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Subject: Actores da Censura no Regime Democrático (Parte II)


Author:
César Príncipe
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Date Posted: 17/09/07 18:04:56

LÁPIS AZUL MODERNET E LIXOFAGIA

O regime censório democrático criou, por consequência, um diLema e uma má consciência à chAmada classe jornalística e a outros estratos intelectuais (que, na generalidade, denunciaram os méTodos e os cerceaMentos da ditaDura): os emPresários da Comunicação, os castratori, elegem, para cada estrutura e para cada conjUntura, os seus escriBajulantes e os seus megafoNets, bem como as trupes de meninos/meninas de coro, os castrati, predisPostos a carreiras de sucesso nos ofíCios dos templos e dos serralhos. E eles e elas passam a exerCitar, com prontidão de homo habilis, o lápis azul, um lápis modernista, acopLado num computaDor. Tais aGentes do situaciOportunismo gentílico e do situaCinismo gentil, alguns manipulados e manipuladores, desde logo, exibem e prescrevem pulseiras electrónicas mediáticas; desde logo, seLeccionam os actores e as actrizes dos palcos económicos, poLíticos, sociais e culturais, fazendo uso das suas armas e dos seus redondéis nas lides, nos leads e nas lideranças. O instruMento legitimaDor e desculpabilizante é a pressionante Agenda, elabOrada conforme os refrões do Poder indígena; segundo os ditames e os motes da Ordem Global; de acordo com o papel instrutório do sisTema e as guarnições mentais dos agendistas, ofiCIAlagem e patrulhas dos check-points multimédia.

Assim se estrutura uma cadeia de comando censório de inspiRação económica, usurpando, prevertendo ou desvalorizando um programa de consCiência total dos normativos profissionais e dos referEntes legais e de interesse público. Passa, consonante e consequenTemente, a imperar o Regulador Patronal em prejuízo do RegulaDor Constitucional, do RegulaDor Social, do Regulador Sindical. A Lei FundaMental inverte-se: passa, no caso nacional, a ser a subscrita, geralmente por unanimidade e aclAMAção, pela Assembleia Constituinte dos Onze, tantos são os grupos que mais ordenam no espectro mediático português: PT Média, Impresa, Média Capital, Cofina, Impala, Recoletos, Prensa Ibérica, Controlinveste, Estado, Igreja Católica, Igreja Universal do Reino de Deus.

Assim se organizam, didactizam e graDualizam os superiores interesses e os ponderosos critérios de empolaMento e esbatiMento, o que implica aparelhos de exPressão de redActores inTernos e exTernos e uma cultura de agressividade pragmática e tablóide. Aos internos já nos reportámos. Quanto aos externos, destacaremos as Agências de PubliCidade (sedes de persuasão ou de chantagem do relevante); as EmPresas de Comunicação (na generalidade, vocacionadas para confeccionar refeições Come em Casa e para estabelecer postos de compra e venda de títulos profissionais); os Gabinetes de Imprensa e de Relações Públicas (de governos, autarquias, partidos, fundações, emPresas, organismos multivários), que, variando o modus performativo e as tramas de abordagem, exercem a sua jurisprudência no quotidiano inFormativo, interFerindo e inTERvindo, por vezes ipsis verbis, no AgendaMento. O papel usurpante ou colabOrante neste complexa RedAcção Colateral é desempenhado pelas agências e pelos aGentes do Situacionismo RotatiVista. No campo dos redActores exTernos, os órgãos de Comunicação acham-se reféns (por considerandos de redução de custos e de colagem ideológica) das orquestrações mediáticas mundiais, corporizadas pelas Agências de InFormação, regurgitadoras de aliMentos manipulados pelas suas redes de redActores e por múltiplas fontes de géneros alimentícios: umas acobertadas no anoniMato dos Serviços de Inteligência, outras dependentes de múltiplos Serviços de Legitimação do SisTema. Bastará um relance pela Imprensa Internacional de Grande Tiragem ou saltitar de Canal em Canal para surpreender um jornalismo made in, que frequenTemente chega a vazar, sem um angélico rubor ou um despertante pestanejo, os produtos das Centrais de ProPAGAnda, proPagando, sem máscara nem luvas, as pneumonias típicas e atípicas da InFormação.

