Subject: Grande Fagundes, muito bem! |
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visitante
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Date Posted: 18/05/05 8:45:32
In reply to:
Augusto Mendes
's message, "Contundente e bem observado" on 17/05/05 23:18:43
>Ora quem assim fala não é gago. São verdades que doem
>mas é preciso ouvi-las para que não fiquemos para aqui
>todos a chorar com pena do PCP.
>Primeira verdade - o PCP travou a luta dos
>trabalhadores em 1974 e 1975. Era então a batalha da
>produção, o dia de trabalho nacional do Gonçalvismo
>que me trouxe na altura à memória a célebre frase
>"arbeit macht frei" que os nazis punham à entrada dos
>campos de concentração.
>Era também a unicidade sindical que vista à distãncia
>tem algumas similitudes com o sindicalismo corporativo
>- um só sindicato por sector de actividade, uma só
>central sindical, tudo imposto por lei, está claro.
>Depois é a defesa dos pequenos e médios empresários, o
>nacionalismo bacoco contra a integração de Portugal na
>UE, o apoio às lutas contra os agricultores e
>pescadores espanhóis, etc, etc. Internacionalismo
>operário onde estás tu?
>É de facto o mais vil reformismo que prepassa pelas
>posições do PCP.
>
>
>>O problema da concorrência é complexo, lá isso é, mas
>>mais complexo, ainda, é o problema das posições
>>assumidas pelo PCP. E, neste campo, o pc mais
>>parece-se mais com uma organização sindical reformista
>>e feita com o patronato da economia nacional do que
>>com um partido político revolucionário e comunista.
>>Não é de agora a defesa do tecido produtivo nacional,
>>da economia nacional, por parte do PCP. Se não é de
>>sempre (porque se a sua política durante o fascismo
>>foi predominantemente orientada para a luta pelas
>>liberdades, não pôde fugir ao apoio de muitas greves
>>espontâneas contra a fome e os salários de miséria),
>>é, pelo menos, desde o 25 de Abril. Desde então, com
>>um pretexto ou com outro (convém lembrar que muitas
>>reivindicações dos trabalhadores eram travadas com o
>>epíteto de que faziam o jogo da reacção), o PCP sempre
>>se opôs à luta dos trabalhadores por melhores
>>salários, e essa sua orientação política acentuou-se
>>com a alteração da composição da sua base de apoio e
>>de militância (que passou a integrar quadros e
>>pequenos e médios empresários oriundos das camadas
>>mais bem pagas do operariado e que nunca cortaram com
>>a militância ou o apoio ao partido de que foram
>>membros ou simpatizantes).
>>Até não há muito tempo, as palavras de ordem (e o
>>pouco trabalho de mobilização) da CGTP (totalmente
>>controlada pelo PCP) orientavam-se mais para o
>>trabalho com direitos do que para a reivindicação
>>salarial, e a própria recusa na subscrição dos pactos
>>de concertação social serviam plenamente essa
>>estratégia deliberada, nomeadamente, porque não
>>subscrevendo não acarretava com o ónus da colaboração,
>>permitindo-lhe manter um discurso reivindicativo de
>>fachada, mas em nada contribuía para a sua não
>>concretização nos termos em que era subscrita pelos
>>sindicatos do frete. Até hoje, o PCP (para não falar
>>na CGTP) não falou do impacto que a importação de
>>mão-de-obra imigrante teve e tem na degradação do
>>salário e no enfraquecimento da capacidade
>>reivindicativa dos trabalhadores portugueses, e nada
>>fez para se opor à mais descarada liberalização do
>>mercado de trabalho. E aponto apenas estes dois
>>factores (a mobilização e a defesa do mercado de
>>trabalho), que com a situação de crise ou de expansão
>>da economia são dos mais relevantes para determinar o
>>êxito da luta pela valorização do salário no produto,
>>ao contrário do que o PCP quer fazer crer às massas
>>(que a valorização do salário se faz pela acção do
>>Estado do capital ou pelo retorno compensatório da
>>condescendência para com os capitalistas nacionais).
>>Por muito badaladas que sejam agora as retóricas do
>>PCP acerca dos salários baixos, elas em nada alteram a
>>situação, porque não passam disso mesmo e porque os
>>trabalhadores portugueses estão de cócoras, sem
>>qualquer capacidade reivindicativa. Uma vez mais,
>>portanto, quando verte lágrimas de crocodilo pelos
>>salários baixos, o PCP não defende os interesses dos
>>trabalhadores portugueses. E uma vez mais, também,
>>quando aparece a defender a economia nacional,
>>nomeadamente, o sector mais parasitário dos salários
>>baixos, através de paliativos restritivos à
>>concorrência asiática ou através de subsídios que
>>apenas permitirão prolongar esse parasitismo, o PCP
>>não serve os interesses dos trabalhadores portugueses.
>>A quem serve, então, o PCP? Eventualmente (para não
>>ser mais contundente), a sua clientela de quadros
>>técnicos, de micro, pequenos e médios empresários (os
>>mais afectados por qualquer elevação do salário, os
>>quem mais foge aos impostos, os quem mais se comporta
>>como capitalistas parasitários); certamente, os seus
>>próprios quadros, através da defesa da sua própria
>>existência de partido defensor dos pobres e dos
>>desvalidos da sorte, que só poderá manter-se com
>>alguma expressão política relevante se na sociedade
>>persistirem os salários baixos, o desemprego e as
>>representações tradicionais acerca do fado de quem
>>trabalha: a miséria.
>>Na situação de desaparecimento do chamado campo
>>socialista, quando a revolução se apresenta cada vez
>>mais longínqua porque desapareceu o baluarte que
>>permitia manter acesa alguma réstia da chama da
>>esperança pela ajuda externa (com apoios de toda a
>>ordem, sem desprezar qualquer possibilidade de
>>intervenção militar), aos PCs apenas resta dois
>>caminhos: assumir uma postura radical e
>>internacionalista, regressando ao mais genuíno
>>radicalismo marxista, apoiando e incentivando as
>>reivindicações dos trabalhadores e a própria
>>globalização, contribuindo para o acelerar do
>>esgotamento do capitalismo; remeter-se a um reformismo
>>de fachada, que mantenha ou agrave o status quo,
>>adoptando a lamúria como táctica e a defesa da
>>economia nacional (a defesa dos capitalistas
>>nacionais, em último caso os capitalistas lusos que
>>não se podem internacionalizar, isto é, os micro,
>>pequenos e médios empresários ou a fracção mais
>>retrógrada do capitalismo) como estratégia.
>>Este o grave dilema dos PCs. Pelo que nos mostram, os
>>que sobrevivem, como o PCP, já escolheram o seu campo.
>>
>>António Fagundes.
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