de trabalho visando eliminar gastos desnecessários e simplificar a produção.

Neste quadro a gestão de recursos informacionais é uma atividade estratégica, tendo como um dos seus fundamentos o Conhecimento organizacional ou seja, " o conjunto formado por recursos humanos capacitados, pelos sistemas de absorção (estruturas informacionais, tecnológicas e educacionais internas e externas à organização) e integração permanente dos novos conhecimentos necessários" (Borges, 1995).
Lévy (1997, p. 24) aborda a virtualização da empresa, ilustrando-a com a situação do trabalhador clássico, ocupante de sua mesa de trabalho, "passando do espaço privado do seu domicílio para o espaço público do lugar de trabalho. Por contraste, o teletrabalhador transforma seu espaço privado em espaço público e vice-versa".

Espaços informacionais virtuais e transferência da informação

As diversas abordagens em torno da noção de acesso à informação comportam desde reflexões teóricas presentes na Arquivologia, Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação etc. até estudos diversos, relacionados às práticas daí decorrentes. Tanto nos marcos teóricos destes campos como na cultura do profissional da informação ou nos objetivos dos serviços de informação o acesso coloca-se como questão central. Seja qual for o conceito de informação adotado, reconhece-se que os processos de transferência e uso da informação em seus diversos matizes constituem um dos cernes da contemporaneidade.
Considera-se ainda que tais processos envolvem diversos sujeitos informativos – em especial o profissional e o usuário da informação - sendo a satisfação das necessidades deste último uma variável fundamental na avaliação de qualquer serviço de informação. Como observa Le Coadic (1997), o paradigma predominante nos serviços de informação – a abordagem mais voltada ao emissor que ao receptor da mensagem – tende a ser substituída por aquela voltada ao receptor-usuário (o que não exclui evidentemente a atuação deste último como receptor). O modelo emissor-receptor, considerado linear, mecanicista, hierárquico e desigual enfrenta, portanto, vários questionamentos.
A crescente ampliação das tecnologias da informação tendo como uma das suas expressões mais evidentes a Internet, amplia a discussão em torno do tema, associando-o à novas possibilidades de usos da informação e a emergência de espaços informacionais virtuais. Assim, algumas hipóteses norteiam atualmente o debate em torno do acesso à informação:

· As atuais tecnologias da informação fomentam um 'espaço virtual' com funcionamento e características próprias que produzem novas configurações de produção, fluxo e acesso à informação;
· conceito de “lugar” torna-se secundário para o profissional da informação e para os usuários;
· Instituições como arquivos, bibliotecas e centros de documentação adquirem novas vocações, renovam funções que lhe são históricas e superam outras
· Onde a informação se encontra não é o mais importante e sim o acesso à informação;
· A ênfase na gestão da informação desloca-se do acervo para o acesso, do estoque para o fluxo da informação, dos sistemas para as redes;
· Sob a banalização das tecnologias da informação, os usuários (aos menos os não excluídos do acesso às tecnologias da informação), produzem novas demandas aos arquivos, bibliotecas, centros de documentação e provocam a realocação ou supressão de fronteiras que demarcam tais espaços;
· A tendência às alterações nas formas de gerenciar, disseminar a informação e administrar os recursos a ela relacionados (humanos, tecnológicos, etc.) é um processo lento, complexo e contraditório, em especial no caso dos países dependentes;
· Emergem espaços informacionais virtuais (bibliotecas, arquivos. etc.) cuja existência, longe de excluir as instituições documentais tradicionais, sugere-lhes novas possibilidades de gestão da informação.

No âmbito da Ciência da Informação, os maiores avanços teóricos e experiências sobre a dimensão virtual da informação vem se dando no campo das bibliotecas. Ainda assim, há uma diversidade e sobreposição de conceitos a respeito. Apesar das características que distinguem arquivos e bibliotecas, é oportuno considerar tais questões neste texto na medida em que podem servir como balizas à discussão sobre a dimensão virtual dos arquivos.
A American Society of Information Science(ASIS) distingue bibliotecas virtuais e bibliotecas digitais.

