VoyForums
[ Show ]
Support VoyForums
[ Shrink ]
VoyForums Announcement: Programming and providing support for this service has been a labor of love since 1997. We are one of the few services online who values our users' privacy, and have never sold your information. We have even fought hard to defend your privacy in legal cases; however, we've done it with almost no financial support -- paying out of pocket to continue providing the service. Due to the issues imposed on us by advertisers, we also stopped hosting most ads on the forums many years ago. We hope you appreciate our efforts.

Show your support by donating any amount. (Note: We are still technically a for-profit company, so your contribution is not tax-deductible.) PayPal Acct: Feedback:

Donate to VoyForums (PayPal):

18/04/24 10:13:17Login ] [ Contact Forum Admin ] [ Main index ] [ Post a new message ] [ Search | Check update time | Archives: 12345678[9] ]
Subject: Re: Nada de novo sobre a terra


Author:
Gira que Gira e torna a girar
[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]
Date Posted: 16/12/06 12:52:22
In reply to: José Pacheco Pereira 's message, "Nada de novo sobre a terra" on 15/12/06 14:34:32

>Nada de novo sobre a terra
>José Pacheco Pereira
>
>
>
>Durante dias arrumei velhos papéis dos últimos anos do
>século XIX e primeiros do século XX, que popularizavam
>duas correntes político-ideológicas, próximas, mas
>distintas: o anarquismo e o sindicalismo
>revolucionário. Junto com esta colheita vem sempre
>outra por proximidade, dos tempos e das pessoas,
>propaganda republicana e panfletos anticlericais.
>Estes papéis são facilmente reconhecíveis para quem
>tenha treino de livros velhos e de alfarrabistas.
>Pequenos, muitas vezes mais pequenos do que um bolso,
>raras vezes chegando às trinta páginas, num papel mau,
>com capas tão finas que se rasgam com muita
>facilidade. Tinham que ser baratos e eram feitos para
>pessoas que não estavam muito habituadas a ler e quase
>não tinham cultura formal. As ilustrações são escassas
>e rudimentares, mas a iconologia é típica. Retratos
>dos mestres, gravuras ou zincogravuras, com Tolstoi,
>Bakunine, Reclus, Hamon, e várias figurações que têm
>como centro ou o horizonte o Sol.
>Eram fiéis a séculos de imaginário bíblico, mesmo sem
>o perceberem. Eles não sabiam que o Sol que lá
>aparecia era o mesmo Sol que ilustrava as capas dos
>livros de catecismo, e onde no catecismo ocupava o
>lugar de Deus, para eles estava o Futuro. Aquele Sol
>era o Futuro, ou seja, o sentido inscrito na História,
>e as personagens que o rodeavam, o apontavam, para ele
>caminhavam eram figuras masculinas - os homens sempre
>mais altos do que as mulheres, os homens levando atrás
>de si a família, a mulher e os filhos, mas sempre os
>homens como actores - que caminhavam do mundo de
>miséria quotidiana para a Jerusalém Libertada, para a
>Nova Jerusalém. De Babilónia para Jerusalém, era todo
>o programa da libertação.
>A "emancipação" dos grilhões do presente, do trabalho
>escravo, fazia-se quase que magicamente - a
>iconografia militarizada e violenta é uma contribuição
>posterior do bolchevismo - pela "união", pela
>solidariedade e pela luta. Meia dúzia de frases que
>hoje nos parecem ingénuas, mas foram terrivelmente
>poderosas, ilustravam como dísticos esta literatura:
>"um por todos, todos por um", "paz entre nós, guerra
>aos senhores", "o homem livre sobre a terra livre",
>"quem não trabalha não come", "proletários de todo o
>mundo uni-vos!".
>No seu conjunto um pouco heteróclito, propaganda
>anarquista, sindicalista, pacifista, antimilitarista,
>antitouradas, vegetariana, neomalthusiana (ou seja, a
>favor do controlo dos nascimentos), homeopática,
>espírita nalguns casos, era a contracultura popular na
>época, que circulava entre um pequeno mundo de
>artesãos urbanos, tipógrafos, cinzeladores,
>marceneiros, canteiros, fragateiros, e mais meia dúzia
>de profissões já extintas. Era lida também por
>estudantes e intelectuais, quase sempre os mais
>remediados e desenraizados, vivendo o mundo mítico das
>mansardas, escrevendo versos e sonhando com uma versão
>social da Dama das Camélias no meio das chamas da
>revolução. Aquilino, Nemésio, Ferreira de Castro leram
>e ocasionalmente escreveram literatura próxima destes
>panfletos.
>Quando olho estes livrinhos frágeis - À Mocidade, A
