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Subject: Edgar Correia ao Público


Author:
Dolores Ibarruri
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Date Posted: 23:26:21 08/06/02 Tue

A Agenda da Esquerda
Por EDGAR CORREIA
Terça-feira, 6 de Agosto de 2002

Continua a fazer sentido recorrer ao referencial "esquerda" e "direita", para situar o debate e a luta política e ideológica no século XXI em que acabámos de entrar, mais de dois séculos decorridos desde a Revolução Francesa, na qual esses conceitos surgiram pela primeira vez

A reflexão estival de Mário Soares sobre o que é a esquerda hoje e o interesseiro e recorrente "remake" de Pacheco Pereira sobre a falta de "sentido" de dividir o mundo entre a esquerda e a direita vieram chamar a atenção nos últimos dias para a vivacidade do debate político e ideológico que está a decorrer (também entre nós) em torno da crise da esquerda e dos principais elementos definidores do seu futuro - do âmbito global ao local, das questões de contorno à definição de objectivos, das relações a estabelecer entre as expressões políticas, sociais e culturais.

Deixemos sublinhada à partida a nossa opção fundamental: continua a fazer sentido recorrer ao referencial "esquerda" e "direita", para situar o debate e a luta política e ideológica no século XXI em que acabámos de entrar, mais de dois séculos decorridos desde a Revolução Francesa, na qual esses conceitos surgiram pela primeira vez.

É evidentemente necessário reconhecer que, ao longo deste período, as posições que se foram historicamente assumindo como de esquerda, em contraposição com as que se foram assumindo como de direita, e diferenciadas das de um espaço intermédio e historicamente variável ao centro, tiveram protagonistas e contornos muito diferentes e assumiram distintos objectivos e combates.

Não é difícil de identificar nos ideais da soberania popular e da democracia - nos ideais mais do que nas suas concretizações - um elemento constitutivo do que podemos designar um património comum da esquerda. Mas o mesmo já não pode ser dito da necessidade da democracia económica que há mais de um século emergiu no pensamento socialista, pois ela não só não foi assumida de forma idêntica ou convergente pelas diversas correntes e movimentos, como essa continua a constituir uma dificuldade que se encontra longe de estar superada.

O quadro em que ao longo do século XX decorreu o debate político e ideológico no seio da esquerda, com a confrontação aguda entre correntes que disputavam entre si a supremacia e com a emergência da globalização, sofreu entretanto uma completa mutação.

A implosão da União Soviética e o fracasso da construção do socialismo, nos países de Leste, bem como a acentuada perda de influência e de atractividade dos partidos comunistas nos países ocidentais estão indissociavelmente ligadas à derrocada histórica do paradigma comunista-estalinista (entendido como concepção de sociedade e de partido que prevaleceu entre os comunistas a partir do final da década de 20 do século passado) e das práticas antidemocráticas a que ele esteve ligado. E corresponde a uma alteração sem retorno, que reabre a esperança de futuro descortinada por Marx.

Dizem os detractores que não há comunismo para além do paradigma comunista-estalinista, e que o comunismo se reduz definitivamente ao estalinismo. Esta é, aliás, a perspectiva que, sem surpresa, se observa em Mário Soares, um homem que percorreu grande parte da sua vida política no contexto ideológico da guerra fria e dos seus confrontos. E na qual acaba por radicar o hegemonismo com que aponta ao PS a "vocação federadora de todas as esquerdas", acompanhada pela recomendação de "muito diálogo, paciência e [utilização do] terreno das lutas comuns".

Em sentido diverso e contrário se empenham muitos renovadores comunistas. Sublinham-se aqui três aspectos.

Em primeiro lugar, assumindo abertamente a necessidade da renovação ideológica, política e organizacional da sua causa, retomando sem dogmas o caminho emancipador aberto no seu tempo por Marx, Lenine, Rosa Luxemburgo e Gramsci, e participando no trabalho de refundação de um paradigma comunista para o século XXI, promotor em todas as dimensões da vida social das mais avançadas formas de vivência democrática, em sintonia com as mudanças profundas dos novos tempos.

