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Subject: Re: A questão do empobrecimento


Author:
Guilherme Statter
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Date Posted: 5/02/07 12:10:59
In reply to: Fernando Penim Redondo 's message, "A questão do empobrecimento" on 1/02/07 19:05:24

Vamos então por partes:
1. Empobrecimento (ou enriquecimento) é SEMPRE uma questão relativa. Ninguém é rico (ou pobre) em absoluto. É-se sempre MAIS (ou menos) rico (ou MAIS ou menos pobre) do que se era antes (relativamente a OUTROS) ou do que são entretanto esses tais OUTROS...
2. Nestas coisas da medida em ciências sociais, estamos no campo da reflexão metodológica.
É que o próprio "padrão de medida" está sempre a mudar... A questão (felizmente) é que os cientistas que se dedicam a essas coisas já há muito tempo que se aperceberam disso e aprenderam assim a lidar com a própria variação permanente do próprio "padrão de medida".
Quase ao nível da anedota chamo-te a atenção para o facto de que mesmo sendo verdade (não ponho isso agora em causa...) que tenha diminuído o número de pessoas que vivem com menos de 1 dólar (e/ou com menos de 2 dólares), entretanto o próprio dólar perdeu MUITO poder de compra Em relação ao Euro foram só uns 30%...
Aquela medida que o PNUD tem adoptado (de "menos de 1 dólar") não é mais do que uma forma rudimentar (mas apelativa) de dizer que a Curva de Lorenz (da distribuição da riqueza societal) está permanentemente a tender a "afundar-se" (ainda que muito ligeiramente) no sentido do "sudeste".
Esse é um facto indiscutido nos círculos da ONU (PNUD, PAM...) e até nos círculos do Washington Consensus há muita gente que vai – com alguma relutância – admitindo a evidência.
Se é verdade que a Esperança Média de Vida aumentou em dois anos e que há menos 3.000.000 crianças a morrer por ano; se é verdade que há mais 30.000.000 crianças nas escolas e que cerca de 130.000.000 escaparam à "extrema pobreza", também é verdade que houve 18 países com cerca de 460.000.000 de habitantes que desceram no IDH e que cerca de 11.000.000 de crianças morrem antes dos 5 anos de idade e que 1.000.000.000 vivem com menos de 1 US$ por dia. Para não falar da pandemia do HIV-SIDA. Por outro lado, é um facto que o rendimento dos 500 mais ricos é equivalente ao rendimento dos 460.000.000 mais pobres e que 2.500.000.000 continuam a viver com menos de US$2 por dia (os tais 2 dólares que entretanto valem menos 30% do que valiam há 10 anos...) e finalmente (e muito mais importante), esses 2.500.000.000 vivem com menos de 5% do Rendimento Mundial.
É assim um dado indiscutido que se têm estado a agravar (ainda que MUITO lentamente...) as diferenças entre países e até (em alguns casos) dentro de cada país.
Casos paradigmáticos desta dupla tendência) são o Brasil (apesar do PT e dos governos do Lula da Silva) e do Vietname (país que se reclama do comunismo e onde as diferenças são mínimas), sendo que estes países têm um PIB per capita na mesma ordem de grandeza...
No caso do Brasil temos US$8600 per capita (sem PPA...) e um Coeficiente de Gini de 0,567 (um dos mais elevados do mundo). No caso do Vietname temos US$3100 (sem PPA...) per capita e um Coeficiente de Gini de apenas 0,361.
3. Em todo o caso, a pobreza relativa (e crescente) deve ser sempre medida em relação à Capacidade Produtiva Existente (à escala planetária do sistema). De um ponto de vista lógico (e sistémico) basta que aquela CPE aumente mais do que aumenta a "riqueza do mais pobre", para que aumente a pobreza relativa... Logico, no?
4. Deve ser por isto tudo que o Objectivo Nº 1 dos "Objectivos do Milénio" das Nações Unidas é a "irradicação da extrema pobreza e da fome" (Declaração do Ano 2000) e que entretanto cresce por ali (por aqueles círculos) o pessimismo a esse respeito.
4. Mais uma vez, a lógica intrínseca do capitalismo faz com que as empresas procurem maximizar a sua produção e vendas ao mesmo tempo que procuram minimizar os seus custos.
Entre estes custos estará o custo da força-de-trabalho. No esforço permanente de minimização dos custos, as empresas são levadas a investir a tecnologia que faça pelo menos uma de duas coisas: poupe ou minimize custos (designadamente com a compra de força-de-trabalho) e aumente ou maximize a produção. Daqui resulta uma inelutável tendência para o crescimento do desemprego. Este começa por ser conjuntural, passa depois a estrutural e por fim a sistémico.
Se os desempregados não têm nenhuma outra fonte de rendimento do que a (tentativa) venda da sua força de trabalho, como será óbvio, fazem parte do regime de assalariamento. E logo tenda a aumentar a pobreza relativa
É isso que vem agora (mais uma vez...) confirmar a OIT.
Como entretanto, na esmagadora maioria dos países do Sul, o avanço e generalização do regime de assalariamento faz com que se reduzam constantemente os regimes de campesinato e de artesanato, é evidente que a tendência é para o aumento geral da pobreza. É por isso que há cada vez mais programas de "combate à pobreza absoluta" (em rigor deveriam chamar-se "de combate à pobreza relativa"...).
Mais uma vez, não estou a ver qual é a tua dúvida.
Um abraço,
Guilherme

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