VoyForums
[ Show ]
Support VoyForums
[ Shrink ]
VoyForums Announcement: Programming and providing support for this service has been a labor of love since 1997. We are one of the few services online who values our users' privacy, and have never sold your information. We have even fought hard to defend your privacy in legal cases; however, we've done it with almost no financial support -- paying out of pocket to continue providing the service. Due to the issues imposed on us by advertisers, we also stopped hosting most ads on the forums many years ago. We hope you appreciate our efforts.

Show your support by donating any amount. (Note: We are still technically a for-profit company, so your contribution is not tax-deductible.) PayPal Acct: Feedback:

Donate to VoyForums (PayPal):

25/04/24 16:28:09Login ] [ Contact Forum Admin ] [ Main index ] [ Post a new message ] [ Search | Check update time | Archives: 1[2]3456789 ]
Subject: Quanto mais alto se sobe... Autópsia ao mercado bolsista dos EUA


Author:
Mike Whitney
[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]
Date Posted: 17/08/07 11:07:17


Quanto mais alto se sobe... Autópsia ao mercado bolsista dos EUA
“Os entusiastas do mercado de valores desfazem-se em aplausos e elogios com a subida do Dow para 13.000, mas isso não passa de um engano. A Wall Street goza simplesmente dos últimos restos de hélio do juro baixo de Greenspan que se revolve na maior bolha creditícia da historia, mas grandes mudanças se aproximam”
Mike Whitney* - 17.08.07
“É verdade que há uma guerra
de classes, mas a que ganha é a minha”
Warren Buffett, magnate investidor

O mercado imobiliário [nos EUA] desmorona-se mais depressa do que alguém previu. Os preços da habitação caíram em 17 das 20 maiores cidades dos EUA e as linhas de tendência indicam que o pior ainda está para vir. As vendas de casas novas em Março caíram a pique num record de 23,5% (de um ano para o outro), eliminando qualquer esperança de recuperação rápida. Os problemas com os empréstimos subprime (categoría de alto risco) e Alt-A proliferam em mercados considerados previamente como “quentes”, o que levou a uma quantidade de execuções judiciais sem precedentes. Os incumprimentos de pagamento reduziram a procura de casas novas e aumentaram o excedente de casas que já se encontram no mercado. Isto provoca uma pressão descendente adicional sobre os preços e os lucros. Cada vez mais construtoras têm dificuldades para se manterem à tona. Já não se trata da nossa típica “correcção” do tipo dos anos oitenta, mas sim de um ciclone imobiliário puro e duro que destrói tudo o que encontra pelo caminho.
Os efeitos do terramoto imobiliário não vão limitar-se à habitação, terão reflexos em todas as áreas da economía, incluindo o mercado bolsista, o sector financeiro e o comércio de divisas. Não existe simplesmente maneira de minimizar os efectos do rebentamento de uma bolha de valores de 4500 milhões de dólares.
É provável que a próxima vítima seja o mercado bolsista, que continua a voar alto devido aos aumentos na injecção de dinheiro. A Reserva Federal foi autorizada durante mais uns meses a emitir dinheiro suficiente para manter os valores alegremente elevados a preços inflacionados. Mas não vai durar. A bolha de crédito da Wall Street é ainda maior que a imobiliária – um monstruoso dirigível caminhando para um despenhamento inevitável. O índice Dow é como um bêbado à beira de um precipício de 13.000 pontos, embriagado com o álcool dos “juros baixos” da Reserva Federal. Um passo em falso e lá vai ele por aí abaixo.
Os entusiastas do mercado de valores desfazem-se em aplausos e elogios com a subida do Dow para 13.000, mas isso não passa de um engano. A Wall Street goza simplesmente dos últimos restos de hélio do juro baixo de Greenspan que se revolve na maior bolha creditícia da historia, mas grandes mudanças se aproximam. Na verdade, as núvens de tempestade já se formaram sobre o mercado imobiliário. O albatrós dos créditos de alto risco paira sobretudo na economía, arrastando consigo a confiança dos consumidores, o PIB e também em última instância o mercado bolsista. Começa a materializar-se o verdadeiro desastre.
Porque continua então o mercado de valores a atingir valores altos?
