VoyForums
[ Show ]
Support VoyForums
[ Shrink ]
VoyForums Announcement: Programming and providing support for this service has been a labor of love since 1997. We are one of the few services online who values our users' privacy, and have never sold your information. We have even fought hard to defend your privacy in legal cases; however, we've done it with almost no financial support -- paying out of pocket to continue providing the service. Due to the issues imposed on us by advertisers, we also stopped hosting most ads on the forums many years ago. We hope you appreciate our efforts.

Show your support by donating any amount. (Note: We are still technically a for-profit company, so your contribution is not tax-deductible.) PayPal Acct: Feedback:

Donate to VoyForums (PayPal):

6/06/24 4:07:26Login ] [ Contact Forum Admin ] [ Main index ] [ Post a new message ] [ Search | Check update time | Archives: 12[3]45678 ]
Subject: Presidenciais – a direita dividida


Author:
José Paulo Gascão
[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]
Date Posted: 15/09/05 12:05:54
In reply to: observador lucido 's message, "Nao necessariamente" on 15/09/05 9:28:17

Presidenciais – a direita dividida
por José Paulo Gascão


Vai para dois anos que Cavaco, escaldado com a derrota de há 10 anos, começou a gerir o tempo de lançamento da sua candidatura à Presidência da Republica . A servil comunicação social portuguesa, pressurosa, acorria à convocação e trombeteava, urbi et orbe, o banal comentário como se de ideia profunda se tratasse, comentava o simples artigo com um alarido despropositado, não fora tudo fazer parte da longa, meditada e programada manobra. Pretendia-se criar a ideia do distanciamento que a docência propicia e iludir a realidade: a declaração de retirada para a docência em 1996, depois da humilhante derrota nas presidenciais, escondia mas não esbateu a desmedida ambição de poder do omnisciente professor. A direita, parecia, tinha encontrado o candidato a apoiar, sem que este necessitasse de assumir a candidatura.

Ao longo de dois anos procurou-se adoçar a indisfarçável arrogância, esquecer as gravíssimas lacunas culturais, apresentando Cavaco Silva como o salvador da crise de que ele foi o primeiro e um dos principais responsáveis. Tentaram vende-lo como a última essência da competência, esbatendo as suas imensas responsabilidades, enquanto primeiro ministro, no aumento do desemprego (mais de 400.00 desempregados), do déficit das contas públicas que em 1993 chegou aos -8,9%, das falências sem conta que então se verificaram, da instabilidade criada no emprego com a Lei da sub-contratação, etc, etc.

Será preciso lembrar forma como Cavaco Silva passou o testemunho a Fernando Nogueira quando viu que a vitória do PS de Guterres (também de má memória) era irreversível, a sua relutância a disputar as eleições presidenciais em 1996, para que foi muito empurrado e a contragosto, e na qual sofreu esmagadora derrota?

A forma arrogante e autoritária como sempre se comportou e a forma como os seus apaniguados o tentam agora apresentar esconde a tentativa de passar para Belém, institucionalmente ou de facto, a política de direita da responsabilidade do PSD e do PS, desde o I governo constitucional. A candidatura de Cavaco Silva, pelas ideias subjacentes e por apoios que já concitou até antes de ser assumida, só pode perspectivar um período de instabilidade e conflituosidade com o governo, de que a principal vítima será o povo português.

Enquanto Cavaco Silva preparava a sua putativa candidatura, o PS, multiplicando o lançamento de nomes como se de pães se tratasse, todos eles passados pelo funil da fidelidade à política neoliberal, aos ataques ao estado social e ao balancear submisso aos interesses imperialistas, afastou a possibilidade de candidatura de um cidadão português, maior de 35 anos e no pleno uso dos seus direitos, de esquerda, que enfrentasse e derrotasse a direita nas eleições presidenciais. Mesmo que esse cidadão fosse socialista ou da área ideológica do PS.

Sem nome credível avançado, num processo indecoroso, lançaram a lebre Manuel Alegre, enquanto no segredo dos gabinetes, Sócrates e Mário Soares acordavam os trâmites da manobra que levou este último a decidir o que há muito tinha pensado: o candidato sou eu!

Os mídia logo sentenciaram: a esquerda já tem o candidato capaz de enfrentar, e eventualmente derrotar, Cavaco Silva.

