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Date Posted: 08:57:28 04/05/02 Fri
Author: Daslan Melo Lima
Subject: MINHA MISS INESQUECÍVEL

Date Posted: 00:06:23 04/05/02 Fri

São José da Laje, interior de Alagoas, nordeste do Brasil, 1961."Este ano parece que não vai ter misses.O presidente Jãnio Quadros quer acabar com os concursos", dizia desconsolada e revoltada uma vizinha. Pela primeira vez eu ouvia alguém pronunciar este nome mágico : miss. Corta ! 1962. Estou na casa comercial da tia Soledade e ela está absorvida com a leitura da revista O CRUZEIRO. Ao seu lado, outras pessoas observam. Minha tia diz: "Não gostei muito dela". Alguém comenta : "Eu gostei". Outra opina : "A do ano passado era mais bonita". Menino curioso,aproximei-me e quis saber que história era aquela. O assunto era a moça da capa, Maria Olívia Rebouças Cavalcanti, Miss Brasil, baiana de Itabuna, 1m72cm de altura, 59Kg, 91cm de busto e quadris, 60cm de cintura e 56cm de coxa, posando em Salvador, nas escadarias da Igreja de São Francisco e no Cais dos Saveiros.

A partir daí, a imagem da bela Miss Brasil 1962 passou a ocupar todos os meus pensamentos. Com Maria Olívia, minha namorada inacessível, teve início minha compulsão para acompanhar os concursos e colecionar reportagens sobre as misses. Inexistiam aparelhos de televisão na minha pequena cidade natal. O tempo corria lento. As notícias vinham pelo rádio como se fossem acontecimentos ocorridos em outras dimensões. Tudo tão longe... Tudo tão devagar... Todo um clima predispondo à introspecção, ao sonho, à fantasia, à poesia e ao romantismo. E foi com muita ansiedade envolvida em sonho, fantasia, poesia e romantismo que fiquei aguardando chegar na casa da minha tia aquela preciosidade chamada O CRUZEIRO com a cobertura completa do concurso Miss Universo. E ali estava minha deusa, quinta colocada em Miami Beach, entre as mulheres mais belas do mundo ; Helen Lyu (Miss República da China, quarto lugar), Aulikki Jarvinen (Miss Finlândia, terceiro lugar), Ann Geirsdottir (Miss Islândia, segundo lugar) e Norma Nolan (Miss Argentina, primeiro lugar).

No meu interesse compulsivo por tudo aquilo que se referia as misses, eu nem percebia que aquelas moças maravilhosas, abençoadas por Deus, também eram de carne e osso. Só caí na realidade quando despertei para três fatos envolvendo as três finalistas do Miss Brasil-62. Ei-los, pela ordem dos acontecimentos.Primeiro fato: o casamento precipitado de Vera Lúcia Saba, Miss Guanabara, terceira colocada. Mineira de nascimento, após participar do concurso Miss Mundo em Londres (vencido por Catherine Lodders, Miss Holanda), Vera esteve no Líbano e, num típico caso de amor à primeira vista, casou-se com o cabelereiro Georges Kour. O Brasil inteiro foi pego de surprêsa com aquele repentino casamento. Ninguém conseguia entender como a Miss Brasil número 3 trocava seu cobiçado título por um estrangeiro desconhecido. Segundo fato : a notícia de que a minha paixão platônica, Maria Olívia, ia casar. Após passar a faixa de Miss Brasil para a gaúcha Ieda Maria Vargas, Olívia acompanhou sua sucessora a uma festa e lá conheceu o fazendeiro paulista Olavo de Almeida Pereira Cordes, que estudava direito no Rio de Janeiro. Em pouco tempo, namorou e noivou. Ao casar no dia 04/12/1963, deixava para trás os assédios da mídia a fim de levar uma vida tranquila ao lado do seu amado na Fazenda Morro Alto, Araraquara, interior de São Paulo. Terceiro fato : o acidente de automóvel sofrido por Julieta Strauss, segunda colocada. Carioca de nascimento, Julieta Strauss, Miss São Paulo, que havia encantado os americanos com seu inglês no concurso Miss Beleza Internacional em Long Beach (vencido por Tânia Verstak, Miss Austrália), desconversava quando o assunto era amor. Ela dirigia seu carro quando aconteceu o acidente, batendo em uma árvore. Machucou-se bastante, mas sua beleza não foi afetada. Com um certo ar de Romy Schneider ( a "Sissi" do cinema) gostava de dizer : "Casar é fácil. Casar bem e por amor é que é difícil".
Mas foi só em 1965 que acordei de vez para uma realidade cruel : as misses não eram imortais. Morria aos 58 anos de idade a paulista Zezé Leone, apelidada "a melindrosa", Miss Brasil 1922.