Biblioteca virtual - Sistemas nos quais os recursos de informação são distribuídos via redes, independentemente de sua localização física

Biblioteca digital - Bibliotecas cujos conteúdos são primordialmente em forma eletrônica e acessíveis por meio de computadores. Os conteúdos podem ser acessados numa dada localização física ou remotamente por meio de redes de computadores

Segundo Marchiori (1997), a biblioteca digital se difere das demais porque suas informações existem somente de forma digital (disquetes, winchester, CDs, Internet, etc.). Desta forma, esta biblioteca não contém livros na forma convencional.
Conforme Castro e Magalhães (1999), "... ao selecionar, reunir, ordenar e apresentar informações de sites sobre um mesmo tema, área do conhecimento, etc, as Bibliotecas Virtuais criam condições para o leitor/pesquisador localizar e acessar mais rapidamente informações, o que tende a tornar a pesquisa mais produtiva e eficiente.
Para Cianconi (apud Pohlmann Filho), uma biblioteca digital está sempre ligada a uma instituição e seus links apontam para acervos existentes. A Biblioteca Virtual não estaria vinculada a nenhuma biblioteca do mundo real e sim a uma relação de sites organizados segundo uma visão temática.
Como é possível observar, também no campo das bibliotecas a demarcação conceitual envolvendo bibliotecas digitais e virtuais nem sempre encontra-se evidenciada.

As funções arquivísticas

Os arquivos expressam o conjunto de informações produzidas por uma organização, quaisquer que sejam sua data de produção, seu suporte material e sua natureza, acumuladas por uma organização (ou pessoa física), em decorrência das suas ações.
Conforme o CDE/CIA (1997), "um documento é uma informação registrada, produzida ou recebida no marco da implantação, realização e alcance de uma atividade institucional ou pessoal que engloba o conteúdo, o contexto e a estrutura, permitindo provar a existência da atividade que o gerou" .
O contexto do documento apresenta 3 aspectos: as informações contextuais do documento(o conteúdo propriamente dito), a relação entre o documento e outros documentos do mesmo conjunto arquivístico e a inserção do documento no quadro de uma atividade.
A estrutura é uma noção relacionada à forma do documento (símbolos usados, apresentação, formato, suportes, etc). No caso dos documentos eletrônicos distingue-se a estrutura física da estrutura lógica.
"O pressuposto da confiabilidade e autenticidade dos documentos dependem do conteúdo, da estrutura e do conteúdo. Uma ausência, mesmo parcial, do contexto, da estrutura e do conteúdo compromete o valor probatório dos documentos." (ibid.,p.24)
As função arquivística envolve gestão de todo o ciclo informacional dos documentos, sendo definida pelo CDE/CIA como "o grupo de atividades conexas necessárias à identificação, guarda e a conservação dos documentos com valor arquivístico, assegurando que tais documentos tornem-se acessíveis e compreensíveis" . (ibid., p.27)

Arquivos pós-custodiais/Arquivos virtuais

A emergência de novos padrões de produção, uso e transferência da informação trouxe uma série de confrontos no campo arquivístico. Este confrontos têm se dado, fundamentalmente:
. na gestão da informação informação arquivística;
. na redefinição organizacional dos serviços de informação arquivística,
. na identidade profissional do arquivista;
. na sua formação profissional;
. na produção de conhecimento arquivístico.

A Arquivística estaria atualmente sob uma era pós-custódia: sem excluir o foco tradicional do arquivista sobre o documento físico, a ênfase estaria deslocada para o contexto da produção da informação, suas interelações, seu produtor, independentemente do local físico onde tal ocorra.
Este etapa pós-custodial encontra relações com as novas formas de produção da informação arquivística, especialmente no que se refere aos chamados documentos eletrônicos e seus impactos:
. Novos formatos físicos
. Novas formas de organização dos documentos
. Novas formas de transferência da informação

Como tal, serviços e instituições arquivísticos são desafiados a:
. redefinir sua missão em um ambiente eletrônico sob a lógica das redes de informação;
. desenvolver relações com os produtores de documentos eletrônicos para facilitar o seu controle arquivístico;
. preservar, administrar e migrar para outros suportes;
. promover o acesso a tais documentos;
. gerenciar as questões legais inerentes a estes suportes eletrônicos.