Uma percentagem avassaladora de temas e blocos proGramáticos reproduz suGestões exteriores. As ementas dos média são, assim, insistenteMente cozinhadas fora de casa. As RedAcções foram forMatadas como microondas do fast-food, reaquecendo os enlatados dos Gabinetes, das Agências, da CNN, das conferências dos Novos Doutores da Lei e dos briefings dos Generais da Velha Ordem. A telemanipulação cobre o vasto campo de conflitos de interesses imperiais, regionais e nacionais, construindo enciclopédias do quotidiano sobrecarregadas de recados ideoLógicos: exemplos-de um lado, são apreSentados os fundaMentalistas, os extremistas, os radicais, os bombistas, os terroristas, os atentados, a violência fanática e irracional; de outro lado, são apreSentados os soldados, as patrulhas, o exército, as forças da ordem ou de segurança, as campanhas, as acções, as operações, os raids. Nalgumas encomendas propagandísticas, o rebusque para esconder um ataque a populações no Iraque é digno de uma pintura evanescente-abstractizante: operação militar internacional. Vejamos também um exemplo de recuperação de linguagem da 2ª Guerra Mundial: ataque aliado.

Nesta versão manipulatória/simulatória, as potências agressoras são, num passe de mágica, colocadas, no Iraque, no papel de potências agredidas. Para isso, basta reutilizar um chavão anti-Eixo da década de quarenta do passado século. Já no que toca ao confronto israelo-palestiniano, enquanto se mantém uma adjectivação criminalizadora da resistência, aposta-se na anulação da semântica identificativa e denunciativa do invasor: há órgãos inFormativos ou jornalistas que até recorrem a terminologia hebraica para não mencionar a palavra Exército (exemplo: o tshall entrou em Gaza). Assim, parece que algo de benévolo ou de ficcional se moveu na zona. A Euronews é viciada neste adoçante. Por seu turno, a CNN socorre-se de uma sigla para atacar e matar: IDF. Quem quiser que indague o que se oculta nesta ciência comuniCativa. Acabará por descortinar quem investe sob este camulado: as Israel Defence Forces. Só faltará que se ponha alguma alma mediática a traduzir a cifra por Forças de David & Javé. O Estado Confessional de Israel goza de cobertura e veneração igualmente no que respeita ao desacatamento dos Direitos Humanos. Mas o estatuto de graça ou de varredura para debaixo do tapete não é um privilégio sionista. A Euronews, mais Voz da América do que Voz da Europa, trata com notável cortesia, por exemplo, o grupo terrorista-infanticida da escola de Beslan/Rússia/2004 (331 mortos). A estação da UE rotula a horda de comando checheno (29/08/2007). E não lhe treme o microfone: vai apregoando independência enquanto segue a linha de contra-inFormação do Complexo Imperial Mediático. Não é por acaso qua a estação tem sede em Londres. Como não é por acaso que a Inglaterra dorme nos USA e come na Europa: o amour à trois não é um exclusivo de princesas.

