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Subject: "Problema passa pela própria sobrevivência do Partido"


Author:
Joaquim Miranda-Público
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Date Posted: 22:00:02 07/26/02 Fri

"O Problema Passa pela Própria Sobrevivência do Partido"
Por SÃO JOSÉ ALMEIDA E HELENA PEREIRA
Sexta-feira, 26 de Julho de 2002

Entrevista com Joaquim Miranda

Joaquim Miranda não tem dúvidas: não devia ter havido sanções a militantes no PCP e lança um último apelo a que o comité central se reúna e inverta a situação.

Joaquim Miranda é um homem daquilo que se pode chamar no PCP "a geração Carvalhas". Acreditou, participou, apostou. Hoje, aos 51 anos, é alguém claramente desencantado com os destinos do partido que insiste em dizer seu. E que não esconde a desilusão que foi ver o percurso e as opções do homem que considerou durante anos como o "vértice" da renovação do PCP: Carlos Carvalhas. Joaquim Miranda falou ao PÚBLICO no seu gabinete de eurodeputado em Lisboa, um lugar que ocupa há 16 anos em nome do PCP e que, apesar de tudo, acredita que não lhe irá ser retirado por assumir posições diferentes da linha oficial da direcção. Assim como assume que não teme ser também ele alvo de um processo. E é com um enorme desassombro que se confrange com a falta de perspectivas que vê para aquilo em que o PCP se transformou

PÚBLICO - Como vê a expulsão dos dois ex-dirigentes Edgar Correia e Carlos Luís Figueira e a suspensão de um militante com o peso histórico do Carlos Brito?

JOAQUIM MIRANDA - Era previsível esta decisão da direcção do partido, particularmente de há algum tempo a esta parte, mas, como sempre tenho referido, este é o pior caminho para o partido. Inevitavelmente medidas sancionatórias como estas, atingindo dirigentes ou antigos dirigentes com o peso de Carlos Brito, Carlos Luís Figueira e Edgar Correia, levam a que mais e mais militantes manifestem o seu descontentamento relativamente aos caminhos que o partido está a levar.

Qual é a saída?

Essa é a grande questão que se coloca a todos nós. Sempre defendi que o caminho correcto seria o de se estabelecerem pontes, no sentido de se encontrarem entendimentos entre militantes com opiniões diferentes sobre o que devem ser os caminhos do partido. Com estas decisões, a direcção entendeu-o de forma diferente. Entendeu encaminhar-se pela via do confronto e do sancionamento de militantes. Obviamente que é muito difícil, nessas condições, prever o que poderá vir a acontecer. Para mim, é um dado inquestionável que mais e mais militantes vão manifestar o seu descontentamento. Mesmo aqueles que tinham algumas reservas em manifestar publicamente o seu desagrado face a orientações e medidas que a direcção vinha adoptando não se vão inibir de o fazer agora, exactamente por que estas medidas são perfeitamente inadmissíveis, inaceitáveis, incompreensíveis para muitos e muitos militantes.

Este movimento é feito por elementos que fazem ou fizeram a estrutura do PCP?

Diria que muitos destes militantes são a face mais visível do PCP. São militantes que têm desempenhado de forma activa funções ao nível institucional, nas autarquias, nos sindicatos, na Assembleia da República, no Parlamento Europeu. São, particularmente, militantes do partido que se envolveram, que deram toda sua vida ao partido e que, exactamente por isso, neste momento e em face ao definhamento do partido, reagem, manifestam o seu descontentamento, porque entendem que há outros caminhos possíveis que poderiam impedir efectivamente esse definhamento.

Há quem os acuse de serem um movimento de intelectuais.

Não penso que seja uma questão de intelectuais. É fundamentalmente uma questão de quadros com grande responsabilidade no país e com grande empenhamento há muitos anos - que acreditaram que era possível uma mudança, em determinado momento, e que, por isso mesmo e porque essa mudança foi defraudada, hoje reagem e manifestam o seu descontentamento.

Quando a direcção do PCP diz que nos congressos, reuniões, votação de documentos os senhores são uma minoria e que não podem impor a vontade, tem lógica, não?

