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Subject: O mecanismo global das taxas de câmbio, ou os dólares dos "comunas"


Author:
Chris Sanders
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Date Posted: 4/08/07 11:57:40

O mecanismo global das taxas de câmbio, ou os dólares dos "comunas"

“Se a única coisa que contasse nos mercados monetários fossem as contas nacionais dos países emissores, há muito que o dólar teria deixado de ser usado fora do pequeno mundo dos coleccionadores de notas e moedas, onde assumiria de pleno direito um lugar ao lado dos dólares da Confederação, dos marcos do Reich, dos dinares abássidas e das conchas e búzios”.

Chris Sanders* - 04.08.07

Apesar das angústias que provoca, o dólar americano tem-se aguentado bastante bem. A sua situação é frequentemente descrita como de colapso, mas é difícil perceber como pode ser esse o caso. A taxa de câmbio do dólar em relação ao euro anda muito perto do valor que tinha há dois anos a esta parte. No caso do yen, o valor actual do câmbio situa-se a meio do intervalo de variação da taxa nos últimos sete anos. É verdade que o dólar se desvalorizou relativamente às moedas das economias que são intensivas em matérias-primas, como o Canadá e a Austrália, mas tal seria de esperar tendo em conta o ciclo económico e, em particular, das matérias-primas, que atravessamos. Se a isto alguns chamam colapso, que todos os santos nos ajudem quando encontrarmos a estabilidade. É que nos arriscamos a morrer de tédio.

Suponho que o dólar podia entrar em colapso amanhã, ou na próxima semana, ou no ano que vem, ou nalgum momento durante a próxima década. Se a única coisa que contasse nos mercados monetários fossem as contas nacionais dos países emissores, há muito que o dólar teria deixado de ser usado fora do pequeno mundo dos coleccionadores de notas e moedas, onde assumiria de pleno direito um lugar ao lado dos dólares da Confederação, dos marcos do Reich, dos dinares abássidas e das conchas e búzios. Contudo, não creio que tal vá acontecer nos tempos mais próximos, a não ser que esse oligopólio cada vez mais concentrado que é o sistema financeiro internacional contemporâneo acredite que pode fazer mais dinheiro com um colapso do dólar do que gerindo, como faz actualmente, o mecanismo global das taxas de câmbio. Sinceramente, tal cenário não me parece previsível num futuro próximo.

Não é difícil perceber a contradição existente entre o estado das finanças no país emissor, os Estados Unidos, e a relativa estabilidade da sua moeda. É que não faltam países dispostos emprestar dinheiro aos EUA. É verdade que se a China resolvesse desfazer-se das suas reservas em moeda norte-americana, o efeito sobre o dólar seria equivalente ao colapso das torres gémeas de Nova Iorque. Mas por que razão haveriam os senhores da nova China de fazer tal coisa? Aí a conversa já é outra. É que eles estão a ganhar demasiado dinheiro ajudando a manter o status quo para sequer pensarem nisso.

No início deste ano vimos como o Congresso norte-americano eliminou as barreiras à compra de tecnologia militar sofisticada pela China. Os chineses anunciaram, algum tempo depois, que iriam autorizar a abertura de sucursais de quatro bancos ocidentais no seu território. Tais bancos irão disponibilizar uma gama completa de produtos e serviços financeiros em moeda local. Esta semana, e na sequência de mais uma ronda do "Diálogo Económico Estratégico" entre os dois países, foi revelado que a China iria autorizar a entrada de diversos bancos de investimento norte-americanos no mercado doméstico de corretagem. Ainda estamos para ver em que domínios os EUA fizeram cedências para que o Goldman Sachs e o Citigroup gozassem de tal privilégio. Todavia, isso é talvez menos importante do que o facto óbvio das autoridades em ambos os países estarem a colaborar mais estreitamente. As duas potências podem competir entre si pelos recursos do continente africano, mas ambas compreendem perfeitamente o interesse que partilham na "estabilidade" financeira.



Se não está convencido desta evidência, considere o anúncio feito a semana passada de que a nova Empresa de Investimentos Estatais da China se prepara para investir $3 mil milhões no grupo norte-americano Blackstone de participações privadas e capital de risco. O grupo Blackstone foi fundado por Peter Peterson e Stephen Schwarzman, ambos antigos elementos da Lehman Brothers. Peterson é Presidente do Council on Foreign Relations e Schwarzman um dos seus membros. Estes homens são íntimos dos poderosos e estão por dentro de importantes negócios e negociações. E a venda de 10% da sua empresa ao estado comunista chinês completa o círculo que há muito fora previsto entre capitalismo e comunismo. Quando se trata de dinheiro, até os "vermelhos" vêem (notas) "verdes".

Durante a última ronda do diálogo estratégico, alguns membros do Congresso norte-americano denunciaram, como é da praxe, a política monetária chinesa e, em particular, a sua política cambial. Sinceramente, não merecem muita atenção. A probabilidade de existir no Congresso um número relevante de congressistas favoráveis a um dólar significativamente mais forte é próxima de zero. Os negócios da Wal-Mart, com uma base de custos chinesa e receitas que lhe vêm sobretudo do mercado norte-americano, são demasiado rentáveis para que isso possa acontecer.