Será porque os investidores estrangeiros acreditam que os valores americanos continuarão a dar bons resultados apesar do descalabro do mercado imobiliário e da redução do PIB a uma dimensão ridícula? Ou porque os accionistas não se deram conta que as notas verdes levam todos os dias pancada a sério no mercado de divisas? Ou talvez os investidores exprimam apenas a sua confiança no modo como os EUA estão a dirigir o sistema económico global?
Será que admiram a sageza com que se pedem emprestados 2.500 milhões de dólares por día a financiadores estrangeiros só para impedir que o barco do Estado meta água?
Nada disso. O motivo porque o mercado de valores voa alto é a Reserva Federal injectar dinheiro para impedir uma fusão tipo Chernobyl. Todo esse novo dinheiro que não vale nada tem que ir para algum lado e uma grande parte vai parar ao mercado bolsista. Chuck Butler do Evergreen Bank explica o processo no Daily Pfennig:
“A Reserva Federal poderá ter deixado de publicar os dados do M3 [N.T. - inclui o efectivo em circulação e os depósitos à vista, os depósitos a prazo até dois anos, as concessões temporárias de dinheiro, as participações em fundos do mercado monetário e os valores que não sejam acções válidos por período não superior a dois anos, dinheiro que sai do país sob a forma de empréstimos, investimentos, depósitos estrangeiros, eurodólares, etc.], mas continua a publicar todos os dados que entram no cálculo e os nossos amigos da estatística fantasma do Governo têm uma tabela que mostra porquê a Reserva Federal decidiu manter oculto o M3. Uma vista de olhos é suficiente para mostrar que a Reserva Federal está bombando grande quantidade de dinheiro a uma surpreendente taxa de 11,8% ao ano! Todo este rápido crescimento no fornecimento de dinheiro se reflecte no aumento de preço dos valores. O mercado bolsista tem que aumentar só para poder acompanhar todo este dinheiro recém criado. Enquanto a Reserva Federal não fizer ondas com outro aumento das taxas ou fechando a torneira do dinheiro, os mercados de valores continuarão a sua corrida.”
Ora bem! Assim que a Reserva Federal injecta à força o fornecimento de dinheiro, as acções sobem e fica toda a gente contente, não é verdade?
Engano! O crescimento do fornecimento de dinheiro deveria equiparar-se aproximadamente ao crescimento da economia em geral. De maneira que, se o PIB diminui (como acontece actualmente) e o fornecimento de dinheiro aumenta, então – aí está! – inflacção (“11,8%” para sermos precisos).
Para já, a inflacção não afecta a classe investidora, nem os seus safados compinchas na Reserva Federal – quanto mais dinheiro entrar nos mercados, melhor para eles. Exactamente o contrário acontece ao pensionista com rendimentos fixos ou ao assalariado escravo que recebe um aumento de salário de 15 cêntimos uma vez por milénio. Acabam por ser despojados por cada nota verde nova que se imprime.
Contudo, é exactamente esse o plano – transferir milhões e milhões de uma classe para a outra através de gigantescas borbulhas de valores. Tudo o que é necessário são taxas de juro artificialmente baixas e uma lata de lubrificante para as máquinas continuarem a rodar. É uma coisa tão simples que nem lhe darei a honra de chamar “conspiração”. Não passa de uma pura e simples vigarice. Mas nunca falha.
Cada vez que a Reserva Federal imprime mais uma série de notas frescas de 100 dólares, está a confiscar as economias ganhas com esforço por gente da classe trabalhadora e reformados. E, uma vez que o dólar caíu perto de 40% desde que Bush chegou ao poder em 2000, isso significa que o governo ficou com 40% das nossas poupanças de toda uma vida.
É esta a verdade sobre a inflação. Trata-se de imposto disfarçado, sem aparecer nas estatísticas do governo. Na verdade, o índice de preços no consumidor (CPI, de acordo com as siglas em inglês) deixa de lado a alimentação e a energia, de forma que os trabalhadores não podem ver como a Reserva Federal os está a roubar. A única forma que têm de estimar as perdas é irem à loja ou à estação de serviço. É aí que podem ver por si próprios que o dinheiro pelo qual tanto trabalham perde continuamente o seu poder de compra.