Não é uma questão fácil e eu julgo que estará por provar que a direcção tem a maioria do seu lado. A maioria de quê? Que maioria? E os muitos e muitos e muitos militantes que continuam a ser militantes e que, exactamente por que estão descontentes, estão afastados da vida activa do partido? Esses não contam? Se contarmos com esses, não tenho dúvida que a renovação tem consigo a maioria dos militantes. O que eu tenho conhecimento é que muitos e muitos e muitos militantes, os militantes anónimos, os militantes que hoje não participam activamente na vida do partido não estão com estas posições.

A conferência nacional apresentou números sobre a sua preparação que, fazendo a média, dava nove ou dez pessoas por reunião. Mas se essas pessoas não vão, se não expressam as suas opiniões como é possível fazer a renovação?

Se nós contarmos apenas com aqueles que são activos, que participam hoje em reuniões, em actividades normais de partido, naturalmente que a direcção poderá dizer que a maioria desses porventura estará com as orientações, com as decisões tomadas. Se contarmos a totalidade dos membros do partido, aí as circunstâncias mudam.

P. - Como é que vão chamar as pessoas?

R. - Elas estão exactamente descontentes porque a situação é a que é. Essa é a realidade. Eu posso dizer-lhe que, por exemplo, para as últimas eleições legislativas, a decisão sobre a composição da lista no meu distrito, em Portalegre, foi tomada numa reunião da Direcção da Organização Regional de Portalegre, onde estavam não mais de meia dúzia de pessoas.

P. - Estamos a falar de uma reunião sobre quem compunha a lista eleitoral e no Alentejo.
R. - É, digamos, um momento importante, tem que se fazer uma escolha. E estamos a falar de um distrito do Alentejo. E nessa reunião, em que foi tomada a decisão da composição da lista, ou pelo menos a decisão sobre a proposta a fazer aos órgãos de direcção do partido sobre a composição da lista, foram meia dúzia de membros do partido a decidir. Isto ao nível máximo de uma direcção regional.

E dessa meia dúzia quantos nomes constituíram a lista?

Alguns.

Portanto, estavam a decidir sobre si mesmos.

Alguns.

Esse bloqueio é inultrapassável? Até que ponto acredita que o que está em jogo já não é uma série de teimosias, anquilosamentos de comportamento de parte a parte e que há uma saída real e um papel a desempenhar pelo PCP, depois de uma renovação como foi pensada pelo movimento de que fez part?

R. - O dilema é mais profundo do que esse. A questão não está apenas em haver uma saída para esta situação. Para mim, o problema é mais delicado, pois passa pela própria sobrevivência do partido. Ou encontramos todos os membros do partido uma saída para esta situação, ou, então, o que estará em causa é a subsistência do próprio partido. Esta é que é a questão. E daí que, da minha parte, tenha sido sempre colocada a questão de que era necessário - penso que teria sido particularmente necessário antes destas decisões - estabelecer pontes que permitissem encontrar formas de ultrapassar esta crise. A crise não é tanto uma crise de comportamentos - é muito mais uma crise de afirmação do partido na sociedade. Esta é que é a verdadeira crise. E o que temos de resolver é esta crise. É a crise de influência do partido na sociedade - que, como sabemos, tem vindo sistematicamente a diminuir. Como é que se inverte esta situação? E esta é a questão que devíamos estar a responder todos. Não a discussão em torno deste ou daquele comportamento, mas de como é que invertemos esta tendência, que começou com a perda de um deputado no Parlamento Europeu, passou pelas presidenciais, na sequência do congresso com uma votação tão baixa como o partido nunca tinha tido, que passou pelas autárquicas e pelas legislativas. Esta é a discussão que temos que fazer.

Não teme que esta entrevista, algumas declarações que nela faz possam vir a ser peças de um processo contra si, com vista à sua expulsão?

R. - Nós temos que estar preparados para tudo. Fundamentalmente aquilo que neste momento se passa comigo é que há um profundo desencanto, mas também uma profunda determinação da minha parte em não me calar, particularmente face a estas decisões que agora foram tomadas. Não é por acaso que eu acedo a fazê-las neste momento. Parece-me que a direcção foi longe de mais. Há perigos reais para a subsistência do partido. Quero que sejam entendidas estas declarações como uma última chamada de atenção: é tempo ainda de encaminharmos o partido para outras vias.

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