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Subject: O que é ser comunista


Author:
aton (Público 07.11.2007)
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Date Posted: 22/11/07 13:21:25

Ser comunista, hoje, é lutar contra a injustiça social; é acreditar no fim do Estado; é querer o fim da luta de classes; é acreditar na igualdade entre todos; é querer o fim da exploração da humanidade; é acabar com a propriedade. Marx, para alguns, ainda está vivo, até nas universidades americanas. Mas 90 anos depois, nada disto pode ser separado da democracia. Porque não se pode ver a floresta sem se ver as árvores, todas e cada uma. Por São José Almeida

Noventa anos depois da revolução russa e quase uma década passada sobre a queda do Muro de Berlim, fará sentido falar em comunismo? Ainda há quem queira ser comunista? E o que é ser comunista hoje?

Dois militantes do Partido Comunista Português (PCP), Ruben de Carvalho e Urbano Tavares Rodrigues, dizem simplesmente que ser comunista é ser do partido. Mas Ruben de Carvalho, membro do Comité Central, lembra que até o PCP, vulgarmente identificado com o modelo soviético, já fez a sua crítica e demarcação do regime instaurado com a vitória dos partidários de Lenine.
Comunismo é indissociável da democracia e passa pela rejeição do regime soviético, diz Francisco Louçã, líder do Bloco de Esquerda (BE), que juntamente com o PCP integra o grupo de partidos com assento parlamentar que se assumem como herdeiros do comunismo. "Hoje, só se pode ser comunista a partir de uma rejeição profunda do que foi a herança do comunismo na URSS, que foi um projecto conspurcado, uma tragédia", defende este ex-trotskista.
O líder máximo do PCP, Jerónimo de Sousa, não quis falar sobre o que é ser comunista hoje. Adiou a resposta ao longo do mês de Outubro e acabou por alegar problemas de agenda.
Comunismo e democracia
Louçã insiste que só em democracia se pode ser comunista: "Defendendo a organização da sociedade com liberdade de expressão, liberdade sindical. A censura é incompatível com a liberdade."
Comunismo é liberdade, diz a escritora, Maria Teresa Horta, ex-militante do PCP. "Comunismo implica democracia, mas não a democracia que temos hoje. É mais. Ser comunista tem de ser compatível com a igualdade, com o feminismo, com a igualdade de género."
Mas se hoje já parece consensual que não há comunismo sem democracia, para os comunistas foi sempre consensual que o objectivo do comunismo é o fim do Estado.
"Comunismo é o fim do Estado e o fim da luta de classes, homens a viverem de bem uns com os outros", diz o escritor Urbano Tavares Rodrigues. O eurodeputado Miguel Portas, dirigente do BE e ex-militante do PCP, explicita: "Sou comunista no sentido em que aspiro a uma sociedade sem Estado e onde os conflitos entre seres humanos não sejam arbitrados por uma forma estatal." Auto-regulação da sociedade em igualdade é a ideia que elege Maria Teresa Horta: "Em liberdade e com tolerância. Não se pode ver a floresta sem se ver as árvores, todas e cada uma."
Hoje, faz sentido ser comunista porque os ideólogos ainda não inventarem uma coisa mais interessante, diz a ensaísta Eduarda Dionísio. No seu ideal, seria assim, parafraseando Marx: "A cada um segundo as suas necessidades, de cada um segundo as suas capacidades. Para mim, o principal é o fim da propriedade."
Para alguém que nunca se aproximou do PCP, como o encenador Jorge Silva Melo, o que lhe interessa são mesmo os vencidos do comunismo: Rosa de Luxemburgo, Bukharine, Gramsci e, em Portugal, os que saíram do PCP até 1954. "O que me interessa é a dialéctica. Assim como no catolicismo interessa-me tudo o que vem de Francisco de Assis, a sublevação dos pobres, o confronto entre Assis e Loyola, os jesuítas são os bolcheviques da Igreja. Aquilo que começa em 1848, a história da revolta urbana, é a minha história."
A questão social
O que esteve na origem da criação do ideário comunista? A pergunta é do filósofo João Maria de Freitas Branco, ex-militante do PCP. "Foram a injustiça social, as desigualdades na distribuição da riqueza e a exploração dos homens pelos outros homens." Para questionar de novo: "Alguma destas questões deixou de estar na ordem do dia? Será que a riqueza é hoje distribuída de forma mais justa? O fosso entre pobres e ricos reduziu-se drasticamente?" E remata: "A resposta parece-me óbvia e a minha resposta é, em letras maiúsculas, SIM."
Ruben de Carvalho diz que as questões são as mesmas de há cem anos e esses cem anos demonstram que a luta produz resultados. "Pelo menos não há, na Europa, crianças de oito anos nas minas a empurrar vagonetes."
Ainda há vanguarda?
Já o historiador Zé Neves, que terminou a sua tese de doutoramento sobre Comunismo e Nacionalismo em Portugal no Século XX e é ex-militante do PCP, dissocia hoje o comunismo de um conceito clássico no marxismo, o da necessidade de existir uma vanguarda política que conduza a transformação da sociedade. "Depois de 1990 [queda do Muro de Berlim], o comunismo deve discutir o poder não centralizado, que rompa com a prática vanguardista centralizada. A política tem de ser comum, contra a vanguarda. Comunismo deixa de ser um projecto histórico, enquanto poder."
