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| Subject: Era uma vez uma crise "financeira"... | |
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Author: Guilherme da Fonseca-Statter |
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Date Posted: 18/10/08 18:16:19 Há quem acredite que estas coisas das crises financeiras acontecem assim como que por acaso, ao sabor das boas ou más disposições de uns quantos malandros dos "especuladores financeiros" que se vão aproveitando da distracção ou inoperância dos "reguladores" estatais. Era um pouco como se os observadores e analistas de coisas da Natureza, por exemplo os tremores de terra, começassem a dizer que os ditos cujos tremores de terra acontecem porque "os deuses estão zangados" (não estão a "regular" bem...) ou então o Criador Supremo achou que devia castigar uma fracção, mais pecaminosa, da Humanidade... Claro que os geólogos sabem muito bem, à posteriori, explicar as causas mais profundas de cada tremor de terra que vai acontecendo. Ainda não sabem como prever quando e onde vai acontecer o próximo tremor de terra mas isso não retira uma polegada de rigor científico aos seus estudos sobre as placas tectónicas e a sua movimentação. Voltando à estória das crises financeiras, esta – a que começou já há uns dois anos – parece ter "batido à porta" deste pessoal todo, só este ano – em Agosto. E, no entanto, já há 15 meses que uns comediantes britânicos se divertiam a explicar como é que essas coisas acontecem... Mas as crises financeiras – e esta em particular - vêm de mais longe. De muito mais longe e em crescendo contínuo... Em fins dos anos Sessenta e princípios/meados dos anos Setenta, a evolução ascendente do sistema capitalista tinha atingido o topo da curva de Kondratieff e depois começou a descer... Alguns economistas convencionais andam a pregar que a partir do ano 2000 ("the new economy", a "internet bubble"...) a curva voltava a inflectir e começava de novo a subir... A China e o seu "capitalismo dirigido de Estado" (ou lá como lhe queiram chamar) até ajudava. Está-se ver... As coisas começaram logo em Agosto (pelos vistos um mês propício ao deflagrar de crises, atenção astrólogos de serviço!) de 1971, com o fim oficialmente anunciado pelo Presidente Nixon do sistema monetário internacional com base no padrão-ouro. Depois foi uma cascata de crises financeiras de dimensão crescente até chegarmos ao bendito ano de 2008. Houve o fim da guerra do Vietname e a queda dos preços das matérias primas, algumas para metade, em especial nos casos (a esmagadora maioria) em que não havia (por parte dos produtores) hipóteses de formar um cartel que controlasse os preços. Para ajudar à festa das crises, os produtores da matéria prima essencial - petróleo – estabeleceram o seu famigerado cartel e passaram a serem eles a determinar o preço. Em consequência (ou seria só por acaso?... Mera coincidência?...) vieram as inflações, a estagflação, o "fim da ciência económica"... A primeira crise da Argentina e de outros países da América do Sul e respectiva hiper-inflação, começa logo nos primeiros anos dos Oitenta. Ao longo dos anos Oitenta, Noventa e até a 2001/2002, esses países simplesmente "habituaram-se" a viver em crise financeira recorrente. Só nos últimos 13 anos – número azarento eh eh eh – aconteceram a crise financeira com origem no México (em 1995 o país declarou uma moratória nos seus pagamentos internacionais e aqui d’el rei que "não há dinheiro para mais ninguém"...). Em 1996 foi a vez da África do Sul (os tais da produção do ouro, moeda de refúgio...). Já 1997 foi o anos das crises nos países asiáticos (Malásia, Indonésia, Tailândia). Entretanto alguém se lembra aí da falência do mais antigo banco "merchant" do Reino Unido?... O Barings, em 1995?... Pois é... Em 1998 a crise voltou à África do Sul, onde regressou, mais uma vez em 2001. Entretanto a mesma crise, passou para a Europa de Leste a qual se propagou para a Rússia em 1998 (era ver os oligarcas todos a fugir para os bancos ocidentais de contas secretas e outros paraísos fiscais). A coisa propagou-se para a Turquia em 2000. Toda essa sequência de "crises financeiras" tinham um ponto em comum: "dinheiro quente" e "nómada" em busca de aplicações rentáveis... Em especial na compra de "activos voláteis" (que se possam vender de um dia para o outro...). Ou diferenças de "spreads, ou de taxsa de juros ou de oscilações de câmbios, ou que quiserem acrescentar de "instrumentos financeiros"... E a mesma dita cuja crise, que é a mesma com muitas "emergências", aqui e ali, com o dito "dinheiro quente" sempre em busca dos sítios (países...) menos regulados ou mais "abertos à globalização financeira". E depois, haja Deus, há quem acredite que estas coisas das crises financeiras só acontecem por causa de não sei bem o quê... [ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ] |