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Subject: A História, enquanto luta de classes – a “globalização”, expressão contemporânea do imperialismo


Author:
Sérgio Ribeiro
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Date Posted: 22/11/07 8:36:03

Comunicação apresentada no Encontro Civilização ou Barbárie, realizado em Serpa nos dias 5, 6 e 7 de Outubro de 2007.
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A abrir, permitam-me uma referência a Vale de Vargo, onde tem lugar esta sessão do nosso Encontro, terra quase-mítica da luta antifascista e pelo socialismo, e ao Poder Local aqui representado por Abílio Fernandes.

O tantas vezes (e tantas vezes tão mal) utilizado vocábulo “globalização” está na História, que é a da luta de classes – enquanto classes houver –, e por isso mesmo não é neutral.

É um momento de um processo, ligado ao código genético do capitalismo, com traços que o identificam com um período histórico mais largo, o do imperialismo (tal como Lenine o definiu, última fase do capitalismo), e representa a adaptação deste ao actual estádio de internacionalização da actividade económica e de ausência de constrangimentos, neste estádio de internacionalização, como os que o capitalismo afrontou, ou com que foi afrontado, enquanto existiu um sistema de países socialistas.

Porquê a “globalização”

Expressão contemporânea, a configuração económica e social da dita “globalização”, como no passado do imperialismo, concretiza-se porque
I) se verificaram transformações nas forças produtivas devido a “revolução” nos meios de transporte e nas tecnologias de informação e comunicação;
II) a classe dominante teve relativo desafogo, na luta social, para colocar ao seu serviço essas conquistas da humanidade;
III) destas se serviu para impor estratégias de produtividade (na acepção da economia burguesa) e de competitividade que, na luta social, se estenderam no espaço universal e/ou aprofundaram localmente a criação de mais-valia.

A mobilidade dos “factores produtivos” e o possível seccionamento das “cadeias” de produção, alterando os processos produtivos, não foi posta ao serviço de criação de valores de uso para satisfação das necessidades humanas, a não ser quando a produção destes valores possibilita acrescer a mais-valia e contrariar ou atenuar, efemeramente, a tendência de baixa da taxa de lucro, que deriva do aumento da composição orgânica do capital, apesar do esforço de aumentar a taxa de exploração (aumento da intensidade do trabalho, dos ritmos e dos horários de trabalho, ou melhor: de utilização da força de trabalho pelo capital, enquanto relação social de produção).

As mudanças objectivas

Além disso, essas mudanças (objectivas) nos processos produtivos não foram concretizadas, evidentemente, com a finalidade de diminuir o tempo necessário de trabalho dos trabalhadores e aumentar o seu tempo livre, de liberdade.

No plano mundial, a “globalização” tem agravado as assimetrias regionais, a divergência absoluta entre nações e as diferenças/desigualdades sociais.

As fórmulas de convergências, de compromissos, de acordos ou consensos, de estratégias apresentadas como novas (de Lisboa ou de outras cidades) são sucessivas respostas do capitalismo para a crise que atravessa (ou as crises), servindo também para reforçar e renovar o instrumental da superstrutura ideológica, potenciando ilusões para consumo interno e como arma para uso externo no processo de luta de classes.

A militarização da economia

A militarização da economia, na linha do previsto por Marx/Lénine, com a valorização da mercadoria armas – e o seu tráfico – e o estímulo à criação de condições para o seu consumo destruidor, agrava perigos inimagináveis para toda a Humanidade, fazendo da Paz uma necessidade vital, intrínseca, o que é bem mais que haver necessidade de Paz, para o que quer que seja.

O crescimento do complexo industrial-militar torna em saídas implícitas para a crise (para as sucessivas crises)
I) a conquista por invasão/ocupação e divisão do globo,
II) a luta pelos recursos naturais, como água, petróleo e minérios,
III) o combate terrorista ao chamado e alimentado terrorismo, inventando-se “inimigos” e promovendo-se o medo… como quem cria corvos!

A procura de saídas para a crise (as crises) e a militarização da economia, com as conquistas técnicas que aproveita e que promove, faz cada vez mais ameaçador o poder destruidor do armamento e a determinação em o utilizar.

Por isso, é urgente travar esta escalada.

