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Subject: O presente do Dia de Reis


Author:
Fidel Castro Ruz
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Date Posted: 17/01/08 19:26:28

REFLEXÕES DO Comandante em Chefe

OS cabogramas anunciaram-no com antecedência. Em 6 de janeiro informaram que Bush viajaria para o Oriente Médio assim que terminasse seu cristão descanso de Natal. Visitaria as terras dos muçulmanos, de outra religião e cultura à qual os europeus que se converteram em cristãos, declararam guerra, por infiéis, no século 11 d. C.

Os próprios cristãos mataram-se uns aos outros, tanto por motivos religiosos quanto por interesses nacionais. Parecia que tudo tinha sido superado pela história. Ficavam as crenças religiosas, que deviam ser respeitadas, e suas lendas e tradições, fossem ou não cristãs. Neste lado do Atlântico, mesmo como em muitas outras partes do mundo, as crianças ansiosas esperavam cada 6 de janeiro procurando rações suficientes para os camelos dos Reis. Eu também experimentei essa sensação de esperança nos primeiros anos de minha vida, pedindo o impossível aos afortunados Reis, com as mesmas ilusões com as quais alguns compatriotas esperam milagres de nossa perseverante e digna Revolução.

Não tenho a fortaleza física necessária para conversar diretamente com os vizinhos do município onde fui proposto candidato para as eleições do domingo próximo. Faço o que posso: escrevo. Para mim é uma nova experiência: não é o mesmo falar do que escrever. Hoje, que disponho de mais tempo para me manter informado e meditar sobre aquilo que vejo, apenas o tempo me dá para escrever.

O bom é esperado, o mau surpreende e desmoraliza. Preparar-se para o pior, é a única forma de preparar-se para o melhor.

Parece irreal ver Bush, o conquistador das matérias-primas e dos recursos energéticos de outros povos, impondo normas ao mundo sem se importar com as centenas de milhares ou milhões de pessoas que morrem e com a quantidade de cárceres clandestinos e centros de torturas que devem ser criados para atingir seus objetivos. “Sessenta ou mais escuros cantos do planeta” devem ficar à espera de ataques preventivos ou inesperados. Não fechemos os olhos, Cuba é um desses cantos escuros. Assim o disse textualmente o chefe do império e adverti disso mais de uma vez a comunidade internacional.

Em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, a poucas milhas do Irã, a AP informou: “O presidente estadunidense George W. Bush disse no domingo que o Irã ameaça a segurança do mundo, e que os Estados Unidos e seus aliados árabes devem unir-se para enfrentar o perigo antes de que seja tarde demais.

“Bush acusou o governo de Teerã de financiar terroristas, debilitar a paz no Líbano, e de enviar armas à milícia religiosa afegane Talibã. Acrescentou que o Irã tenta intimidar seus vizinhos com uma retórica alarmante, desafia as Nações Unidas e desestabiliza totalmente a região ao não querer esclarecer as intenções de seu programa nuclear.”

“Bush disse ’As ações do Irã ameaçam a segurança das nações em toda parte’. Portanto os Estados Unidos fortalecem nossos compromissos de segurança assumidos há muito tempo com nossos amigos no golfo Pérsico e convocam seus amigos para enfrentarem este perigo.”

“Bush falou no hotel Emirates Palace, construído a um custo de US$3 bilhões de dólares e onde uma suíte custa US$2.450 cada noite. Tem um quilômetro de comprimento e uma praia de areia branca de 1,3 quilômetros de comprimento. Segundo Steven Pike, um porta-voz da embaixada dos Estados Unidos nos Emirados Árabes Unidos, cada grão da areia dessa praia foi importado da Argélia.”

Todo mundo sabe que ele quer a guerra contra o Irã, é sua guerra. Promete, além disso, que as tropas norte-americanas permanecerão pelo menos mais 10 anos no Iraque.

O pior é a incapacidade dos principais candidatos dos partidos, que vão sucedê-lo, de retificar. Nenhum deles atreve-se a roçar com a pétala de uma rosa essa prática imperial, sob o pretexto de lutar contra o terrorismo, engendrado pelo próprio sistema e seu colossal e insustentável consumismo, pretendendo o impossível: crescimento sustentável, emprego pleno e sem inflação.

Esses não foram os sonhos de Martin Luther King, de Malcolm X e de Abraham Lincoln, nem de nenhum dos grandes sonhadores que a humanidade teve ao longo de sua azarada história.

Aquele que tiver tempo para ler e analisar as notícias que chegam através da Internet, cabogramas e livros, pode comprovar as contradições às quais foi levado o mundo.

Num artigo publicado pelo jornal El País, órgão de imprensa espanhol muito acompanhado, se faz referência ao tema dos preços dos alimentos e ao combustível. Escrito por Paul Kennedy, professor de história e diretor de Estudos Internacionais sobre Segurança na Universidade de Yale, um dos intelectuais de maior influência nesse país, o artigo assevera que “o petróleo é o maior elemento de dependência que têm os Estados Unidos com forças externas”.

“Em meados do século 18, a Grã-Bretanha possuía a maior indústria de construção de veleiros do mundo. Contudo, ao passo que seus estaleiros construíam centenas e, inclusive, milhares de veleiros por ano, uns inventores ingleses criavam a máquina a vapor, que produzia enormes quantidades de energia, garantida pelas jazidas especialmente betuminosas do sul de Gales. O máquina a vapor e o carvão impulsionaram o desenvolvimento do império britânico durante mais 150 anos.”

