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Subject: A grande vitória da esquerda nas eleições alemãs


Author:
Victor Grossman
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Date Posted: 25/09/05 20:48:43

A grande vitória da esquerda nas eleições alemãs
por Victor Grossman [*]


As eleições na Alemanha acabaram numa confusão quase total e formar uma coligação governante será quase tão difícil quanto efectuar a quadratura do círculo, mas algumas coisas são claras.

As políticas antisociais do principal partido governante, o Partido Social Democrata de Gerhard Schroeder, foram punidas severamente pelos eleitores irados. Mas assim também o grande partido da oposição, a União Democrata Cristã de Angela Merkel a qual, apesar do seu apoio às mesmas políticas penosas, havia contado com uma vitória fácil. Ambos obtiveram cerca de 35 por cento, baixas quase recordes.

Quando Schoreder surpreendeu toda a gente ao convocar eleições um ano antes do tempo, muitos alemães estavam amargamente irados contra ele e o seu partido por cortar pagamentos aos desempregados, reduzir pensões, aumentar pagamentos por cuidados médicos e remédios, e não só descumprir a sua promessa de reduzir o desemprego pela metade como deixá-lo ascender ao nível de 5 milhões, aproximadamente 10 por cento e quase 20 por cento na Alemanha do leste. Uma auto-confiante Angela Merkel continuou a prever uma grande vitória. Ela começara a campanha com um avanço de quase 24 pontos. Mas como os votantes perceberam que os planos que tinha na manga, como aqueles dos seus parceiros igualmente amigos dos negócios do Partido Democrático Livre (Free Democratic Party), tornariam a vida ainda mais miserável para o povo trabalhador e os pequenos negócios, começaram a recuar.

Alguns apoiaram os Democratas Livres, esperando de certo modo que pudessem ser mais independentes, quando as suas políticas igualmente más ou piores. Mas outros retornaram relutantemente para os Sociais Democratas como o menor de dois males. Assim, dentro de muito poucas semanas Schroeder, um mestre de campanhas que exsudava confiança mesmo quando a desvantagem parecia sem esperança, encenou um admirável retorno que quase colmatou a diferença. No dia da eleição, domingo, os sociais democratas haviam-se movido para uma porcentagem de um ou dois pontos dos democratas cristãos. Mas nem um nem outro tiveram maioria, nem mesmo quando se juntaram aos seus parceiros tradicionais, os Verdes com os Sociais Democratas, os Democratas Livres com os Democratas Cristãos.

O factor que impediu a ambos os campos atravessarem a linha dos 50 por cento necessária para formar um governo estável foi o recém formado Partido da Esquerda, uma combinação do Partido do Socialismo Democrático (PDS), descendente mas muito diferente do antigo partido dirigente na República Democrática Alemã, e um jovem partido de Sociais Democratas desgostosos, militantes sindicalistas e variados grupos de extrema esquerda e organizações na Alemanha Ocidental, o WASG.

Dirigido no leste por Gregor Gysi do PDS e no oeste por Oskar Lafontaine, um antigo líder dos Sociais Democratas do Sarre, esta nova aliança tirou a respiração de todos os outros, que haviam previsto reencenar o antigo jogo infantil "Ring Around the Rosy" com pessoal alternativo mas políticas quase iguais. O PDS, com a sua base de eleitores quase totalmente no leste, três anos atrás estava reduzido no Bundestage a duas deputadas solitárias, com os demais a tratarem-nas como se não existissem e obviamente à espera de que nas eleições seguintes as fizessem ir embora.

Mas a nova aliança frustrou tais expectativas e tornou-se um espectro real a assombrá-los, conseguindo nos inquéritos nas primeiras semanas da campanha no leste e no oeste em conjunto de 12 a 13 por cento dos votantes.

Era claro que os ataques a este partido e aos seus líderes seriam pesados e sujos. Quando Oskar Lafontaine cometeu um erro e falou em "trabalhadores estrangeiros" a serem usados para substituir trabalhadores alemães — um assunto delicado na Alemanha — a imprensa (erradamente) acusou-o de utilizar a ideologia nazi e apressou-se a etiquetar todo o novo Partido de Esquerda de "reaccionário" e "racistas". Parece provável que Lafontaine estivesse realmente confuso acerca do assunto, mas ele rapidamente explicou que não era contra trabalhadores estrangeiros e sim contra os operadores que os exploravam, apinhando-o em contentores desumanos como "local de moradia" e pagando-lhes amendoins, deprimindo assim os níveis salariais para toda a gente. A campanha dos media foi um truque desonesto: o PDS, de longe os maior componente da nova aliança, sempre tomou a dianteira na oposição ao racismo e às medidas governamentais contra trabalhadores estrangeiros e aqueles que procuram asilo; enquanto os Cristãos Democratas basearam parte da sua campanha sobre preconceitos contra a grande minoria turca, e os Sociais Democratas frequentemente também manifestaram hipocrisia e coisas piores quando estava em causa o tratamento de residentes estrangeiros. O seu ministro do Interior foi um dos piores disseminar e espalhar preconceitos anti-muçulmanos. Até as calúnias e etiquetas mais sujas foram o procedimento padrão na batalha incessante para reduzir a Esquerda.