Alguns autores sugerem que não apenas necessitamos nos movermos em direção a um paradigma da pós-custódia arquivística, mas também partirmos do modelo “arquivos direcionados para os arquivistas” para “arquivos direcionados para os usuários” enfatizando, cada vez mais que arquivistas não servem aos arquivos, mas à sociedade e seus diversos agentes.
Os chamados arquivos não custodiais, eventualmente identificados como "arquivos virtuais" , apresentam como características:
· Arquivos mantidos pelos produtores e não localizados fisicamente numa instituição arquivística;
· Arquivos mantidos no ambiente dos softwares aos quais estão associados e transferidos pelo criador para novas gerações de hardware e software;
· A "autoridade arquivística" identifica documentos com " enduring value" (valor de perdurabilidade) e monitora a sua retenção pelos produtores.

Esta é a perspectiva da Associação dos Arquivistas Suíços cujo conceito de arquivos virtuais se refere à situação em que os Arquivos renunciam à custódia física dos documentos eletrônicos, obrigando os proprietários dos sistemas a conservar tais documentos durante todo o seu ciclo de vida (Non-custodial-archiving). Da parte dos Arquivos, a tarefa é fixar o ciclo de vida dos documentos e assegurar o livre acesso.
Nesta mesma direção, embora não sugerindo o termo arquivos virtuais, o CDE/CIA afirma que os Arquivos não podem alcançar a gestão de documentos eletrônicos se o tentarem realizar sozinhos.
"Os Arquivos não podem tratar dos documentos eletrônicos a não ser que se aliem ou se associem a uma ou várias organizações. Estas devem agrupar tanto as organizações produtoras dos documentos como aquelas que se interessam sobre estes documentos, grupos de pesquisa, fornecedores de tecnologia, etc"

Um dos autores que protagonizam esta discussão, Bearman sugere um rico conjunto de questões:
· A localização dos documentos eletrônicos tem pouca relação com a sua acessibilidade;
· Os repositórios físicos de arquivos atualmente baseados em custódia tendem a incluir também documentos fora da custódia arquivística, mas sob controle arquivístico;
· Arquivos virtuais são o oposto de repositórios físicos: trata-se da situação na qual usuários podem acessar documentos de qualquer lugar sem estarem cientes da fonte da qual eles procedem;
· Os arquivos virtuais serão mantidos pelas instituições arquivísticas através de controle da informação sobre documentos, seus usos, retenção, avaliação e acesso;
· Isto requer normas de intercâmbio de dados;
· É necessária informação específica sobre a hora, lugar, função do documento criado, as formas em que os datos são estruturados e o conteúdo da comunicação em si mesma (Metadados).
· os requisitos funcionais que caracterizam a informação arquivística são satisfeitos se metadados essenciais ao conteúdo e estrutura do documento são intrinsecamente ligados ou retidos com os metadados que definem o contexto da processo decisório a partir do qual o documento foi produzido.
Os documentos eletrônicos não contam, como os tradicionais, com certos elementos que permitem determinar a relação entre um documento e seu contexto funcional ou administrativo. Portanto, a identificação da sua organicidade depende da maneira pela qual metadados descrevem como a informação foi registrada.
A noção de arquivos virtuais pressupõe que todos os documentos eletrônicos estejam associados a metadados que permitam garantir a "documentalidade" (recordness), a autenticidade destes documentos e a sua gestão ao longo do tempo.
A conceito de metadados torna-se assim fundamental nesta lógica de gerenciamento da informação arquivística. O CDE/CIA conceitua metadados como "dados sobre os dados.... os metadados sobre o contexto e a estrutura de um documento são essenciais à sua compreensão e uso" .
Conforme Souza, Catarino e Santos (1997)
Metadados são descrições de dados armazenados em banco de dados, ou como é comumente definido "dados sobre dados a partir de um dicionário digital de dados". Esse dicionário de dados normalmente é utilizado para organizar os metadados. Ele poderá conter uma seção descrevendo, numa visão geral, como os dados são subdivididos em arquivos, que campos de registros se relacionam e possuir tópicos tais como: convenções adotadas em sua definição. Uma seção principal desse dicionário de dados deveria conter os metadados assim como as descrições de cada campo. Para cada campo os seguintes itens poderiam ser incluídos: nome do campo, descrição do campo, tipo de dados, formato etc. (Ribeiro, 1995). A finalidade principal dos metadados é documentar e organizar de forma estruturada os dados das organizações com o objetivo de minimizar duplicação de esforços e facilitar a manutenção dos dados.

