Author:
Jorge Nascimento Fernandes
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Date Posted: 02:11:50 06/07/04 Mon
Algumas ideias para debate: a esquerda e a UE
Para não dizerem que só ataco a rapaziada da Agitação e Propaganda, que ultimamente tem aparecido muito sob a designação de Fernando Antunes, gostaria de dar algum contributo para esta discussão sobre a União Europeia.
1 - O espaço que é hoje designado por União Europeia começou por ser uma associação de Estados capitalistas, saídos com a sua economia arrasada pela II Guerra Mundial, que se aperceberam que, para resistir ao avanço do Bloco Soviético, teriam que estabelecer entre eles alguma forma de união económica. Por outro lado, compreenderam igualmente que um novo desenvolvimento capitalista era necessário para que as experiências extremamente negativas do primeiro pós-grande-guerra, não se viessem a verificar, como o ascenso dos nacionalismos e do nazi-fascismo. O capitalismo ocidental iniciou um desenvolvimento, que assentava no "estado do bem-estar" e na cooperação entre os diversos capitalismos. Foram os anos doirados, que trouxeram uma prosperidade inigualável à Europa. O movimento comunista e a União Soviética foram incapazes de compreender esta nova etapa do desenvolvimento do capitalismo ocidental - era a época da afirmação da tese do PC francês do empobrecimento absoluto dos trabalhadores franceses. No entanto, esta etapa de crescimento constante acaba com a crise petrolífera de 1973. Uma nova época surge, mais agressiva e que aproveitando-se do desenvolvimento então alcançado pelo capitalismo e da estagnação da União Soviética permite a posterior derrota do campo socialista. Esta é sem dúvida a razão histórica da existência da União Europeia. As suas relações com os Estados Unidos, apesar da independência manifestada por De Gaulle, sempre foram de dependência, necessitando daquele para se "defender" em relação ao Bloco Soviético.
2 - É neste contexto que se podem inserir as posições do PCP. Para ele a União Europeia era uma associação de estados capitalistas, dependentes do imperialismo americano e fazendo frente comum contra União Soviética. Por estas razões o lógico era que o PCP lutasse contra entrada de Portugal na União Europeia e depois de se entrar, lutar o mais possível contra ela. Sempre acreditou, que a alternativa, apesar de não o dizer abertamente, era a possibilidade, se tivesse sido possível tomar o poder, de contar com o apoio económico do Campo Socialista.
Derrotada Revolução, pelo menos aquela que se dirigia rumo ao socialismo, havia que resistir à nossa integração na então CEE, pois isso iria fortalecer em Portugal o poder do novo e do velho capitalismo emergente com o 25 de Abril. O que de facto veio a suceder. E hoje se o PSD fala em "evolução" e põe em cima da mesa as profundas modificações que se verificaram no pós 25 de Abril, elas se devem em grande parte à Revolução, mas, no campo do desenvolvimento económico, à entrada para a União Europeia. O capitalismo, ao contrário das previsões mais pessimistas de Álvaro Cunhal, saiu vitorioso em Portugal e em regime democrático. Mário Soares levou a sua avante.
3 - Hoje, com a queda do Bloco Soviético e o desaparecimento de um movimento comunista forte e influente em alguns países, o PCP continua a raciocinar como se nada disto se tivesse acontecido. E apesar de não afirmar que quer sair da União Europeia, aplica em relação a ela a mesma táctica que segue na política nacional, já denunciada em tempos pelo João Amaral, defende sempre o que está, apesar de na altura própria já ter lutado contra isso. Foi contra a PAC, mas agora defende a PAC contra a nova política agrícola.
4 - O que é que hoje algum movimento comunista e outros partidos de esquerda defendem? A transformação da Europa, a revolução, só será possível pela força de todos os trabalhadores europeus. No fundo, a criação da velha Internacional, hoje com outro nome. Ninguém pode actuar isolado, as modificações revolucionárias dão-se ao nível de todo o Continente ou não se dão. A resposta não pode ser nacional. A juntar a isto há que dar igualmente força à Europa como polo possível de resistência à hegemonia americana.
5 - O que faz o PCP. Foge da união com as outras forças, como o recentemente criado Partido da Esquerda Europeia, como o diabo da cruz. Os seus dirigentes são incapazes de se confrontar com estas novas perspectivas, agarrados que estão à sua visão nacional e passadista. No fundo, é essa a ideia subjacente ao texto do tal Fernando Antunes: "para pior já basta assim".
PS.: Este texto não é definitivo, nem o seu autor tem a pretensão de esgotar o assunto. Ele visa responder a alguns ortodoxos, que deslumbrados com as suas piruetas verbais, pensam que quem não é por eles é do Bloco, mas se esquecem que na sua ânsia de atacar aquele agrupamento se servem do pior que já aqui foi produzido, como seja apoiar artigos reaccionários ou defender as insinuações do Telmo Correia. Hoje, na ânsia de ver se não perdem votos para o Bloco consideram que tudo lhes é permitido, mesmo o disparate e a asneira.
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