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| Subject: Parece-me que é algo bastante mais significativo... | |
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Author: Guilherme da Fonseca-Statter |
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Date Posted: 18/09/08 1:28:10 In reply to: Fernando Penim Redondo 's message, "A crise é, no essencial, uma mudança de mãos" on 17/09/08 15:19:01 É verdade - e já tem sido escrito - que as crises financeiras são sempre ocasião para a mudança de ou transferência de riqueza de uns para outros. Mas há aqui algo de diferente de "mais uma crise" ("pré-revolucionária", como diriam alguns activistas...) Em primeiro lugar ocorreu/ocorre primordialmente nos EUA e em particular só no sector financeiro. Os efeitos na economia real far-se-ão sem dúvida sentir (desde logo na construção civil...) mas por enquanto ainda não há grandes sinais de pânico nos sectores e/ou segmentos de actividade produtiva. Em grande parte pela herança estrutural (e estruturante) dos restos - ainda substanciais - do chamado Estado-Providência. As enormes massas de "burocracias estatais" (o funcionalismo público) também vão assegurando algum poder de compra (que não havia com essa dimensão na crise dos anos Trinta da "Grande Depressão"). Em segundo lugar porque é de facto (pelo menos em grande medida...) o resultado do "descobrir da careca" daquilo que se estava a passar e em consequência da chamada "financeirização do sistema". Como se trata dos EUA não há - pelo menos para já - uma desvalorização da moeda (o dólar) como a que aconteceu com todos os outros países onde "aterrou a financeirização do sistema". Em alguns casos, os 99%... Em terceiro lugar, pelas consequências políticas já bem visiveis. Alguém imagina acontecer hà trinta anos atrás aquilo que aconteceu na Bolivia com a UNASUR a apoiar o governo de Evo Morales à revelia e sem qualquer deferência para com os EUA?... Não se trata de se dizer que os EUA já não possam "com uma gata pelo rabo" (longe disso), mas parece que vão tendo que reconhecer que há mais mundo para lá do "consenso de Washington". Em quarto lugar e no que diz respeito a "mudança de mãos", a grande e verdadeira "mudança de mãos" está antes a ser um "acordar" (com uma grande ressaca...) por parte de muitos norte-americanos para a realidade prosaica do seu país. Devem dinheiro a todo o mundo (já devem hà MUITO tempo) e o governo deles, com as "nacionalizações", vai-lhes dizendo que vão ter que começar a pagar a conta. A quem?... Pois, aos credores: a China, o Japão... a Índia... Na realidade os "fundos soberanos" (e outras entidades financeiras, públicas e/ou pprivadas) desses países credores já são hoje proprietários de fracções significativas da economia (real) americana. Ou seja, em rigor não houve muita "mudança de mãos", os credores são os mesmos e só exigiram ao governo de George Bush, que assumisse as suas dívidas. Mas isto não quer dizer que no seu contexto interior, os EUA não têm (porque têm mesmo) a capacidade suficiente para "pagarem o que devem". Só que têm é que mudar (radicalmente) de política. Mas, como diria o outro, "se a minha avó tivesse asas, voava". Entretanto eu por mim "não embandeiro em arco" nem penso que (para já e nos tempos mais próximos) os "capitalistas estão a falir"... Não só não estão a falir como até continuam - pelo menos aqueles envolvidos nestas falências - a roubar o dinheiro dos trabalhadores. [ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ] |
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| Re: Parece-me que é algo bastante mais significativo... | A.Fagundes | 18/09/08 18:37:36 |