Em segundo lugar, procurando superar proselitismos estéreis e acusações extremadas que marcaram no passado as relações entre as diferentes organizações, correntes e sensibilidades de esquerda. Empenhando-se no desenvolvimento de uma nova cultura política que, sem negar o espaço de afirmação própria de cada organização ou sensibilidade, e muito menos do debate aberto das suas concepções e propostas e da natural disputa democrática de espaços de influência, caminhe para um novo relacionamento que valorize a diversidade de pontos de vista enquanto expressão das diferenciações classistas e outras de diferente natureza que se desenvolvem na própria sociedade, o debate informado e argumentado das questões e a incessante procura de terrenos mais largos de convergência.

Por último, assumindo a esquerda como o vasto espaço de todos os que se situam de uma forma mais ou menos crítica em relação às orientações neoliberais, e que estão por isso confrontados com um desafio de uma magnitude sem precedentes: a necessidade de encontrar uma linha de resposta política, económica e ideológica para os gravíssimos problemas com que a presente globalização está a confrontar todos os povos e nações do mundo.

Nesta globalização, importa evidentemente distinguir os processos de natureza objectiva, que correspondem a necessidades e a realizações de um estádio de maior desenvolvimento da humanidade, da subordinação crescentemente contraditória desses processos à maximização do lucro e à extensão acelerada do domínio do capitalismo global, assente nos interesses do sector financeiro e numa competição sem limites em termos sociais e humanos, cujas graves consequências económicas, sociais e ecológicas suscitam apreensões e críticas cada vez mais generalizadas.

É um sinal positivo que o debate à esquerda comece a não estar confinado à crítica dos malefícios da globalização neoliberal (cujo aprofundamento continua, sem dúvida, a ser necessário), mas que tenha começado a orientar-se para a questão das alternativas, ou seja, para a questão dos conteúdos e das orientações fundamentais dessa outra globalização que, na expressão voluntarista adoptada pelo Fórum Social Mundial de Porto Alegre, proclama que "um outro mundo é possível".

Progredindo através das diferenças, esta é a agenda que se impõe à esquerda
A Agenda da Esquerda
Por EDGAR CORREIA
Terça-feira, 6 de Agosto de 2002

Continua a fazer sentido recorrer ao referencial "esquerda" e "direita", para situar o debate e a luta política e ideológica no século XXI em que acabámos de entrar, mais de dois séculos decorridos desde a Revolução Francesa, na qual esses conceitos surgiram pela primeira vez

A reflexão estival de Mário Soares sobre o que é a esquerda hoje e o interesseiro e recorrente "remake" de Pacheco Pereira sobre a falta de "sentido" de dividir o mundo entre a esquerda e a direita vieram chamar a atenção nos últimos dias para a vivacidade do debate político e ideológico que está a decorrer (também entre nós) em torno da crise da esquerda e dos principais elementos definidores do seu futuro - do âmbito global ao local, das questões de contorno à definição de objectivos, das relações a estabelecer entre as expressões políticas, sociais e culturais.

Deixemos sublinhada à partida a nossa opção fundamental: continua a fazer sentido recorrer ao referencial "esquerda" e "direita", para situar o debate e a luta política e ideológica no século XXI em que acabámos de entrar, mais de dois séculos decorridos desde a Revolução Francesa, na qual esses conceitos surgiram pela primeira vez.

É evidentemente necessário reconhecer que, ao longo deste período, as posições que se foram historicamente assumindo como de esquerda, em contraposição com as que se foram assumindo como de direita, e diferenciadas das de um espaço intermédio e historicamente variável ao centro, tiveram protagonistas e contornos muito diferentes e assumiram distintos objectivos e combates.

Não é difícil de identificar nos ideais da soberania popular e da democracia - nos ideais mais do que nas suas concretizações - um elemento constitutivo do que podemos designar um património comum da esquerda. Mas o mesmo já não pode ser dito da necessidade da democracia económica que há mais de um século emergiu no pensamento socialista, pois ela não só não foi assumida de forma idêntica ou convergente pelas diversas correntes e movimentos, como essa continua a constituir uma dificuldade que se encontra longe de estar superada.

