VoyForums
[ Show ]
Support VoyForums
[ Shrink ]
VoyForums Announcement: Programming and providing support for this service has been a labor of love since 1997. We are one of the few services online who values our users' privacy, and have never sold your information. We have even fought hard to defend your privacy in legal cases; however, we've done it with almost no financial support -- paying out of pocket to continue providing the service. Due to the issues imposed on us by advertisers, we also stopped hosting most ads on the forums many years ago. We hope you appreciate our efforts.

Show your support by donating any amount. (Note: We are still technically a for-profit company, so your contribution is not tax-deductible.) PayPal Acct: Feedback:

Donate to VoyForums (PayPal):

6/06/24 14:46:06Login ] [ Contact Forum Admin ] [ Main index ] [ Post a new message ] [ Search | Check update time | Archives: 12[3]45678 ]
Subject: PÓS-KATRINA: Como o livre mercado matou Nova Orleans


Author:
Michael Parenti
[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]
Date Posted: 9/09/05 0:10:02
In reply to: John Catalinotto 's message, "A lição de Nova Orleães" on 8/09/05 21:28:09

Diário Vermelho Brasil, quinta-feira, 8 de setembro de 2005

PÓS-KATRINA: Como o livre mercado matou Nova Orleans
A cidade após o ciclone: cada um por si... e a mão invisível?

Por Michael Parenti *

O livre mercado jogou um papel crucial na destruição de Nova Orleans e na morte de milhares de seus moradores. Informados com antecipação de que um colossal furação (de força 5) iria se abater sobre a cidad e seus arredores, o que fizeram as autoridades? Puseram em jogo o livre mercado.

Anunciaram que todos deviam sair da cidade.

Esperava-se que cada um providenciasse a sua própria evacuação por meios privados, tal como dita o livre mercado, e da mesma forma que acontece quando o desastre atinge os países de livre mercado do Terceiro Mundo.

Os mistérios da mão invisível

É uma belíssima coisa, esse livre mercado, em que cada indivíduo pesrsegue seus próprios interesses pessoais e o resultado é ótimo para a sociedade inteira. É assim que a mão invisível de Adam Smith opera os seus mistérios.

Ali não haveria nenhuma evacuação "coletivista e obrigatória", como aconteceu em Cuba. Quando um ciclone de excepcional violência golpeou aquela ilha no ano passado, o governo de Fidel Castro, apoiado pelos Comitês Populars e quadros locais do Partido Comunista, evacuou 1,3 milhão de pessoas, mais de 10% da população do país. Os cubanos perderam 20 mil casas com aquele furacão, mas não perderam uma só vida: uma proeza alentadora, que passou praticamente inadvertida pela imprensa estadunidense.

Se não se foram, são "cabeças-duras"?

No Dia Um do desastre causado pelo furacão Katrina já ficou claro que centenas, talvez milhares de vidas americanas tinham sido perdidas em Nova Orleans. Muita gente "se negara" a deixar a cidade, explicavam os repórteres, simplesmente porque eram "cabeças-duras".

Foi apenas no Dia Três que os comentaristas começaram a registrar prudentemente que dezenas de milhares de pessoas deixaram de escapar porque não tinham lugar algum para onde ir e nem recursos para partir. Sem dinheiro no bolso nem um automóvel que fosse seu, tinham sido obrigados a ficar e esperar pelo melhor. No final das contas, o livre mercado não trabalhou tão bem para eles.

Muitas dessas pessoas eram negros americanos de baixa renda, assim como um número melhor de brancos pobres. Deve ser recordado que na maioria eles tinham algum emprego antes da fatal visita do Katrina. Faziam o que a maior parte do povo pobre faz neste país: trabalhavam, em geral bastante duro e por uma paga mesquinha, às vezes em mais de um emprego ao mesmo tempo. Eles não são pobres por serem preguiçosos, mas porque dão duro para sobreviver em ofícios da pobreza, enquanto são sobrecarregados pelos altos preços, os altos aluguéis e os impostos regressivos.

"Ninguém podia prever"?

O livre mercado também jogou seu papel em outros sentidos. A agenda de Bush consiste em reduzir os gastos públicos até o osso e fazer com que as pessoas recorram ao setor privados para as coisas de que possam precisar. Assim, ele cortou US$ 71,2 milhões do orçamento do Corpo de Engenheiros de Nova Orleans, uma redução de 44%. Planos de reforço das barragens da cidade e modernizar o sistema de bombeamento tiveram que ser arquivados.

O pessoal do Corpo de Engenharia do Exército tinha começado a comstruir novas barragens muitos anos atrás, poderém muitos deles foram retirados desses projetos e enviados ao Iraque. Ademais, o presidente cortou US$ 30 milhões das verbas para controle de enchentes.

Bush sobrevoou a área ("Bom-dia América", 1º de setembro) e disse que "eu não penso que ninguém tenha previsto o rompimento das barragens". Foi apenas mais uma inverdade a sair de seus lábios. A catastrófica inundação de Nova Orleans tinha sido antecipada por peritos em tempestades, engenheiros, jornalistas da Louisiana e autoridades governamentais, e mesmo por algumas agências federais. Todo tipo de pessoas anunciou o desastre, durante anos, apontando para o perigo dos níveis crescentes das águas, para a necessidade de reforçar as barragens e bombas e de fortificar toda a linha litorânea.