O mundo está a dar passos largos na direcção de uma moeda única ou algo muito parecido com isso. O mecanismo global de taxas de câmbio tem funcionado bastante bem. Quando o ex Presidente da Reserva Federal norte-americana, Alan Greenspan diz, como o fez recentemente, que não está preocupado com o défice da balança de transacções correntes dos EUA, deveríamos prestar-lhe atenção. Ele compreende, melhor do que muitos, que esse é um problema financeiro e não económico, e que o financiamento está mais que garantido. E, nessas circunstâncias, a Lockheed Martin, a Boeing e outras empresas vão continuar a ganhar muito dinheiro vendendo os seus produtos à China. Como se costuma dizer, a situação é de "dois-em-um".

A questão da moeda e da globalização foi recentemente tema de um artigo na revista Foreign Affairs, que funciona geralmente como porta-voz do Council on Foreign Relations, em Nova Iorque. O artigo foi escrito por Benn Steil, director da organização para a economia internacional e empregado de Peter Peterson. Se estiver com pressa, escusa de ler mais do que o título do artigo : “O Fim da Moeda Nacional (The End of National Currency)”.

Para aqueles que dispuserem de tempo, todavia, aqui ficam os pontos principais do artigo de Steil:
•A globalização e as moedas nacionais são incompatíveis.
•Não existe uma alternativa à globalização.
•Por isso, não existe necessidade de moedas nacionais.
•O controlo sobre as moedas nacionais não é um elemento essencial de soberania nacional.
•O dólar e o euro são basicamente ideias absurdas.
•O dinheiro privatizado, tendo por base o ouro, poderá ser a onda do futuro.
•Entretanto, todos os países deviam abandonar as suas moedas nacionais e aderir ao bloco do dólar, euro ou a um bloco asiático.

Nada disto deveria constituir uma surpresa, considerando quem é o patrão de Steil. Na verdade, o artigo até é uma formulação bem vinda daquilo que são as ideias do seu patrão sobre dinheiro, nações e nacionalidades. É óbvio que quem acabar por controlar o sistema que ele advoga conquistará o poder soberano num mundo globalizado que Steil implicitamente assume como inevitável e desejável. Mas o autor não gasta o tempo precioso dos seus leitores como ideias perturbantes como esta. Em vez disso, ele vira do avesso esse facto óbvio e afirma que as moedas nacionais são incompatíveis com a "globalização". E vai mesmo mais longe, culpando noções ultrapassadas e mesmo irrelevantes de soberania pela volatilidade dos mercados financeiros ao longo dos últimos trinta anos. Ao fazê-lo, ignora um argumento mais persuasivo: o de que a causa das crises sucessivas cuja responsabilidade ele atribui aos nacionalistas monetários pode, na verade, ser o próprio processo de centralização monetária global que vem propôr aos seus leitores.

Para poupar tempo aos seus leitores ocupados, Steil também não define o que entende por globalização, o que acaba por ser muito conveniente. Mas não para aqueles que têm tempo para pensar sobre estas coisas, porque aquilo a que Steil se refere com tanta ligeireza como globalização é, na verdade, apenas a versão de um grupo sobre o que poderá ser um mundo interligado, isto é, um mundo em que esse grupo controlará todo o dinheiro e crédito. Nesta versão da globalização, o controlo sobre a riqueza real do planeta será garantido pela centralização do controlo do dinheiro e do crédito e pela organização "flexível" da produção, de modo a que esta possa ser deslocada para as regiões onde os custos do trabalho tiverem sido reduzidos para os níveis mais baixos possíveis.

Estas prioridades destinam-se, claramente, a favorecer uma minoria, sendo óbvio que não são conciliáveis com o pluralismo político. Como economista competente e empregado leal que é, Steil consegue evitar falar de política, poupando desse modo ainda mais tempo aos seus leitores.

Existe, todavia, uma outra versão de globalização, em que a produção se localizará o mais próximo possível dos mercados que pretende servir. Nesta versão da globalização, o trabalho receberá uma parcela mais significativa dos lucros e irá gerir ele próprio os processos de produção agrícola e industrial, reduzindo os custos através da eliminação da placa arterosclerótica empresarial que é uma consequência da política mas entope as artérias da economia, duplicando o trabalho e desviando capital dos investimentos produtivos. Nesta versão da globalização, o controlo do dinheiro e do crédito seria local e não global, tornando muito mais difíceis os empréstimos de carácter predatório. Esta versão da globalização depende, por definição, da existência de pluralismo político.

Steil não discute esta alternativa, talvez porque a considera completamente irrealista no quadro da mundovisão que ele tão bem serve. E, devo confessá-lo, também eu a considero irrealista e mesmo utópica. Contudo, existem motivos para duvidar de tal perspectiva.

Entre eles sobressai uma outra questão que Steil não refere, e que é o facto da produção mundial de petróleo, gás e carvão ter atingido um pico, anunciando o fim do crescimento fantástico da produção mundial que a exploração dessas fontes fósseis de energia solar permitiu ao longo dos últimos duzentos e cinquenta anos. Com efeito, a versão alternativa da globalização que alguns imaginam e que atrás foi esboçada pode bem ser uma forma melhor de organizar o mundo para a maioria dos seus habitantes do que aquela de que o Council on Foreign Relations nos quer fazer querer que é a única possível.

Mas não fiquem de respiração suspensa enquanto esperam por ela.


*Chris Sanders é consultor de investimento especializado na análise de economia política global

Tradução de Luís Pinto


ODiario.info

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