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João Nascimento , A Capital, 23/07/05
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Date Posted: 23/07/05 14:06:33
In reply to:
Rosa Redondo
's message, "PS à procura do chapéu do avô!" on 23/07/05 12:58:01
O sapo Freitas
João Nascimento , A Capital, 23/07/05
Eu sou do tempo em que os comunistas votaram em Mário Soares para que Freitas do Amaral não fosse eleito presidente da República. Sou do tempo em que os comunistas - seguindo as palavras do líder Álvaro Cunhal - engoliram o sapo Mário Soares para evitar que o então ícone da direita nacional, o "magnífico reitor", se tornasse presidente de todos os portugueses.
Há uma imagem dessa altura que recordo sempre, a de uma senhora de alguma idade - comunista de toda a vida - que deu a conhecer a melhor forma de engolir um sapo sem sofrer de azia nos dias seguintes: beber logo a seguir uns sais de fruto.
Acredito em que as pessoas mudem com a idade e a experiência - na verdade não acredito muito nisso, mas pareceu-me bem dizê-lo nesta altura para que o que vem a seguir faça sentido -; aquilo em que não acredito, ou melhor, em que me custa a acreditar, é que a esquerda neste país esteja tão mal, que Freitas surja como hipótese credível na corrida à Presidência da República em representação do maior partido dessa mesma esquerda, aliás o mesmo partido que serve de suporte absoluto ao actual Governo.
Um Governo cuja coerência das apostas e das promessas feitas aos portugueses, durante a campanha para as legislativas, se percebe claramente pela forma como o ministro das Finanças troca de cabeça.
Que estranha segunda volta das presidenciais seria aquela em que Cavaco Silva e Freitas do Amaral se enfrentariam, tendo antes - ainda durante a primeira volta, como é de tradição - o candidato do PCP desistido em favor do candidato do PS.
Importa nesta altura enaltecer as qualidades de Freitas do Amaral, o homem que depois de ter fundado o CDS-PP se tornou de esquerda.
Afinal, trata--se de um dos portugueses com maior prestígio internacional, tendo mesmo ocupado a cadeira de presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas. O que, ainda que fosse só por isso, lhe garantiria o "estatuto" necessário a ambicionar vir a ocupar o mais alto cargo do Estado.
"Ambição" que, acredito, está bem patente na forma como o ministro dos Negócios Estrangeiros não deu, até agora, a sua opinião sobre a possibilidade de Manuel Alegre vir a representar os socialistas na corrida à Presidência.
Um diplomata excepcional, que o diga a sua colega Condoleezza Rice. Um homem capaz de dar lições sobre comunicação a qualquer Governo, que o diga José Sócrates. Lembremos ainda que há uma fotografia de Freitas do Amaral em busca de uma parede onde poisar, vai para alguns meses.
Depois dos nomes do ex-presidente Mário Soares, do refugiado António Guterres, do "habituem-se" António Vitorino e do poeta Manuel Alegre, eis que é soprado nos corredores da vastíssima corte socialista o nome de Freitas do Amaral como candidato "provável" à Presidência da República. Agora, sim, Cavaco Silva tem um adversário temível pela frente. Um homem cuja improvável capacidade de metamorfose o impede de ser encarado de ânimo leve por aquele que um dia chegou à liderança do PSD só, ao que consta, porque precisava de fazer a rodagem ao automóvel.
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