Por outro lado, organismos internacionais e penas de ouro, de prata e de níquel participam em campanhas sisTemáticas e cíclicas de denúncia de casos de Humans Rights, por exemplo, em Cuba, na Venezuela, na Rússia ou na China (países do Mapa de Conveniência do Império Anglo-Saxónico).5 Todavia, raramente se ouve ou escreve uma palavra de interpelação sobre a existência de 10 mil prisioneiros palestinianos, incluindo centenas de adolescentes, enjaulados em Israel, na maioria dos casos por delito de opinião ou por haverem sido eleitos pelo seu povo ou por arremessaram uma pedra aos blindados do ocupante. Igualmente não suscita o mínimo de apreensão que o Estado Confessional de Israel possua 200 cargas nucleares mas o Estado Teocrático do Irão, que não possui nenhuma, é tema resiDente das preOcupações das Agendas. Outros países beneficiários de cobertura imperial, sendo, a bem-dizer, proibido bater-lhes, mesmo com uma flor, são a Índia e a Arábia Saudita, dois colossos na área dos negócios (civis e armamentistas). No entanto, estando-se perante dois Estados, em muitas facetas sociais e de género, dignos da Idade das Cavernas ou da Baixa Idade Média, a Agenda Mediática cumpre votos de silêncio: o espaço, que seria de dedicar aos hediondos atentados civilizacionais, é ocupado por mais uma historieta de Romeu e Julieta do Taj Mahal ou uma ilustração da valancha de peregrinos em Meca. A Agenda Mediática chega a cúmulos amáveis: a Índia é rotulada como a maior democracia do mundo; a Arábia Saudita é um parceiro estabilizador na região. Os parceiros do Império gozarão de estatutos de excepcionalidade e de impunidade enquanto garantirem lucros astronómicos e segurança para as operações em curso. Os casos de total ou parcial ausência de equidade e honestidade dariam obesos tomos. Não constitui tarefa ciclópica depreender que a InFormação que nos é vendida, com a credibilidade ou a habitualidade de um Título, é comprada às centrais de agitprop, planetárias e nativas. Facilmente um cidadão curioso, com uns pequenos binóculos e uma pinça, apanhará as pontas da rede da propaganDiária e as suas intencionalidades indígenas e sistémicas.

Este jorro centralizado e dirigido é, como se vem frisando, frequenTemente trasladado sem cerimónia pelos receptores gentílicos ou, então, reorganizado em formato de study case pelas rotinas escolarizadas, de pretenso recorte meticuloso, até porque graficaMente arranjadinho/fashion. Tal transbordo, aplaudido ou consentido, não abarca apenas a matéria inFormacional corrente e os cabazes do jornalismo de investigação e colecta de dados: por exemplo, na vertente musical, roça o impuDor segregacionista: cerca de 70% da música emitida nas estações da Pátria é de filhos da pauta anglo-saxónica. Queiramos ou não, temos as antenas censuradas e recolonizadas pelos bacharéis radiofónicos, pregoeiros das discográficas do Império.

A actividade dos directores-censores, dos censores-editores e demais hierarquizaDores opinoticiosos pauta-se, pois, pela Cultura EmPRESArial SisTémica, mais ou menos cônscia da sua missão nos contenCiosos entre ordens, ordenanças e ordenados, propriedades, oportunidades e liberdades. Eles têm a presumida ou a instintiva convicção de que a entidade que dá o pau é a entidade que dá a cenoura. Eles aprenderam e aprendem a reconVerter jurados códigos procediMentais e rapidaMente se arvoram em mestres e maestros da Escola Nacional/Universal do Silêncio e do Ruído. Estão encarreGados de velar pelos gráficos de receptividade e a vigiar os subVERsivos. Estão AUTORizados a veicuLar e a vincuLar InFormação e DeFormação, a organizar serões da Nova FNAT e sondagens de enquadraMento censitário. Estão merCenarizados pelo infocapitalismo, disponíveis para cruzadas no OciDente e no OriEnte, segundo as oscilações do DóLar e do EUro, da Libra e do Iene. Estão ginasticados para as tecnologias de ponta, generosos a prenDar os respeitáveis públicos com aquilo que tais públicos (supostaMente) reclAmam: cultura fecal ou culto do cAnal de refedência, lixo estereocromático, palha celulósica e poluição hertziana:

CENSOR: alguém cuja função é separar a palha do grão, a fim de ser publicada a palha. (Vilhena)6