A grande questão agora é saber quanto demorarão os credores estrangeiros a acordar para verem o consumidor norte-americano extenuado sem fôlego. Quando as despesas dos consumidores abrandarem nos EUA, o investimento estrangeiro vai parar e os valores vão desmoronar-se. A China e o Japão já diminuíram ou suspenderam as compras de valores do Tesouro dos EUA e a China declarou que faz planos para diversificar no futuro os seus mil milhões de dólares americanos. Este facto reduziu a procura de dólares e diminuíu o respectivo valor relativamente a outras moedas (o dólar atingiu recentemente um novo ponto baixo a 1,36 por euro).
A redução das despesas de consumo é o toque de despedida para o dólar. Será o momento em que haverá um movimento de pânico como nunca se viu – quando cada um dos bancos centrais do mundo lançar as suas notas verdes sem valor para o ar como se fossem confetti de ano novo. Segundo o Washington Post esse momento pode ter chegado. Como afirma Martin Crutsinger do Post: “As despesas de consumo aumentaram ao ritmo mais lento dos últimos cinco meses em Março, enquanto que a actividade na construção conseguiu apenas um ligeiro aumento, devido a maior debilidade do negócio imobiliário.”
A ligação entre a habitação e a despesa de consumo é crítica. A habitação foi o principal motor do crescimento dos EUA nos últimos 5 anos, representando 2 em cada 5 novos postos de trabalho e centenas de milhar de milhões de dólares em gastos adicionais através da valorização imobiliária. Uma redução nas despesas do consumo significa que os investidores estrangeiros terão que procurar mercados mais prometedores no estrangeiro, o que provocará uma diminuição drástica na quantidade de crédito bancário que chega ao país através do défice comercial de 800.000 milhões de dólares. Isto vai reduzir o crescimento dos EUA, enquanto enfraquece ainda mais o dólar.
Pode-se falar de inflação acompanhada de paragem da economia (estagflação)?
As actuais crises monetária e económica foram produzidas pelas reduções de impostos sem financiamento de Bush, pelos défices comerciais insustentáveis e pela política monetária hiper-inflacionária da Reserva Federal. Estas políticas foram executadas em simultâneo para produzirem o efeito máximo. Foram totalmente premeditadas. Muita gente acredita agora que o governo Bush e a Reserva Federal estão criando intencionalmente uma “crise de estilo argentino” para poderem privatizar bens de propriedade estatal e marcarem o início da União Norte-Americana – a futura aliança num “único Estado” entre o Canadá, o México e os EUA – juntamente com a nova moeda regional, o amero.
Mantenha-se informado.
Contudo, a política monetária não é a única razão pela qual o mercado bolsista vai caír. Temos também a trapalhada de enganos e calotes legalizados sob a rubrica “desregulação.” Novas regras permitem à Wall Street que se façam dívidas pessoais e dívidas corporativas que, depois de tornadas a embrulhar, apareçam como jóias preciosas em leilão público. É a maior trapaça de todos os tempos.
Consideremos por exemplo o fundo de alto risco médio. O fundo pode ter tido origem em 10.000 milhões de dólares do seu próprio efectivo e depois sido inchado para 50.000 milhões através do crédito (fácilmente adquirido). O gestor do fundo passa logo a criar uma carteira de investimentos que inclui CDO (obrigações de dívida colateralizada) e MBS (valores apoiados em hipotecas) até atingir 160.000 milhões de dólares. A maior parte deste “activos” não são mais que cambaleantes empréstimos de alto risco de proprietários de imóveis em dificuldades, que não têm possibilidade de cumprir os pagamentos. Por outras palavras, a dívida de outro indivíduo é magicamente transformada num produto básico da Wall Street. (Imagine que você, caro leitor, podia vender a sua dívida de 35.000 dólares do seu cartão de crédito ao seu genro alcoolizado, como se fôsse uma barra de ouro ou um Ferrari de colecção. É esse, acredite ou não, o engano com que prosperam os negociantes de certificados de investimento).
De maneira que: o fundo está garantido, os activos estão garantidos e (adivinhe) os investidores estão também garantidos, seja comprando acções com dinheiro emprestado, seja usando montões de crédito japonês barato a juro baixo, para maximizarem o seu potencial de benefícios.
Veja-se o quadro: dívida x dívida x dívida = lucro máximo e preços de acções subindo a pique. É o motivo pelo qual o valor nominal dos valores do mercado excede de longe o PIB global mundial. Trata-se de um imenso Zeppelin de dívidas que está caindo rápidamente sobre o planeta Tierra.