Corta ! Timbaúba, interior de Pernambuco, nordeste do Brasil, 2002. Reflexões sobre os anos 60,memórias da infãncia ,quando eu não me dava conta de que estava sendo testemunha de uma década que deixaria marcas inapagáveis : o muro de Berlim; a inauguração de Brasília; a renúncia de Jânio Quadros; o golpe militar; os títulos de Miss Universo conquistados por Ieda Maria Vargas e Marta Vasconcelos; o bicampeonato mundial de futebol; o movimento musical da Jovem Guarda; os festivais de música popular; a guerra do Vietnam; o assassinato de John Kennedy; a minisaia; o sucesso dos Beatles e dos Rolling Stones; a decoberta do vírus do câncer; o suicídio de Marilyn Monroe e os filmes "O Pagador de Promessas " e "A Noviça Rebelde".

Nos anos 60, eu nem sonhava de que um dia estaria na frente de duas coisas fantásticas chamadas computador e internet, evocando imagens tão distantes e tão próximas, como a da tia Soledade, uma missóloga que não sabia que o era, até porque naquele tempo ninguém usava este termo.

Nos anos 60, eu nem tinha consciência da importância histórica de ser testemunha do tempo áureo dos concursos de misses e que conservaria como ícone a bela imagem de uma moça posando nas escadarias da Igreja de São Francisco e no Cais dos Saveiros. A bela imagem da Miss Brasil 1962, Maria Olívia Rebouças Cavalcanti, minha primeira deusa, minha miss inesquecível, meu primeiro referencial de glamour de um planeta cujas misses dão ao mesmo um sentido especial, muito especial.



Replies:
Uma delícia esse texto! Os concursos estão ligados a sentimentos e lembranças muito caras a todos nós! Lembro de abrir um bau e ver as fotos daquela mulher maravilhosa!!!! Quase uma divindade nos meus 6 ou 7 anos! Seu nome: Ieda Maria Vargas! Um abraço -- Arthur, 00:30:10 04/05/02 Fri
Valeu Daslan ! Que belo texto. Sugiro um artigo semanal aqui neste espaço. "Eu sou mameluco, sou de Casa Forte, sou de Pernambuco, eu sou o Leão do Norte! " Grato, -- Dido Borges, 07:56:48 04/05/02 Fri
DASLAN : Que texto primoroso !!! Parabéns !!! Maria Olívia tem um destaque especial em meu coração, pq durante a minha adolescência, na busca do Miss Brasil que eu não tive o privilégio de acompanhar, foi a minha primeira grande aquisição na procura por MANCHETE e O CRUZEIRO na Praça da Roda, em Recife , nos diversos sebistas que atuam ali : comprei a MANCHETE , que trazia o Bi da Copa do Mundo pro Brasil ..uma revista duas vezes histórica, mas que foi destruída por meu cachorro.......PARABÉNS E UM GRANDE ABRAÇO DE SEU CONTERRÂNEO ! -- JOÃO RICARDO, 08:00:40 04/05/02 Fri
Daslan, foi um prazer ler seu texto. Um abraço (NT) -- Dil, 09:43:01 04/05/02 Fri

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