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Subject: A nova face do racismo


Author:
Axel Kahn
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Date Posted: 15/05/05 17:16:24
In reply to: Ana Maria 's message, "ou talvez ainda o código genético de uns serem mais políticamente correctos do que outros." on 15/05/05 14:44:08

A nova face do racismo

Axel Kahn * DN, 14-05-05

Aideologia do "tudo é genético", segundo a qual os genes determinam directamente qualidades e comportamentos dos indivíduos e sociedades humanas, continua muito disseminada.

Está na origem directa da estranha surpresa de muita gente com a novidade de que o homem não tem mais genes que o burro ou a vaca e tem mesmo muito menos que o sapo.

Encontramos tal preconceito em anúncios sensacionais mas pouco científicos, de que foram encontrados os genes da inteligência, agressividade ou outras características psíquicas.

A relação entre a persistência de tais ideologias deterministas e o racismo é evidente imagine os estragos nas populações facilmente predispostas a acreditar no gene todo-poderoso, do anúncio simultâneo da localização de uma região de um cromossoma associada à inteligência e de que ela tem diferentes formas segundo as etnias.

A homogeneidade genética dos homens do mundo inteiro confirmada pelo estudo do genoma não é suficiente, infelizmente, para esconjurar a ameaça de um desvio racista da biologia, por duas ordens de razões.

Primeiro, a natureza combinatória do efeito dos genes faz com que diferenças muito ligeiras possam ter consequências importantes nos seres; segundo, o racismo é ilegítimo porque no plano biológico, e no genético em particular, as raças não existem leva a reconhecer que, se existissem, o racismo seria então admissível. Ora não é aí que está, de forma alguma, a origem do racismo nem a justificação do anti-racismo.

As raças humanas não existem no sentido das raças de animais diferentes. Os homens têm grande homogeneidade genética, pois o antepassado comum é jovem em relação à vida; viveu no máximo há 200 mil anos em África. Todos os continentes parecem ter sido povoados a partir de uma população de onde teriam saído grupos que deixaram a África há 70 mil anos. A cor da pele, com papel importante nos preconceitos racistas, reflecte, mais que divergência genética, o escurecimento progressivo da epiderme com o avanço do norte para o equador. Há, em média, mais diferenças genéticas no seio de indivíduos de uma etnia específica que entre duas etnias diferentes, mesmo que sejam aparentemente tão dissemelhantes como as escandinavas ou as Melanésia.

Esta demonstração científica indispensável é muito insuficiente. Primeiro, tem pouco efeito na vivência das pessoas comuns que não têm dificuldade em reconhecer, na rua, os amarelos, brancos, negros, mediterrânicos morenos, escandinavos louros; segundo, ela não leva em conta as muito frequentes raízes socioeconómicas de um racismo que é muitas vezes reflexo do mal-estar e mau viver, como nas populações desfavorecidas das grandes cidades; terceiro e principal, porque há pouca relação entre a realidade das raças e o racismo. Os piores excessos racistas aceitam a não existência de raças humanas. Nos discursos racistas modernos, já não são muitas vezes as raças declaradas incompatíveis ou desiguais, mas costumes, crenças e civilizações - o "choque das culturas". Rejeita-se já não tanto o homem negro, branco ou amarelo, mas culinária, cheiros, cultos, sonoridades, hábitos dos outros.

O forte crescimento da uniformização cultural e a imposição das normas ocidentais na globalização económica geram uma tendência para as comunidades se fecharem, num reflexo de protecção contra a civilização opulenta e dominadora, que leva à dupla ameaça da exclusão e espoliação das raízes. Por vezes, acaba-se mesmo no apartheid cultural pela reivindicação de identidade das minorias e da intolerância ou (às vezes, pior) do desprezo e indiferença da maioria. Há nesta forma de comunitarismo exclusivo uma tendência desumana o que caracteriza as civilizações e sua evolução são as trocas culturais. O seu dinamismo passou sempre por trocas e empréstimos culturais, que criam a diversidade e abrem espaços para o desenvolvimento do espírito humano. Os animais não trocam os seus hábitos, conservam particularidades etológicas que não evoluem no essencial, a não ser com variações genéticas e ecológicas. A diversidade humana só é factor de enriquecimento mútuo associada à troca. A uniformidade vira-a contra si: o diálogo é estéril e a civilização definha.

A biologia e a genética modernas desmentem os preconceitos racistas e é responsabilidade do cientista refutar as teses biologistas. E o racismo não necessita da realidade biológica das raças para causar estragos. O combate anti-racista pela igual dignidade dos homens na sua diversidade é de natureza moral, reflexo de uma convicção profunda que não é em nada o apanágio exclusivo do cientista.

* Geneticista, médico e escritor, director do Instituto Cochin de genética molecular (França) e antigo presidente do Grupo Europeu sobre as Ciências da Vida.
Axel Kahn *

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Subject Author Date
"Das duas, três..."Visitante Cínico15/05/05 21:58:06


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