São reconhecidas como vantagem desta estratégia:
· Maior viabilidade tecnológica
· Maior efetividade em termos de custo-benefício
· Melhor uso do conhecimento dos produtores dos documentos

As desvantagens apontadas são:
· alto grau autoridade arquivística e mecanismos de controle sobre os produtores dos documentos
· permanente comprometimento dos produtores
· financiamento a estruturas descentralizadas de gerenciamento informacional

A autoridade arquivística defronta-se com os seguintes desafios:
· Quem determina o que é um documento?
· Podem os arquivos compelir os produtores a preservar os documentos?
· Quando e como os arquivos envolvem-se no desenho de sistemas?

Este conjunto de considerações confirma, de um lado, as novas práticas que envolvem a gestão da informação arquivística e, por outro, sinalizam uma noção de arquivos virtuais/arquivos não custodiais ainda frágil teoricamente. A descentralização do controle da informação arquivística em suporte eletrônico, mantida pelo seu produtor, monitorada pelo instituição ou serviço arquivístico implica, sem dúvidas, numa atuação em rede. Do ponto vista teórico parece pouco consistente conceituar esta situação como "arquivos virtuais" .
Os documentos eletrônicos destes arquivos existem fisicamente, sendo seus conteúdos acessíveis junto ao seu produtor ou distribuídos via redes. Na verdade, a dimensão virtual desses arquivos se faz mais hoje mais evidente no que se refere às possibilidade de acesso a estes via ciberespaço. É o caso dos websites de serviços e instituições arquivísticas.
O processo de digitalização de documentos arquivísticos é ainda caro e oneroso em termos de tempo para grandes instituições arquivísticas, inviabilizando o acesso a estes on-line em grandes volumes. No entanto, pode-se prever que o avanço das tecnologias da informação, a diminuição dos seus custos e a ampliação das possibilidade de fluxo de dados na Internet venham a tornar possível esta operação.

Arquivos e Internet

A Internet é um recurso de enorme potencial para a ampliação de serviços aos usuários dos arquivos. A pesquisa aos instrumentos de recuperação da informação já é um serviço oferecido por várias instituições arquivísticas na Internet. Estes sites fornecem informações sobre seus conjuntos documentais, promoção de eventos, oferecem publicações, links para outras instituições, etc.
Um aspecto fundamental a ser ressaltado é que a qualidade de um website de um arquivo reflete os níveis de gestão da informação desenvolvidos por esta instituição.
Rodríguez observa as possíveis vantagens de um Arquivo dispor de um website:

· Ofrece información de primera mano sobre el archivo a todo tipo de interesados geográficamente alejados.
· Concentra el trabajo de divulgación del archivo y de sus fondos y, al tiempo, hacer accesible esta información en cualquier momento: los usuarios realizan sus consultas cuando lo desean (al nivel que marque el archivo), y los archiveros resuelven esas peticiones en un momento determinado, por ejemplo, a través del correo electrónico. Además, las consultas se dirigen a la persona adecuada, lo que ahorra tiempo tanto al usuario como a los archiveros.
· Reduce los costes de divulgación del archivo: la edición a nivel básico de páginas Web no es difícil ni cara. Todo depende del nivel de divulgación deseado.
· Sirve de referencia a instituciones similares, y viceversa, con lo que fomenta el conocimiento de los proyectos en los que trabajan los colegas.
· Ayuda a reducir costes: varios archivos pueden compartir una conexión a Internet y aumentar, al tiempo, su capacidad de acceso al público.
· Preserva fondos del archivo sin impedir su consulta.

