| Subject: Divergências sobem de tom na "família antifascista" |
Author:
João Mesquita
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Date Posted: 19/05/05 13:55:26
In reply to:
Eduardo Miragaia
's message, ""um golpe objectivo do PS, para arranjar um pretexto visível para a sua luta contra o PCP"..." on 19/05/05 13:38:57
Divergências sobem de tom na "família antifascista"
João Mesquita, JN, 19/05/05
António de Spínola, o primeiro chefe de Estado do pós-ditadura, é visita frequente do gabinete de Raul Rego, no "República", nos meses que antecedem o 25 de Abril de 74. Não é por acaso o jornal que Rego dirige até 19 de Maio de 75 é, juntamente com o "Diário de Lisboa", a principal voz da oposição antifascista.
A convivência entre Spínola e o director do "República" coexiste, porém, com divergências internas no jornal, como consequência da tomada de quase cem por cento das acções por parte de personalidades ligadas ao nascente Partido Socialista. Na bolsa dos dinheiros, em que Mário Soares também entra, Rego é o accionista principal, seguido de Ribeiro de Carvalho, antigo director do vespertino, e de António Almeida Santos.
As contradições agravam-se após a queda da ditadura. Diversos jornalistas considerados à esquerda do PS - Miguel Serrano, Assis Pacheco, Eugénio Alves, Fernando Cascais, José Jorge Letria, Figueiredo Filipe, Gonçalves André, Álvaro Esteves... - abandonam o jornal, acusando-o de dar um "tratamento preferencial às iniciativas" socialistas. Ao mesmo tempo, cresce a insatisfação interna, designadamente por parte dos tipógrafos e dos trabalhadores com salários mais baixos, face à situação laboral.
É a esse descontentamento que o director comercial Álvaro Belo Marques dá corpo, nomeadamente num relatório que entrega à Administração, em Janeiro de 75, onde defende a "necessidade imperiosa" de reformular o periódico. Isto, invocando uma "prospecção de mercado" feita por "uma empresa especializada", a qual teria demonstrado, "com rigor, incluir-se a aparatosa quebra de vendas do jornal no seu marcado partidarismo».
Daí até ao pedido de demissão de Belo Marques, em 2 de Maio, logo seguido de uma afirmação de confiança da parte da maioria dos trabalhadores da empresa, vai um passo. Um passo que separa, duas semanas depois, a prática do "controlo operário" do "República" da quase totalidade dos seus jornalistas.
Não por acaso, nesse mesmo 2 de Maio, o jornal não sai para as bancas e o PS manifesta-se nas ruas contra o que considera ter sido o impedimento do PCP a que Mário Soares discurssasse, na véspera, aos trabalhadores reunidos num gigantesto comício da CGTP. "A partir daí, devido ao apoio popular que nos rodeara, vislumbrámos que poderíamos elevar o tom de voz", explicará Mário Soares a Maria João Avilez, duas décadas depois, no livro "Ditadura e Revolução". Duas semanas depois, a crise está ao rubro.
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