Subject: Petróleo e Iraque - João Amaral ao JN |
Author:
Morning Star
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Date Posted: 18:25:29 09/09/02 Mon
Petróleo e Iraque
João Amaral, militante do PCP
O que avulta como saldo global da Cimeira de Joanesburgo é um conjunto de fracassos e meias-tintas. Não se está a subestimar alguns avanços conseguidos. Houve sectores onde se firmaram perspectivas concretas, como é o caso das reservas marítimas de pescado. Houve alguns compromissos calendarizados que seria estulto deitar fora como se não existissem.
Mas a humanidade tem o direito de criticar os líderes políticos por não terem ido mais longe. É inaceitável a incapacidade de encararem corajosamente algumas das mais graves situações que afectam o Mundo e a humanidade. Salienta-se questões como os perigos ambientais que resultam do uso intensivo de combustíveis como o petróleo, os problemas que o proteccionismo agrícola dos ricos causa ao processo de desenvolvimento dos países subdesenvolvidos, a baixa percentagem que os ricos atribuem às ajudas ao desenvolvimento, etc., etc.
O petróleo é, hoje, a maior ameaça à paz e à estabilidade mundiais. O Mundo está prisioneiro de uma política energética que recusa a substituição do petróleo, como está prisioneiro dos jogos de guerra pelo domínio das zonas de onde ele é extraído.
Todos sabem os efeitos do dióxido de carbono (o gás libertado na combustão das energias fósseis, como o petróleo) no aquecimento global, como conhecem os desastrosos efeitos ambientais dessa elevação da temperatura do globo. Mas o Mundo confronta-se, hoje, com o facto de o líder da superpotência única ser um texano, com interesses fundos na indústria do petróleo, ele próprio produtor de petróleo.
A posição dos Estados Unidos de se oporem à proposta da União Europeia quanto às energias renováveis é expressão desse sujo jogo de interesses. A União Europeia foi para Joanesburgo com a proposta de aumento da quota de uso das energias renováveis (hídrica, eólica, etc.) para 15% do total de consumo de energia, no prazo de uma década. A actual média de uso das energias "limpas" não ultrapassa os 6%. A proposta europeia representava, assim, um enorme avanço na direcção certa.
Quem se opôs foram fundamentalmente os Estados Unidos da América e os países produtores de petróleo. Se se quiser simbolizar em nomes, pode afirmar-se que foi a aliança espúria entre George W. Bush e Saddam Hussein que derrotou a proposta europeia de aumento da quota de uso de energias renováveis!
É também o petróleo e a política imperial para controlar as suas principais reservas que tornam explicável a obsessão guerreira do presidente americano. É certo que a pobreza de espírito do actual presidente americano o pode ter levado ao "raciocínio" de que precisava de uma guerra contra o mal para ganhar o ciclo de eleições internas que vão ocorrer em breve nos EUA. Mas é mais certo admitir que o pensamento de Bush não consiga ver para além do horizonte de milhões de barris de petróleo...
Em concreto, o que querem os líderes americanos? Controlar o petróleo iraquiano através de uma administração por si inventada e que lhe seja fiel? Libertarem-se, assim, do fundamentalismo saudita, ficando com as mãos livres para iniciar a guerra saudita, mais uma vez para colocar no trono respectivo uma administração indefectível? Resolverem o conflito entre Israel e a Palestina retirando a esta os apoios na zona?
O ataque ao Iraque não tem ética (Saddam Hussein é um ditador como muitos outros, que são fiéis aliados de Bush), agride o direito internacional (segundo a Carta das Nações Unidas, seria sempre necessário o consentimento do Conselho de Segurança), queima etapas diplomáticas (não foi feita a prova de que Saddam recuse definitivamente a entrada de inspectores da ONU), nem sequer pode ser invocada a existência de armas de destruição maciça, já que outros ditadores as possuem sem reparo dos EUA, como sucede com o presidente do Paquistão.
Ao lado de Bush, só duas figuras: o inevitável Tony Blair, a provar que o Reino Unido não perde os tiques imperiais e o constante Pacheco Pereira, velho especialista em imperialismos.
Ao que se chegou _ a uma "entente" militarista e imperialista, entre Bush, Blair e Pacheco Pereira!
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