Em nome da própria sobrevivência do Universo.

A perigosa capacidade de adiamento e sobrevivência

No modo de produção e formação social, as contradições do capitalismo afiguram-se insuperáveis não obstante observar-se uma capacidade de adiamento e sobrevivência que não se pode menosprezar.

Bem pelo contrário pois essa capacidade revela um poder aparente mas crescente e assustador que, de determinadas perspectivas, parece imbatível.

Na verdade, o sistema parece ainda dispor de consideráveis e renováveis recursos, levantando-se, por vezes e em determinadas circunstâncias, a questão da necessidade de um novo paradigma tecnológico na evolução constante das forças produtivas, à margem das (ou marginalizando as) questões sociais, de classe.

Também o ambiente, a energia

Por outro lado, é cada vez maior a contradição entre a acumulação de capital e os limites do meio natural, onde a actividade predadora e delapidadora de recursos nalguns casos pode estar a atingir limites de insuportabilidade.

O problema da energia é premente – e adiado há décadas, pelo menos desde meados dos amos 70 do século passado –, os picos no preço do petróleo, os níveis de esgotamento já atingidos em alguns recursos naturais, são agravados pela concentração dos consumos e da poluição, particularmente nos EUA, fazendo deste país, também nesta vertente, o centro da crise estrutural do capitalismo.

O vislumbre de alternativas

A evolução de economias como a da China (com a sua especificidade) e a da Índia, os sinais que vêm da América Latina, os contributos para a deflação mundial, as condições que levam a deslocalizações da produção e de serviços, com as suas complexas vertentes, todo o fervilhar de um mundo em mudança vêm fazer ressaltar que a dinâmica sócio-histórica não é de um único sentido, e que as contradições crescentemente agudas do capitalismo podem, também elas, vir a ser fautoras de transformações essenciais nas condições de evolução da História.

E se o capitalismo não é o fim da História, a verdadeira alternativa só se encontra na luta.

…mas A luta tem, sempre, dois lados

Como respostas a esse vislumbre de alternativas, ou procurando sê-lo, parece imparável a concentração e centralização do capital, a financeirização da economia, os movimentos especulativos, as Bolsas (e as suas bolhas), a perversa utilização de conceitos desvirtuados como democracia e direitos humanos, para além da já referida militarização da economia, com a adopção de políticas agressivas de ingerência, invasão e ocupação.

No entanto, não sendo superação das contradições, e não sendo também a agonia do capitalismo, essas “respostas” podem levar a, ou contribuir para, um reforço da luta de classes de que o movimento operário, e os partidos e sindicatos de classe têm de ser protagonistas sem mudanças de campo e sem hesitações.

O capitalismo não cairá por si.

A tomada de consciência (de classe e da luta como fonte da alternativa)

É vital, para a Humanidade (para a sua humanização, mas também para a sua sobrevivência), que os trabalhadores e as populações tomem consciência das causas das desigualdades sociais, que deixem de se iludir com as apregoadas “soluções” reformistas ou com a verborreia e os aventureirismos pseudo-radicais.

A superação do sistema social baseado na exploração dos trabalhadores só se pode encontrar na luta destes, enquanto classe, e a partir de um "programa mínimo" de resistência e de mobilização pela melhoria de vida dos estratos mais desfavorecidos, numa democracia avançada que, ao mesmo tempo, com o reforço da tomada de consciência, crie e potencie condições revolucionárias para uma real transformação da sociedade.

A importância da informação

E, na contemporaneidade, neste tempo de “globalização”, há que dar toda a importância à vertente da informação.

A luta de classes tem o seu fundamento na existência de classes, evidentemente!..., o que, sendo uma tautologia, é a contra-face de posições que, negando a existência de classes, tudo fazem, e de tudo são capazes ao serviço de uma classe pois, se se nega a existência de classes para se esconder a luta de classes, ao mesmo tempo esta luta é feita com toda a ferocidade e desigualdade de meios.

A constante afirmação da desideologização é a forma mais rasteira e sofisticada de trazer a ideologia para a luta de classes, de fazer da “economia de mercado” uma ideologia única, absoluta, embora mascarada, e essa constante afirmação é veiculada pela informação que, com os novos meios técnicos, se tornou universal, imediata, global.

