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Date Posted: 14:52:33 09/08/01 Sat
Author: MBMB
Subject: Uma outra Miss Terra/Brasil

Author:
MBMB

Date Posted: 17:04:40 08/22/01 Wed


Miss Indígena sonha com boa condição de vida
“Por um lado, devemos preservar nossa cultura,
mas, por outro, se não misturarmos algumas coisas de fora não teremos oportunidade de progredir”

DOURADOS – Além do álcool, os índios da reserva de Dourados importaram outra droga da cultura dos brancos: os concursos de miss. A vencedora do ano passado, filha de pai terena e mãe guarani, é uma adolescente obediente que prefere a proteção da família na reserva à vida na cidade grande.

Sandra Freitas tem 17 anos, 1,72 metro, 55 quilos, longos cabelos pretos, dentes perfeitos e um sorriso tímido. Seu corpo não é magnífico, mas ela tem charme, acentuado por roupas provocantes. Vê-la circular entre índios maltratados, mal vestidos e sem dentes parece cena de romance naturalista.

Coisas que uma miss faz e Sandra não: comprar roupas de marcas famosas, andar com playboys, freqüentar restaurantes caros e ler o Pequeno Príncipe. A índia não faz tipo. “Não gosto muito de ler e roupa, para mim, qualquer uma tá bom.”

A vida da Miss Indígena Dourados de 1998 pouco mudou depois do título.

Sandra ganhou o concurso em agosto. Como antes, ela vai à escola, trabalha na mercearia do pai e joga no time de futebol feminino da aldeia. Para divertir-se, junta-se aos amigos, escuta música e conversa, nunca nos bares. Só passeia dentro da reserva e raramente vai a Dourados, cidade que cada dia fica mais próxima da casa dela.



A reserva hoje praticamente tornou-se um bairro do município. Há 17 entradas para as terras indígenas, por onde passam sem autorização álcool e mais recentemente maconha.

Sandra não ignora que uma vida de índio como a de seus antepassados é inviável para ela e seus colegas de Dourados. O reflexo mais brutal da semi-aculturação dos índios da reserva é o alto índice de suicídios, mais comuns entre os caiovás. Só até abril, seis já se haviam matado e outros nove haviam tentado enforcar-se ou envenenar-se.

Mistura

“Por um lado, devemos preservar nossa cultura, mas, por outro, se não misturarmos algumas coisas de fora não teremos oportunidade de progredir”, afirma Sandra. “Já tem muito índio civilizado, não dá para ser como antes.” A vida da miss é um bom exemplo da mistura. Seus pais são separados, seu programa de TV predileto é o da Xuxa e seus cantores favoritos são Celine Dion e Enrique Iglesias – o último adorna as paredes do quarto dela, ao lado do cantor brasileiro Leandro.


Na opinião de Sandra, seu povo é discriminado. “Não é porque somos índios que temos de ter menos terras que os brancos”, diz, refletindo o que conhece do mundo um indígena brasileiro nascido no fim do século 20. “Também sabemos plantar.”

Esporadicamente Sandra trabalha como modelo, mas não tem ilusões de fazer disso uma carreira. Por enquanto, quer estudar e trabalhar “para ter uma boa condição de vida”. De preferência, na Reserva de Dourados. “Se tiver jeito de ficar aqui eu gostaria.” (R.K.)

http://www.estado.estadao.com.br/edicao/especial/brasil/brasil16.html

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