| Subject: Os crimes sobre nós e os crimes sobre os outros |
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Date Posted: 26/06/05 1:33:36
In reply to:
Ana Maria
's message, "Continua só a ver crimes e propaganda dum lado." on 26/06/05 0:53:44
Aninhas.
Não sou propriamente um especialista no que quer que seja, muito menos na história do PCP. Do que conheço, os exemplos não faltam. E também não quero ser eu a apontá-los, será preferível que tu os descubras. Em obras avulsas colherás melhor informação do que no catecismo "O partido com paredes de vidro", porque para além deste manual iniciático ou das tristes auto-críticas individuais ou dos desvios de linha, o PCP nunca fez uma profunda auto-crítica sobre o seu passado stalinista. Mas o problema do comunismo não se resume ao stalinismo, portanto, é desnecessário malhares na tecla.
Vejo muito bem os crimes do imperialismo capitalista assim como os crimes de ditadores em muito lado, como poderia não vê-los? A questão é que para mim a coisa não resume a um balanço de crimes: quem cometeu mais ou quem matou mais gente. Vocês, comunas, quando confrontados com os crimes das camarilhas comunistas sobre os seus próprios povos, é que tentam defender-se com os crimes cometidos pelo imperialismo e pelos regimes capitalistas ditatoriais. Ora, crimes são crimes, tanto os dos capitalistas como os dos comunas. Uns não justificam os outros.
O mesmo se aplica à propaganda. Ninguém é inocente no reino da falsidade, todos querem vender o seu produto e mentem com quantos dentes têm. A diferença é que apesar da propaganda, nas sociedades democráticas a liberdade de expressão, por muito controlados que sejam os mass media, permite que os crimes e as violações dos direitos dos cidadãos cometidos pelo poder tarde ou cedo vêm ao de cima, e cada um tem o direito de criticar o poder estabelecido.
Nos regimes comunistas, privados de liberdade, isso é impossível. Não só o segredo como a falsificação da história são condutas banais.
Como já é tarde, progo-te um susto. O comunismo, à semelhança do czarismo, instituiu um sistema de passaportes internos, que não permitia a deslocação livre das pessoas para além de trinta quilómetros. Em tempos de racionamento de géneros e de grande falta de trabalho, a ditadura salazarista também instituiu entre nós um sistema de vistos internos, de tal modo que as pessoas só podiam sair do distrito para trabalhar (ou procurar trabalho) com autorização do governo civil. Imagina tu, que pelo que me apercebi, gostas de viajar, quanto horrível seria o teu partido, se alguma vez tivesse a oportunidade de tomar o poder, instituir um tal sistema de controle da mobilidade das pessoas, para assim melhor as controlar. Ficarias chocada ou aceitarias como natural, perante o circunstancialismo da luta contra a reacção?
Bons sonhos, meu anjo.
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