| Subject: Já agora podíamos reflectir um pouco |
Author:
Aguaviva
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Date Posted: 16/06/05 13:06:55
In reply to:
Secretariado do Comité Central do PCP
's message, "Faleceu Álvaro Cunhal" on 14/06/05 13:39:29
Aguaviva, 11:21 16 Junho 2005, expresso-on-line
Já agora podíamos reflectir um pouco
Já se escreveu muitas vezes - a propósito de outros acontecimentos - que a opinião publicada é por vezes distante anos-luz, da opinião pública, ou de parte significativa dela. É o caso p.ex. da construção europeia que tem entusiasmado a classe política e mass media mas tem deixado indiferentes quando não desconfiados, os cidadãos europeus.
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A respeito do Álvaro Cunhal e do seu grandioso funeral - a que eu assisti e já há muito tempo que não via uma coisa assim - é certo que, por um momento, se reviveu o ambiente electrizante e mobilizador do PREC - e só quem viveu esse tempo sabe do que falo.
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E porquê? Porque é que Álvaro Cunhal, tão vilipendiado pela comunicação social e pela classe política e apelidado de tudo - de perdedor, de ditador, de fanático, de cego, etc - consegue tal adesão, tal carinho, tal simpatia mesmo por quem não é nem nunca foi comunista?
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Porque há gente que se sente cada vez mais marginalizada. Que grande parte do nosso povo só é lembrado para pagar o défice. Ou para ir votar. Para o resto do tempo é simplesmente esquecido e votado ao desprezo. E muitos sentiam que Álvaro Cunhal se preocupava genuinamente com eles, com as suas condições de vida, se tinham emprego, se os filhos podiam ir à escola. E sabiam que Cunhal era diferente de todos os outros políticos. Não criticava os outros para depois fazer exactamente o mesmo. Não vendia os ideais quando lhe dava jeito. Em condições duríssimas manteve as suas convicções, nunca traiu. E o povo admira a coragem. E além disto, para além desta faceta de lutador que, vindo duma classe privilegiada que podia ter uma vida boa mas que, de tudo abdicou até ao final da vida, aliava um comportamento irrepreensível, mesmo com os seus adversários, uma elegância de trato, uma educação para com todos, desde o presidente da República - como ontem Eanes lembrou - ao mais humilde dos portugueses. Que diferença em relação a muitos que variam a sua atitude para com os outros, em função do dinheiro ou da aparência do interlocutor.
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Cunhal foi um ser de excepção e alguém que se preocupou com os excluídos da sociedade. Poderão dizer-me que o comunismo provou não solucionar os problemas da humanidade e dos mais pobres e que o proletariado desapareceu como tal. Mas ... os excluídos desapareceram? Cada vez há mais neste mundo e sentem que são esquecidos por todos. Desenganem-se meus senhores: enquanto existiram estes párias da sociedade, nem Cunhal nem Vasco Gonçalves serão os últimos moicanos ou então outros os substituirão porque os deserdados da sorte precisam de alguém que lhes deem uma réstia de esperança, uma razão para existir na luta impiedosa pela sobrevivência!!!
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