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Subject: Conversa à mesa do café sobre a Crise Financeira - II


Author:
Guilherme da Fonseca-Statter
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Date Posted: 17/09/08 15:06:53
In reply to: Guilherme da Fonseca-Statter 's message, "Conversa à mesa do café sobre a Crise Financeira - I" on 17/09/08 14:59:41

Num já referido apontamento anterior, tive ocasião de falar do excedente económico produzido anualmente, ano após ano, por qualquer sociedade industrial, sendo que a esse excedente económico corresponde também normalmente a “criação de dinheiro” que deixa de ser consumido ou aplicado. Entretanto esse “excedente” tem estado a aumentar paulatinamente e, de vez em quando, vem como que “aterrar” na economia real, dando origem a desvalorizações e ao reconhecimento social da ocorrência de múltiplos desperdícios (não consumos de “coisas” entretanto produzidas”).
Temos assim que, em resultado do aumento progressivo e continuado do referido “excedente económico”, muitas instituições financeiras se vieram a encontrar na posse (“fieis depositários”) de somas astronómicas de dinheiro que era necessário “reciclar”. Já foi assim nos anos em que surgiram os petrodolares e os eurodolares. Daí, desses petrodolares e eurodolares, resultaram as crises das gigantescas “dividas externas” dos países que embarcaram no canto da sereia dos “empréstimos para o desenvolvimento”. Entretanto muito se tem falado dessas colossais dívidas externas (que, nos mercados financeiros, valem cada vez menos...) mas pouco se tem referido, assinalado ou sublinhado que o país com a mais gigantesca dívida externa são os Estados Unidos.
Voltaremos a este ponto, porque é crucial para a compreensão desta crise... Entretanto, daquela necessidade de “reciclar” os excedentes financeiros, resultaram também e agora os aumentos excessivos da concessão de créditos hipotecários e o concomitante aumento dos créditos “mal parados”.

Há aqui um aspecto só aparentemente paradoxal: por um lado o excesso de liquidez que leva os bancos a procurar aplicações “a todo o custo” e, por outro lado, – e num segundo momento - a falta de liquidez para satisfazer obrigações entretanto assumidas. Também é necessário voltar a este ponto.
Mas regressemos às origens “tectónicas” destes “tremores de terra” financeiros...
Na relação fundamental entre o “Capital” e o “Trabalho” temos que os detentores do factor “Capital” tentam naturalmente maximizar a sua “recompensa”, minimizando por conseguinte o pagamento do factor “Trabalho”. Mesmo que muitos trabalhadores se sintam razoavelmente bem pagos. E mesmo que incluamos no factor “Trabalho”, as actividades e recompensas da gestão executiva, alguma dela necessária e certamente útil ou produtiva. O resultado líquido dessa minimização acaba sempre sendo um acumular constante e progressivo de “riqueza não consumida ou não aplicada em investimentos”. Ou seja, o resultado será sempre o do crescimento do chamado “capital especulativo”. E este sempre procurará as melhores “aplicações” financeiras possíveis. Seja na compra de “futuros” (apostas sobre a variabilidade dos preços destas ou daquelas matérias-primas ou outras), seja no incentivo a que as pessoas comuns “comprem a crédito”, seja ainda nas apostas sobre as descidas ou subidas destas ou daquelas taxas de câmbio ou de juros... Imagino que haverá centenas de programas de computador utilizados rotineiramente para que os “gestores de fundos de investimento” – sempre muito bem compenetrados dos mistérios das suas actividades – façam as suas “compras” e “vendas”. Como me dizia há muitos anos atrás um director de um banco, “Isto é tudo velho e relho. O que vai variando é só a imaginação criativa dos nossos departamentos de marketing”...
Ou seja, como não se pagou ao factor “Trabalho” o suficiente para os agentes deste factor de produção (os “trabalhadores”...) consumirem tudo aquilo que vai sendo produzido (designadamente as casas que se lhes diz que devem ou podem comprar...), os detentores do factor “Capital”, através dos departamentos de vendas do sistema bancário, andam depois permanentemente a tentar convencer os “trabalhadores” a endividarem-se, sempre mais e mais descontraídamente (“vá de férias agora, pague só pró ano que vem”...) de modo a dar “aplicação” ao dinheiro correspondente à riqueza entretanto criada mas não redistribuída...
Um radical utópico-anarquista à la Proudhon diria talvez que os bancos andam, ao fim e ao cabo, a tentar emprestar-nos o nosso próprio dinheiro...