As imobiliárias e os mangues

Em sua campanha de sucateamento do setor público, os reacionários bushistas também permitiram que empresas imobiliárias drenassem extensas áreas de mangue. Mais uma vez, a velha mão invisível do livre mercado iria cuidar de tudo. As imobiliárias, perseguindo seu próprio lucro privado, produziriam realizações que a todos beneficiariam.

Mas os mangues serviam como uma barreira protetora natural entre Nova Orleans e as tempestades vindas do mar. E por anos e anos eles foram desaparecendo da Costa do Golfo, num ritmo aterrorizante. Mas nada disso estava na pauta das preocupações dos reacionários da Casa Branca.

Pat Robertson e sua "Operação da Bênção"

Quanto à operação de salvamento, os adeptos do livre mercado gostam de dizer que a proteção dos mais desafortunados compete à caridade privada.

Era esta a prédica favorita do ex-presidente Ronald Reagan: que "a caridade privada pode fazer as coisas". E durante os primeiros dias essa parece ter sido a política face ao desastre causado pelo Katrina.

Ninguém via o governo federal, quem entrou em ação foi a Cruz Vermelha. A mensagem desta: "Não envie comida nem cobertores; envie dinheiro". O Exército da Salvação também começou a mobilizar suas idosas tropas. Entrementes, Pat Robertson e sua Christian Broadcasting Network — fazendo uma pequena pausa em sua divina obra de fomentar a nomeação de John Roberts para a Corte Suprema — pediram donativos e anunciaram a "Operação da Bênção", que consistiu em um carregamento de alimentos em conservas e bíblias, muita publicidade e nenhuma adequação.

No Dia Três, mesmo a mídia míope começou a se dar conta do imenso fracasso da operação de salvamento. Gente morria porque a ajuda não chegava. As autoridades pareciam mais preocupadas com os saques que com a população flagelada, mais empenhadas no "controle das multidões", que consistia em encurralar as pessoas aos milhares em áreas abertas, privadas de abrigo, e impedir que elas as deixassem.

Onde estava a Segurança Interna

Surgem então indagações que o livre mercado é incapaz de responder: Quem era responsável pela operação de salvamento? Por que tão poucos helicópteros e apenas uns poucos recursos dispersos da Guarda Costeira? Por que um helicóptero levava cinco horas para levar seis pessoas a um hospítal? Quando a operação de salvamento entraria em plena atividade? Onde estavam os Feds (agentes do FBI)? As tropas estaduais? a Guarda Nacional? Onde estavam os ônibus e caminhões? E as barracas e banheiros portáteis? E os suprimentos médicos? E a água?

E onde estava a Segurança Interna (super-agência criada por Bush após o 11 de Setembro)? O que a Segurança Interna fez com US$ 33,8 bilhões destinados a ela no ano fiscal de 2005?

Deliciosa e ironia

No Dia Quatro, quase toda a grande mídia estava reportando que a resposta do governo federal era "uma tragédia nacional". Entretanto, George W. Bush finalmente fazia sua aparição para as fotos, em uma área flagelada escolhida a dedo, antes de voltar ao seu golfe.

Em uma tirada de deliciosa (e talvez maliciosa) ironia, ofertas de ajuda externa foram feitas pela França, Alemanha, Venezuela e muitas outras nações. A Rússia se ofereceu para enviar dois aviões com comidas e outros auxílios às vítimas.

Cuba — uma recordista no envio de médicos a dezenas de países, inclusive um grato Sri Lanka durante o desastre do Tsunami — ofertou 1.100 doutores. Previsivelmente, todos os oferecimentos foram rispidamente recusados pelo Departamento de Estado.

A América, a Bela e Poderosa, a América, Suprema Salvadora da Prosperidade Global não poderia aceitar ajuda dos outros. Seria a mais humilhante e insultante inversão de valores. Estariam os franceses desejosos de um outro soco nas ventas?

Estariam os cubanos tramando mais um de seus velhos truques subversivos?

Bush "não cuida da sua gente"?

Além do mais, aceitar ajuda externa seria admitir a verdade: que os reacionários bushistas nunca tiveram nem a vontade nem a decência de cuidar do cidadão comum — nem mesmo em condições tão extremas.

Recentemente eu ouvi alguém que se queixava: "Bush está tentando salvar o mundo quando não conseguimos nem cuidar da nossa gente aqui em casa". Não é bem assim.

Ele com certeza cuida muito bem da "sua gente", essa reduzida fatia de 1%, os super-ricos. Acontece apenas que o povo trabalhador de Nova Orleans não se inclui entre eles.

* Escritor americano, PhD pelaUniversidade de Yale, autor dolivro "Superpatriotismo", entre outros

[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]

Replies:
Subject Author Date
Portugal com maior fosso entre ricos e pobresFilomena Naves 9/09/05 11:51:53


Post a message:
This forum requires an account to post.
[ Create Account ]
[ Login ]
[ Contact Forum Admin ]


Forum timezone: GMT+0
VF Version: 3.00b, ConfDB:
Before posting please read our privacy policy.
VoyForums(tm) is a Free Service from Voyager Info-Systems.
Copyright © 1998-2019 Voyager Info-Systems. All Rights Reserved.