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Subject: Comecem por aceitar que... | |
Author: Crespo, |
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Date Posted: 28/01/08 19:21:21 Comecem por aceitar que António Marinho Pinto foi absolutamente concreto nas afirmações que fez. Deu exemplos muito claros e indiciários. Falou de governantes que, sucessivamente, lidam na privada com o que governaram no público. Não pode haver denúncia mais directa e consistente do que dizer-se que há elementos em cargos relevantes no Estado português que usufruem e exibem lucros obtidos na criminalidade. Quando isto é dito por alguém com responsabilidades num sector fundamental da vida judicial, o Estado tem que actuar em todo o seu colectivo. Os partidos políticos não podem ajudar à farsa que é a exigência de que quem denuncia apresente logo as provas e o processo instruído ou que fique calado. Não é a um denunciante que compete fazer isso e esta artimanha tem servido a impunidade e é o fermento da corrupção. Com a morosidade e a ineficácia da justiça em Portugal, a probabilidade mais elevada é que o denunciante seja, ele próprio, punido por uma acção oportunistamente levantada por um prevaricador protegido por estratégias dilatórias que entre recursos e pareceres liquidam a justiça. É verdade que "quem não se sente não é filho de boa gente", mas Portugal é um país de "boa gente" que não só se "sente" como de facto se ressente da ostentação de impunidade que é "ocupar cargos relevantes no Estado português" entre as brumas de imensas suspeições legitimamente levantadas pela "exibição dos benefícios dos lucros da (...) criminalidade". Esta é a exegese daquilo que Marinho Pinto disse algo está profundamente mal na nossa vida pública, sabe-se disso e nada se tem feito. O procurador-geral da República mandou de imediato abrir um inquérito destacando para ele o seu melhor grupo de combate. Fez bem. Só que no seu despacho não resistiu a incluir uma referência à "gravidade das afirmações feitas" e aí fez muito mal. Com isso, o investigador-mor do Estado levanta o dedão admoestatório contra o denunciante, na velha prática de insinuar "ab initio" a "gravidade" do acto de uma denúncia contra o poder numa atitude que intimida e desencoraja. Provavelmente não terá esse efeito em António Marinho Pinto, mas poderá tê-lo em terceiros, capazes de complementar o processo de denúncia que ele desencadeou. Se isso acontecer, essa despropositada consideração no despacho é susceptível de obstaculizar a busca de justiça, o que é mau. A Procuradoria tem muito trabalho a fazer e tem que o fazer depressa. Desta vez, dadas a "gravidade" do que foi dito e a responsabilidade de quem o disse, não pode haver desculpas de longas tramitações e infindáveis diligências. Vendo bem, não é um caso assim tão complicado nem uma denúncia inédita. Como sempre, é de boa prática começar pelo princípio. Eu recomendo, por exemplo, uma releitura dos "Contos Proibidos", de Rui Mateus, uma corajosa edição da Dom Quixote de 1996 que, hélas!, desapareceu já das livrarias e ao que parece da memória colectiva. Há lá páginas e páginas de pistas úteis a uma investigação sobre a praxis política no Portugal contemporâneo. Depois basta ouvir com atenção aquilo que Marinho Pinto já disse em público, alto e bom som interesses do Estado português misturados com interesses estrangeiros, transições de cargos governamentais para áreas privadas ou semi-privadas. Claro que é muita gente (infelizmente é muita gente), mas também há muita gente e muitos meios nos sectores de investigação do Estado para levar tal tarefa a bom termo. Certamente que a pior maneira de a iniciar ou colaborar com ela é exigir que Marinho Pinto faça todo o trabalho que o Estado não fez em décadas de permissividade, ou ir buscar refúgio em afirmações como as de José Sócrates de que ninguém no seu Governo (e é também tanta gente) está abrangido pelas denúncias. O que quererá isto dizer? Uma sugestão do primeiro-ministro para a investigação se centrar só na Presidência da República, no Parlamento, nos tribunais? Marinho Pinto falou no Estado, em geral. [ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ] |