Nesta meada de proto-explicações, ficaram acima duas pontas soltas: (1) a questão da dívida externa dos Estados Unidos e (2) o paradoxo da falta de liquidez quando há dinheiro a mais...
Os EUA são claramente o maior devedor do planeta, quer em termos de dívida pública do Estado, quer em termos de “défice comercial”. Os grandes credores são, entre outros, a China, a União Europeia, o Japão, a Arábia Saudita... Estes têm sido pagos com “títulos de dívida” (ou ”I owe you’s” como dizem os Ingleses) e que às vezes são notas de dólares, às vezes são títulos do tesouro, às vezes são... aqueles “produtos financeiros” que os especialistas de marketing bancário vão inventando.
Como “toda a gente sabe” os EUA são a “nação mais rica do planeta” (se eu não tivesse que pagar as minhas dívidas também era bilionário...). De modo que “toda a gente” tem continuado a fornecer aos EUA coisas concretas (bens e serviços) a troco de “papel”. Para manter a ilusão do poder do dólar (sustentáculo do “poderio económico” dos EUA...) a Reserva Federal lá vai tentando manipular as taxas de juro, de modo a aliciar fluxos financeiros direccionados a seu favor e manter o dólar “forte”. O problema é o grau de confiança dos “mercados”... E à vezes os juros sobem mas a cotação do dólar desce. O problema é que a taxa de juro é uma “faca de muitos bicos”. E se pode servir de travão à inflação (“arrefecendo” a economia...) também pode contribuir para essa inflação pois que sendo o juro o “preço do dinheiro” acaba por se reflectir no “cabaz de compras”, quer das famílias, quer sobretudo das empresas (que se endividam). Em todo o caso, e a julgar pela literatura e pela imprensa, os modelos convencionais parecem assumir que o efeito de travão é sempre muito mais importante. O problema é que, às vezes, a travagem é suficientemente brusca ou ocorre em condições suficientemente adversas (areia, água ou óleo derramado na estrada...) para que a economia não só não “arrefeça” mas se despiste... Indo tudo “pró galheiro”, como soe dizer-se...
Quanto ao paradoxo da falta de liquidez quando há dinheiro a mais, a situação é relativamente simples. O sistema bancário funciona, permanentemente e de modo quase circular, como uma conduta gigantesca de dinheiro que vai fluindo de uns pontos para os outros. Por outras palavras, os bancos estão permanentemente a “emprestar dinheiro” uns aos outros. Enquanto alguns – os bancos de retalho (...) - vão emprestando dinheiro a pequenas empresas e a particulares. Tudo vai bem no melhor dos mundos (“maria vai com as outras”...) enquanto não há um grande (ou brusco) desfasamento entre as entradas (os recebimentos das prestações das hipotecas...) e as saídas (os novos empréstimos e – sobretudo - os pagamentos aos bancos prestadores).
Aí é que “a porca torce o rabo”... Há um primeiro alarme, um rumor de falência e tumba... Foi o que deu o sinal de alarme: algumas (MUITAS) das famílias norte-americanas viram-se (literalmente) de um ano para o outro a ter que pagar MUITO mais pelas prestação da hipoteca.

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Replies:
Subject Author Date
A crise é, no essencial, uma mudança de mãosFernando Penim Redondo17/09/08 15:19:01
    Re: A crise é, no essencial, uma mudança de mãosvisitante17/09/08 18:11:32
    Parece-me que é algo bastante mais significativo...Guilherme da Fonseca-Statter18/09/08 1:28:10


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