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VASCO PULIDO VALENTE
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Date Posted: 5/09/05 16:11:38
Toda a gente concorda que o mal está nos partidos. Os partidos corrompem e pervertem a democracia. Os partidos tomaram conta do Estado e puseram o Estado ao seu serviço. Os partidos sufocam e roubam o país. Muito bem. Mas como se vão reformar os partidos? Cortando as cabeças mais visivelmente nocivas? Marques Mendes tenta agora fazer isso. Parece que Isaltino, o impensável Valentim e algum peixe miúdo irão ser removidos para outras pastagens. Só que este acto de higiene, em si mesmo louvável, não resolve a coisa. Há muitos Valentins pelo PSD, milhares deles, que não se agitam nem aparecem na televisão, Valentins discretos, quase anónimos, formiguinhas que tratam de si em grande sossego, sem abrir o bico, e contra esses Marques Mendes nada pode. Excepto se fizer uma purga à Estaline e, se a fizer, cai o regime e, se calhar, ele ainda acaba preso.
Uma segunda escola filosófica vê a raiz do problema nas "Jotas" (para o leigo "Juventudes": a JS, a JSD e congéneres). As "Jotas", dizem, são um viveiro de malvados. Caçam criancinhas na sua tenra idade e as criancinhas deixam de estudar para crescer entre a intriga, a calúnia e a manobra, até chegarem à Câmara do sítio ou a S. Bento e daí subirem, já facínoras de carreira, a uma Secretaria de Estado ou a um Ministério. Abolir as "Jotas" fechava a torneira da peçonha. Infelizmente não fechava, dava por inteiro ao pai, ao tio, ao primo e ao cacique, principalmente ao cacique, a escolha do pessoal partidário. A Máfia nunca teve problemas de recrutamento. Os partidos também não teriam.
Existe, é claro, para um certo idealismo melancólico, a solução perfeita: o círculo uninominal, introduzido brandamente ou em doses drásticas. O círculo uninominal produziria deputados com uma verdadeira ligação ao povo, com independência e com carácter. E esses deputados transformariam os partidos. Não transformavam. Primeiro, até em Inglaterra, a televisão já devolveu ao centro a autoridade sobre o aparelho. Depois, porque nesta ditosa Pátria nossa amada do círculo uninominal brotaria logo uma generosa torrente de Isaltinos, de Valentins, de Jardins, de Ferreira Torres. Quem não se lembra do Campelo do queijo limiano, o herói incomparável do seu querido torrão, e do ano de Guterres que ele ofereceu aos portugueses? Com o círculo uninominal, Marques Mendes, coitado, enlouquecia.
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