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Date Posted: 00:00:48 09/09/03 Tue
Author: MBMB
Subject: Ângela Vasconcelos . Miss Brasil 1964. Vergonha de ser miss

23:48:43 09/08/03 Mon

Vergonha de ser miss

Heloisa Marra



Em julho de 1964, Angela Thereza de Vasconcellos foi eleita Miss Brasil. Quarenta mil pessoas no Maracanã, época áurea dos concursos de miss, o título, sonho de quase toda garota da época, não encheu os belos olhos verdes daquela carioca, criada em Curitiba, que surpreendeu a imprensa logo nas primeiras respostas. Compositor preferido? “Bach”. Escritor? “Jean Paul Sartre”. E poeta? “Goethe, que leio no original”. Angela tinha vergonha de ser miss a tal ponto que seus filhos, ainda pequenos, só souberam desse título através dos amigos.



Trinta e nove anos depois, aos 58 anos, casada há 34 com o engenheiro Vicente Britto Pereira, três filhos (Rafael, publicitário; Pedro, diretor de teatro; e João, surfista e chef) e três netos, beleza sem plástica, Angela recebe o ELA na casa em que ela (formada em arquitetura pela UFRJ) projetou há 27 anos.



Vista para a Pedra da Gávea, estrutura aparente em madeira, tijolo e concreto perfeitamente integrada à natureza, Mozart ressoando em todos os ambientes, entramos no universo dessa ex-miss, que começou a ser construído no sótão de um casarão da família cheio de lembranças do avô e da avó trazidas do Império Austro-Húngaro.



— Tive uma infância riquíssima. Meu avô, Luiz de Vasconcellos, era cearense, jornalista político daqueles acirrados, que trabalhava no jornal da família Távora. Com a virada do século XIX e da oligarquia no Nordeste, saiu batido e foi parar em São Bento do Sul numa comunidade de alemães. Casou-se com minha avó, Maria Linz Meier, e foi prefeito da cidade durante 15 anos, chegando a senador... — conta Angela.



Infância entre artistas vendo maçãs secarem na janela



Antes de continuar, fala em alemão com o Graúna, um simpático gato.



— Disse para ele cair fora.



Angela cresceu esquentando-se perto do fogão de lenha enquanto o pão assava e vendo as maçãs secarem na janela. Pai militar, Osny Vasconcellos, e mãe, Arlete Vasconcellos, pintora surrealista, ela conviveu com intelectuais como a escritora Edla Van Steen e o pintor Ivan Serpa.



— Tive a experiência maravilhosa de cantar num coral com a Orquestra Sinfônica do Paraná aos 15 anos “Aleluia” de Haendel.



Sem nunca ter pintado os cabelos, considera a busca alucinada da juventude uma tragédia humana e diz que foi moldada na natureza da Ilha de São Francisco, ao norte de Santa Catarina.



— Do forte, lá no alto, eu brincava dizendo que dava para ver a África. Magrinha, ágil graças ao balé, pulava entre as pedras, penhasco de um lado e mata fechada de outro, indo longe, onde ninguém chegava. A onda vinha, eu me grudava na rocha fingindo que era pedra. Foi uma experiência estética e poética, a minha descoberta de Deus — conta Angela, que queria fazer medicina social e ir para a África fazer o mesmo que Albert Schweitzer, que além de tratar dos doentes pobres, ainda por cima construiu um cravo e tocava Bach.



Aos 19 anos, quando voltou de Hamburgo, na Alemanha, onde passou dois anos com a família, Angela caiu como um ET no mundo das misses. Foi um espanto para a menina que tinha acabado de ver “Fausto” no teatro alemão.



— Topei o convite de dia mas mudei de idéia à noite. Tarde demais. Embora meu pai tentasse convencer o diretor do clube a me tirar do concurso, a pressão foi maior, juntou-se com a vaidade e acabei sendo eleita Miss Paraná e Curitiba. Uma semana depois virei Miss Brasil.



Angela levou contos de Kafka para o concurso no Maracanã e ficou lá quietinha lendo nos bastidores até ser chamada.



— Para não ficar nervosa, antes de entrar, imaginei: estou caminhando na areia da praia de São Francisco. Entrei com a maior naturalidade. As pessoas começaram a aplaudir e eu ria para elas, muito contente com aquela euforia. Quando me chamaram para anunciar a vencedora, larguei o livro lá dentro e alguém achou, daí essa imagem com que fiquei, de intelectual. Meu universo não era aquele, não era a minha praia, minha praia era São Chico.



Ao chegar à suíte presidencial do hotel Serrador às 3h da manhã, com a multidão lá embaixo, caiu na realidade.



— Fiz uma coisa horrível que nunca contei para ninguém. Enrolei o cetro e a coroa no manto e, pensando “onde fui amarrar meu cabrito”, joguei tudo contra a parede. Logo em seguida desenrolei o manto para ver se não tinha quebrado a coroa. Acordei muito deprimida e a minha foto no baile da coroação, realizado no Quitandinha no dia seguinte, mostrava isso.



Angela foi para a final do concurso em Miami arrasada.



— Meu negócio era a Europa, tinha horror aos Estados Unidos. Acompanhada por uma portuguesa, enfrentei uma rotina de quartel. E como não tinha jeito, desandei a comer panqueca. Engordei e o pessoal ficou feroz.



Um dia não agüentou e foi nadar à noite na piscina.



— Em São Francisco, eu adorava nadar à luz da Lua. Tirava o biquíni e enrolava no braço para não perder, mergulhava bem fundo e deixava o corpo subir devagar olhando para a Lua, me sentindo como se estivesse no cosmos. Foi com esse espírito que nadei naquela noite em Miami. Fiquei entre as 15 semifinalistas e quando tudo terminou tive um acesso de felicidade.



Angela ficou muito amiga da Miss Universo, a grega Kiriaki Tsopey.



— Ensinei-a a tocar berimbau e um dia a coloquei no telefone com o Vicente, hoje meu marido, pedindo para que ela falasse com ele em grego. Diante do espanto dele, expliquei: “Você acabou de falar com a Miss Universo”. Anos mais tarde Kiriaki me ligou, eufórica, pois havia conseguido realizar seu sonho de ser atriz estreando no filme “Um homem chamado cavalo”.



O título de Miss Brasil abriu as portas para Angela, que, fã de teatro, montou “Pluft, o fantasminha” num conjunto habitacional carente de Curitiba para três mil crianças.



Hoje, entre livros, discos, quadros pintados pela mãe e fotos da época de miss, ela encara com mais tranqüilidade a experiência.



— Vivi algo que poucos viveram e com um olhar diferente.



Arquiteta, durante oito anos trabalhou com o tio, Wilson Reis Neto. Acaba de fazer o projeto da casa do filho, Pedro.



— Ele já dirigiu a Angélica e a Xuxa e agora vem fazendo direção de teatro, É dele a direção de “Dartagnan e os três mosqueteiros”. Não vejo TV, só de vez em quando para ele não ficar triste — confessa Angela, para quem hoje a agilização do tempo acabou com a reflexão pessoal.



http://oglobo.globo.com/



Agradecemos a Conrado pela dica





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