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Subject: Aldo e o limão combativo


Author:
Ricardo Kotscho
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Date Posted: 1/10/05 18:21:13
In reply to: PÚBLICO 's message, "Brasil: Aldo Rebelo eleito presidente da Câmara dos Deputados" on 29/09/05 14:12:01

Diário Vermelho
Brasil, sábado, 1 de outubro de 2005

Aldo e o limão combativo

Por Ricardo Kotscho*

Era 1989, lá pela metade do ano. Começava a pegar fogo a primeira campanha presidencial em eleições diretas após a ditadura militar. Lula e sua pequena comitiva foram até o Pantanal mato-grossense, onde a gente faria algumas gravações para o programa do candidato no horário eleitoral.

Na porteira de uma fazenda pertencente ao grupo Camargo Corrêa, se não me engano, fomos barrados porque não tínhamos providenciado nenhuma autorização para entrar lá. Sem ordens superiores, não teve conversa. Como naquele tempo ainda não existia celular, o jeito foi entrar em contato com a diretoria da empresa por meio de um aparelho de rádio que havia na fazenda. Mas a comunicação estava péssima.

Enquanto esperávamos a autorização, comecei a conversar com um jovem deputado federal, que era do PCdoB e representava o partido aliado nas nossas viagens. Muito reservado, falava pouco e fumava mais do que eu. Conversa vai, conversa vem, ganhamos logo a confiança dos peões da fazenda, que nos ofereceram água, café e uma pinga de boa qualidade. Aldo Rebelo, o deputado, se animou, e arriscou fazer um outro pedido:

- Companheiro, será que não daria para nos arrumar um limãozinho combativo para temperar a cachaça?

Limão combativo? Achei engraçada a expressão e, desde então, sempre que encontro o novo presidente da Câmara dos Deputados, lembro-lhe aquela história. Tudo, para ele, é combativo. Filho de vaqueiro que só não seguiu a tradição da família porque havia uma escola onde ele morava, em Viçosa, no interior de Alagoas, Aldo viria mais tarde a estudar em São Paulo, onde se tornou líder estudantil, presidente da UNE, e daí foi para a carreira política, sem perder o jeitão de sertanejo retraído, sempre muito sério.

Notei naquela viagem que Aldo parece estar sempre em missão, cumprindo alguma tarefa. O que não o impede de também se divertir com o que faz.

Naquele dia, na porta da fazenda, começamos a assuntar a peãozada sobre o que eles pensavam a respeito das eleições marcadas para dali a poucos meses, o que achavam do Lula, essas coisas que jornalista costuma fazer onde quer que chegue (o deputado é também jornalista).

Eles não sabiam do que se tratava, não tinham a menor idéia de quem eram os candidatos, nem quem era aquele barbudo de voz rouca, impaciente com a demora para entrar na fazenda, o candidato Lula.

Eleições, para eles, era só dia de comer churrasco sem pagar. E não precisavam nem se preocupar com a escolha dos candidatos em quem votariam, como nos explicou um deles.
- Sabe, moço, aqui não precisa nem ir na cidade votar. Os homens vêm na fazenda buscar nossos documentos, eles fazem o voto e nós ficamos aqui comendo churrasco. De tarde, eles devolvem o título, fica tudo resolvido.

Aldo e eu descobrimos nesse dia o que é um verdadeiro "voto de cabresto" e o significado da expressão voto secreto. No caso dos eleitores daquele fim de mundo do Pantanal, o voto era secretíssimo - tão secreto que nem eles mesmos podiam saber em quem haviam votado. Este episódio talvez explique melhor o que está acontecendo no Congresso Nacional do que todos os comentários dos cientistas políticos que assolam a imprensa brasileira.

Várias campanhas e viagens depois, fui reencontrar Aldo em Brasília, com aquela postura de quem presta muita atenção no que o interlocutor está falando, mesmo que se trate de uma bobagem qualquer. Virou líder do governo na Câmara, depois ministro da Articulação Política. Passamos a nos encontrar quase todos os dias. Nas viagens do presidente que acompanhava, ele me ajudava no atendimento à imprensa. Não era de procurar microfones e holofotes como os outros políticos, mas também não se furtava (epa! no bom sentido...) a atender os repórteres quando o solicitavam.

Tenho certeza, pelo que conheço dele, de que Aldo não moveu uma palha para ser candidato a presidente da Câmara, líder do governo ou ministro. Membro de uma bancada de apenas nove deputados, nunca havia ocupado lugar na chamada Mesa Diretora. Uma vez indicado candidato, porém, pela aliança do governo, foi à luta para cumprir a missão que lhe deram.

Havia combinado com os editores do NoMínimo não utilizar este espaço para falar de assuntos políticos, já que eu tinha acabado de sair do governo e vários outros colegas mais preparados cuidam deste tema aqui no site. Prefiro falar de assuntos menos importantes, coisas da vida, do cotidiano. Mas resolvi abrir uma exceção para falar dele - não do político Aldo Rebelo, que já é muito conhecido - só para dizer a vocês que fiquei muito feliz com a sua vitória.

No meio desta confusão toda dos últimos meses, acabou assumindo o terceiro cargo mais importante do país, meio por acaso e sem ninguém poder prever, um ser humano da melhor qualidade, um sujeito leal e generoso, que dignifica a função de político e está sempre verdadeiramente preocupado com os destinos do país. Isso é muito bom. Se o brinde pela vitória for acompanhado por um limãozinho combativo, melhor ainda.

* Jornalista, ex-assessor de comunicação de Lula e autor do livro
"Explode um novo Brasil: Diário da campanha das Diretas Já";
fonte: site No Mínimo
http://nominimo.ibest.com.br

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