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Subject: Edgar comenta o debate estival à esquerda (Público)


Author:
Ãngelo Veloso
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Date Posted: 19:53:02 08/20/02 Tue

Ousar Pensar
Por EDGAR CORREIA
Terça-feira, 20 de Agosto de 2002

Ao "ousar lutar" e ao "ousar vencer" que já aí estão a convocar seguidores para novas e velhas certezas, propõe-se por isso associar a proclamação de "ousar pensar". Porque sem pensamento nem prioridade ao movimento de debate, a análise das derrotas e dos impasses que tolhem a esquerda acabará por ir morrer à praia

Num país em que escasseiam as novidades políticas e em que o debate de ideias raras vezes rompe com os proselitismos sectários e sobrevive às conveniências instaladas, não pode deixar de ser saudada a cadência com que, nas últimas semanas, continuam a suceder-se os artigos de opinião sobre a esquerda e o seu futuro.

Pode ser que daqui a algum tempo venha a concluir-se que tudo não passou de uma febre estival, daquelas que surgem tão de súbito como desaparecem, sem deixar rasto. E que volte tudo às certezas instaladas - decorrido o congresso do PS e dirimidos equilíbrios no seu interior, cumprida a corrida para a "pole position" em que se esgotam algumas vozes do Bloco, e reconduzida a direcção do PCP, finalmente, à gloriosa paz dos cemitérios.

Ou pode bem ser que não aconteça assim. Que o debate finalmente prossiga e extravase dos estados-maiores pouco críticos e ainda menos autocríticos que comandam a vida dos partidos de esquerda em Portugal. Que novos protagonistas surjam. E, sobretudo, que novas perguntas ou perguntas adiadas partam à procura de respostas inadiáveis.

Ao "ousar lutar" e ao "ousar vencer" que já aí estão a convocar seguidores para novas e velhas certezas, propõe-se por isso associar a proclamação de "ousar pensar". Porque sem pensamento nem prioridade ao movimento de debate, a análise das derrotas e dos impasses que tolhem a esquerda acabará por ir morrer à praia.

Não se trata apenas de ajuizar as variações eleitorais dos partidos e as responsabilidades pelo regresso da direita ao poder no nosso país. Nem será suficiente avaliar os iniludíveis sinais de crise que provêm das diversas organizações partidárias e que evidenciam uma profunda perda de influência na sociedade.

É prioritário um esforço de reflexão em torno da globalização neoliberal e das suas consequências estruturais de natureza política, social, e cultural, do tipo de percepção que os cidadãos têm das profundas alterações em curso, e da perturbante crise que atinge a própria política, as instituições e a cidadania. Urge tentar compreender as surpreendentes deslocações sociais que estão a suportar a progressão de uma direita "liberal", crescentemente autoritária, e do populismo da extrema-direita.

Importa a este respeito observar que a globalização que tem vindo a desenvolver-se nas últimas décadas significou, em primeiro lugar, a globalização dos fluxos de capital, como centro nevrálgico da economia e a liberalização das trocas comerciais. E que ela estendeu-se depois ao funcionamento dos mercados e estratégias, às políticas de liberalização, desregulamentação e privatização.

Ao impor de facto uma competição desigual entre economias nacionais com produtividades muito diferentes, a globalização neoliberal criou condições para exasperar dificuldades e acentuar assimetrias, para inverter o primado do social sobre o económico à escala de cada nação e limitar o poder político residente em cada país. Como observou Stiglitz, o prémio Nobel da Economia deste ano na sua última obra: "As recomendações do FMI, em parte assentes na hipótese ultrapassada segundo a qual o mercado atinge espontaneamente os resultados mais eficazes, não autorizam as intervenções desejáveis do Estado sobre o mercado: as medidas que podem guiar o crescimento económico e melhorar a sorte de todos."

A construção de uma esquerda capaz de enfrentar e resistir à globalização neoliberal e, simultaneamente, de desenvolver as linhas de uma alternativa que conquiste o apoio da maioria dos cidadãos não é um processo que possa ser desenvolvido num quadro puramente nacional. Ela exige uma redobrada iniciativa e uma articulação múltipla à escala internacional e, em primeiro lugar, ao nível comunitário.

Na sua estruturação dinâmica, a construção dessa esquerda coloca igualmente na ordem do dia a necessidade de uma nova forma de fazer política, com a crítica dos métodos cupulistas e a dinamização de novas experiências de participação cidadã em todos os domínios da vida política e social. Bem como o avanço para práticas de relacionamento entre diferentes organizações, que excluindo formas de intrumentalização e pretensões hegemónicas de qualquer tipo, assegurem o rigoroso respeito pelas diferentes posições e a criação de condições para a livre agregação de forças e vontades para a realização de acções comuns ou convergentes.

A ideia de realização em Portugal de um grande fórum público - os primeiros estados gerais da esquerda - aberto a todas as organizações interessadas, sejam elas de natureza política, social, cultural, ou académica, e aberto também à participação directa de cidadãos, pode constituir um privilegiado ponto de encontro e de debate, de reconhecimento e avaliação da situação, de amplificação das perspectivas de resistência aos objectivos da direita e, simultaneamente, de mobilização para um projecto alternativo, de aprofundamento da democracia, de esquerda e de poder.

Com o empenho de todos e com o respeito por todas as contribuições, com uma preparação que esteja à altura dos desafios que enfrenta, com uma tal iniciativa um outro futuro é possível para Portugal.

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