>Evolução Legal e a Anarquia, Necessidade da
>Associação, A Conquista do Pão, No Café, Entre
>Camponeses, A Sociedade Futura e tantos outros -,
>endireitando as páginas dobradas, consertando os
>rasgões, protegendo-os com um plástico qualquer do
>Futuro que os envelheceu, não posso deixar de
>perguntar o que sobra de todos eles depois de cem anos
>de "guerra total" que nos endureceu face a todas estas
>ingenuidades. Mas mesmo que nada no nosso mundo do
>século XXI se pareça com o mundo das tabernas
>revolucionárias de Alcântara, não consigo deixar de
>ter uma forte sensação de déjà vu. Isto continua tudo
>por aí, quase da mesma maneira, o mesmo pensamento, a
>mesma visão, mesma pulsão igualitária, niveladora, os
>mesmos gestos simples e mágicos de que se espera o
>milagre da Revolução, a mesma ilusão de um mundo
>primitivo e feliz, sem egoísmo e sem maldade a não ser
>nos "de cima", nos "senhores". Este mundo está vivo e
>bem vivo na Internet, na Rede, no ciberespaço. Nada se
>cria, tudo se transforma.
>Nos dias de hoje todas as teorias da História, que
>sofreram a crise das teleologias, os herdeiros de
>Hegel, Marx e Teilhard de Chardin, reconverteram-se em
>utopias tecnológicas, que mais do que descritivas são
>programáticas, dizem-nos, com a felicidade de um
>sorriso, não só como as coisas vão ser assim, mas
>também como devem ser assim. Gente culta e
>inteligente, génios da tecnologia, que não sabem muita
>história, não escapam à ideia de que as novas
>tecnologias permitirão uma engenharia social poderosa,
>que nos tornará mais solidários (em Rede), mais
>poderosos na igualdade (as ideias niveladoras fazem o
>seu caminho com a noção de "empowerment"), num mundo
>que não precisa de mediações, não necessita de delegar
>poderes, mais felizes porque interagimos numa terra
>sem propriedade (os átomos dissolvem-se nos bits e
>estes não tem dono).
>Do Linux, e de todo o software grátis e "livre", a
>mágica palavra (lembram-se de "o homem livre sobre a
>terra livre"?), à saga teórica e prática contra os
>direitos de propriedade, que institucionalizou o velho
>"roubo" de que falavam Proudhon e Preobajensky; da
>"town hall democracy" à ideia de construir um mítico
>agora em que todos podem votar sobre todas as questões
>em tempo quase real, não sendo necessário nem um
>parlamento, nem um governo, podendo ser este apenas um
>grupo de tecnocratas executores das decisões da
>"comuna"; da Wikipédia, enciclopédia colectiva dos
>homens comuns que não precisam de "senhores", em que
>mais importante do que o rigor dos artigos é o facto
>de serem feitos por todos, onde são as massas que
>"fazem" a ciência (como se diz num comentário num
>blogue: "A wikipédia não é mesmo uma enciclopédia de
>autor. Prefiro assim. Prefiro que seja validada a
>opinião da generalidade, daqueles que verdadeiramente
>fazem algo pela disseminação de cultura. O
>conhecimento absoluto e pessoal está condenado com
>este novo critério editorial") ao "jornalismo dos
>cidadãos", em milhares de pequenos passos, a Revolução
>passou para a Rede e aí dissolve os poderes
>tradicionais. Passou também a Contra-Revolução, mas
>isso é toda uma outra história. Historiador

-Eu, estou pasmado.............................!
-É mesmo em de ter em conta!
-Que mente brilhante, que perspicácia!
-O homem é um fenómeno. -Só que chegou tarde é que a Roda já foi descoberta faz muitos e muitos anos, milhares mesmo e o pobre do Pacheco só se deu conta à uns dias atrás que ele gira, e não pára de girar por muito que Pachecos e Cia, só se dêem, quanta disso na alturas em que têm o rabo a arder.
Ou será que aprendeu alguma coisita com as biografias não autorizadas? - Tenho duvidas…!
Penso isso sim que gato escondido com rabo de fora de vez em quando gosta de recordar pecados velhos ou seja gosta de dar ares de quem não é ou melhor tem nostalgia dos dias em que se fazia passar por grande revolucionário de modos vários! Não passando de um grande aldrabão, como sempre foi e será.

[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]


Post a message:
This forum requires an account to post.
[ Create Account ]
[ Login ]
[ Contact Forum Admin ]


Forum timezone: GMT+0
VF Version: 3.00b, ConfDB:
Before posting please read our privacy policy.
VoyForums(tm) is a Free Service from Voyager Info-Systems.
Copyright © 1998-2019 Voyager Info-Systems. All Rights Reserved.