KaBooM!
A desregulação funciona às maravilhas para os gangsters que manejam o sistema. Ao fim e ao cabo, para que haviam de querer regras? Não pensam em investimentos de capital, em produtividade ou em infrastruturas. Não estão a construir uma economia que sirva as necessidades básicas da sociedade. Esperam apenas pela próxima enorme mega-fusão em que duas corporações monolíticas, levadas ao límite, se unam em felicidade conjugal e criem montes de crédito novo. É aí que se encontra o verdadeiro dinheiro.
A Wall Street gera montões de ciber-dinheiro em cada fusão. Isso faz subir os preços das acções cada vez mais. A desregulação converteu a Wall Street no maior produtor de um contínuo fluxo de fundos, no maior gerador de crédito de todos os tempos, desovando incontáveis milhões através de uma expansão aparentemente ilimitada da dívida. Estes dólares virtuais nunca foram autorizados pela Reserva Federal ou pelo Tesouro dos EUA – emergem do tenebroso conjunto de super-transacções super-garantidas e do mundo mágico do comércio de derivados. Formam parte vital da casa dos espelhos da Wall Street onde cada dólar é aumentado por um factor de 50 para 1 logo que entra no sistema. Os activos são inflaccionados, a dívida converte-se em riqueza e a realidade fiscal vaporiza-se no gás tóxico da cobiça humana.
Doug Noland explica-o assim em Prudent Bear.com:
“Entrámos na fase eufórica do capitalismo com semelhanças à pirâmide de Ponzi, uma vigarice de pirâmides, de confusões de créditos rotativos e de jogos de percentagem diferencial totalmente afastados de qualquer realidade ligada à actividade produtiva. O móbil já nem sequer o designamos pelo antigo nome de “dinheiro”, precisamente porque a algum nível do subconsciente nos damos conta de que “liquidez” não é realmente dinheiro. Liquidez é um fluxo de excedente de riqueza. Enquanto flui numa direcção, para os mercados financeiros, aqueles que controlam as válvulas ao longo da tubagem, como Goldman Sachs ou Citibank, ou os fundos de alto risco, podem extrair milhares de milhões liquidez. O problema está quando o fluxo pára – ou se inverte! Será o momento em que redescobriremos que liquidez é na verdade qualquer coisa diferente de dinheiro, e se realmente não tivermos sorte descobriremos que o nosso dinheiro (o dólar americano) é na verdade diferente da verdadeira riqueza”.
Noland tem razão. O mercado é um mercado “de pirámides, de confusões de créditos rotativos e de jogos de percentagem diferencial” e ninguém sabe realmente o que esperar se o fluxo de liquidez desacelerar ou se “inverter.”
Haverá uma queda da bolsa de acções?
Depende dos efeitos resultantes da catástrofe dos créditos de alto risco. O não pagamento das hipotecas existentes é apenas uma parte do problema. A verdadeira questão será como reagirá o mercado de valores “dependente do crédito” diante da restrição das normas para empréstimos. Ao esgotar-se a liquidez no mercado imobiliário, todas as áreas da economía sofrem. (Assistimos já a uma baixa nos gastos de consumo). A Wall Street está viciada no crédito barato e inventou uma miríade de instrumentos de dívida abstrusos para conseguir a sua dose. Mas o que sucederá quando o investimento simplesmente se atrofiar?
Segundo Jerome Corsi de WorldNetDaily.com, essa pergunta foi parcialmente respondida numa carta do director executivo do Carlyle Group, William Conway Jr. Conway confirma que o crescimento no mercado de valores se relaciona com “a disponibilidade de quantidades enormes de dívida barata.” Acrescenta que:
“Essa dívida barata tem estado disponível para quase todos os vencimentos, para a maioria das industrias, para a infraestructura, para os bens imobiliários e todos os níveis da estrutura capital.” (Mas) “este ambiente de liquidez não pode continuar eternamente. Quanto mais durar, pior será quando acabar. Para já, quando acabar, a oportunidade de compra será a oportunidade da vida.”
Mais uma maravilhosa “oportunidade de compra”?
Quase se consegue sentir a passagem dos grandes pássaros esvoaçando sobre as nossas cabeças e visando com o olhar a grande carcaça cá em baixo. Uma vez derrubado o mercado bolsista e confundida a nota verde com a areia do deserto, haverá muitas caras sorridentes preparando-se para o festim.