A FAMIGLIA E O NOVO LATIM

Como se frisou, as tendências críticas não gratas ao sisTema são menorizadas, alvo de disTorções e desconTextualizações, quando não completaMente abafadas. A partir de certo tempo aceitou-se como percalço aciDental e dano colateral a existência de publiCidade enganosa e até pretensaMente se legislou para a desincentivar e a sancionar. Mas quem sanciona a inFormação enganosa? Dir-se-á (em última instância) os consumiDores, os destinatários. Mas não é fácil ao viciado livrar-se do traficante, não é fácil reunir e reservar imunidades individuais num território infectado, numa atmosFera de encapotadas capitulações e de festivos embruteciMentos. E como dispor de corpos de meDIAção comunicacional num quadro de economia multinacional e de emPresas piramidais, que exigem meios interactivos e vultuosos? Atente-se nos negócios da famiglia italiana, na berlusconização da Liberdade de Imprensa:

O que é a liberdade de palavra? Em Itália, é-se teoricamente livre de dizer o que se pensa. O problema é onde. (Tabucchi)7

No período capitalista-ditatorial, algumas publicações resistiram à Censura, na clanDestinidade e no exílio, no permanente sobressalto e salto; no regime censório do capitalismo forçado a algum fingiMento democrático, a Imprensa não afecta ao sisTema defronta-se com expedientes pré-condicionantes: desde logo, proVida de parcos fundos e de incapaCidade de se constituir como lobby político-financeiro, não alcança a detenção e a orientação dos Grandes Meios de Comunicação (TV, Rádio, Jornais, Revistas). Também não obteria créDitos da Banca nem poderia depositar expectativas no bolo publicitário. Para coroar este estado de carência, qualquer órgão desafinado do situacionismo, que procurasse instituir a sua voz, acarretaria com o cerco judiciário, já que os donos da bola moveriam processos em carrossel, atulhando os tribunais de gemidos de virgens ofendidas na sua honra e bom nome. Caso de o diário ficou bem inscrito nos cadastros do reynno cadaveroso.8 Portanto, é das evidências, a Imprensa alterNativa subsiste por militância dos redActores e dos leitores. É um toque de alarme (cívico e cultural) cercado por contínuos bombardeaMentos das artilharias pesadas, mediáticas e imediatas, nacionais e imperiais. A InFormação alterNativa mantém-se acantonada. O Jornalismo Único proliFera, para gáudio de corsários da ética e de funâmbulos de ocasião, sendo as redAcções organizadas à base de infrActores, detrActores, contrafActores e vibrActores (assumidos ou instruMentalizados) e mantendo-se os rebeldes na bolsa de emprego ocasional ou dos papéis decorativos e coActores. Os actores que não escutem os seus pontos são tatuados com as insígnias da Desordem do Império e sujeitos a pulseira electrónica: encarreGados do fait-divers, violentados com tarefas indiferenciadas, diariamente submetidos a marcações de SERviços contra naturam, isto é, a testes de domesticação, isto é, encostados às espadas do venciMento e às paredes da competitivIdade.

É notório que o mundo mediático foi chAmado a compartiCIPar nas ofensivas da GloBalização (na frente ideoLógica), apostando no rebaixaMento das preferências dos públicos. Uma das condições de êxito de qualquer assaltante é disTrair ou ludibriar os alvos. No terreno da Comunicação Social, qualquer respeitável predaDor ou superpredaDor de inteligências define a sua PoLítica de Recursos Humanos: ambos investem na esperteza reptilforme e nas lideranças de chicote computer. O núcleo duro da Comunicação fica à altura do produto final.

O empresariado demonstra predilecção por cérebros hiperactivos e desestruturados e chefias do raspanet ou do Autoritarismo de Última GeRação. Fomentou-se, consequenTemente, um novo tipo de Jornalista: o Piloto Automático da Comunicação Social, a quem se dá corda para saltar para o Espaço Social ou a quem se incumbe de assegurar as rotinas da navegação. Entre essas rotinas, a maior: abrir e disponibilizar fardos de palha (electrónica) para consumo corrente. Na Era da Censura Estatal, chAmava-se a tal enCargo trabalho de corta-e-cola; na Era da Censura Patronal, poderá chamar-se a tal tarefa de reprodução em série coisa de pass word man.

