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Subject: alternativa política.


Author:
José Saramago
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Date Posted: 5/11/08 17:51:54

O escritor José Saramago criticou as "situações completamente absurdas" criadas pela crise do capitalismo neoliberal, cujas "fantasias, apresentadas quase como verdades científicas, se desfizeram em pó", e lamentou a inexistência de uma alternativa política.

"Está a acontecer no mundo algo de que devemos ter uma consciência tão clara quanto for possível, porque isto pode mudar. É claro que permanece sempre aquela possibilidade de que já falava o Lampedusa no 'Il Gattopardo', 'mudar alguma coisa para que tudo continue na mesma', mas é difícil, porque o choque [desta crise] foi tremendo e conduziu a situações completamente absurdas. O sistema capitalista - de uma dureza tremenda, que nos condicionou durante 30 anos, o tempo que dura o neoliberalismo económico - essa ideia de que o mercado é ou era sábio, que se auto-regulava, desfez-se", defendeu José Saramago, em entrevista à Lusa.

Na opinião do prémio Nobel da Literatura português, o capitalismo "deu lugar a coisas completamente absurdas", como "que seja o Estado a salvar os bancos em toda a parte".

"Se vivêssemos em regime socialista, isso faria sentido, agora, no sistema capitalista, não tem sentido nenhum. E ainda por cima, li no outro dia que dos apoios, ou subvenções, subsídios, ou como quer que se lhes chame, que o Estado norte-americano vai dar a essas empresas, a esses bancos, 52 por cento desse dinheiro será para pagar aos accionistas da empresa. Portanto, o contribuinte paga tudo, paga duas vezes: paga para que o Estado salve o banco, mas o banco daí, desse dinheiro, retira 52 por cento para pagar aos seus accionistas. É o absurdo completo", insistiu.

"E por que é que não se aproveita agora para virar os pés pela cabeça a este mundo? Por uma razão simples, não há alternativa política", sustentou.
"Onde está a esquerda?"

Saramago há muito que vem perguntando "onde está a esquerda?", mas não tem obtido resposta.

"É que vivemos estes 30 últimos anos, para não dizer mais, sob o poder da direita. Quando começou por aí a falar-se de globalização, eu disse - e com certeza outras pessoas o disseram, se não neste termos, noutros semelhantes: a globalização é um imperialismo. E era um imperialismo, já se viu, viu-se. Se fosse preciso a demonstração, pois está aí", observou.

"Algo que corria todo o mundo, rodeava todo o mundo, não para fazer com que toda a gente tivesse escola e assistência médica e hospitalar e tudo isso, não com esse fim, ou com esse fim, desde que tenha dinheiro para pagar tudo isso. A iniciativa privada não faz favores a ninguém, se queres pagas e se não pagas... Nos Estados Unidos, em que o seguro médico está reduzido a uma caricatura, se você chega a um hospital para ser internada, ou tem seguro médico ou não a recebem", referiu.

"É isto a democracia? Claro que não é! 'Ah, você é anti-democrata', dizem-me. Eu não sou anti-democrata... E dizem-me também 'claro, não é nada para admirar, você é comunista!' - o que tem que ver uma coisa com a outra? Se o comunismo errou, se fracassou, pois, que pena! Fracassou, não porque as ideias estejam erradas, mas simplesmente porque as pessoas que tinham a obrigação de aplicá-las correctamente abusaram delas, como sempre acontece, ou quase sempre...", argumentou.

O romancista discorda de Churchill quando este afirmava "a democracia não é grande coisa, mas é o menos mau dos sistemas".

"Não parece, porque quando o espaço da democracia passa a ser ocupado por algo que não tem nada que ver com a democracia, que é o peso, a influência, o poder do dinheiro, não há democracia que resista. E além disso, nós nunca vivemos em democracia, e não vivemos agora mesmo em democracia, vivemos numa plutocracia, o governo dos ricos, para que os ricos ganhem mais e para que os pobres sejam cada vez mais pobres e cada vez em maior número. Esta é que é a realidade", sublinhou.

"A democracia, por favor... Nós vamos às eleições, pomos lá um papel e, a partir desse momento, não sabemos para que é que vai servir esse papel, porque quem ganhar as eleições, depois de ter durante a campanha prometido este mundo e o outro - não vai cumprir, já sabemos... Basta isto: um político português, na altura primeiro-ministro - de quem não vou dizer o nome por caridade - declarou alto e bom som que a política é a arte de não dizer a verdade. Quando um político se atreve a dizer isto e a pensá-lo, porque está convencido de que é assim, a democracia não está em muito boas mãos", comentou.

"Há que tomar a sério a vontade dos cidadãos, que não têm outra coisa para fazer valer a sua opinião se não o voto", concluiu.

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