Hoje, "o comunismo remete para a ideia de comunidade e de comunicação, de as pessoas terem poder todas elas", prossegue Zé Neves. O que "implica uma ruptura com a democracia representativa e a recusa da ideia de elite", explicando que "o antagonismo entre burguesia e proletariado é substituído pelo de elites e de massas". Precisamente, o "comunismo é a recusa da ideia de elite, da ideia de estrutura, de hierarquia", diz Zé Neves. E conclui: "O problema não é ter elites corruptas e prepotentes, a questão é não haver elites, a corrupção está em haver dirigentes e dirigidos. Há que cortar com a ideia de elites comunistas, o comunismo deve romper com o vanguardismo e ir-se construindo pelo comum."
Opinião diversa tem Freitas Branco, para quem a vanguarda continua a ser necessária. "Marx disse-nos claramente: "O comunismo é para nós um estado" [A Ideologia Alemã]. Ser comunista é simplesmente acreditar num movimento real, que materializa uma mudança. O comunista é aquele que acredita que o sistema em que vivemos não é em si um sistema último e definitivo. Qualquer sistema económico e político evolui para outra coisa."
Convicto de que a história não pára e a sociedade evolui, Freitas Branco adverte sobre a necessidade de existirem elites comunistas que façam a crítica da democracia tal como ela está organizada: "Uma questão de fundo que me preocupa e verifico, quase segundo a segundo, é esta expansão de uma cultura de mentira ou de cultura de ilusão. O homem, sabemo-lo, é um animal que mente e que sabe mentir. Há circunstâncias em que mente muito bem. E quando falamos de política vemos o triunfo de candidatos democráticos, assim retratados e muitas vezes todos alicerçados na mentira." Exemplificando o que entende por mentira, Freitas Branco refere: "No caso do comunismo, diz-se que a União Soviética e o Leste foram comunistas, é mentira, nunca houve países comunistas. Diz-se que Marx morreu. É um facto que morreu. Está sepultado. Mas no sentido em que é dito, é uma mentira empobrecedora, porque viramos as costas a um grande pensador. Quando se vê académicos a dizer que Marx está morto, é porem um rótulo de ignorância na sua própria testa. Quando não é só por ignorância, é terrorismo ideológico feito com desonestidade intelectual."
Daí que Freitas Branco seja da opinião de que "ser comunista, hoje, deve ser, acima de tudo, o assumir no terreno político de uma atitude de moralização e de credibilização dos actos políticos", devendo aquele que se considera comunista "opor-se frontalmente à cultura da mentira, ao ilusionismo político que hoje contamina todo o edifício da democracia". E insiste em que "o comunista deve moralizar a sociedade, prosseguir na verdade, na sinceridade, na racionalidade, num projecto a longo prazo de saneamento político contra os arrivistas - a democracia está cheia de arrivismo".
O internacionalismo
A crítica da mentira na política e da actual organização social é feita também por Ruben de Carvalho. Afirma que "a história de que o comunismo morreu é um embuste, até do ponto de vista teórico e científico, basta entrar numa universidade dos Estados Unidos". E interroga-se: "Houve derrotas? Pois houve. Mas depois da queda do Muro o mundo não está mais seguro nem mais justo."
Crítica semelhante à de Urbano Tavares Rodrigues. O escritor começa por sustentar que ser comunista hoje, em Portugal, é estar com o partido: "O partido que está na primeira linha da defesa dos trabalhadores, com os sindicatos, onde há greves, deslocalizações. Que cumpre um papel que ninguém cumpre, combate o novo capitalismo neoliberal." E conclui: "Não me arrisco a dizer muita coisa.
No entanto, penso que a ideia de revolução permanente que Trotsky, que Lénine acolhem supõe uma espécie de globalização. Hoje há uma outra globalização. O domínio das multinacionais e do grande capital espalhou-se por todo o mundo desenvolvido. Se se dá o colapso dessa globalização neoliberal e desumana, que tem levado a guerras, que contém uma política de barbárie, poderá haver democracias socialistas, de inspiração marxista."
Apesar de divergir sobre o papel do PCP, também Jorge Silva Melo defende que para o comunismo ser possível é preciso recuperar o internacionalismo, ainda que o apresente de forma diversa: "O que é fundamental no futuro é a internacionalização, a possibilidade de haver organizações em que a minha voz aqui é ouvida e repercute noutro lado, onde pessoas com ideias comuns possam ultrapassar as barreiras da língua, do lugar-comum, com um instrumento que é a Internet. Uma organização que construa pensamento, uma comunidade que pensa ultrapassando as barreiras da nação."
E Miguel Portas sublinha que o que importa hoje é saber como "se pode superar o capitalismo real, o que existe, não o dos livros". Na opinião deste eurodeputado do BE, "isso não é um combate especificamente comunista". E conclui: "Respeito imenso quem procura, a partir do comunismo, construir e refundar as razões do combate ao capitalismo, mas este combate está longe de se poder resumir à subjectividade comunista, enquanto mundividência, e mesmo ao marxismo, enquanto método de análise. Passou um século sobre essa história e essa história não é única, é uma história para que convergem muitos afluentes."

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