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Subject: Empreendedorismo


Author:
Lagido Domingos (Público, 17.12.2007)
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Date Posted: 18/12/07 17:13:00




Em Portugal e na Europa, trabalhar significa ter emprego. Daí que a maior parte da população activa empregada neste espaço trabalhe para terceiros - o Estado, frequentemente, ou empresas privadas. Muitas destas são empresas de grande dimensão e, por isso, grandes empregadoras. Enquanto isto, constata-se que o Velho Continente vem perdendo competitividade no contexto mundial, ao mesmo tempo que apresenta sintomas preocupantes de sustentabilidade. Para isto muito tem contribuído o processo de globalização, que, irremediavelmente, abre as fronteiras a países mais competitivos.
A situação é séria e exige uma reflexão ainda mais séria! Há várias razões que justificam a perda de competitividade. Contudo, apenas nos ocuparemos da falta de iniciativa empresarial. Importa saber o que está mal, em termos de organização do trabalho, e identificar o que se pode mudar. A primeira questão é perceber por que razão o emprego é, maioritariamente, por conta de outrem. A segunda é tentar antever como se poderá alterar a situação. Pode-se dizer que é por conta de outrem porque há outrem que dá emprego. É verdade. Mas esta situação está a mudar. O Estado prega aos quatro ventos que tem de reduzir as despesas de funcionamento, as grandes empresas fragmentam-se em empresas mais pequenas, com gestão autónoma, embora integradas em estratégias conjuntas. Este movimento leva a uma maior racionalização de recursos, nomeadamente recursos humanos, e, por conseguinte, a uma redução dos postos de trabalho, que nem sempre é real, com a preferência declarada pelo recurso a trabalho externo.
Não há dúvidas de que a redução do emprego por conta de outrem é imparável. Resta, então, a opção pelo trabalho por conta própria. Mas tal opção levanta problemas de adaptação. Nós estamos formatados para uma realidade que já passou e encaramos mal esta nova realidade.
Desde muito cedo, logo no ensino secundário, a opção faz-se por áreas que têm saída profissional - entenda-se que têm oferta de emprego por conta de outrem. Nunca se escolhem áreas abrangentes que permitam desenvolver a iniciativa e a criatividade. Nem o sistema de ensino estimula tais capacidades. Pelo contrário, redu-las. Tolera mal, o sistema de ensino, a iniciativa do aluno para fazer um trabalho sobre determinado tema, tolera mal uma sugestão para resolver de modo alternativo um problema de Física ou Matemática, tolera mal uma sugestão para uma visita de estudo. Mas tolera bem que o aluno seja obediente, que concorde com o professor, que seja pontual... enfim características apreciadas por quem comanda pessoas. Ensinar a comandar não interessa. Interessa, sobretudo, ensinar a obedecer.

Depois a sociedade vê com maus olhos quem tenta criar o seu negócio, ou a sua empresa. Diz-se logo que não vai dar, que vai ter muitas dificuldades, que só vai ter dores de cabeça, que não vai ter mercado... Se o negócio corre bem, a sociedade cala-se, nunca aplaude. Se corre mal, ainda antes de falir, já se diz a toda a gente que aquilo vai acabar, que não tem sucesso, que quis dar uma passada maior que a perna... Quando, ao fim e ao cabo, uma falência é equivalente a um mau resultado profissional de um trabalhador por conta de outrem. É assim que é entendido em sociedades que valorizam a iniciativa privada.
As instituições financeiras também vêem com maus olhos a iniciativa individual, apesar de fazerem o discurso contrário. Mesmo que o candidato a empresário demonstre bem as virtualidades do negócio, as instituições financeiras só financiam metade do investimento, na melhor das hipóteses. Mesmo assim, com avales pessoais, hipotecas, fianças... Mas são capazes de financiar montantes equivalentes de crédito pessoal só com uma conta-ordenado. Logo, não há dúvidas que privilegiam o trabalho por conta de outrem.
A administração pública é absolutamente insensível à iniciativa. Privilegia as normas, os pareceres, as licenças... Nunca há um órgão com carácter horizontal que indique o caminho mais curto a percorrer no labirinto da burocracia. Isto já sem se discutir a necessidade da burocracia. Pelo contrário, pelo caminho ainda aparecem as falsas pistas, às vezes de má-fé, só porque se pensa que ter uma empresa ou um negócio é uma forma de enriquecer facilmente.
Esta forma de ser e de estar tem de mudar. Os tempos são outros. Não inverter esta forma de ver o mundo, neste contexto globalizado, implica, numa primeira fase, a perda de competitividade. A perda de competitividade implica o agravamento do desemprego e este a redução da classe média. A mudança não é fácil. Há experiências de países europeus que, para susterem a perda de competitividade, reduziram o emprego, mas que continuam sem conseguir reduzir as elevadas taxas de desemprego. A sociedade adapta-se lentamente às novas realidades. A forma como a sociedade encara o trabalho talvez só se resolva no tempo de duas gerações. A pressão dos factos é que vai implicar a alteração da nossa forma de pensar. Mas, também, é necessário que, entretanto, o sistema de ensino e a regulação da organização do trabalho tenham esta realidade presente e ajudem a acelerar a mudança. Oxalá que sim.

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