Conway tem razão, o mercado bolsista FLUTUA sobre uma núvem de crédito barato criada por um défice comercial enorme, taxas de juro artificialmente baixas e uma expansão anual de 10% na oferta de dinheiro. Como ele diz: “Não pode continuar para sempre.” E não acreditamos que seja assim.

*Mike Whitney analista norte-americano, vive no Estado de Washington.
Original em http://www.counterpunch.org/whitney05032007.html
“É verdade que há uma guerra
de classes, mas a que ganha é a minha”
Warren Buffett, magnate investidor

O mercado imobiliário [nos EUA] desmorona-se mais depressa do que alguém previu. Os preços da habitação caíram em 17 das 20 maiores cidades dos EUA e as linhas de tendência indicam que o pior ainda está para vir. As vendas de casas novas em Março caíram a pique num record de 23,5% (de um ano para o outro), eliminando qualquer esperança de recuperação rápida. Os problemas com os empréstimos subprime (categoría de alto risco) e Alt-A proliferam em mercados considerados previamente como “quentes”, o que levou a uma quantidade de execuções judiciais sem precedentes. Os incumprimentos de pagamento reduziram a procura de casas novas e aumentaram o excedente de casas que já se encontram no mercado. Isto provoca uma pressão descendente adicional sobre os preços e os lucros. Cada vez mais construtoras têm dificuldades para se manterem à tona. Já não se trata da nossa típica “correcção” do tipo dos anos oitenta, mas sim de um ciclone imobiliário puro e duro que destrói tudo o que encontra pelo caminho.
Os efeitos do terramoto imobiliário não vão limitar-se à habitação, terão reflexos em todas as áreas da economía, incluindo o mercado bolsista, o sector financeiro e o comércio de divisas. Não existe simplesmente maneira de minimizar os efectos do rebentamento de uma bolha de valores de 4500 milhões de dólares.
É provável que a próxima vítima seja o mercado bolsista, que continua a voar alto devido aos aumentos na injecção de dinheiro. A Reserva Federal foi autorizada durante mais uns meses a emitir dinheiro suficiente para manter os valores alegremente elevados a preços inflacionados. Mas não vai durar. A bolha de crédito da Wall Street é ainda maior que a imobiliária – um monstruoso dirigível caminhando para um despenhamento inevitável. O índice Dow é como um bêbado à beira de um precipício de 13.000 pontos, embriagado com o álcool dos “juros baixos” da Reserva Federal. Um passo em falso e lá vai ele por aí abaixo.
Os entusiastas do mercado de valores desfazem-se em aplausos e elogios com a subida do Dow para 13.000, mas isso não passa de um engano. A Wall Street goza simplesmente dos últimos restos de hélio do juro baixo de Greenspan que se revolve na maior bolha creditícia da historia, mas grandes mudanças se aproximam. Na verdade, as núvens de tempestade já se formaram sobre o mercado imobiliário. O albatrós dos créditos de alto risco paira sobretudo na economía, arrastando consigo a confiança dos consumidores, o PIB e também em última instância o mercado bolsista. Começa a materializar-se o verdadeiro desastre.
Porque continua então o mercado de valores a atingir valores altos?
Será porque os investidores estrangeiros acreditam que os valores americanos continuarão a dar bons resultados apesar do descalabro do mercado imobiliário e da redução do PIB a uma dimensão ridícula? Ou porque os accionistas não se deram conta que as notas verdes levam todos os dias pancada a sério no mercado de divisas? Ou talvez os investidores exprimam apenas a sua confiança no modo como os EUA estão a dirigir o sistema económico global?
Será que admiram a sageza com que se pedem emprestados 2.500 milhões de dólares por día a financiadores estrangeiros só para impedir que o barco do Estado meta água?