Para glorificar sobremaneira este panoRama de Liberdade de Imprensa, também estamos perante uma ofensiva contra a Língua Portuguesa. Para lá do já exPosto no que toca à radiodifusão musical, com os Camones a usurpar o Verbo de Camões, de Vieira, de Eça, de Camilo, de PesSoa, de Aquilino, de Eugénio de Andrade, de SaraMago, assistimos a um SerViço Público e Privado em litígio com os repositórios e a criatividade do Idioma. A Censura da Lusofonia pratica-se e reveste-se, aqui, de três formas: pontapés nos Dicionários e na Gramática, socos na Sintaxe e pernas abertas à macaqueação. Os dislates vão desde confundir acidente com incidente ou soalheiro com solarengo, achando-se, entre tais artistas da língua, jovens que pressentem que ser atrevidinho e despachadinho é uma condição de sucesso e um director de Informação, o tal que afiança haver comprovado a existência de Deus, após muito escrever. As momices também merecem um sublinhado antológico: metem, por exemplo, metalurgia da pesada (braço-de-ferro), ciências médicas (à beira de um ataque de nervos), indulto da autoridade (a polícia foi ou viu-se obrigada a usar a força), catastrofismo (arrasar).

Se à overdose de disparates e vulgaridades se adicionar a recomenDada dose de anticomunismo (primário, secundário e universitário)-eis um programa de modernidade, um autêntico Cabaz de Natal Informativo. Desmontemos, para algum usufruto irónico, um dos tiques da Agenda Político-Mediática. Todos os dias e a todas as horas alguma entidade é acusada de estalinismo e alguma personalidade é arrumada como estalinista. É claro que a maioria absoluta dos arremessadores do estigMatizante dardo nunca procurou saber o que foi ou não foi o estalinismo e alguns dos lançadores de farpas até têm nas paredes molduras com diplomas versados nas matérias mais densas. Acontece que atirar um cidadão ou uma organização para as fossas abissais do estalinismo tem retorno assegurado entre os néscios e não serão poucos a avaliar pelos escrutínios. Não há agremiação ou sujeito de direita desavergonhada ou de esquerda-folk que não dispare amiúde as flechas de caçadores de tesouros tumulares contra tudo e contra todos, mesmo os do seu seio. Independentemente das máculas do estalinismo (de resto, denunciadas, há mais de 50 anos, pelo próprio PCUS), o que se propõe é visar constanTemente o PCP, alvo históRico de imputações de estalinismo. Assim, todos os males ou desentendiMentos nacionais, governaMentais, autárquicos, partidários, culturais ou pessoais passam a ser arrolados como resquícios, espantações ou ressUrgências do Zé dos Bigodes. O PCP apanha, desde o princíPio ao fim da linha, com os desfechaMentos: não estando no Governo nem algo tendo a ver com as questiúnculas das restantes famílias poLíticas nem com as fracturas e facturas raquidianas do Jornalismo de Opinião (e todo o jornalismo é de opinião), serve de alvo parabólico dos guardas brancos do antigo regime. De facto, os besteiros poderiam usar outro veneno ou anáTema nas suas pontas. Mas não. Hitlerianismo, como? Nunca existiu. Salazarismo, como? Nunca existiu. Estaline, esse existiu mesmo. O georgiano é tema central da nossa actualidade. Ainda se arrisca a ter um museu no Portugal Profundo. Maior concentração de miséria filosófica só é localizável na Reserva Social Madeirense, cujo líder ascendeu ao Governo pela subtilieza dialéctica e dialectal ao ponto de considerar cubanos os habitantes, votantes e contribuintes do Contimente. Entre estalinistas e cubanos, o discurso da classe poLítica do Poder e da classe jornalística do Poder não passa de oratória desviante, a fim de que não sejam apontados os reais sujeitos que estão a saquear o país e que enchem as antenas e as páginas de referência.