A sua razão real para odiar o Partido de Esquerda era clara: era o único na campanha a rejeitar a ideia, promovida em quase todos os jornais e comentários da TV dentro e fora da Alemanha, de que cortar direitos dos trabalhadores e rasgar o programa de bem estar social alcançado em lutas ao longo de anos era o caminho para ultrapassar o desemprego. Esta linha acerca de "reformas duras mas necessárias" para por a economia de volta sobre os seus pés, usada por Schroeder e os Verdes durante sete anos, conformadas com as "reformas" exigidas pelos grandes negócios: cortar nossos impostos, cortar nossas fatia da lei da segurança social, cuidados médicos e pagamentos aos desempregados, dar-nos mais liberdade para despedir trabalhadores sempre que quisermos, e que nos encorajará a fazer mais contratações. A única perturbação com esta teoria é que ela nunca funcionou! As grandes companhias exigiram — e receberam — cada vez mais destes cortes, enquanto intimidavam e rejeitavam cada vez mais trabalhadores. De facto, a sua exportação de lucro é maior do que nunca — o consumo interno é que foi drasticamente reduzido. Esta é a causa principal da actual economia melancólica (bem como o facto de que todo o sistema do "mercado livre", o capitalismo, está cada vez mais a implodir).

A partir do momento em que o Partido de Esquerda salienta tudo isto e opõe-se aos cortes defendidos pelos outros partidos e os seus apoiantes industriais e financeiros, o media baniram-no da lista dos "partidos democráticos", relegando-o às fileiras dos "partidos extremistas à esquerda e à direita"! Dessa forma, aumentar impostos para os milionários e suas corporações e utilizar o dinheiro para educação e serviços sociais ao mesmo tempo que se evita o mau uso das tropas alemãs em acções militares estrangeiras é maliciosamente etiquetado como subversivo.

A propaganda tem algum efeito. Talvez mesmo mais potente do que a propaganda foi a crescente ansiedade acerca da devastação que os conselheiros do big business de Angela Merkel infligiriam aos padrões de vida. Muitos votantes preocupados voltaram-se novamente para Schroeder e, semana após semana, os inquéritos reduziram a Esquerda de 13 para 9, a seguir 7 por cento dos votos.

Então porque os apoiantes da Esquerda tiveram uma noite eleitoral tão alegre reunidos na enorme tenda próxima ao antigo Palácio da República da RDA (um símbolo que os políticos da Alemanha Ocidental não podem derrubar)?

Os resultados da eleição estiveram a aparecer nos écrans gigantes pendurados em torno da tenda e do lado de fora. A Esquerda começou a cerca de 7,7 por cento, a seguir subiu para 7,9 por cento, 8,1, 8,2, finalmente fixando-se em 8,7 por cento — mais do que o dobro da sua taxa de 2002. Mais elevadas do que quaisquer inquéritos haviam previsto, isto significando pleno status como um grupo regular no Budestage, com mais de 50 cadeiras (num total em torno das 600). Isto significa mesmo ultrapassar os Verdes do ministro dos Estrangeiros Fischer, que obteve 8,1 por cento.

Apesar das complicadas manobras envolvidas na tentativa de acordar alguma coligação governante, todos os outros partidos concordaram em que eles jamais se juntariam numa coligação com o odioso partido da esquerda. Ele permanecerá, como sempre planeou, na oposição. Mas pelo menos terá a oportunidade de falar no Budestage e nos media, opondo-se à acumulação de armamento e a aventuras militares, combatendo todas as políticas de arruinar os pobres, expondo a hipocrisia de tolerar neo-nazis (quando não em palavras, também em acções), opondo-se a todos os cortes nas políticas de protecção de empregos. As Esquerda não pode aprovar quaisquer leis, mas a sua pressão pode ser muito eficaz, especialmente com o novo partenariado que cria um partido de toda a Alemanha, visível também na Alemanha Ocidental, onde os seus candidatos tiveram em média 4 a 8 por cento na maior parte das área e aproximadamente 20 por cento na região do Sarre de Oskar Lafontaine. Ele já não pode ser totalmente ignorado.

Os políticos e os media farão tudo para fragmentar esta nova unidade da esquerda. Tentarão virar Lafontaine contra Gysi (ou vice-versa), e dividir os variados grupos e agrupações entre os muitas vezes inexperientes deputados ao Budestag, ou entre eles e os seus eleitores. Mas se eles puderem manter-se juntos, pelo menos sobre questões chave, isto poderia alterar toda a cena política alemã. E uma vez que o PDS tem sido um actor chave para reconstruir a cooperação de esquerda a nível europeu, isto pode ter um efeito ainda mais vasto, criando um efeito propagador e estimulando a esquerda em outros países a ultrapassar diferenças e mover-se em conjunto contra novos e perigosos ataques contra os povos.

Uma última nota: as aclamações mais ruidosas naquela grande tenda, além daqueles que saudavam cada novo resultado, seguiam-se a referências a duas questões: o combate para ganhar completa igualdade de homens e mulheres nas posições de liderança e oposição a todos os ataques racistas ou anti-estrangeiros ou neo-nazis. Nada de semelhante foi relatado das reuniões pós-eleitorais dos outros partidos.

[*] Jornalista e escritor americano residente há muitos anos em Berlim Leste. É o autor de Crossing the River: A Memoir of the American Left, the Cold War, and Life in East Germany , (University of Massachusetts Press, 2003).

O original encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/grossman200905.html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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