Em pesquisa realizada há um ano, identificamos 13 instituições arquivísticas públicas brasileiras na Internet . Em levantamento semelhado realizado em julho de 1996, constatamos a presença de apenas 3 instituições na Internet. Apesar da escassa quantidade de instituições arquivísticas públicas presentes na Internet, observamos um aumento de cerca de 300% em três anos. Os sites dessas instituições foram analisados, privilegiando-se alguns indicadores relacionados à questão da acessibilidade. O quadro a seguir sintetiza a análise dos dados coletados em termos quantitativos:

INFORMAÇÕES/ SERVIÇOS %
sobre o acervo 100%
sobre os instrumentos de pesquisa 30%
instrumento de pesquisa on-line 38%
instrumento de pesquisa on-line em base de dados 15%
outras bases de dados 0%
sobre serviços disponíveis aos usuários 76%
atendimento ao usuário via e-mail 8%
contador de acessos ao site 54%
última atualização do site 15%
links arquivísticos 39%
mapa do site 0%
mecanismo de busca do site 0%

Além da importância de se ampliar a disponibilidade de informações arquivísticas na Internet, o quadro acima revela a necessidade de otimização do recurso já utilizado. Fica evidente a importância dos arquivos públicos fornecerem mais informações sobre seus instrumentos de pesquisa e a importância de se utilizar o correio eletrônico como um efetivo mecanismo de transferência de informação e prestação de serviços ao usuário. É significativo que 38% das instituições disponibilizem instrumentos de pesquisa disponíveis on-line, ainda que não permitam buscas com maiores teores de interatividade (por assunto, local, data etc.). Apenas 15% dos arquivos públicos pesquisados oferecem este tipo de busca. Em sites de maior escala, oferecer um mapa e um mecanismo de busca ao usuário favorece a pesquisa.
Analisando os “sites” do Ministérios Federais do Brasil , ainda que de forma extensiva, pode-se afirmar que, em sua maioria, aproximam-se do modelo de um folder institucional, porém em formato eletrônico. Verifica-se a existência de um conjunto de informações dos mais diversos teores, com ênfase na divulgação das estruturas organizacionais, titulares de órgãos, legislação federal, planos de ações do Governo, etc. Observa-se, nos dois últimos anos, a ampliação de informações com potencial de uso para o cidadão. Constata-se, porém, uma profunda distância entre o discurso da transparência governamental e a efetiva disponibilização da informação governamental. Da mesma forma, chama atenção a completa ausência de referências aos arquivos, além da escassez destas no que diz respeito a serviços de protocolos, bibliotecas ou centros de documentação.
Observa-se que a opacidade dos serviços arquivísticos federais na Internet reflete o seu caráter periférico na administração federal. No único caso em que um desse serviços se faz evidente na Internet (Ministério das Relações Exteriores), a ausência de informações básicas não facilita o usuário interessado. Apenas 30% dos sites visitados fazem menção aos seus serviços de bibliotecas ou centros de documentação (alguns aparentemente responsáveis por acervos arquivísticos, embora tal não seja explicitado). Em relação ao acesso do cidadão às informações do seu interesse em protocolos ministeriais, apenas em dois sites (8,6%) constata-se tal possibilidade.