Pura mistificação, trata-se de dois candidatos da direita, pelo passado, pelas opções e pelos apoios, alguns comuns, que congregam no poder económico. Mário Soares foi o líder da contra-revolução, transformando o PS no guarda-chuva protector de toda a direita que procurasse abrigo. Aliou-se a Spínola formando, na opinião de Álvaro Cunhal "uma das mais estáveis e duradouras alianças político-militares do processo contra-revolucionário". Logo no 1º Governo Provisório, "sempre (me) expôs [a Spínola], com a máxima lealdade, as suas opiniões e me alertou para os perigos [o processo revolucionário, com a ampla participação do povo português que se sabe] que o País estava a correr com base na actuação do PC", tendo tido conhecimento antecipado, se não mesmo participação, no golpe Palma Carlos: reuniu com Palma Carlos, à margem do governo de que fazia parte e sem o avisar como era do seu mais elementar dever de lealdade (que é isso?), tendo-lhe, então, sido exposto o plano golpista de Spínola. Diz que discordou, mas logo acrescenta que isso não pressupunha a sua vontade "de que o general Spínola caísse ou saísse de cena", pois queria aguentá-lo.

Aliás, depois de Spínola ter conspirado, de armas na mão, contra a revolução de Abril (11 de Março de 1975) e ter dirigido a rede bombista que lançou morte e destruição no Portugal de Abril, promove o seu regresso sem julgamento a Portugal e atribui-lhe o cargo de chanceler das ordens!

Renegando expressamente o socialismo, engavetou-o até hoje, promove activamente a divisão do movimento operário e sindical, inicia a recuperação capitalista, incentiva o regresso dos monopolistas que foram o sustentáculo do fascismo em Portugal, inicia a destruição da reforma agrária... Nesta sua cruzada contra o Portugal de Abril, conspira com Frank Carlucci (homem da CIA, onde subiu até subdirector operacional), então embaixador dos EUA em Portugal, chegando ao desplante de o condecorar por serviços prestados à "liberdade dos portugueses" e exigir, há três ou quatro anos, que fosse este seu amigo a entregar-lhe o "Globo de Ouro" que a SIC de Pinto Balsemão (outro do antigamente que é seu amigo) lhe atribuiu.

Seria fastidioso continuar a folha corrida de Mário Soares neste seu combate contra uma verdadeira democracia (política, económica, social e cultural) em Portugal.

Hoje, o PS e a servil comunicação social portuguesa, pretendem apresentá-lo como o candidato da esquerda. Seria cómico, não fossem os perigos dessa mistificação constituir um motivo mais para o descrédito dos generosos ideais de esquerda junto do povo português.

Um dos dois putativos candidatos, Cavaco Silva ou Soares, será eleito.

O PCP já anunciou que irá apresentar um candidato para defender o seu conceito de democracia e o seu projecto de sociedade e de futuro.

O Bloco de Esquerda [1] vai estafar-se a explicar as razões porque vai apoiar Soares logo à primeira volta, que os favores com favores se pagam, [1] e até o lebre Manuel Alegre, ainda tão justamente queixoso pela safadeza que lhe fizeram e disponível para apresentar a sua candidatura, proclamará uma vez mais, em voz tonitruante, o seu apoio ao camarada Mário Soares. Depois..., bem, depois escreverá um poema, excelente como sempre, intitulado dignidade ou outro qualquer valor eterno.

A verdade, nua e crua, é que um dos dois candidatos da direita será Presidente da República, os ideais e valores da esquerda serão uma vez mais postos de lado e o regime democrático vigente cavará mais uma razão de descontentamento até que, com a sua luta, o povo português descubra o caminho para uma nova sociedade democrática, política, económica, social e cultural, que comece por concretizar, o que não sucedeu até hoje, os princípios da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade.


Lisboa/18/Agosto/2005

[1] Posteriormente à publicação deste artigo, o Bloco de Esquerda foi "obrigado", a 1 de Setembro, a anunciar a candidatura de um dos seus líderes, Francisco Louçã. Na véspera, outro dos líderes do Bloco de Esquerda e seu candidato às últimas eleições presidenciais, Fernando Rosas, foi apoiar Mário Soares na sessão de apresentação desta candidatura. Aí, Soares e Rosas trocaram abraços e sorrisos cúmplices. Soares tomou o lugar na tribuna donde falou, Rosas tinha lugar reservado na primeira fila. A apresentação da candidatura de Jerónimo de Sousa pelo Partido Comunista, obrigou-os a mudar a táctica, não a estratégia acordada.

O original encontra-se no Jornal de Fundão de 26/Agosto/2005.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

[ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ]


Post a message:
This forum requires an account to post.
[ Create Account ]
[ Login ]
[ Contact Forum Admin ]


Forum timezone: GMT+0
VF Version: 3.00b, ConfDB:
Before posting please read our privacy policy.
VoyForums(tm) is a Free Service from Voyager Info-Systems.
Copyright © 1998-2019 Voyager Info-Systems. All Rights Reserved.