Nada disso. O motivo porque o mercado de valores voa alto é a Reserva Federal injectar dinheiro para impedir uma fusão tipo Chernobyl. Todo esse novo dinheiro que não vale nada tem que ir para algum lado e uma grande parte vai parar ao mercado bolsista. Chuck Butler do Evergreen Bank explica o processo no Daily Pfennig:
“A Reserva Federal poderá ter deixado de publicar os dados do M3 [N.T. - inclui o efectivo em circulação e os depósitos à vista, os depósitos a prazo até dois anos, as concessões temporárias de dinheiro, as participações em fundos do mercado monetário e os valores que não sejam acções válidos por período não superior a dois anos, dinheiro que sai do país sob a forma de empréstimos, investimentos, depósitos estrangeiros, eurodólares, etc.], mas continua a publicar todos os dados que entram no cálculo e os nossos amigos da estatística fantasma do Governo têm uma tabela que mostra porquê a Reserva Federal decidiu manter oculto o M3. Uma vista de olhos é suficiente para mostrar que a Reserva Federal está bombando grande quantidade de dinheiro a uma surpreendente taxa de 11,8% ao ano! Todo este rápido crescimento no fornecimento de dinheiro se reflecte no aumento de preço dos valores. O mercado bolsista tem que aumentar só para poder acompanhar todo este dinheiro recém criado. Enquanto a Reserva Federal não fizer ondas com outro aumento das taxas ou fechando a torneira do dinheiro, os mercados de valores continuarão a sua corrida.”
Ora bem! Assim que a Reserva Federal injecta à força o fornecimento de dinheiro, as acções sobem e fica toda a gente contente, não é verdade?
Engano! O crescimento do fornecimento de dinheiro deveria equiparar-se aproximadamente ao crescimento da economia em geral. De maneira que, se o PIB diminui (como acontece actualmente) e o fornecimento de dinheiro aumenta, então – aí está! – inflacção (“11,8%” para sermos precisos).
Para já, a inflacção não afecta a classe investidora, nem os seus safados compinchas na Reserva Federal – quanto mais dinheiro entrar nos mercados, melhor para eles. Exactamente o contrário acontece ao pensionista com rendimentos fixos ou ao assalariado escravo que recebe um aumento de salário de 15 cêntimos uma vez por milénio. Acabam por ser despojados por cada nota verde nova que se imprime.
Contudo, é exactamente esse o plano – transferir milhões e milhões de uma classe para a outra através de gigantescas borbulhas de valores. Tudo o que é necessário são taxas de juro artificialmente baixas e uma lata de lubrificante para as máquinas continuarem a rodar. É uma coisa tão simples que nem lhe darei a honra de chamar “conspiração”. Não passa de uma pura e simples vigarice. Mas nunca falha.
Cada vez que a Reserva Federal imprime mais uma série de notas frescas de 100 dólares, está a confiscar as economias ganhas com esforço por gente da classe trabalhadora e reformados. E, uma vez que o dólar caíu perto de 40% desde que Bush chegou ao poder em 2000, isso significa que o governo ficou com 40% das nossas poupanças de toda uma vida.
É esta a verdade sobre a inflação. Trata-se de imposto disfarçado, sem aparecer nas estatísticas do governo. Na verdade, o índice de preços no consumidor (CPI, de acordo com as siglas em inglês) deixa de lado a alimentação e a energia, de forma que os trabalhadores não podem ver como a Reserva Federal os está a roubar. A única forma que têm de estimar as perdas é irem à loja ou à estação de serviço. É aí que podem ver por si próprios que o dinheiro pelo qual tanto trabalham perde continuamente o seu poder de compra.
A grande questão agora é saber quanto demorarão os credores estrangeiros a acordar para verem o consumidor norte-americano extenuado sem fôlego. Quando as despesas dos consumidores abrandarem nos EUA, o investimento estrangeiro vai parar e os valores vão desmoronar-se. A China e o Japão já diminuíram ou suspenderam as compras de valores do Tesouro dos EUA e a China declarou que faz planos para diversificar no futuro os seus mil milhões de dólares americanos. Este facto reduziu a procura de dólares e diminuíu o respectivo valor relativamente a outras moedas (o dólar atingiu recentemente um novo ponto baixo a 1,36 por euro).
A redução das despesas de consumo é o toque de despedida para o dólar. Será o momento em que haverá um movimento de pânico como nunca se viu – quando cada um dos bancos centrais do mundo lançar as suas notas verdes sem valor para o ar como se fossem confetti de ano novo. Segundo o Washington Post esse momento pode ter chegado. Como afirma Martin Crutsinger do Post: “As despesas de consumo aumentaram ao ritmo mais lento dos últimos cinco meses em Março, enquanto que a actividade na construção conseguiu apenas um ligeiro aumento, devido a maior debilidade do negócio imobiliário.”