Concluindo entre o central e o periférico, o real e o virtual

Sem pretender generalizar os exemplos do caso brasileiro, creio que este quadro coloca-nos face a um conjunto de aspectos históricos, culturais, econômicos, políticos, sociais que situa regiões como a América Latina na periferia informacional da ordem internacional vigente. Seria surpreendente que informações sobre nossos arquivos estivessem facilmente disponíveis na Internet, dados os modos de gestão ainda hegemônicos deste tipo de informação em nosso países. Este aspecto, por sua vez, nos remete ao grau de opacidade informacional do Estado na América Latina, sugerindo que a Internet como potencial fator de governança e instrumento de controle social sobre o Estado só é viável com políticas públicas de informação. E, quando cito políticas de informação, menciono algo além de políticas de tecnologias da informação.
Se nos determos nas recomendações procedentes da literatura arquivística sobre os chamados arquivos pós-custodiais, sabemos de imediato que em nossas realidades nos deparamos com problemas historicamente ainda não superados. Grande parte dos nossos arquivos carecem ainda da devida custódia. As soluções do países centrais estão calcadas em conceitos e práticas informacionais que pressupõem graus de gestão da informação periféricos entre nós. A realidade latino-americana confronta-se com a perspectiva de era arquivística pós-custodial, tendo em conta que a maior parte das nossas instituições arquivísticas sequer realiza as atividades custodiais clássicas.
Paralelamente, constatamos cotidianamente a proliferação de novos formatos, suportes e fluxos de informação em nossas administrações públicas, carecendo de adequadas políticas e práticas de gestão informacional. Convivemos com a necessidade de gerenciar enormes quantidades de informações acumuladas há décadas sem critérios, resultado da negligência do Estado e, simultaneamente, produzir soluções, no interior deste mesmo Estado, para as informações produzidas hoje. Evidentemente, este quadro é muito distinto daqueles países responsáveis pela maior parte da produção de conhecimento arquivístico e, especificamente, das alternativas que envolvem a gestão de informações arquivísticas em suportes eletrônicos.
Estamos, portanto, desafiados ao exercício dialético que do ponto de vista informacional implica em centro e periferia, real e virtual. Neste caso, o centro tende a reproduzir a sua presença na dimensão virtual do ciberespaço, reproduzindo-se na periferia um real onde a transferência e uso da informação encontram-se historicamente igualmente periferizados. Portanto, do ponto de vista de países periféricos, a dialética real e virtual, suas interpenetrações e possibilidades para os indivíduos defronta-nos com a função política da relação entre centro e periferia informacional. A tecnologia em si não é uma alavanca de ruptura e minimização destas contradições.
O uso das diversas possibilidades das tecnologias da informação têm como requisito políticas públicas de informação. Caso contrário, todo aparato tecnológico tende a reconfigurar novas formas de periferização real e virtual.
A produção do campo arquivístico numa dimensão virtual não se realiza de forma paralela aos avanços que se fazem necessários na gestão da informação num dimensão não virtual. Mais ainda que a tecnologia com todos os seus possíveis benefícios, a politização da informação por parte dos diversos sujeitos envolvidos no ciclo informacional é fundamental para a governança e a cidadania em nossos países.
No plano internacional e inclusive no âmbito da nossa região, há conceitos e projetos diversos quanto ao que se convencionou designar por sociedade da informação. No marco de nossos países este debate é inadiável entre a comunidade arquivística. Sem o aprofundamento das questões inerentes a este projetos, problematizando-as a partir do referencial arquivístico, aumentarão ainda mais as dificuldades na definição e implementação de políticas nacional de arquivos. Estas não existirão ou serão dificilmente viabilizadas sem considerarmos dois pontos: de um lado, o grau em que a sociedade da informação se desenha como fenômeno numa realidade histórica, social e econômica como a dos nossos países; de outro lado, em que níveis a informação arquivística figura (ou deixa de figurar) nos projetos governamentais de sociedade da informação forjados em nossos países.
Tanto quanto estaria ocorrendo um processo de "reinvenção dos arquivos" nos países centrais sob a influência das atuais tecnologias da informação, observamos em nossos países a dupla necessidade de reinventá-los no marco das nossas singularidades. Este é um caminho a ser politicamente construído pelos diversos atores no Estado e na sociedade civil.