Não quer isto dizer que todas as pessoas estejam informadas, ou melhor: que todos tenham acesso à informação que é veiculada, mas quer dizer que não é possível suster a expansão da informação. Facto de que a classe dominante tem conhecimento e de que faz uso sistemático.

Longe vai o tempo em que salazares podiam fechar países às ondas hertzianas e outras, e também em que se podia pensar possível manter as populações à margem de uma informação/propaganda subversiva usando técnicas que valorizavam a sua real ou aparente clandestinidade.

…um parênteses com Um exemplo, 1929 na informação de então

Em 1969, fiz uma busca sobre qual teria sido, e em que “timing” em que calendário, o impacto do “crash” (rebentamento) bolsista nova-iorquino de 1929, quarenta anos antes.

Fiquei, então, impressionado por ver que esse acontecimento da maior relevância, e que tanto influenciou o futuro próximo do capitalismo (e não só próximo, até porque é referência e bitola hoje, referência e bitola repetidos sempre que há um maior sobressalto bolsista), pois esse acontecimento chegou a Lisboa dias depois, como noticiário relativamente apagado nos jornais diários. Achei, então, muito significativo quer o hiato na informação, quer o (pouco) relevo dado ao ocorrido.

Mas outros quase 40 anos passaram e a velocidade com que circula a informação acelerou de forma demencial. E, hoje, que o noticiário das bolsas (a que alcunham de informação económica) faz concorrência aos boletins meteorológicos, jovem economista de 30 anos que investigue como e quando se conhecia, em Portugal, o que em 1969 acontecia em Bruxelas, ficaria talvez mais impressionado que eu fiquei nessa altura.

Primeiro, a comunicação

O casamento (que melhor se diria ménage à trois…) entre a televisão, o telefone e a informática abriu auto-estradas da informação, e hoje sabe-se o que, neste momento, está a passar-se em qualquer recôndito lugar da Amazónia ou da muralha da China… ou é nos dado a saber o que se quer que se saiba como sendo o que se está a passar mas que, na verdade, pode não estar a acontecer, ou pode não estar a acontecer assim.

Não foi por acaso, que o primeiro serviço público a ser atacado pela sanha privatizadora foi o das comunicações.

Só mais recentemente começou o ataque a outros serviços públicos, à saúde, à educação…, com o apoio e as condições criadas pela privatização daquele serviço público.

Refira-se, por elucidativo, o livro-reportagem Privé de Public, em que o autor, o jornalista belga Gérard de Séllys, relata como a promiscuidade e a permuta de lugares entre membros da Comissão Europeia e “gestores” de grandes transnacionais prepararam, como se fosse uma batalha decisiva – e era… da guerra entre as classes sociais que é a História – a batalha da passagem dos monopólios nacionais estatais (coisa horrível…), nessas áreas, para monopólios disfarçados na posse de transnacionais financeiras privadas europeias ou trans-atlânticas.

Razão e força

Por elas, por essas auto-estradas, circula a ideologia desideologizante, o império da “economia de mercado”, a velocidades incríveis e com programas e conteúdos sempre renovados, até porque há quem para tal tenha a incumbência de se dedicar e para tanto receba lautas prebendas.

A luta é desigual. Não é por retórica que se diz que uma classe é dominante. E que, dominando, pretende esmagar. Mas do outro lado, do nosso, está o sentido da História, este a que o de Santa Comba Dão chamava os “ventos da História”. Que ele pretendeu parar. E muitos outros o seguem.

Nesse outro, e nosso, lado está a força, que sempre acaba por se impor, a força da razão humana, não como palavras (ou políticas) em alternativa mas como palavras únicas numa expressão una e indissociável.

E se Brecht dizia que se é perseguido não por se ter razão mas por não se ter força, é urgente que, pela tomada de consciência da força de ter razão, e razão humana, se contribua para que os trabalhadores deixem de ser perseguidos, isto é, explorados pela forma que o marxismo-leninismo nos revelou e continua a revelar, confirmando-se e renovando-se na análise concreta das realidades concretas e do fluir da História.

* Sérgio Ribeiro é amigo e colaborador de odiário.info

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