A ligação entre a habitação e a despesa de consumo é crítica. A habitação foi o principal motor do crescimento dos EUA nos últimos 5 anos, representando 2 em cada 5 novos postos de trabalho e centenas de milhar de milhões de dólares em gastos adicionais através da valorização imobiliária. Uma redução nas despesas do consumo significa que os investidores estrangeiros terão que procurar mercados mais prometedores no estrangeiro, o que provocará uma diminuição drástica na quantidade de crédito bancário que chega ao país através do défice comercial de 800.000 milhões de dólares. Isto vai reduzir o crescimento dos EUA, enquanto enfraquece ainda mais o dólar.
Pode-se falar de inflação acompanhada de paragem da economia (estagflação)?
As actuais crises monetária e económica foram produzidas pelas reduções de impostos sem financiamento de Bush, pelos défices comerciais insustentáveis e pela política monetária hiper-inflacionária da Reserva Federal. Estas políticas foram executadas em simultâneo para produzirem o efeito máximo. Foram totalmente premeditadas. Muita gente acredita agora que o governo Bush e a Reserva Federal estão criando intencionalmente uma “crise de estilo argentino” para poderem privatizar bens de propriedade estatal e marcarem o início da União Norte-Americana – a futura aliança num “único Estado” entre o Canadá, o México e os EUA – juntamente com a nova moeda regional, o amero.
Mantenha-se informado.
Contudo, a política monetária não é a única razão pela qual o mercado bolsista vai caír. Temos também a trapalhada de enganos e calotes legalizados sob a rubrica “desregulação.” Novas regras permitem à Wall Street que se façam dívidas pessoais e dívidas corporativas que, depois de tornadas a embrulhar, apareçam como jóias preciosas em leilão público. É a maior trapaça de todos os tempos.
Consideremos por exemplo o fundo de alto risco médio. O fundo pode ter tido origem em 10.000 milhões de dólares do seu próprio efectivo e depois sido inchado para 50.000 milhões através do crédito (fácilmente adquirido). O gestor do fundo passa logo a criar uma carteira de investimentos que inclui CDO (obrigações de dívida colateralizada) e MBS (valores apoiados em hipotecas) até atingir 160.000 milhões de dólares. A maior parte deste “activos” não são mais que cambaleantes empréstimos de alto risco de proprietários de imóveis em dificuldades, que não têm possibilidade de cumprir os pagamentos. Por outras palavras, a dívida de outro indivíduo é magicamente transformada num produto básico da Wall Street. (Imagine que você, caro leitor, podia vender a sua dívida de 35.000 dólares do seu cartão de crédito ao seu genro alcoolizado, como se fôsse uma barra de ouro ou um Ferrari de colecção. É esse, acredite ou não, o engano com que prosperam os negociantes de certificados de investimento).
De maneira que: o fundo está garantido, os activos estão garantidos e (adivinhe) os investidores estão também garantidos, seja comprando acções com dinheiro emprestado, seja usando montões de crédito japonês barato a juro baixo, para maximizarem o seu potencial de benefícios.
Veja-se o quadro: dívida x dívida x dívida = lucro máximo e preços de acções subindo a pique. É o motivo pelo qual o valor nominal dos valores do mercado excede de longe o PIB global mundial. Trata-se de um imenso Zeppelin de dívidas que está caindo rápidamente sobre o planeta Tierra.
KaBooM!
A desregulação funciona às maravilhas para os gangsters que manejam o sistema. Ao fim e ao cabo, para que haviam de querer regras? Não pensam em investimentos de capital, em produtividade ou em infrastruturas. Não estão a construir uma economia que sirva as necessidades básicas da sociedade. Esperam apenas pela próxima enorme mega-fusão em que duas corporações monolíticas, levadas ao límite, se unam em felicidade conjugal e criem montes de crédito novo. É aí que se encontra o verdadeiro dinheiro.
