Subject: Re:Angelo Novo e Efabulações |
Author:
Luis Blanch
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Date Posted: 11:24:17 05/28/04 Fri
In reply to:
Ângelo Novo
's message, "Re: Castells na Gulbenkian" on 23:19:24 05/20/04 Thu
Há conceitos em Marx ,porque derivados dos próprios ensinamentos da história da luta de classes que nos ajudam a interpretar situações actuais ,situações que , pese as profundas alterações tecnológicas, fazem emergir novos actores históricos mas permitem-nos retirar conclusões não muito desfasadas de épocas anteriores.
Como dizes , Ângelo a teoria não serve para nos dizer o que vai acontecer, mas identifica as forças em presença e como elas se combinam e se entrechocam.
Há claramente uma situação revolucionária em potencia nos chamados países do Terceiro Mundo pela prevalencia de factores objectivos de exploração ,de formas económicas pré-capitalistas coexistindo com sectores industriais de mão de obra intensiva e de sobreexploração, zonas que potenciam um enorme caudal de radicalização política.
O Mundo não é um só. Tu referes ,e bem , o novo proletariado dos países onde crescentemente prevalece a tecnologgia informacional ,e onde o desemprego tecnológico e a actividade profissional desregulamentada e precária , inevitávelmente vão obrigar a um reequacionamento do papel dos sindicatos e dos factores de mobilização revolucionária.
Longe deste realinhamento que atinge as prórias relações de produção , e onde os conceitos de consciencia de classe ,vanguarda revolucionária ,exército industrial de reserva, estão na ordem do dia, é ,de facto , nos países em desenvolvimento que se poderão abrir pespectivas de luta revolucionário ,independentemente do caminho que tomarem e das experiencias próximas que assumirem ou rejeitarem...
>>1 - a Fundação Gulbenkian publicou 4 volumes de
>>Castels incluindo a "Sociedade em REde" que estou a
>>ler. Fica para aí por 50 euros tudo. É uma edição com
>>a política de preços da Fundação. Sem o ler é difícil
>>estar a discutir e classificar. Repito que as seus
>>argumentos sobre a 11ª tese de Fuerbach me deixaram
>>entusiasmado...
>
>
>Não, obrigado. Estou suficientemente informado sobre
>Castells para saber que não me interessa. Nem me
>interessa obviamente estar aqui a discuti-lo. Eu
>simplesmente citei-o como um dos teóricos da
>"sociedade da informação" e um dos expoentes
>contemporâneos da hiper-valorização do contributo dos
>"conteúdos" ideais para a formação da "wealth of
>nations". Essa posição, como procurei demonstrar, tem
>uma muito longa história de serviço das classes
>dominantes.
>
>
>>2 - sobre trabalho produtivo e não produtivo só vale
>>pena discutir com os conceitos concretos. O que há que
>>sustentar é que a classificação dos serviços é difícil
>>como o sustenta o Castells e outros colocam-no hoje no
>>trabalho produtivo´.
>
>
>Os conceitos estão lá, em 'O Capital'.
>
>Como estudo específico, recomendo Arnaud Berthoud
>'Travail productif et prodictivité du travail chez
>Marx', Maspero, 1974.
>
>Eu não tenho por letra sagrada tudo o que escreveu
>Marx, sobre este ou qualquer outro assunto. Mas tenho
>como princípio só substituir ou rectificar um conceito
>marxista quando me convenço que isso é necessário para
>melhor prosseguir, no presente, os mesmos objectivos
>que foram os dele. Ou seja, para aperfeiçoar e dar uma
>maior acutilância ao instrumento crítico libertador
>das classes laboriosas.
>
>O que eu não embarco é numa atitude intelectualmente
>laxista e ecléctica, substituindo o rigor dos
>conceitos por efabulações impressionistas. Nem
>sacrifico a teoria a considerações de oportunismo
>político. Não vou por-me agora a lisonjear os Mac boys
>and girls considerando-os trabalhadores produtivos só
>para fazer novos amigos a todo o custo. Eu próprio
>como jurista sou claramente um trabalhador improdutivo
>e não vejo tragédia nenhuma nisso.
>
>
>>3 - sobre dizer-se que é o avolumar do exército de
>>reserva do proletariado que disparará o processo
>>revolucionário, acho muito redutor que é essa,
>>essencialmente, a contradição que subjaz ao disparo.
>>No caso doo25 de Abril, por exemplo, não oofoi. A
>>situação da classe operária portuguesa era de pleno
>>emprego e até os trabalhadores gozavam de uma situação
>>de falta de mão de obra, de tal forma que os
>>capitalistas tinham constantemente de ceder às
>>reivindicações dos trabalhadore - a Revolução
>>Portuguesa: o passado e o futuro, de ACunhal. Por
>>isso, nós continuamos sem condições para prever os
>>marcadores ou elos que estarão maduros no momento do
>>disparo....
>
>
>A teoria não serve para nos dizer o que vai acontecer,
>como, quando e onde.
>Não, a teoria, muito mais modestamente, pretende
>apenas identificar as forças em presença, como se
>combinam, quais os pontos em que se pode ocasionar uma
>ruptura, se pressionados.
>Com base nisso fazem-se programas e organizações
>políticas, convocam-se os agentes transformadores.
>Depois parte-se para a acção, sempre conscientes de
>que a malha do real é demasiado fina, complexa e
>"caótica" para ser abarcada por qualquer teoria.
>
>
>Sustentar por exemplo que há situações
>>potencialmente revolucionárias no 3º mundo com
>>certeza. Afirmar-se que essas situações têm um
>>potencial directamente socialista é outra. O século XX
>>parece deixar como marca a ideia de que o socialismo
>>exige a precedê-lo um capitalismo evoluído, na linha
>>aliás do que os mencheviques diziam. Só que o que está
>>em ausa não é dissuadir os revolucionários de apanhar
>>as contradições e saltar para as costas do
>>tigre..Devem faz~e-lo como Lenine. Mas têm de
>>compreender que no 3º mundo a economia que eclodirá
>>terá em muitos aspectos que passar etapas
>>proto-socialistas ou capitalistas para depois se
>>conseguir entrar numa transição..Pelo contrário,
>>objectivamente, pela sua enorme socialização e pela
>>crescente consciência de quem se apropria da
>>mais-valia, é no mundo desenvolvido que uma transição
>>para o socialismo é mais imediatamente possível.
>
>
>Desde há uns anos para cá que considero, em toda a
>minha reflexão política, que o mundo é um só. O que
>amadurece (ou não) para a revolução não é este país ou
>aquele, a Norte ou a Sul. É o mundo no seu conjunto.
>Mesmo aquilo que eu chamo "novo proletariado" não é um
>fenómeno de 3º mundo. É uma realidade comum a todos os
>países, embora tenha configurações diferentes em cada
>um deles, naturalmente.
>
>A revolução que aí vem é mundial, ou não será nada.
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