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Subject: O dilema dos PCs


Author:
António Fagundes
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Date Posted: 17/05/05 23:05:28
In reply to: Augusto Mendes 's message, "O problema das trocas comerciais com a China, a ìndia e o Paquistão é complexo" on 17/05/05 18:43:27

O problema da concorrência é complexo, lá isso é, mas mais complexo, ainda, é o problema das posições assumidas pelo PCP. E, neste campo, o pc mais parece-se mais com uma organização sindical reformista e feita com o patronato da economia nacional do que com um partido político revolucionário e comunista.
Não é de agora a defesa do tecido produtivo nacional, da economia nacional, por parte do PCP. Se não é de sempre (porque se a sua política durante o fascismo foi predominantemente orientada para a luta pelas liberdades, não pôde fugir ao apoio de muitas greves espontâneas contra a fome e os salários de miséria), é, pelo menos, desde o 25 de Abril. Desde então, com um pretexto ou com outro (convém lembrar que muitas reivindicações dos trabalhadores eram travadas com o epíteto de que faziam o jogo da reacção), o PCP sempre se opôs à luta dos trabalhadores por melhores salários, e essa sua orientação política acentuou-se com a alteração da composição da sua base de apoio e de militância (que passou a integrar quadros e pequenos e médios empresários oriundos das camadas mais bem pagas do operariado e que nunca cortaram com a militância ou o apoio ao partido de que foram membros ou simpatizantes).
Até não há muito tempo, as palavras de ordem (e o pouco trabalho de mobilização) da CGTP (totalmente controlada pelo PCP) orientavam-se mais para o trabalho com direitos do que para a reivindicação salarial, e a própria recusa na subscrição dos pactos de concertação social serviam plenamente essa estratégia deliberada, nomeadamente, porque não subscrevendo não acarretava com o ónus da colaboração, permitindo-lhe manter um discurso reivindicativo de fachada, mas em nada contribuía para a sua não concretização nos termos em que era subscrita pelos sindicatos do frete. Até hoje, o PCP (para não falar na CGTP) não falou do impacto que a importação de mão-de-obra imigrante teve e tem na degradação do salário e no enfraquecimento da capacidade reivindicativa dos trabalhadores portugueses, e nada fez para se opor à mais descarada liberalização do mercado de trabalho. E aponto apenas estes dois factores (a mobilização e a defesa do mercado de trabalho), que com a situação de crise ou de expansão da economia são dos mais relevantes para determinar o êxito da luta pela valorização do salário no produto, ao contrário do que o PCP quer fazer crer às massas (que a valorização do salário se faz pela acção do Estado do capital ou pelo retorno compensatório da condescendência para com os capitalistas nacionais).
Por muito badaladas que sejam agora as retóricas do PCP acerca dos salários baixos, elas em nada alteram a situação, porque não passam disso mesmo e porque os trabalhadores portugueses estão de cócoras, sem qualquer capacidade reivindicativa. Uma vez mais, portanto, quando verte lágrimas de crocodilo pelos salários baixos, o PCP não defende os interesses dos trabalhadores portugueses. E uma vez mais, também, quando aparece a defender a economia nacional, nomeadamente, o sector mais parasitário dos salários baixos, através de paliativos restritivos à concorrência asiática ou através de subsídios que apenas permitirão prolongar esse parasitismo, o PCP não serve os interesses dos trabalhadores portugueses.
A quem serve, então, o PCP? Eventualmente (para não ser mais contundente), a sua clientela de quadros técnicos, de micro, pequenos e médios empresários (os mais afectados por qualquer elevação do salário, os quem mais foge aos impostos, os quem mais se comporta como capitalistas parasitários); certamente, os seus próprios quadros, através da defesa da sua própria existência de partido defensor dos pobres e dos desvalidos da sorte, que só poderá manter-se com alguma expressão política relevante se na sociedade persistirem os salários baixos, o desemprego e as representações tradicionais acerca do fado de quem trabalha: a miséria.
Na situação de desaparecimento do chamado campo socialista, quando a revolução se apresenta cada vez mais longínqua porque desapareceu o baluarte que permitia manter acesa alguma réstia da chama da esperança pela ajuda externa (com apoios de toda a ordem, sem desprezar qualquer possibilidade de intervenção militar), aos PCs apenas resta dois caminhos: assumir uma postura radical e internacionalista, regressando ao mais genuíno radicalismo marxista, apoiando e incentivando as reivindicações dos trabalhadores e a própria globalização, contribuindo para o acelerar do esgotamento do capitalismo; remeter-se a um reformismo de fachada, que mantenha ou agrave o status quo, adoptando a lamúria como táctica e a defesa da economia nacional (a defesa dos capitalistas nacionais, em último caso os capitalistas lusos que não se podem internacionalizar, isto é, os micro, pequenos e médios empresários ou a fracção mais retrógrada do capitalismo) como estratégia.
Este o grave dilema dos PCs. Pelo que nos mostram, os que sobrevivem, como o PCP, já escolheram o seu campo.

António Fagundes.

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Replies:
Subject Author Date
Contundente e bem observadoAugusto Mendes17/05/05 23:18:43
Pois é mas o fascismo acabou em 25 de Abril, Olé ...astérix18/05/05 0:08:54


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