A Wall Street gera montões de ciber-dinheiro em cada fusão. Isso faz subir os preços das acções cada vez mais. A desregulação converteu a Wall Street no maior produtor de um contínuo fluxo de fundos, no maior gerador de crédito de todos os tempos, desovando incontáveis milhões através de uma expansão aparentemente ilimitada da dívida. Estes dólares virtuais nunca foram autorizados pela Reserva Federal ou pelo Tesouro dos EUA – emergem do tenebroso conjunto de super-transacções super-garantidas e do mundo mágico do comércio de derivados. Formam parte vital da casa dos espelhos da Wall Street onde cada dólar é aumentado por um factor de 50 para 1 logo que entra no sistema. Os activos são inflaccionados, a dívida converte-se em riqueza e a realidade fiscal vaporiza-se no gás tóxico da cobiça humana.
Doug Noland explica-o assim em Prudent Bear.com:
“Entrámos na fase eufórica do capitalismo com semelhanças à pirâmide de Ponzi, uma vigarice de pirâmides, de confusões de créditos rotativos e de jogos de percentagem diferencial totalmente afastados de qualquer realidade ligada à actividade produtiva. O móbil já nem sequer o designamos pelo antigo nome de “dinheiro”, precisamente porque a algum nível do subconsciente nos damos conta de que “liquidez” não é realmente dinheiro. Liquidez é um fluxo de excedente de riqueza. Enquanto flui numa direcção, para os mercados financeiros, aqueles que controlam as válvulas ao longo da tubagem, como Goldman Sachs ou Citibank, ou os fundos de alto risco, podem extrair milhares de milhões liquidez. O problema está quando o fluxo pára – ou se inverte! Será o momento em que redescobriremos que liquidez é na verdade qualquer coisa diferente de dinheiro, e se realmente não tivermos sorte descobriremos que o nosso dinheiro (o dólar americano) é na verdade diferente da verdadeira riqueza”.
Noland tem razão. O mercado é um mercado “de pirámides, de confusões de créditos rotativos e de jogos de percentagem diferencial” e ninguém sabe realmente o que esperar se o fluxo de liquidez desacelerar ou se “inverter.”
Haverá uma queda da bolsa de acções?
Depende dos efeitos resultantes da catástrofe dos créditos de alto risco. O não pagamento das hipotecas existentes é apenas uma parte do problema. A verdadeira questão será como reagirá o mercado de valores “dependente do crédito” diante da restrição das normas para empréstimos. Ao esgotar-se a liquidez no mercado imobiliário, todas as áreas da economía sofrem. (Assistimos já a uma baixa nos gastos de consumo). A Wall Street está viciada no crédito barato e inventou uma miríade de instrumentos de dívida abstrusos para conseguir a sua dose. Mas o que sucederá quando o investimento simplesmente se atrofiar?
Segundo Jerome Corsi de WorldNetDaily.com, essa pergunta foi parcialmente respondida numa carta do director executivo do Carlyle Group, William Conway Jr. Conway confirma que o crescimento no mercado de valores se relaciona com “a disponibilidade de quantidades enormes de dívida barata.” Acrescenta que:
“Essa dívida barata tem estado disponível para quase todos os vencimentos, para a maioria das industrias, para a infraestructura, para os bens imobiliários e todos os níveis da estrutura capital.” (Mas) “este ambiente de liquidez não pode continuar eternamente. Quanto mais durar, pior será quando acabar. Para já, quando acabar, a oportunidade de compra será a oportunidade da vida.”
Mais uma maravilhosa “oportunidade de compra”?
Quase se consegue sentir a passagem dos grandes pássaros esvoaçando sobre as nossas cabeças e visando com o olhar a grande carcaça cá em baixo. Uma vez derrubado o mercado bolsista e confundida a nota verde com a areia do deserto, haverá muitas caras sorridentes preparando-se para o festim.
Conway tem razão, o mercado bolsista FLUTUA sobre uma núvem de crédito barato criada por um défice comercial enorme, taxas de juro artificialmente baixas e uma expansão anual de 10% na oferta de dinheiro. Como ele diz: “Não pode continuar para sempre.” E não acreditamos que seja assim.

*Mike Whitney analista norte-americano, vive no Estado de Washington.
Original em http://www.counterpunch.org/whitney05032007.html

[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]


Post a message:
This forum requires an account to post.
[ Create Account ]
[ Login ]
[ Contact Forum Admin ]


Forum timezone: GMT+0
VF Version: 3.00b, ConfDB:
Before posting please read our privacy policy.
VoyForums(tm) is a Free Service from Voyager Info-Systems.
Copyright © 1998-2019 Voyager Info-Systems. All Rights Reserved.