Author:
Guilherme Statter
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Date Posted: 00:41:58 12/27/03 Sat
In reply to:
Ângelo Novo
's message, "Re: Novos Rumos do" Comunismo" ?" on 11:37:06 12/26/03 Fri
Já agora deixem-me meter aqui uma colherada...
Diz Angelo Novo:
Durante 95% da história humana, os principais recursos e riquezas sociais foram detidos em comum, em comunhão. Nos 5% restantes (que são os últimos) houve sempre e em todos o lados uma corrente de opinião (ainda que subterrânea) que pensa que esse estado de coisas é idealmente
o mais desejável.
Comenta Guilherme Statter:
DEPENDE... Se colocarmos a fasquia do início da História da Humanidade aqui há uns 100.000 anos, então só nos últimos 5.000 anos é que teríamos uma situação em que “os principais recursos e riquezas sociais foram detidos em comum, em comunhão”.
Já se colocarmos a fasquia em 10.000 anos, então teríamos só uns 500 anos de “propriedade privada”. Em todo o caso, as últimas sociedades “primitivas” (tipo “Idade da Pedra Lascada”) a que tiveram acesso os antropólogos de fins do século XIX, já tinham consagrado o direito tradicional à propriedade individual de meios de produção.
Facto ainda observável nas décadas de Quarenta e Cinquenta do Século XX.
Ainda também de observar que, de acordo com o discurso de Angelo Novo, se fica com a sensação de que a “propriedade privada dos ‘principais recursos e riquezas sociais’ foi uma malvada invenção de um determinado sistema social (leia-se ‘capitalismo’)”.
Diz Angelo Novo:
Os comunistas sempre existiram. São os amigos dos
pobres e, geralmente, concitam contra si a inimizade dos ricos. A coisa é assaz simples e recorrente. Não vale a pena complicar muito.
Comenta Guilherme Statter:
Amigos dos pobres eram Jesus Cristo e São Francisco de Assis. Nem um, nem outro, eram comunistas. Nem no sentido de “comunismo primitivo” (ou comunitarismo) nem (muito menos) no sentido moderno da palavra. Pode-se ser “amigo dos pobres” e ser-se, coerentemente, anti-comunista. Basta ter-se um sentido de caridade “cristã” ou “muçulmana” ou (acrescente-se aqui o que se quiser...).
A filosofia do "Personalismo Cristão" é disso um exemplo claro e elucidativo.
Diz Angelo Novo:
O comunismo é uma intuição ética, uma nostalgia de carácter para-religioso, uma inspiração ontológica, seja o que for. Cada caso é um caso. Agora de certeza absoluta que ninguém se fez comunista (Marx menos que todos) porque concluiu após aturados estudos historico-antropológicos que do desenvolvimento contínuo das forças produtivas, passando por uma série intermédia de modos de produção, vai
matematicamente chegar-se a um zénite x onde existirá apropriação colectiva dos meios de produção.
Comenta Guilherme Statter:
Estará a confusão instalada? Ou será apenas uma honesta provocação intelectual para espevitar a polémica?...
Em todo o caso aquilo da “nostalgia de carácter para-religioso” sugere uma espécie de subconsciente colectivo transmitido por via do código genético (cá estamos outra vez com a famigerada questão da genética e do lamarckismo...). Não estou a fazer sarcasmo. Estudos feitos sobre o comportamento “social” de seres biológicos tão díspares como plantas (de géneros diferentes em ambiente hostil) ou de mamíferos superiores, parecem autorizar a especulação sobre a existência de algo como uns “genes da solidariedade” no nosso código genético.
Quanto à “intuição ética” releva de uma “inato” sentido de justiça. Qualquer sociólogo (puxando a brasa à sua sardinha, claro...) afirmará taxativamente que tudo isso são “construtos sociais”, resultado de um longo e banalíssimo “processo de socialização”.
Angelo Novo terá esquecido uma outra causa (para se ser "comunista"): a revolta.
Eu por mim comecei por ser comunista por revolta contra o fascismo. Mas acabei por ser militante (e cada vez mais convicto) de uma marcha (o mais acelerada possível - aí umas 5 gerações), para a transição almejada, exactamente
por via de "aturados estudos" historico-antropológicos e socio-económicos sobre o desenvolvimento contínuo das forças produtivas e da sua mais intrinseca lógica.
É por estas e por outras que eu desconfio dos militantes por via emotiva e/ou religiosa. À primeira contrariedade (e isto em termos históricos uma "primeira contrariedade" pode durar décadas a revelar-se...), é vê-los em desespero de causa à procura de "soluções alternativas".
Diz Angelo Novo:
Como comunista o meu objectivo é lutar por criar condições mais favoráveis ao advento - nem que seja daqui a cinquenta gerações - de uma sociedade onde se pratique a apropriação em comum dos recursos e da riqueza social.
Comenta Guilherme Statter:
De assinalar o eventual pessimismo de colocar a fasquia da transição em cerca de 1000 anos (dez séculos...). Já agora o melhor seria dizer “lá para as calendas gregas”.
Uma maneira interessante de desmobilizar o pessoal... ;-(
Justamente quando estão à vista as condições materiais para acelerar a transição para a tal sociedade ”onde se pratique a apropriação em comum dos recursos e da
riqueza social” (já agora, também será bom operacionalizar este conceito).
Diz Angelo Novo:
O socialismo para mim é nada. É uma coisa em forma de assim, cor de burro quando foge. Por socialismo talvez se queira dizer que, sim senhor, existe uma sociedade humana (é sabido que a baronesa Thatcher dizia que não há uma tal coisa, o que há é indivíduos e famílias). Um socialista seria aquele que acredita numa certa organicidade e
interdependência social a la Durkheim. Olha a grande coisa!
Comenta Guilherme Statter
Aquela frase da inestimável baronesa (vulgo “Dama de Ferro”) foi proferida num contexto muito particular, designadamente a defesa acérrima do individualismo metodológico do “homo economicus” de uma fracção hoje predominante de entre os nossos “economistas vulgares” (como diria Marx).
A outra fracção (os keynesianos) é radicalmente contra essa ideia (da não existência de uma “sociedade humana”) e foram muitos os próprios partidários da Margareth que lhe chamaram a atenção para a patacoada.
Por outras palavras, pode ser-se ANTI-socialista e, coerentemente, defender-se mesmo assim a ideia de uma interdependência objectiva entre os seres humanos, “à la Spencer”.
Diz Angelo Novo:
Se quisermos exprimir-nos em conceitos do materialismo histórico, não há nenhum modo de produção socialista. O socialismo será quanto muito (mas eu raramente uso esse termo nesse sentido) um estado transitório, nunca
um objectivo e um projecto histórico em si próprio.
Comenta Guilherme Statter:
De facto, “cada um usa e arruma os seus conceitos conforme consiga com eles ordenar melhor os seus próprios pensamentos. Nisso não há nenhuma norma padronizada”.
O problema é que assim estamos naturalmente nos campos do esoterismo ou da Poesia. O que não tem mal nenhum. Desde que estejamos alertados para isso.
E na passagem a investigação científica foi à vida...
Cordiais saudações do
Guilherme Statter
O tal “Erudito Improdutivo”
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