Também será sempre eloquente e um Contributo Ímpar para a Modernidade deter-nos no futeboLês (variante proGramática da analfabetização em massa): para a Comunicação Social, grandes clássicos não são os livros dos Grandes Escritores ou os próprios escritores mas os Jogos Benfica-Porto-Sporting ou os seus artistas, mágicos da relva, alguns já best-sellers, pois deram em escreventes ou confidentes de pena alheia, com direito a pResidente da República em sessões de lançaMento/autógrafos. De resto, o futeboLês tornou-se uma gazua semiótica e simiÓptica de plebes acabrunhadas e de classes emerGentes: é a medida de todas as coisas. Exemplifiquemos: se ocorrer um incêndio, a zona afectada é correnteMente avaliada em rectângulos da Bola: ardeu o equiValente a 100 campos de futebol; se for projectado um empreendimento, logo se equipara aos custos de um ou vários dos colossos do EURO 2004: o montante rondará cinco estádios do Sporting de Braga. Dir-se-á: são menmónicas para facilitar o entendiMento de públicos primários. Certo: mas qual a razão para não se fixar outra medida-padrão e quem estará empenhado em fazer vingar e vaLer o futeboLês?

Queremos crer que a Língua, assim trAtada e consAgrada, barbARAmente espancada e abusada por canAis e jornAis, é o derradeiro Órgão de Soberania que nos competiria e nos restaria acauteLar. Tratemos, pois, até onde pudermos, das nossas vogais e das nossas conSoantes, dos nossos prefixos e dos nossos sufixos, das nossas conCORdâncias e pronúncias, popuLares e eruDitas. Talvez tais unidades verbais e regras vocabuLares venham a incutir-nos um supleMento de ânimo para nos levantarmos do chão, para se lograr conTer a vaga totalitária do rotinês autóctone e do americanês-latim do Novo Império.

Terminaria, assim, esta reFlexão formulando votos para que a Língua Portuguesa não venha a ter o destino da Língua de Vaca, que só é apreciada morta e tradicionalmente com ervilhas. Haja alguma esperança neste combate. Mais depriMente será ensinar um ministro ou uma ministra da Educação a ler, porque será um desígnio ciclóPico tentar ensiná-los a escreVer. Saberão contar, ao que consta. De resto, eleMento curricular de qualquer expertista do sisTema. O que não é matéria bem explicada entre os servinets, para quem os números continuam a equiparar-se a ciências astrais, talvez porque os vencimentos da maioria são tão vaporosos que lhes dificultam discernir milhões de milhares e milhares de milhões. É vê-los, ouvi-los e lê-los: ficam de microfone dependurado ou de tecla trémula sempre que as agências disparam números para o Pasmódromo Mediático. Por sisTema, reduzem drasticamente os montantes, os orçamentos, os custos, moldando-os à sua imagem e semelhança. Mas também há os padecedores de elefantíase pitagóRica. Esses estão sempre à cata de espantar o burguês e o Zé-Povinho. Deleitam-se a lançar balões para entreter patEgos.9

Temos dito e escrito. E alguns dirão que temos sorte: já não nos levam presos.

