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francisco almeida leite
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Date Posted: 19/05/05 11:26:50
José Pacheco Pereira apelou ontem no seu blogue Abrupto ao lançamento de um movimento pelo 'não' ao Tratado Constitucional europeu. O antigo eurodeputado do PSD dirigiu-se "a todos aqueles que querem votar 'não' e não se revêem no 'não' do PCP e do BE à Constituição Europeia". E questionou "De que estão à espera para organizar um movimento que explique as suas razões aos portugueses?"
A ideia avançada por Pacheco Pereira era já do conhecimento da direcção de Marques Mendes, que confrontado pelo DN se escusou a fazer qualquer comentário. Mas Assunção Esteves, actual eurodeputada do PSD, reagiu com optimismo não ao conteúdo mas à proposta de movimento de Pacheco Pereira, sobretudo porque, "pela primeira vez, a Europa deixa de ser discutida nos gabinetes e passa para a opinião pública. É bom para a liberdade de expressão dos cidadãos". Ora esta é uma das críticas que Pacheco lança, envolvendo o próprio Presidente da República, que "já anda em campanha pelo 'sim' nas escolas, mostrando que nesta matéria não se importa de ser Presidente só de uma parte dos portugueses". Mas "Sócrates, Vitorino, Cavaco, Marcelo, Marques Mendes e Portas" também não escapam e são referidos como mais do que óbvios partidários do 'sim'.
Manuel Lopes Porto, que foi eurodeputado do PSD durante dez anos, discorda da posição de Pacheco, embora reconheça a utilidade do movimento "Não concordo, até porque sou partidário do 'sim' e acho que não está em causa, como ele diz, a Europa das Nações. Mas é bom para a discussão e julgo até que vão surgir vários movimentos pelo 'sim'", diz ao DN.
O tema da difusão do 'sim' preocupa Pacheco, que chega ao ponto de dizer que "o dinheiro da Comissão e do Parlamento Europeu já flui para encartes, artigos, panfletos e colóquios com os pódios ou as audiências cuidadosamente equilibrados para parecer que se debate". Guilherme Silva assume que "é natural que quem se sinta subalternizado queira discutir. É uma posição de que discordo, mas é uma posição inteligente, de uma pessoa avisada". Para o ex-líder parlamentar do PSD, partidário do 'sim', "o Tratado Constitucional não põe em causa o equilíbrio das nações no espaço europeu", como diz Pacheco no seu blogue.
a reboque das autárquicas. Outra das questões que preocupa Pacheco Pereira é a forma como os próprios defensores do 'sim' actuam. "Tudo será, como já é, prudente, sottovoce, regrado e controlado para que o 'sim' ganhe pela porta de trás, sub-reptício, a reboque de umas eleições autárquicas em que, está mesmo a ver, a questão europeia vai ser muito discutida", escreve o ex-eurodeputado. Uma posição que é comentada ironicamente por Manuel Lopes Porto, que garante que "há sempre quem vote e defenda o 'não', mas é mau se o 'sim' for aprovado com 100% de adesão..."
António José Seguro, antigo eurodeputado do PS, que agora está na bancada socialista em São Bento, louva a ideia de Pacheco Pereira, considerando que "esse tipo de iniciativa só contribui para um debate mais esclarecedor". Apoiante do "sim", Seguro não se mostra incomodado pelo facto de Pacheco ser um importante líder de opinião que vai militar contra esta Constituição Europeia. "Não surpreende que ele seja contra, tendo em conta as suas posições de há algum tempo para cá", diz.
Para Miguel Portas, do Bloco de Esquerda - que defende o 'não' ao Tratado - a iniciativa de Pacheco Pereira tem "a virtude de mostrar que, no PS e PSD, nem todos partilham do optimismo tonto" das respectivas direcções, vindo a "ampliar um debate" que praticamente não se tem feito. Mas faz também questão de afirmar que este é um 'não' diferente daquele que é defendido pelo BE "O Bloco defende o chumbo do Tratado e um processo constituinte que termine com uma magna carta europeia. O 'não' de Pacheco Pereira é bastante mais parecido com o do PCP - é um 'não' a qualquer constituição". Já a eurodeputada comunista Ilda Figueiredo sublinha que há pontos que até podem ser comuns, mas salienta que o caminho do PCP será feito contra o "projecto neo-liberal, militarista e federalista" que representa o Tratado.
O DN contactou Pacheco Pereira, que adiantou ser "muito cedo para acrescentar mais do que escrevi ou fazer declarações individuais."
* Com Filipe Santos Costa e Susete Francisco
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