Subject: Re: Castells na Gulbenkian |
Author:
Ângelo Novo
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Date Posted: 23:19:24 05/20/04 Thu
In reply to:
paulo fidalgo
's message, "Re: Castells na Gulbenkian" on 17:11:48 05/20/04 Thu
>1 - a Fundação Gulbenkian publicou 4 volumes de
>Castels incluindo a "Sociedade em REde" que estou a
>ler. Fica para aí por 50 euros tudo. É uma edição com
>a política de preços da Fundação. Sem o ler é difícil
>estar a discutir e classificar. Repito que as seus
>argumentos sobre a 11ª tese de Fuerbach me deixaram
>entusiasmado...
Não, obrigado. Estou suficientemente informado sobre Castells para saber que não me interessa. Nem me interessa obviamente estar aqui a discuti-lo. Eu simplesmente citei-o como um dos teóricos da "sociedade da informação" e um dos expoentes contemporâneos da hiper-valorização do contributo dos "conteúdos" ideais para a formação da "wealth of nations". Essa posição, como procurei demonstrar, tem uma muito longa história de serviço das classes dominantes.
>2 - sobre trabalho produtivo e não produtivo só vale
>pena discutir com os conceitos concretos. O que há que
>sustentar é que a classificação dos serviços é difícil
>como o sustenta o Castells e outros colocam-no hoje no
>trabalho produtivo´.
Os conceitos estão lá, em 'O Capital'.
Como estudo específico, recomendo Arnaud Berthoud 'Travail productif et prodictivité du travail chez Marx', Maspero, 1974.
Eu não tenho por letra sagrada tudo o que escreveu Marx, sobre este ou qualquer outro assunto. Mas tenho como princípio só substituir ou rectificar um conceito marxista quando me convenço que isso é necessário para melhor prosseguir, no presente, os mesmos objectivos que foram os dele. Ou seja, para aperfeiçoar e dar uma maior acutilância ao instrumento crítico libertador das classes laboriosas.
O que eu não embarco é numa atitude intelectualmente laxista e ecléctica, substituindo o rigor dos conceitos por efabulações impressionistas. Nem sacrifico a teoria a considerações de oportunismo político. Não vou por-me agora a lisonjear os Mac boys and girls considerando-os trabalhadores produtivos só para fazer novos amigos a todo o custo. Eu próprio como jurista sou claramente um trabalhador improdutivo e não vejo tragédia nenhuma nisso.
>3 - sobre dizer-se que é o avolumar do exército de
>reserva do proletariado que disparará o processo
>revolucionário, acho muito redutor que é essa,
>essencialmente, a contradição que subjaz ao disparo.
>No caso doo25 de Abril, por exemplo, não oofoi. A
>situação da classe operária portuguesa era de pleno
>emprego e até os trabalhadores gozavam de uma situação
>de falta de mão de obra, de tal forma que os
>capitalistas tinham constantemente de ceder às
>reivindicações dos trabalhadore - a Revolução
>Portuguesa: o passado e o futuro, de ACunhal. Por
>isso, nós continuamos sem condições para prever os
>marcadores ou elos que estarão maduros no momento do
>disparo....
A teoria não serve para nos dizer o que vai acontecer, como, quando e onde.
Não, a teoria, muito mais modestamente, pretende apenas identificar as forças em presença, como se combinam, quais os pontos em que se pode ocasionar uma ruptura, se pressionados.
Com base nisso fazem-se programas e organizações políticas, convocam-se os agentes transformadores. Depois parte-se para a acção, sempre conscientes de que a malha do real é demasiado fina, complexa e "caótica" para ser abarcada por qualquer teoria.
Sustentar por exemplo que há situações
>potencialmente revolucionárias no 3º mundo com
>certeza. Afirmar-se que essas situações têm um
>potencial directamente socialista é outra. O século XX
>parece deixar como marca a ideia de que o socialismo
>exige a precedê-lo um capitalismo evoluído, na linha
>aliás do que os mencheviques diziam. Só que o que está
>em ausa não é dissuadir os revolucionários de apanhar
>as contradições e saltar para as costas do
>tigre..Devem faz~e-lo como Lenine. Mas têm de
>compreender que no 3º mundo a economia que eclodirá
>terá em muitos aspectos que passar etapas
>proto-socialistas ou capitalistas para depois se
>conseguir entrar numa transição..Pelo contrário,
>objectivamente, pela sua enorme socialização e pela
>crescente consciência de quem se apropria da
>mais-valia, é no mundo desenvolvido que uma transição
>para o socialismo é mais imediatamente possível.
Desde há uns anos para cá que considero, em toda a minha reflexão política, que o mundo é um só. O que amadurece (ou não) para a revolução não é este país ou aquele, a Norte ou a Sul. É o mundo no seu conjunto. Mesmo aquilo que eu chamo "novo proletariado" não é um fenómeno de 3º mundo. É uma realidade comum a todos os países, embora tenha configurações diferentes em cada um deles, naturalmente.
A revolução que aí vem é mundial, ou não será nada.
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