Bibliografia:

AMERICAN SOCIETY OF INFORMATION SCIENCE. Thesaurus. http://www.asis.org/Publications/Thesaurus/asis_thesaurus.html
ASSOCIATION DES ARCHIVISTES SUISSES. Groupe de travail sur l´archivage de documents électroniques. http://www.staluzern.ch/vsa/ag_aea/dok/Basisdokument_f-Sommaire.html
BEARMAN, David. Virtual Archives. http://www.lis.pitt.edu/~nhprc/prog6.html
BEARMAN, David et all. A Common Model to Support Interoperable Metadata. Progress report on reconciling metadata requirements from the Dublin Core and INDECS/DOI Communities. http://www.dlib.org/dlib/january99/bearman/01bearman.html#Top

BEARMAN, David, TRANT, Jennifer. Authenticity of Digital Resources: Towards a Statement of Requirements in the Research Process . http://www.dlib.org/dlib/june98/06bearman.html

BORGES, Mônica. A informação como recurso gerencial das organizações na sociedade do conhecimento. Ciência da Informação, v. 24, n. 2, 1995

CASTRO, Nivalde J., MAGALHÃES, Maria Alice E. Bibliotecas Virtuais: portais para a Comunidade Científica. http://www4.prossiga.br/marketing/doctec/doc99-09v1.html
COMITÉ SUR LES DOCUMENTS ÉLECTRONIQUES. Guide pour la gestion archivistique des documents électroniques. Paris: ICA, 1997.
COX, Richard. Searching for authority: archivists and eletronic records in the New World at the Fin-du-siécle. http://www.firstmonday.dk/issues/issue5_1/cox/index.html#author
GOMES, Sandra Lúcia Rebel, MARCONDES, Carlos Henrique. O impacto da Internet nas bibliotecas brasileiras. Transinformação. Campinas, v. 9, nº 2, maio/agosto, 1997.
JARDIM, José Maria. A face oculta do Leviatã: gestão da informação e transparência administrativa. Revista do Serviço Público. Brasília, v. 119, n.1, jan./abr. 1995.
__________________. Sistemas e Políticas Públicas de Arquivos no Brasil. Niterói: EDUFF, 1995.
__________________. Transparência e Opacidade do Estado no Brasil: usos e desusos da informação governamental. Niterói: EDUFF, 1999.
_________________. Os arquivos nos projetos do Mercosul: estado da questão e perspectivas. III Congresso de Arquivologia do Mercosul, Montevideo, 9 a 11/9/1999.
LE COADIC, Yves. Usage et usagers de l’information. Paris: Nathan, 1997.
LEVY, Pierre. As tecnologias de inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Ed. 34, 1993.
__________ . O que é o virtual ?. Rio de Janeiro: São Paulo: Ed. 34, 1996.
MARCHIORI, Patrícia Z. Ciberteca ou biblioteca virtual: uma perspectiva de gerenciamento de recursos de informação. Ciência da Informação, Brasília, v.26, n.2, p.115-124, maio/ago. 1997.
MONTVILOFF, Victor. Politiques nationales de l'information. Manuel concernant la formulation, l'approbation, la mise en oeuvre et l'action d'une politique nationale de l'information. Paris: UNESCO, 1990.
POHLMANN FILHO, Omer, CAMPOS, Márcia de Borba, RAABE, André. Guia para criação de Bibliotecas Virtuais. http://www.cglobal.pucrs.br/bibdigital/kits/kit1.htm
RODRÍGUEZ, David. Crear páginas Web. Guía básica para archiveros. Boletín de la ANABAD. Madrid, v.48, n. 1, 1998
SOUZA, Terezinha Batista de; CATARINO, Maria Elisabete; SANTOS, Paulo Cesar dos. Metadados: catalogando dados na Internet. http://www.puccamp.br/~biblio/tbsouza92.html.
WAINWRIGHT, Eric .Convergence, Information and Records Management : Observations from an Australian Government Information Management Perspective. http://www.nla.gov.au/
YORK, Victoria. Bibliotecas digitais. http://www.cg.org.br/gt/gtbv/YorkatIBICT/index.htm

[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]


Forum timezone: GMT-4
VF Version: 3.00b, ConfDB:
Before posting please read our privacy policy.
VoyForums(tm) is a Free Service from Voyager Info-Systems.
Copyright © 1998-2019 Voyager Info-Systems. All Rights Reserved.