O quadro em que ao longo do século XX decorreu o debate político e ideológico no seio da esquerda, com a confrontação aguda entre correntes que disputavam entre si a supremacia e com a emergência da globalização, sofreu entretanto uma completa mutação.

A implosão da União Soviética e o fracasso da construção do socialismo, nos países de Leste, bem como a acentuada perda de influência e de atractividade dos partidos comunistas nos países ocidentais estão indissociavelmente ligadas à derrocada histórica do paradigma comunista-estalinista (entendido como concepção de sociedade e de partido que prevaleceu entre os comunistas a partir do final da década de 20 do século passado) e das práticas antidemocráticas a que ele esteve ligado. E corresponde a uma alteração sem retorno, que reabre a esperança de futuro descortinada por Marx.

Dizem os detractores que não há comunismo para além do paradigma comunista-estalinista, e que o comunismo se reduz definitivamente ao estalinismo. Esta é, aliás, a perspectiva que, sem surpresa, se observa em Mário Soares, um homem que percorreu grande parte da sua vida política no contexto ideológico da guerra fria e dos seus confrontos. E na qual acaba por radicar o hegemonismo com que aponta ao PS a "vocação federadora de todas as esquerdas", acompanhada pela recomendação de "muito diálogo, paciência e [utilização do] terreno das lutas comuns".

Em sentido diverso e contrário se empenham muitos renovadores comunistas. Sublinham-se aqui três aspectos.

Em primeiro lugar, assumindo abertamente a necessidade da renovação ideológica, política e organizacional da sua causa, retomando sem dogmas o caminho emancipador aberto no seu tempo por Marx, Lenine, Rosa Luxemburgo e Gramsci, e participando no trabalho de refundação de um paradigma comunista para o século XXI, promotor em todas as dimensões da vida social das mais avançadas formas de vivência democrática, em sintonia com as mudanças profundas dos novos tempos.

Em segundo lugar, procurando superar proselitismos estéreis e acusações extremadas que marcaram no passado as relações entre as diferentes organizações, correntes e sensibilidades de esquerda. Empenhando-se no desenvolvimento de uma nova cultura política que, sem negar o espaço de afirmação própria de cada organização ou sensibilidade, e muito menos do debate aberto das suas concepções e propostas e da natural disputa democrática de espaços de influência, caminhe para um novo relacionamento que valorize a diversidade de pontos de vista enquanto expressão das diferenciações classistas e outras de diferente natureza que se desenvolvem na própria sociedade, o debate informado e argumentado das questões e a incessante procura de terrenos mais largos de convergência.

Por último, assumindo a esquerda como o vasto espaço de todos os que se situam de uma forma mais ou menos crítica em relação às orientações neoliberais, e que estão por isso confrontados com um desafio de uma magnitude sem precedentes: a necessidade de encontrar uma linha de resposta política, económica e ideológica para os gravíssimos problemas com que a presente globalização está a confrontar todos os povos e nações do mundo.

Nesta globalização, importa evidentemente distinguir os processos de natureza objectiva, que correspondem a necessidades e a realizações de um estádio de maior desenvolvimento da humanidade, da subordinação crescentemente contraditória desses processos à maximização do lucro e à extensão acelerada do domínio do capitalismo global, assente nos interesses do sector financeiro e numa competição sem limites em termos sociais e humanos, cujas graves consequências económicas, sociais e ecológicas suscitam apreensões e críticas cada vez mais generalizadas.

É um sinal positivo que o debate à esquerda comece a não estar confinado à crítica dos malefícios da globalização neoliberal (cujo aprofundamento continua, sem dúvida, a ser necessário), mas que tenha começado a orientar-se para a questão das alternativas, ou seja, para a questão dos conteúdos e das orientações fundamentais dessa outra globalização que, na expressão voluntarista adoptada pelo Fórum Social Mundial de Porto Alegre, proclama que "um outro mundo é possível".

Progredindo através das diferenças, esta é a agenda que se impõe à esquerda

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Subject Author Date
Não há comunismo sem EstalineJosé Estaline00:04:50 08/07/02 Wed


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