Mais em diante, salientava o ponto de vista que mais nos interessa: a interconexão cada vez maior entre o petróleo e os alimentos. As razões são bem conhecidas: a enorme demanda energética entre as grandes economias asiáticas e a incapacidade dos países mais ricos — os Estados Unidos, o Japão e a Europa — para reduzirem seu consumo.

“Porém, também aumenta a demanda mundial de soja, sobretudo por causa do aumento do consumo na Ásia. As dezenas de milhões de porcos existentes na China devoram uma incrível quantidade de soja durante o ano. Os preços futuros da soja são 80% superiores neste ano (dezembro de 2007) aos do ano passado (2006).”

“Ninguém pode estar certo, mas o lógico é que o crescimento contínuo da população mundial e o aumento das rendas reais para mais de 2 bilhões de pessoas nos últimos anos signifiquem uma demanda cada vez maior de proteínas — mais carne de boi, mais porco, mais frango, mais peixe — e, por conseguinte, mais cereal para alimentar os animais.”

O professor de Yale poderia ter acrescentado: mais ovo e mais leite, visto que suas produções precisam de consideráveis quantidades de ração. Porém, um pouco mais para frente faz referência a um artigo publicado no The Economist, principal órgão das finanças européias, qualificando-o de “excelente, muito detalhado e aterrorizador”, intitulado O fim da comida barata. “A revista começou seu índice de preços dos alimentos nada menos que em 1845. O índice de preços dos alimentos é o maior em 162 anos”.

O Brasil, que já se auto-abastece de petróleo e possui abundantes reservas, sem dúvida, poderá fugir desse dilema. Erigido sobre um pequeno planalto, de entre 300 e 900 metros de altura, possui 77 vezes a superfície de Cuba. Essa irmã república possui três climas diferentes. Ali são cultivados quase todos os alimentos. Não é açoitada por furacões tropicais. Junto à Argentina, as duas poderiam ser tábuas de salvação para os povos da América Latina e do Caribe, incluindo o México, embora jamais garantia de segurança para eles, porque estão a mercê de um império que não admite essa união.

A escrita, como muitas pessoas sabem, é um instrumento de expressão que carece da rapidez, do tom e da mímica da linguagem falada, que não utiliza sinais de pontuação. Emprega-se muitas vezes mais tempo do pouco disponível. A vantagem da escrita é que pode ser feita numa hora qualquer do dia e da noite, mas a gente não sabe quais pessoas vão lê-la, muito poucos podem resistir à tentação de melhorá-la, incluir o que não disse e riscar parte do já dito; às vezes a gente tem vontade de jogá-la no lixo por não ter o interlocutor na frente. Durante toda minha vida transmiti idéias sobre os acontecimentos tal como os via, desde a mais escura ignorância até hoje em que disponho de mais tempo e possibilidades para observar os crimes que são cometidos contra nosso planeta e nossa espécie.

Aos revolucionários mais jovens, recomendo especialmente exigência máxima e disciplina ferrenha, sem ambição de poder, auto-suficiência, nem vanglórias. Cuidar de métodos e mecanismos burocráticos. Não cair em simples palavras de ordem. Ver os procedimentos burocráticos como o pior obstáculo. Usar a ciência e a computação sem cair na linguagem tecnicista e ininteligível de elites especializadas. Ter sede de conhecimento, constância, exercícios físicos e também mentais.

Na nova era em que vivemos, o capitalismo não presta nem como instrumento. É como uma árvore com raízes podres, da qual só brotam as piores formas de individualismo, de corrupção e de desigualdade. Também não se deve dar nada de presente aos que podem produzir e não produzem ou produzem pouco. Devemos premiar o mérito daqueles que trabalham com suas mãos ou sua inteligência.

Conseguimos universalizar os estudos superiores, então devemos universalizar o trabalho físico simples, que pelo menos ajuda a fazer parte dos infinitos investimentos que todos exigem, como se existisse uma enorme reserva de divisas e de força de trabalho. Cuidem-se especialmente daqueles que inventam empresas do Estado sob qualquer pretexto e depois administram os fáceis lucros como se tivessem sido capitalistas toda a vida, semeando egoísmo e privilégios.

Enquanto as pessoas não conscientizarem essas realidades, nenhum esforço poderá ser realizado para “impedir a tempo”, como disse Martí, que o império, ao qual viu surgir porque viveu em suas entranhas, destrua os destinos da humanidade.

Ser dialéticos e criadores. Não há outra alternativa possível.

Agradeçamos a Bush seu papel de Rei, visitando o lugar onde nasceu o filho do carpinteiro José, se alguém conhece o lugar exato do humilde presépio onde nasceu o Nazareno. Nesta ocasião, o chefe do império leva de presente aos países árabes dezenas de bilhões de dólares para comprar armas provenientes do complexo militar industrial, e ao mesmo tempo dois dólares para cada um dos que fornece a estes a fim de armar o estado do Israel, onde a agência das Nações Unidas, que trata do tema, afirma que 3,5 milhões de palestinos foram privados de seus direitos o expulsos desse território.

Seu instrumento obsessivo é ameaçar o mundo com uma guerra nuclear. Só ele é capaz de levar consigo esse presente dos Reis.

Fidel Castro Ruz

14 de janeiro de 2008

19h12 •

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