Mas seremos homens livres só porque já não nos conseguem prender por chamar Serviço de Censura à Agenda de Serviço? É um ponto de interrogação a sugerir um debate empenhado. Realmente já não nos prendem ou ainda não nos prendem: por agora, vão-se contentando com despedimentos e não admissões de recalcitrantes e cortes nos víveres dos resistentes. A História está ilustrada de cruzadas e interregnos. Absolutamente cerrto é que liberdade nunca se deveu a gente menor: a patronets e a servinets. A liberdade maior, a de um Povo e a da Humanidade, é obra de gente maior.10




Notas:
1. Halimi, Serge, Nouveaux Chiens de garde, Liber-Raisons d’agir, Paris, 1997
2. Frola, Leann, in Poynter Online, 05/01/2007
3. Estudo Mediamonitor/Marktest, in JN, 24/11/2003.
4. O caso Madeleine ou Maddie elevou-se a padrão extremo de drama colectivizado (nacional e internacionalmente), implicando, actores familiares, mediáticos, judiciários, políticos, religiosos, empresariais, desportivos, populares, os últimos como figurantes de cenário/inocentes úteis. O caso da menina inglesa foi transformado no maior problema do Globo Terrestre.Televisões houve que, à falta de matéria de choque ou de melhor suspense, focaram 30 minutos a porta da Polícia Judiciária em Portimão. Denunciado na RPTN (09/09/2007).
5. Guimarães, Lúcia, in DN, 09/03/2003.
6. Pontes, David, deu à luz do dia 17/08/2007, um editorial, no Jornal de Notícias, expressando o receio de vir a ser roído de saudades, já que se vislumbra a era pós-Bush e os USA poderão tornar-se mais complacentes. O opinador confessa achar-se num mundo em que crescem os sentimentos beligerantes dos líderes de países como o Irão, a Rússia ou a Venezuela. A escolha destes países faz parte da Agenda de Diabolização. Assim, os USA & Company, que cercam e invadem e ocupam países em série, que tramam golpes de estado, nenocídios e magnicídios urbi et orbi, surgem branqueados como potências angélicas e garantes da Ordem Internacional. Beligerantes são os outros.
7. Vilhena, José, Proibido Pensar, FNAC/Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, 2003.
8. Tabucchi, Antonio, in Visão, 23/10/2003.
9. Rodrigues, Miguel Urbano, o diário acusa/1000 horas em Tribunal, história de uma perseguição, Caminho, Lisboa, 1984.
10. É da História do Jornalismo que tantos e tais atentados contra o idioma e a criatividade são de todos os tempos. No entanto, com a explosão de meios mediáticos, a elimiNação, pelo Choque Tecnológico e pela Política de Redução de Custos, das figuras do compositor e do revisor, a vertigem tablóide, o aligeiraMento escolar do Português em favor do Inglês e a presunção de que, com um diploma, se disPensam os dicionários e a gramática e a tarimba-todo este processus, combinado e culminado com a limpeza étnica e ética da geração de 60/70, a contratação de escravos ecológicos (a recibo verde) e a inscrição em massa de carteiristas do jornalismo (indivíduos munidos de Carteira Profissional mas que pouco ou nada têm a ver com a Profissão), superpovoou as redacções de analfabetos hiperactivos e repetidores automáticos. Para amenizarmos o diagnóstico caseiro, lembraremos que, já em 1945, Hermann Hesse publicou uma narrativa, Trágico, à volta de Johannes, compositor tipográfico, eruDito e purista inconFormado e um redActor-chefe, sufragador da maNada escrevente (Deambulações Fantásticas, Difel, Lisboa, 2003). Não se trata, pois, de um ferrete identifiCativo de uma Geração Rasca, exPressão de Vicente Jorge Silva (O Público, 06/22/05/1992), que deu honras de editorial a um estudante que, no calor de uma manifestação, arriou as calças e exibiu o nadegal. Observado o destapamento à devida distância, não deixará de merecer menção entre os sinais proféticos do séc. XX: vinha aí a Era de Baixar as Calças. Ser Rasca em 1992 equivale a Ser Fixe em 2007. O Jornalismo não poderia escapar ao nivelamento por baixo. Ele é porta-voz e porta-bandeira do Portugal Fashion.
10. Primeira versão in Jornalismo & Jornalistas/ JJ, Nº 17, Janeiro/Março 2004.


* Jornalista e escritor

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